• Nenhum resultado encontrado

2. O CAPITAL E O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO

2.2 AS TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE FEUDAL E A TRANSIÇÃO PARA O CAPITALISMO: A

2.2.1 O movimento de rompimento das amarras feudais

Apesar da intensa tentativa de frear a atividade comercial e, dessa forma, o lucro a Igreja, já presenciava que parar o comércio era extremamente difícil. Quando sua doutrina se chocou com a nova classe dos comerciantes, a Igreja começou lentamente perder espaço. O golpe inicial, se assim se pode chamar, partiu dela mesma com as Cruzadas que trouxeram um novo ímpeto ao comércio (HUBERMAN, 1986).

Dezenas de milhares de europeus atravessaram o continente por terra e mar para arrebatar a Terra Prometida aos muçulmanos. Necessitavam de provisões durante todo o caminho e os mercadores ao acompanhavam a fim de fornecer-lhes o que precisassem. Os cruzados que regressavam de suas jornadas ao Ocidente traziam com eles o gosto pelas comidas e roupas requintadas que tinham visto e experimentado. Sua procura criou um mercado para estes produtos (HBERMAN, 1986, p. 18).

Nesta passagem, é possível observar dois fatores que potencializaram as práticas comerciais. O primeiro é o próprio fato de os cruzados necessitarem do auxílio dos comerciantes para seguir sua marcha, fazendo com que a Igreja firmasse acordo com tal classe, principalmente os Venezianos29: “[...] embora os venezianos estivessem desejosos de ajudar a

marcha dessa Cruzada, ‘por amor de Deus’, não permitiam que tão grande amor os cegasse quanto à melhor parte da pilhagem. Eram grandes homens de negócios (HUBERMAN, 1986, p. 21)”. Veja-se o desenvolvimento de uma mentalidade comercial desligada dos preceitos e valores religiosos, não se deixando limitar por eles. Pode-se ainda encontrar o germe de uma separação do que é assunto de Deus e o que é de interesse econômico.

O segundo fator, e o mais interessante, é a mudança no gosto dos cruzados despertado pelas novas mercadorias que tiveram acesso, fazendo com que as feiras comerciais presentes

29 Na obra História do mundo feudal II/1, Marcio Curtis Giordani, coloca a importância das cruzadas, para o desenvolvimento das atividades bancárias, devido principalmente a grande movimentação de dinheiro, seja para os equipamentos dos cruzados, resgates de prisioneiros, pois havia nobres entre os exércitos etc.

nos feudos se mostrassem incapazes de satisfazer as novas necessidades dos indivíduos, trazendo o imperativo da abertura comercial a outros comerciantes de outras localidades, fazendo com que as feiras comerciais passassem a ser os principais eventos locais. Do crescimento desta atividade, os senhores feudais “perceberam” que sua importância não estava apenas na troca de mercadorias, mas no ganho econômico que lhes era possibilitado por meio da movimentação de dinheiro, advindo dos pedágios cobrados seja para transitar na rua ou na aquisição de proteção (HUBERMAN, 1986).

O importante é retirar deste processo a compreensão de como se desenvolveu esta mentalidade voltada para o lucro. Ela decorre do desenvolvimento de uma “consciência” sobre a importância que as práticas comerciais estão ganhando na sociedade e como delas se pode tirar, direta ou indiretamente, proveito como é o caso dos senhores feudais. Novamente é frisado que tais transformações histórico-econômicas ocorrem tanto na estrutura de produção, aqui observados na emergência dos mercados, onde se desenrola o aumento da busca por novas mercadorias que levam a necessidade de abertura comercial dos feudos, fazendo com que o poder e importância da classe dos comerciantes aumentassem, quanto na superestrutura política, cultural e ideológica, observado, por exemplo, na crescente importância dada ao dinheiro pelos senhores feudais. Sua mentalidade sofre efeito das mudanças e transformações que estão acorrendo. Isto revela que é a totalidade dos modos de vida que são condicionados pelas transformações histórico-econômicas.

Diante delas uma parte da sociedade feudal, principalmente de alguns senhores feudais que não queria perder seu poder, assumiu posição defensiva, na tentativa de barrá-las. Este passo em falso acabou demonstrando o início de sua decadência. O comércio não é inteira e unicamente responsável pelo seu declínio. Ele apenas o potencializou. Este ponto é importante para compreender como ocorreu a transição por parte de alguns sujeitos, comerciantes, senhores feudais hierarquicamente inferiores, servos etc. dos valores feudais aos valores de um capitalismo nascente.

A evidência de que dispomos, no entanto, indica com vigor que a ineficiência do feudalismo como um sistema de produção, conjugada às necessidades crescentes de renda por parte da classe dominante, foi fundamentalmente responsável por seu declínio, uma vez que essa necessidade de renda adicional promoveu um aumento da pressão sobre o produtor a um ponto em que se tornou literalmente insuportável (DOBB, 1983, p. 32).

Veja-se a atitude tomada pela classe dominante, leia-se senhores feudais, para suprir a demanda crescente de renda como forma de manter seu posto de classe econômica e política

dominante, aumentou o tempo de exploração do trabalho dos servos. Diante de tal desprezo por sua condição de servos30, estes iniciaram uma debandada dos feudos. A forma encontrada pelas classes dominantes para trazê-los de volta foi de um lado, pelo estabelecimento de contratos de ajuda mútua entre os senhores para capturar servos fugitivos. O outro modo, devido a necessidade de repovoar as terras, levando a competição por servos31, foi a imposição a alguns senhores de vender imunidades no sentido de não punição aos servos fugitivos com a colocação de limites a práticas de exploração de seus trabalhos. Isso ocorria pela via do arrendamento ou pagamento de dinheiro (DOBB, 1983).

Tem-se aqui o desenvolvimento embrionário do pensamento que coloca que o trabalho “livre” é mais produtivo que o servil coercitivo. É evidente que tal ideário não se fazia presente em todos os senhores feudais, colocando-se em posição contrária a tal prática. Contudo, a premissa é que o sujeito que se sente livre de amarras ou de outras formas de coerção, com a possibilidade de escolher para quem vai trabalhar, é mais produtivo:“[...]Era melhor deixar de lado o trabalho tradicional e alugar o que lhe fosse necessário mediante pagamento de salários (HUBERMAN, 1986, p. 46)”. Ou seja, ao invés de obrigar os servos trabalharem aos antigos moldes, de dedicar dado número de dias para o cultivo da propriedade do senhor feudal, era melhor pagá-lo para realizar tal atividade, ou ainda, arrendar suas terras para que eles nela produzissem, e com isso pagassem aos senhores feudais dada quantia de dinheiro.

A dificuldade da sociedade feudal de abarcar para si os novos valores que surgiam seja pela parte da nova classe em ascensão, os comerciantes capitalistas, seja pela parte dos trabalhadores que migraram para as cidades que reivindicavam mais que apenas liberdade de escolher para quem vão trabalhar, acelerou seu declínio. No caso dos primeiros, visavam liberdade de propriedade privada. Caso desejassem hipotecá-la para obter empréstimo, queriam proceder de seus próprios julgamentos em seus próprios tribunais.

As populações das cidades desejavam fixar seus impostos à sua maneira, e o fizeram opunham-se à multiplicidade dos impostos feudais, pagamentos, ajudas e multas, que eram irritantes, e num mundo em evolução apenas serviam para aborrecer. Desejavam empreender negócios e, assim, empenhar-se em abolir as taxas, de qualquer tipo, que os tolhesse. Se, porém, falharam no objetivo de suprimir totalmente esses direitos, alcançaram o maior êxito em modificá-los, de uma forma ou de outra, para que se

30 Como lembra Tawney (1971), a verdadeira essência da propriedade feudal, era a exploração desavergonhada do trabalho, em alguns casos compulsórios dos servos, no tocante a posição da Igreja sobre o assunto, esta comumente era contrária aos maus tratos dizendo que os servos deveriam ser tratados com humanidade, e condenava os impostos abusivos, mas, de resto ignorava a servidão.

31 Como é possível deduzir, neste jogo de competição entre os senhores, os menores sofriam mais nas correlações de forças e na competição por servos, são eles que se mostram os mais desejosos de proteção pela lei, que prendia e devolvia os servos fugitivos aos seus donos (DOBB, 1983). É evidente que existe entre os próprios senhores feudais jogos de interesses, que influenciam no andamento da sociedade como um todo.

tornassem mais aceitáveis. [...]. Na verdade, as populações das cidades em luta, dirigidas pelas associações de mercadores organizados, não eram revolucionárias no sentido que emprestamos à palavra. Não lutavam para derrubar seus senhores, mas apenas para fazê-los abandonar algumas das práticas feudais já gastas pelo uso, que constituíam um estorvo decisivo à expansão do comércio (HUBERMAN, 1986, p. 30- 31).

Como em épocas atuais, determinados valores, regras, normas e leis não são obstáculos para aqueles deles se beneficiam, mas o são para aqueles que os veem como empecilhos a sua liberdade. Assim, na sociedade feudal, os comerciantes capitalistas e alguns servos com mais liberdades residentes nas cidades, desejosos de alcançar seus objetivos em sua maioria particulares, empreenderam ataques as classes dominantes32 principalmente a dos senhores feudais. Porém, como ainda as cidades se encontravam sob domínio destes últimos, eles vendiam sucessivamente parte de seus direitos aos cidadãos mais abastados até estarem independentes de seu poder (HUBERMAN, 1986). O grau de liberdade proposto não era de rompimento geral com a sociedade feudal e seus valores, mas um alargamento de autonomia de forma se tornar capazes de exercer a atividade econômica sem restrições ou constrangimentos.

Agora é possível entender o protagonismo dos comerciantes na dissolução de antigos valores feudais. Eles se beneficiaram tanto do aumento populacional das cidades, devido à migração de servos dos feudos, como das transações monetárias iniciadas nas feiras. Basicamente sua figura representava a atividade econômica. Um exemplo da diminuição do poder dos senhores feudais, líderes das cidades, pode ser observado quando os senhores de menor poder recorriam aos comerciantes para contrair empréstimos, o que fazia sua pessoa crescer em importância econômica, social e política (DOBB, 1983).

Na luta pela conquista da liberdade da cidade, os mercadores assumiram a liderança. Constituíam o grupo mais poderoso e lograram para suas associações e sociedade todos os tipos de privilégios. As associações de mercadores exerciam com frequência, um monopólio sobre o comércio por atacado das cidades. Quem não era membro da liga de mercadores não fazia negócios. [...]E exatamente como as associações de mercadores tentaram manter a distância os não-membros, foram igualmente bem- sucedidas em conservar fora de seu comércio de província os mercadores estrangeiros. Seu objetivo único era possuir o controle total do mercado. Quaisquer mercadorias que entrassem ou saíssem da cidade tinham que passar por suas mãos. Devia ser

32 Seria equivocado pensar que tal passagem de domínio tenha ocorrido de forma pacífica, isto ocorria com aqueles senhores que percebendo que tal transformação ser impossível de ser barrada, decidiram tirar dela maior proveito, mas, outros não pensaram assim, abrindo mão de seus poderes apenas abaixo da violência. Oliver Wendel Holmes citado por Huberman (1986, p. 31) compreendeu bem o cenário daquele momento, dizendo: “’quando as divergências são de grande alcance, preferimos tentar matar o outro homem ao deixá-lo praticar suas ideais’”. Apenas para ficar em um exemplo, Hunt e Sherman (1977) citam que a Inglaterra, foi palco de várias de revoltas no fim do século XIV e no século XV, sendo que as mais sangrentas ocorreram na Alemanha, somando 100.000 mortes.

eliminada a concorrência de fora. Os preços das mercadorias deviam ser determinados pelas associações. Em todas as faces do jogo ela desempenhariam o papel principal. O controle do mercado teria que ser seu monopólio exclusivo (HUBERMAN, 1986, p. 33-34).

As guildas, como eram conhecidas estas associações, constituídas de artesãos, comerciantes e outros ofícios (HUNT; SHERMAN, 1977), eram a principal instituição pela qual a classe comerciante capitalista agia para exercer seu poder sobre a economia assegurando, desta forma, seus interesses. Este processo se deu especialmente pelo surgimento de uma classe que, separada da produção, voltou-se inteiramente ao processo do comércio. Com sua forma particular de ação, adquiriu para si o monopólio do comércio estabelecido nas cidades, crescendo seu poder econômico e político. Passando a usar deste poder para, posteriormente, manipular livremente os preços das mercadorias por eles comercializadas. O que se percebe é a existência de uma coesão de interesses de uns poucos evidentemente que a melhor forma de atender e proteger seus interesses é o monopólio econômico e político.

Por meio destas corporações os mercadores agiam para beneficiar seus membros em detrimento dos demais. Isto também era válido para os artesãos que se encontravam à mercê destas instituições que os obrigavam a vender seus produtos apenas aos seus membros. O interessante neste processo é que os comerciantes colocavam como objetivo geral das guildas a defesa dos interesses da cidade que se ligavam à necessidade de beneficiar seus comerciantes em detrimento dos estrangeiros. O resultado foi tanto o fortalecimento da classe dos comerciantes, como o aumento de sua autonomia de forma que eram apenas seus interesses que agora possuíam validade. É necessário, desta forma, perceber como tal classe utiliza-se do discurso que, ao proteger seus objetivos, estavam igualmente contribuindo para o desenvolvimento da sociedade. A premissa de que partiam era que a riqueza era produzida por sua atividade comercial (DOBB, 1983), retirando do argumento, por exemplo, a exploração do trabalho dos artesãos.

Momentaneamente, ficava evidente que o poder dos comerciantes, antes de representar um interesse coletivo das cidades, centrava-se em seus próprios objetivos que os levaram a buscar o controle exclusivo do governo urbano: “O sistema de controle de mercado e de monopólio urbano [...] podia ser usado com vantagem especial par um grupo de negociantes especializados, [...] (DOBB, 1983, p. 71)”. O uso deste poder pode ser visto quando seus interesses enquanto grupo se mostrassem ameaçados33. Este grupo agiu de forma a pari passu

33 “E onde as restrições feitas aos estrangeiros impediam-lhe o acesso a outros mercados, estreitando seu campo de ação, conseguia frequentemente um status privilegiado para si, graças a tratados feitos com mercadores de

monopolizar o poder econômico e políticos das cidades. Feito isto estavam lançadas as bases para manter e defender seus interesses de classe (mercadores) em detrimento dos demais grupos da sociedade. Uma das formas encontradas para restringir seus membros foi exigir pagamento de considerável taxa, excluindo pequenos artesão e comerciantes ambulantes (DOBB, 1983).

Este modo de agir possui em maior ou menor grau características capitalistas, uma vez que pressupõe o desaparecimento de relações servis e, no seu lugar colocam relações entre indivíduos livres. Visto que, ao pagar a taxa determinada, dado comerciante estava pertencendo a guilda, que tal liberdade esteja presente mais no campo abstrato que material, é evidente. No entanto, ela revela alterações nas formas de exploração e dominação de uma classe sobre a outra, mais precisamente demonstra, um afunilamento no número de indivíduos que estão no topo. Este processo foi diagnosticado por Marx e Engels (2005), ao colocar que tanto as camadas inferiores da classe média de outrora, ou seja, as feudalistas, os pequenos industriais, pequenos comerciantes que viviam de renda, artesão e camponeses caiam nas fileiras do proletariado. E nos manuscritos econômicos-filosóficos, Marx (2004) chama a atenção para o fato que a competição entre capitalistas e a concentração de capital em poucas mãos, acaba por levar a ruína os pequenos.

Como forma de proteger-se da maneira de agir dos comerciantes mais abastados, os artesãos também desenvolveram suas organizações, possibilitando de um lado maior organização da classe. A união de mestres e aprendizes na defesa dos mesmos interesses, e possuindo o mesmo “inimigo” em comum, os comerciantes, lhes possibilitou uma maior coesão. Impedindo por dado período, o não desenvolvimento em seu interior de uma hierarquia entre seus membros (HUBERMAN, 1986).

O problema começa no fato de, assim como as guildas dos comerciantes, as corporações artesanais viam no monopólio de ofício uma forma de proteger seus interesses. Sob o discurso da necessidade de manter a qualidade dos produtos, desenvolveram regras34 cujo seguimento era imposto para todos os que pertenciam a corporação ou a ela desejavam pertencer. O que se evidencia aqui é o desenvolvimento de um pensamento de que sem organização a classe mais fraca, neste caso os artesãos, não podem se defender da exploração e dominação dos que “estão no poder”. Para isso devem entender que seus interesses não são os mesmos e que em dados momentos apenas o diálogo não funciona. Porém tal coesão é

outras cidades, pelos quais cada um concordava em afrouxar as restrições impostas ao comércio do outro, em seu benefício (DOBB, 1983, p, 71)”.

34 Apenas a título de exemplo uma destas regras apresentada por Huberman (1986, p. 56) citando Bland, Brown e Tawney diz: “‘[6] Ninguém que não tenha sido aprendiz e não tenha concluído seu termo de aprendizado do tido ofício poderá exercer o mesmo’”, para maiores informações vide Huberman (1986).

ameaçada quando da complexificação do comércio e da entrada dos artesãos no combate ao preço justo que não lhes possibilitava determinar o preço de suas mercadorias.

Já foi abordado o combate ao preço justo como forma que impedia o desenvolvimento do comércio. Sua complexificação junto com sua expansão trazia problemas que eram aumentados pela noção de preço justo, o qual era muito mais influenciado pela oferta e demanda de dado artigo do que por uma “lei” natural. Nesta luta o preço de mercado saiu vitorioso. O resultado disto foi que aqueles com maior poder econômico e político podiam de forma indireta ou direta, em maior ou menor, grau interferir no comércio na busca de angariar para si maiores lucros. Por fim, o resultado, por assim dizer, é que certos mestres artesãos começaram a enriquecer mais que os outros e a igualdade entre eles e seus aprendizes ficou no passado (HUBERMAN, 1986). No fim deste movimento, a hierarquização das próprias organizações foi inevitável. Passou-se a caracterizá-las em “superiores” formadas pela camada mais rica dos artesãos e as “inferiores” onde havia inclusive mestres trabalhando em regime salarial para os “superiores” (HUBERMAN, 1986).

No desenrolar deste fenômeno, ocorreram diferentes formas de movimentação. Alguns membros mais abastados das corporações de artesãos abandonaram a produção dedicando-se inteiramente ao comércio. A classe dos comerciantes também realizou seus movimentos entre diferentes ramos da economia, dedicando-se a comercializar ao invés de artigos em geral, somente um produto determinado (HUBERMAN, 1986). É manifesta a formação de corporações, que serviam num primeiro momento a defender os interesses coletivos de dada classe produtiva. No entanto, conforme aumentava poder de alguns devido sua posição, passaram a dominá-la de forma a utilizá-las em benefício de seus próprios negócios particulares. Isto revela outro fator interessante: o monopólio como forma mais eficiente de alcançar o objetivo de “segurança” econômica de dado grupo, como é, ao mesmo tempo, uma forma de assegurar a imposição e o cumprimento das regras, desenvolvidas por um coletivo, ou depois de um indivíduo particular.

Desse modo, aqui é feita uma ressalva para melhorar o entendimento. Esta forma de agir configura-se ou se relaciona a um determinado ator econômico, não sendo passível de generalizar ao todo da população, pois, sua maioria ainda se encontrava dentro de relações feudais de produção35, não possuindo ainda a possibilidade de livrar-se delas. Este modo de agir será posteriormente encontrado no burguês capitalista, ou seja, aqui se está apenas

35 Este processo é evidenciado por Perry Anderson em Linhagens do Estado absolutista, onde evidência, que mesmo nas cidades este processo esteja ocorrendo, devido principalmente pela via do trabalho pago em dinheiro significando “certo fim a servidão”, o mesmo não ocorria no campo onde ainda imperava as relações feudais.

evidenciando um processo que possibilitou a constituição da burguesia, e não de um reflexo comportamental total, presente em todos os sujeitos da sociedade. Se está tentando demostrar a formação de elementos sócio históricos de uma dada forma de dinâmica social que, cada vez mais, amplia-se e se complexifica. Percebe-se que o desenvolvimento deste ator econômico, a burguesia capitalista, é produto de um longo processo de desenvolvimento e de uma série de transformações no modo de produção (MARX; ENGELS, 2005) e no modo de vida dos sujeitos. Inevitavelmente do monopólio surge um acirramento das distâncias sociais, tanto entre