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O MOVIMENTO MANGUEBEAT ATRAVÉS DO OLHAR DOS SEUS

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CAPÍTULO 3. COSTURANDO ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS DE

3.10 O MOVIMENTO MANGUEBEAT ATRAVÉS DO OLHAR DOS SEUS

Para refletir sobre as questões apresentadas para este trabalho, foram identificadas 30 possíveis informantes. Destes entramos em contato com 25 artistas. Destes foram realizadas 11 entrevistas ao todo. Todos/as entrevistados/as aceitaram ser identificados/as e emitiram suas opiniões e experiências em relação ao conteúdo do roteiro aplicado.

Os entrevistados são: profissionais da área da música, produtores, estilistas, designer, que viveram o Movimento Manguebeat e que foram importantes para se ter uma dimensão do que representou e do que foi o Manguebeat para eles. Para tanto, as questões giraram em torno de suas memórias e das experiências vivenciadas na época – além de serem questionados sobre o como eles viam/percebiam a identidade e o consumo no período entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990 na cidade do Recife.

Alguns dos entrevistados participaram do início do Movimento e ainda permanecem ativos no mercado e na cena cultural atual, como é o caso de Renato L. (Dj Renato L.). Assim foi possível percebermos através das falas dos entrevistados que ao resgatar suas memórias e experiências vividas nos anos 1990 nos possibilitou investigar elementos ou características fundamentais para que pudéssemos ter a percepção de uma semelhança ou aproximação do que foi o processo do Movimento desde seu início até a cena atual.

De 25 roteiros enviados, 14 pessoas não os devolveram com as respostas. Dessas, apenas uma pessoa se manifestou textualmente, discorrendo sobre sua incapacidade de responder ao questionário por estar afastada do Movimento – as demais pessoas que receberam, então, não apresentaram qualquer justificativa pela não devolução do roteiro.

As entrevistas foram feitas com artistas de novas gerações, e deles queríamos saber como eles veem a representação deste Movimento e qual experiência eles tiraram desse legado – caso houvesse – para sua vida profissional.

Algumas perguntas foram feitas para todos os entrevistados enquanto outras foram mais específicas por serem direcionadas a artistas de áreas diferentes, assim como de contextos diferenciados. A utilização do roteiro auxiliou nesta adequação das questões.

Portanto, dos entrevistados tivemos os que viveram a época do Manguebeat e que estão na atual cena cultural do Recife, um dos Líderes do Manguebeat e atualmente Dj Renato L.; o cantor China; o Produtor do Festival Abril Pro Rock, Paulo André; Márcia, dona da Loja Período Fértil; Osman Frazão, Designer da empresa FAG Bolsas e Acessórios; a cantora Isaar e Dj Dolores (Helder Aragão).

E com relação aos que não viveram o Movimento, temos o Graxa; O Chiquinho (Banda Mombojó); Zé Cafofinho, o cantor Barro. Todos entrevistados/as autorizaram o uso de seus nomes para este projeto, e suas falas são transcritas abaixo.

A primeira questão apresentada aos sujeitos desta pesquisa foi sobre o significado para eles do Movimento Manguebeat. Esta questão teve como objetivo de compreensão sobre o significado e percepção do Movimento.

Uma das mais significativas representações sobre o Movimento associa-se ao questionamento sobre a pertinência ou não da categoria Movimento para identificar o conjunto de experiências da época. Os sujeitos desta pesquisa, associam o termo a uma estabilidade, a uma linearidade que não estava prevista no bojo de sentido de “cena” ou “movimentação cultural”. De acordo com um dos informantes, eles não se percebiam enquanto movimento, mas enquanto processo.

Além da discussão em torno da denominação “movimento”, outro termo que foi bastante evidenciado nas entrevistas foi o de “autoria”, e os entrevistados se referiam a uma produção “de forma autoral”, destacando, nela, uma ideia acerca de contracultura. Pode-se dizer, seguindo esta linha de argumentação, que o Movimento proporcionou a inserção de outros elementos em campos diversos, sendo que eles também foram contemplados pelo boom do Mangue, a exemplo da música, evidentemente, mas também do cinema, da grafitagem, do teatro e outros. O campo da moda pernambucana, que aqui destacamos, floresceu com uma vasta produção “alternativa” ou, como disseram os entrevistados, de contracultura. A dona

da Loja Período Fértil que surgiu na época do Movimento e hoje está ainda na cena e no mercado local, Márcia, destaca em seu depoimento que

[...] existia uma necessidade eminente né, pela experiência da gente assim enquanto profissional, enquanto artista de uma busca por uma identidade cultural a gente tava, tinham várias pessoas, fazendo várias coisas nesse mesmo sentido e a música ela impulsionou, e eu me lembro que a gente começou a fazer roupa em 87, quando eu conheci Clesinho [...] a gente fazia roupa pra a gente, fazia roupa mais colorida, naquela época não existia nada de moda aqui, as pessoas compravam a roupa que vinha de fora, a roupa legal era o que vinha de fora, ou vinha do sudeste, ou vinha do exterior e quando a gente fazia a roupa pra a gente, as pessoas queriam aquela roupa, por isso que a gente começou a fazer a roupa, na verdade a gente era de outra área, né as pessoas queriam a roupa[...] nada era intencional, nem a gente queria fazer uma roupa regional ou a gente queria fazer uma roupa ligada[...] nada era intencional, era o que tava na gente, a criação da gente, era nossa referência mesmo, então era a roupa, mais estampas, mais colorida eu acho que isso tem a ver claro com a nossa cultura né, tem a ver com a coisa regional, mas acho que tinha também assim, tinha uma pegada mundial, uma preocupação com estilo”.(MÁRCIA DA PERÍODO FÉRTIL,2016)

Assim, no ápice da globalização e da cultura vertical e homogeneizadora, o Movimento Mangue gerou uma cadeia de produção e consumo de forte apelo ao autoral que, como dissemos, ultrapassou as barreiras da música e atingiu de modo eufórico outros campos artísticos e culturais. Em muitos casos, essa nova perspectiva, que é dinâmica, se mantém atualmente, através de marcas que ainda estão presente na cena atual, a exemplo de empresas como F.A.G, marca de bolsas, a própria Período Fértil, as sandálias Fernando Viana e Jailson Marcos, etc essas marcas podem auxiliar a ilustrar este processo. Sua produção ainda pode ser considerada autoral pelo fato de que são produzidos localmente e com característica da cultura local de forma inovadora, portanto ainda mantém as características mencionadas.

Essa observação será de fato relevante para entendermos outras questões apresentadas e discutidas pelos sujeitos da pesquisa, mais adiante. Por ora, destacaremos a visão sobre cultura de consumo na concepção de Slater, antes de entrarmos na segunda parte da análise deste trabalho, sobre a manutenção da identidade no Pós-Movimento Manguebeat e a práticas de consumo decorrentes dela, nosso objetivo nesta pesquisa.

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