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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Ao nosso ver, torna-se difícil analisar a trajetória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sem examinarmos os processos que permearam seu surgimento. Para percorremos este caminho, nos apoiaremos em autores cuja postura teórica denuncia um claro apoio ao Movimento, como também naqueles que em seus textos tecem severas críticas à atuação deste que é hoje, reconhecidamente43, o maior movimento social da América Latina.

Este Movimento está presente em 23 dos 26 estados da federação e sua abrangência e popularidade fazem com que seja, atualmente, o movimento social mais combatido pela burguesia e pela grande mídia. Seu nascimento se deu pela união de forças daqueles que lutavam por terra em 1970, momento de reorganização dos movimentos rurais. Não existe, segundo estudiosos, uma data precisa para a fundação do Movimento. Em geral, considera-se o período de 1979 a 1984, como o de gestação do MST, sendo o ano de 1984, o ano considerado pelo movimento como de sua fundação. Para o MST, a realização do Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Rurais Sem Terra, ocorrido em Cascavel44 marca oficialmente o seu surgimento como movimento social.

O período de surgimento do MST acontece num momento de grande repressão aos Movimentos Sociais pela ditadura militar. Especialmente no campo, a situação de descontentamento e revolta por parte dos trabalhadores rurais se acentuava devido às mudanças na relação de trabalho provocadas pelo avanço acelerado da modernização capitalista, o que acarretava intensos conflitos.

Vale relembrar que os conflitos agrários no Brasil decorrem cronologicamente da criação e institucionalização da lei de terras, que restringia o acesso à propriedade àqueles que por ela pudessem pagar e não mais aos que fizessem usufruto, conforme estabelecia o regime de sesmarias. As relações de trabalho servil que se implantaram a partir de então culminaram com a criação em todo o país, e especialmente no Nordeste, das Ligas Camponesas, até hoje

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Posição compartilhada por autores como Carvalho (2002) e Navarro (2002).

44 Na ocasião estavam presentes, de acordo com Parreira (2005), trabalhadores rurais de doze Estados, além de

consideradas por alguns historiadores como o maior movimento de resistência de trabalhadores rurais no período.

A necessidade da realização da reforma agrária surge nesse período, ganhando adeptos inclusive de uma incipiente burguesia industrial. Os que defendiam sua realização acreditavam, tal como ocorrera nos Estados Unidos, ser necessária a intervenção do Estado para remover o obstáculo do latifúndio, visto como entrave à modernização capitalista no campo e conseqüentemente ao avanço da própria industrialização45.

Portanto, era grande a pressão para que a reforma agrária acontecesse, inclusive dentro do Congresso, que contava com o apoio de partidos políticos e do próprio presidente João Goulart (Sampaio, 2003). Apesar do apoio expressivo pela realização da reforma agrária, a força de uma burguesia que se mantinha viva, usufruindo da renda da terra, conseguiu evitar que fosse posta em ação a democratização da terra.

Ainda segundo o mesmo autor, essa possibilidade foi aniquilada com o golpe de 1964, ano em que teve início uma série de perseguições às Ligas Camponesas, sindicatos e toda espécie de manifestação pública contra a ordem estabelecida. Não demorou muito para que os trabalhadores fossem perseguidos e sua luta, enfraquecida.

As Ligas foram duramente combatidas, pois, conforme frisamos em passagem anterior, representavam a ameaça comunista presente entre os trabalhadores do campo. Sua existência causou temor na Igreja que, preocupada em perder seus fiéis para a ameaça comunista, decide rever sua posição inicialmente em apoio à ditadura. De acordo com Martins:

A Igreja entrou na questão agrária, através da pastoral de D. Inocêncio, por uma porta extremamente reacionária. Aquela pastoral nasceu numa reunião de fazendeiros, padres e professores rurais e não numa reunião de camponês e trabalhadores rurais. A preocupação era com a agitação que estava chegando ao campo, com a possibilidade da Igreja perder os camponeses, como tinha perdido os operários. A questão era desproletarizar o operário dos campos, evitar o êxodo que levava os trabalhadores para a cidade e os tornava vulneráveis à agitação e ao aliciamento dos comunistas, como assinalariam outros documentos produzidos por outros membros do episcopado (1986, p.88).

Ainda segundo Martins, as tentativas iniciais da Igreja Católica eram no sentido de fixar o homem no campo, para assim evitar que ele mantivesse contato com os trabalhadores da cidade e se deixasse contaminar pelo comunismo, que representava uma ameaça à

propriedade privada. Desta forma, as propostas de reforma agrária defendidas pela Igreja tinham como pano de fundo a luta contra a maré vermelha, usando as palavras do autor.

Em 1936, após assumir uma posição menos ambígua em relação à reforma agrária, a Igreja cria as Comunidades Eclesiais de Base, CEBs, com o objetivo de fazer o trabalhador refletir sobre sua condição de explorado e vítima do sistema capitalista. Mesmo com algumas limitações, esse movimento foi de grande importância para que os trabalhadores rurais se organizassem e viessem a constituir o MST.

Da organização da Igreja Católica surgiu a Comissão Pastoral da Terra em 1975. Criada num contexto de retomada das organizações populares em meio um longo período de ditadura militar, a CPT nasce num contexto de intensa modernização no campo. Essa modernização, visível especialmente no eixo Centro Sul do país através do incentivo à mecanização da lavoura e do pacote da revolução verde, trouxe como conseqüências mais nefastas para os trabalhadores rurais uma expressiva expropriação dos parceiros, arrendatários e filhos de agricultores de pequeno potencial econômico.

Esse quadro sem dúvida colaborou para o trabalho da CPT e o surgimento de outras entidades de caráter popular, como o Partido dos Trabalhadores e a Central Única dos Trabalhadores - CUT. Vale salientar que o sindicalismo rural e urbano encontrava-se neste momento com um considerável desprestígio político entre os trabalhadores, não só pela estrutura sindical considerada insuficiente e antidemocrática, mas pela avassaladora onda de cooptação que se abateu sobre boa parte de suas lideranças políticas.

A CPT trabalhando em conjunto com as paróquias nas periferias das cidades e com as comunidades rurais procurou organizar os trabalhadores em torno da reivindicação pela reforma agrária. Inspirada na teologia da libertação, esse movimento fornecerá os elementos necessários para que os trabalhadores rurais se organizem em um movimento que os represente na disputa pela terra.

Conforme salientamos acima, a Comissão Pastoral da Terra surge em um momento em que a ditadura militar alcançara seu auge. Perseguições, torturas, desaparecimentos de pessoas, sobretudo militantes políticos, marcaram esse período. Apesar disso, foi grande o número de revoltas contra o regime, principalmente de partidos de esquerda e representações sindicais. O clima de revolta contra o regime imposto fazia aumentar a participação dos trabalhadores em movimentos e passeatas pela redemocratização do país.

No campo, os conflitos de terra fizeram eclodir diversos movimentos sociais. Todos buscavam pela via política exigir que a reforma agrária de fato acontecesse. Esses movimentos tentavam pressionar os governos através de atos e manifestações, mas as derrotas aconteciam sucessivamente. A aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural é, sem dúvida, o exemplo mais emblemático.

Embora este documento garantisse aos trabalhadores rurais benefícios antes não reconhecidos, ele impunha sérias restrições para que fosse feita a reforma agrária reclamada pelos movimentos sociais, conforme acrescenta Martins:

O Estatuto procura impedir que a questão agrária se transforme numa questão nacional, política e de classe. De fato, nestes anos todos de governo militar, o problema agrário somente tem se mantido como problema nacional e político graças à vigilância e à ação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, da Igreja e, mais recentemente, de vários dos diferentes grupos políticos que recobraram há pouco alguma liberdade de atuação. (1986, p.96).

Entretanto, os trabalhadores conseguiram encontrar um meio de continuar a pressão ao poder público, utilizando um mecanismo que não ia de encontro ao que rezava o Estatuto. Esse mecanismo baseava-se num dispositivo que prevê a desapropriação por interesse social, em casos de tensões sociais. Assim as ocupações de terras foram iniciadas em todo o Brasil com o objetivo de mais uma vez pressionar o governo.

Das inúmeras ocupações de terra em todo o Brasil e do aprimoramento das formas de organização surgiu uma mobilização de trabalhadores que viria dar origem ao MST. De acordo com Martins (2004), esse Movimento “nasce motivado por demandas políticas e ideológicas estranhas ao trabalho pastoral” e por isso sua criação torna-se necessária naquele momento histórico.

Um encontro realizado em Cascavel – Paraná no ano de 1984 marca oficialmente o nascimento do MST. Algumas características presentes nesse momento definem bem seu papel e ao mesmo tempo evidenciam a forte influência que a Igreja Católica mantinha sobre o Movimento. Entre elas, podemos ressaltar a postura menos confrontacional assumida nos primeiros anos de sua existência.

Com o objetivo de facilitar a exposição e seguindo o exemplo de outros autores, dividiremos a história do movimento em três fases, marcadas por períodos de fluxo e refluxo de sua ação política.

A primeira delas relaciona-se ao período de institucionalização do Movimento, precisamente entre os anos de 1984 e 1990. Organizados inicialmente no sul do país,46 durante estes anos, o MST procurou montar sua base organizativa e social, por isso, diversas ocupações foram realizadas, sempre marcadas por uma postura de entendimento e negociação. O interlocutor principal até 1985 eram os governos estaduais e locais.

As intensas ocupações obrigaram o MST a buscar, junto às instâncias governamentais, o apoio de políticas públicas para os novos assentamentos que se gestavam naquele momento, o que incidia também numa outra demanda, a de organizar estas novas comunidades que se geravam sob a influência e proteção deste Movimento. Era necessário, portanto, mostrar a eficácia daquele novo jeito de produzir e viver para que o MST continuasse existindo e ganhasse novos adeptos.

Durante esse período, o MST contou com a ajuda pastoral da Igreja Católica através da CPT e de outros segmentos da esquerda brasileira, como o Partido dos Trabalhadores, que esperava receber o apoio deste Movimento para as eleições presidenciais que seu candidato disputaria em 1989.

Sob o impacto de ações agora mais radicais, contando com uma palavra de ordem que substituía “Terra para quem nela trabalha” por “Ocupar, Resistir e Produzir”, a segunda fase do Movimento pode ser demarcada entre os anos de 1990 e 1994. Esse momento político é considerado pelo MST como o momento mais difícil na história do Movimento, caracterizado pela forte perseguição política do governo Collor de Melo, vitorioso nas eleições de 1989, e da ofensiva da União Democrática Ruralista UDR, organização dos proprietários de terra que optaram por realizar ações violentas contra as ocupações realizadas pelo MST.

Esse período é marcado também pelo incentivo às formas cooperativistas de produção nos assentamentos, o que gerou grandes discussões teóricas sobre sua eficácia. Alguns autores47 têm afirmado que o Movimento vem ampliando nesses espaços as formas coletivas de trabalho e vivência social, buscando diversificar e respeitar os limites da produção coletiva. Há, contudo, um número ainda incipiente de pesquisadores que contribuem teoricamente com

46 Não consideramos necessário explicar as razões de as primeiras ações do Movimento terem se dado no sul do

país, tendo em vista o que já foi colocado sobre a fertilidade política desta região durante o período da ditadura militar.

47 À exemplo de Morais (2005) e Bogo (2002) e outros autores que desenvolvem estudos de caso nos diversos

uma visão diferente acerca da experiência que desenvolveram em assentamentos ligados ao MST. 48

A partir de 1995, o Movimento entra numa outra fase política. Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, tem início um período de elevado crescimento de assentamentos rurais promovidos pelo governo, mas sob a égide de uma política neoliberal cujas conseqüências mais conhecidas abalaram toda a sociedade brasileira, marcado por privatizações, abertura comercial, desregulamentação da economia, perda de direitos sociais e contra-reforma do Estado.

Embora FHC adotasse uma postura menos repressiva em relação às manifestações sociais, seu governo vai significar para segmentos da classe trabalhadora urbana uma terrível queda no potencial reivindicatório dos organismos sindicais e segmentos similares.

De acordo com Coletti (2003), a razão para esse refluxo do movimento sindical está na ameaça que os alarmantes níveis de desemprego representavam para os trabalhadores, para não mencionar a perda de direitos conquistados. A adoção da política neoliberal conseguiu neste período eliminar, sem usar de força repressiva, medidas que questionassem a ordem. Contraditoriamente, houve um avanço considerável no número de integrantes do MST.

Ainda de acordo com o mesmo autor, isso se deve ao fato de este Movimento não se sentir pressionado pelos argumentos repressores que o Estado e a iniciativa privada exerciam sobre os demais movimentos da classe trabalhadora. Colleti afirma:

[...] A política neoliberal, portanto, ampliou significativamente a base social do MST. Ainda que o modelo neoliberal e a exclusão social dele decorrente tenha começado com o governo Collor, não nos esqueçamos de que foi exatamente no primeiro mandato de FHC que tal modelo foi efetivamente aprofundado e, como já tivemos a oportunidade de afirmar, o movimento de luta pela terra encontrou, a partir de 1994- 95, um “solo mais fértil” para sua expansão pelo fato de o novo governo ser, pelo menos em princípio e à primeira vista menos repressivo e mais democrático se comparado ao governo Collor (2003, p.16).

Esta realidade advém do fato de o MST contar em sua base social com aqueles que não têm mais direitos a perder, além de trabalhadores sem terra, bóias-frias, juntam-se agora os desvalidos da cidade, que buscam no Movimento algo que lhes dê condições de vida e sustentabilidade.

48 Para obter maiores informações sobre esses pesquisadores e suas informações, sugerimos consultar Navarro

A postura adotada pelo MST a partir da realização do seu III Congresso realizado em junho de 1995, de combate à política neoliberal tendo em vista os prejuízos trazidos à agricultura, trouxe, para este Movimento, grandes aliados políticos, alcançando visibilidade inclusive internacional. 49 Para isso, dois acontecimentos marcaram tragicamente a história do MST e da luta pela terra: o massacre de Eldorado do Carajás e o de Corumbiara, ocorridos em abril de 1995 e agosto de 1996 respectivamente50.

Esses acontecimentos provocaram a realização de uma marcha51 em favor da reforma agrária e contra a política neoliberal, da qual participaram não apenas integrantes do MST, mas diversos segmentos da classe trabalhadora. O evento é considerado pelos sem terra como uma vitória contra o governo FHC que buscava, de acordo com Colleti (2003), “isolar e combater o MST”.

É importante ressaltar nesse período a presença de outros movimentos sociais rurais no cenário rural além do MST. De acordo com Navarro (2002), Pernambuco contava em 1996 com seis movimentos, em sua maioria, dissidentes do MST. Segundo ele, estes movimentos seriam o reflexo do descontentamento de alguns de seus integrantes às ações cada vez mais radicais e antidemocráticas do MST e de uma visão política distinta da vida social.

A opinião deste autor diverge da visão de Colleti, que denuncia serem estes movimentos, frutos de uma estratégia política de incentivo à criação de movimentos sociais rurais subordinados ao governo. A intenção, segundo ele, era de criar um isolamento político, desmoralizando o Movimento, conforme constatamos abaixo:

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A repercussão política internacional que estes acontecimentos provocaram, forçou o governo à criar um órgão com poderes ministeriais que combatesse a violência no campo- MEPE (Ministério extraordinário de Política Fundiária). Em seu segundo mandato FHC relativizou-o como MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), versão que permanece até hoje.

50 De acordo com Colleti: O massacre de Eldorado de Carajás, no leste do Pará, ocorrido em 17 de abril de 1996,

resultou da truculência da Polícia Militar contra os sem-terra, tendo gerado a morte de 19 sem terras, além de ter deixado outros 41 sem-terra, incluindo mulheres e crianças, e quatro militares feridos. O confronto ocorreu quando 200 policiais militares tentaram liberar a rodovia PA-150, bloqueada por 1200 trabalhadores rurais. Tratou-se do maior massacre dos sem terra ocorrido nos últimos tempos. Foi o segundo massacre no governo FHC, pois em agosto de 1995 ocorrera o massacre no município de Corumbiara, em Rondônia, quando 300 policiais militares invadiram de madrugada a fazenda Santa Elina, ocupada por 514 famílias sem-terra, expulsando-as do local. O resultado: dois policiais e dez sem-terra mortos. Esses massacres, e principalmente o de Eldorado do Carajás, noticiados pela mídia, chamou ainda mais a atenção da opinião pública nacional e internacional para a grave situação da luta pela terra no Brasil.

51 Sobre a marcha, o mesmo autor ressalta: (...) A marcha converteu-se na maior manifestação realizada contra o

governo FHC e sua política neoliberal e levou, segundo o MST, cerca de 100 mil manifestantes a Brasília; segundo outras fontes, 30 mil manifestantes para a capital do país.

Por fim, uma última providencia governamental: o governo tem estimulado, sorrateiramente, a criação de novos movimentos sociais no campo, menos agressivos politicamente e mais dóceis ao governo, com o objetivo de conduzir o MST ao isolamento e de criar canais alternativos de interlocução política. Há denúncia de que a Força Sindical, por exemplo, estaria recebendo dinheiro do governo para formar “lideranças” rurais [...] (COLLETI; 2003, p. 25).

Apesar disso, vale ressaltar aqui que em alguns Estados a presença de instituições ligadas à luta da terra chega a ser mais expressiva do que o próprio MST, contribuindo de forma positiva para a democratização do acesso a terra. Conforme o mesmo autor salienta:

[...] no Mato Grosso do Sul, em 2000, por exemplo, de um total de 68 ocupações de terra, 41 foram realizadas pela CUT do Mato Grosso do Sul, pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI) e por alguns Sindicatos de Trabalhadores Rurais daquele mesmo Estado, contra apenas 10 ocupações realizadas pelo MST (2003, p.12).

Há ainda um outro fator a mencionar que marcou o governo FHC em seus dois mandatos, no tocante à questão agrária e ao MST: o elevado número de assentamentos rurais criados no período. Mesmo considerando que os números apresentados apresentam sérias distorções em relação a dados de instituições como a Associação Brasileira da Reforma Agrária (ABRA)52, há que considerar que houve avanços significativos, ao menos até 200153, fruto, sobretudo, da pressão deste e de outros movimentos sociais sobre as instâncias governamentais.

Apesar dos números tão favoráveis à Reforma Agrária e ao MST, o ano de 2001 não foi de grandes avanços e sim de resistência para manutenção das conquistas alcançadas. Diversas ações foram realizadas com o intuito de quebrar a resistência dos trabalhadores, tais como a criação do Banco da Terra e a reforma agrária de Mercado54. Não sendo objeto de nosso estudo no momento discutir o funcionamento e objetivo de tais medidas governamentais, cabe-nos apenas mencioná-las.

O ano de 2001 foi, na opinião de Coletti, um dos anos mais difíceis do governo FHC para o MST. De acordo com o autor, a razão para isso foi a perseguição sofrida pelos movimentos sociais rurais, especialmente o MST, pelo governo e outros atores que passaram

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Houve ainda um grande número de denúncias realizadas pela grande imprensa de que o governo teria aumentado os números sobre a reforma agrária com o intuito de autopromover-se.

53 De acordo com Dados do Fórum Nacional de Reforma Agrária e Justiça no Campo, baseados em dados do

INCRA, foram assentados até 7/12/2001, 23.573 famílias.

54 Aqueles que desejarem mais informações a respeito, consultar Parreira (2005), Coletti (2003) e, numa visão

a compor o cenário político ligado à questão da terra nas últimas décadas tais como as indústrias de alimentos para exportação e as multinacionais de biotecnologia.

Em razão disso, o MST adotou uma postura de retraimento, procurando conservar as “conquistas” alcançadas até o momento, direcionando suas reivindicações para insumos agrícolas e políticas públicas para os assentamentos e acampamentos, sem deixar, contudo, de