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O “mundo próprio” da estrutura perceptiva: a hecceidade e a emergência do

serão decisivos para que as teses em torno do comportamento desenvolvidas até aqui possam efetivamente ser aplicadas como um retorno ao sentido mais ontológico do organismo.

3.2 O “mundo próprio” da estrutura perceptiva: a hecceidade e a emergência do conceito de corpo próprio

Não há percepção sem significado; não há significado que não tenha sua expressão num comportamento; e não há comportamento que não se relacione com o corpo próprio. Tais proposições nos parecem centrais para pensarmos a consolidação não apenas do conceito de corpo próprio, mas da articulação de outros dois conceitos fundamentais implicados nesta discussão: comportamento simbólico e intencionalidade.

A articulação desses três conceitos parece evidenciar um tema essencialmente complexo e controverso no pensamento de Merleau-Ponty: a encarnação. É interessante notar como nossa arqueologia do conceito de corpo próprio remete a uma questão usualmente relacionada com um “segundo” Merleau-Ponty, que insurge a partir da obra A Fenomenologia da Percepção.

Isso leva a crer que tal distinção só teria sua validade quando pensada em seu sentido didático. Todavia, como partimos de uma pressuposição de que a própria atividade do filosofar não pode ser concebida isoladamente de seu anseio de comunicação, a distinção entre um primeiro e um segundo Merleau-Ponty, fundamentada nas limitações de algumas teses de suas primeiras obras, torna-se incompreensível para nós.

Alguns comentadores tomam o tema da encarnação da consciência no corpo como um ponto essencialmente embaraçoso da filosofia de Merleau-Ponty. Renaud Barbaras (2000), por exemplo, se apresenta como um pioneiro dessa constatação.

Por parte de Barbaras, essa evidência se apresenta por meio de dois pontos fundamentais: o primeiro se relacionaria com a falta de explicação razoável da forma de encarnação da consciência no corpo próprio, conotando uma espécie de idealismo, ou mesmo de dualismo que ainda se manteria no pensamento merleau-pontiano.

Apenas tardiamente que o conceito de natureza de Merleau-Ponty se torna o objeto de uma reflexão autônoma. Até os anos de 1956 e 1957, Merleau- Ponty utiliza esta noção de maneira pouco crítica e confere a ela o sentido filosófico corrente. [...] Esta é a concepção clássica da natureza, comum a Descartes e a Kant, que Merleau-Ponty conserva (retem) aqui se, uma vez bem entendido, ao interrogar a possibilidade do aparecimento, no cerne desta natureza, de uma consciência a aqual ela surgiria. (BARBARAS, 2000, p. 1)39

Barbaras fundamenta sua interpretação principalmente em torno da noção de natureza tomada no horizonte da obra A Estrutura do Comportamento. De acordo com o comentador em questão, esse conceito ainda é mantido, por Merleau-Ponty, próximo ao horizonte de Kant e Descartes.

Esse autor apresenta, porquanto, a limitação no que concerne à compreensão do conceito de natureza sem, contudo, perceber a radicalidade do projeto merleau-pontiano nos termos exigidos pelo ponto de partida do filósofo: a compreensão biológica do organismo vivo como uma propriedade fundamental.

As teses apresentadas nos textos anteriores à obra A Estrutura do Comportamento não recairiam na limitação apontada por Barbaras. Isso se deve ao fato de o problema da consciência, nas obras pré-estrutura, se manter no campo da motricidade, fazendo com que Merleau-Ponty não tenha a necessidade de definir precisamente o conceito de natureza.

Os escritos anteriores à obra A Estrutura do Comportamento tomam a natureza da percepção apenas no nível da constituição um organismo total. O comportamento e a instituição de sentido aparecem apenas como consequências da argumentação – vale salientar que essas teses ainda não são explicitamente apresentadas pelo filósofo francês.

Entretanto, se o sentido de totalidade repousa harmonicamente no corpo próprio, já podemos notar que a totalidade orgânica implica que o natural no homem deve ser interpretado como uma instituição de sentido. Esta, por sua vez, integra-o a um plano de objetos culturais, sendo que não há natural no homem que não se relacione com o cultural.

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Ce n'est que très tardivement que, chez Merleau-Ponty, le concept de nature en vient à faire l'objet d'une réflexion autonome. Jusqu'aux années 1956-57, Merleau-Ponty utilise cette notion de manière non critique et lui confère le sens philosophique courant. [...]C'est bien la conception classique de la nature, commune à Descartes et à Kant, que Merleau-Ponty retient ici même si, bien entendu, en interrogeant la possibilité du surgissement, au sein de cette nature, d'une conscience à qui elle apparaît [...](BARBARAS, 2000, p. 1)

Mas quando adentramos na obra de 1942, algumas pistas com relação à forma como Merleau-Ponty (2006, p. 217) compreende o conceito de natureza nos são apresentadas. Ela tem, como ponto fundamental de discussão, a compreensão inovadora da própria noção de lei quando tratamos do mundo concreto de nossa experiência: “A lei não podendo ser separada dos acontecimentos concretos no quais se entrecruza com outras leis para com estas receber valor de verdade”.

O entrecruzamento concreto das leis conota, no mínimo, uma compreensão da natureza não mais como representação da consciência, mas como propriedade fundamental do fenômeno mundo. Não nos parece, por acaso, que Merleau-Ponty (2006, p.1) em A Estrutura do Comportamento apresente uma análise do problema da natureza em momentos muito específicos da discussão: “O mundo é o conjunto das relações objetivas sustentas pela consciência”.

Logo de saída, a relação entre natureza e consciência faz com que o autor retome muitos apontamentos das obras de 1933 e 1934. É perceptível que, ao invés de utilizar, como fizera nos textos “pré-estrutura”, de uma filosofia de inspiração criticista, ele ressalte o pensamento criticista em si, promovendo um deslocamento direto para os pressupostos propriamente kantianos.

Essa descrição explicita algumas noções centrais da filosofia kantiana, como fenômeno, coisa em si e transcendental. Elas parecem ser colocadas propositalmente pelo filósofo francês, a fim de estabelecer uma compreensão fundamental da percepção que esteja estruturada em um ponto totalmente divergente do filósofo alemão – ele segue, passo a passo, o percurso apresentado na conclusão de A Natureza da Percepção.

Em nossa interpretação, a coragem de se contrapor diretamente ao sistema kantiano, principalmente em torno do aparelho representacional e da compreensão da natureza como ponto de acesso concreto a coisa em si, dá-se pelo aprofundamento dos estudos conforme as relações entre Gestalt e fenomenologia, propiciado principalmente pelo contato com Aron Gruwstich.

Relativamente à natureza física, o pensamento criticista dá a esse problema uma solução bem conhecida: a reflexão descobre que a análise física não é uma decomposição em elementos reais, que a causalidade no seu sentido efetivo não é uma operação produtora. [...] Não existe, pois, natureza física no sentido que acabamos de dar a essa palavra, nada existe no mundo que seja estranho ao espírito. Podemos dizer que, em seu desenvolvimento, a física justifica efetivamente essa filosofia. Vemo-la repregar indiferentemente modelos mecânicos, dinâmicos ou mesmo psicológicos, como se libertada de pretensões ontológicas, ela se tornasse indiferente às antinomias clássicas do mecanicismo e do dinamismo que supõem uma natureza em si (MERLEAU- PONTY, 2006, p. 1).

Mas o que nos interessa aqui, além da remissão às obras pré-estrutura, é como esse complexo plano de contraposição conceitual, tomado com extrema naturalidade por parte do filósofo francês, já passa às análises do arco reflexo de Pavlov.

Como não considerar esse trecho como uma formulação fundamental do próprio conceito de natureza, de maneira autônoma, por parte de Merleau-Ponty? Por mais que o contexto seja pontual e vise compreender as relações entre natureza e consciência, a atitude imprescindível de tomar uma natureza em si a partir das antinomias clássicas do mecanicismo e do dinamismo ainda se mantém no plano do atomismo, de uma filosofia da substância que não consegue ultrapassar a noção de fenômeno para além de uma representação interna da consciência.

Essa forma de dualismo mais refinado é combatida a partir do pressuposto ontológico, visto não como propriedade do ser enquanto ser, mas como um significado da própria natureza instituída pela intrínseca relação com a percepção do mundo.

O sentido de uma operação produtora não pode ser mantido com a explicação causal que fundamenta essa filosofia. A expressão “operação produtora”, aplicada às relações presentes na natureza, é central para o desenvolvimento das teses de Merleau- Ponty, o atomismo e a filosofia da substância, bem como à própria redução fenomenológica em termos husserlianos, à filosofia criticista e à experiência significativa do cogito cartesiano. Portanto, não podemos conceber as relações do mundo natural como produtoras.

É importante ressaltar como o pensamento de Merleau-Ponty mantém uma unidade. Nos textos pré-estrutura, vimos que, quando o autor se propõe a discutir as filosofias de inspiração criticista, a noção de “movimentos nascentes” é utilizada para um novo tipo de compreensão do papel do sistema nervoso na ação humana. A radicalização da percepção o leva a enunciar uma seqüência de teses negativas que desestruturam o dualismo por meio da análise crítica do arco reflexo, sendo que não há qualquer possibilidade idealista (ou dualista) no percurso filosófico de Merleau-Ponty.

A percepção e a motricidade conotam um direcionamento ao mundo não como uma consequência de relações físicas, mas como a abertura ao campo de significados. Sendo assim, a intencionalidade nos aparece como uma propriedade dessa operação produtora no nível do organismo humano.

É óbvio que Merleau-Ponty não postula que a propriedade de instituição de sentido poderia ser presente num elétron, numa nuvem ou num cascalho, como já vimos pelo sentido metafórico de seus comportamentos. Entretanto, o vivo em todos os níveis

resiste à mera interpretação mecânica, fundada na causalidade, tendo em vista a peculiaridade de cada organismo e as suas estruturações.

Nesses termos, a ruptura com a filosofia das substâncias na elaboração do conceito de corpo próprio requer um afastamento do atomismo, ao mesmo tempo em que implica na revisão da própria noção de natureza.

A remissão a Wertheimer esclarece ainda mais como Merleau-Ponty (2006, p. 211) concebe a totalidade de maneira radical, inclusive no plano do conceito de natureza: “Pouco importa de que material as partículas do universo são feitas, o que conta é o tipo de totalidade, o significado da totalidade”.

Apreende-se que tal propriedade dos organismos vivos se mostra como presenças formais da própria natureza orgânica dos seres. Assim, Merleau-Ponty (2006, p. 208) pressupõe que a própria natureza não pode ser descrita como refém da ideia de uma causalidade física: “[...] não se poderia nem sequer supor uma relação de derivação ou causalidade, nem consequentemente, exigir modelos físicos que sirvam para sustentar no ser as formas fisiológicas ou psíquicas”.

A relação entre o estímulo e a resposta tem, nesse ponto, sua gênese no plano da própria relação presente na natureza. Os fenômenos naturais implicam numa nova possibilidade de compreensão das causas e dos efeitos no mundo; o fenômeno é, por si, uma coisa em si à qual tenho acesso, e a consciência não é o paradigma da constituição de um mundo objetivo das representações que me colocaria a questão fundamental sobre o que é permitido conhecer. Por conseguinte, não há regras determinadas apenas pelo domínio da razão, para o mundo da vida.

Merleau-Ponty (2006. p. 291) afirma uma metáfora esclarecedora que nos servirá para contrapor a importância dessa concepção inicial da natureza para a noção de corpo: “O corpo está presente para a alma como as coisas exteriores; em ambos os casos não se trata, entre os dois termos, de uma relação causal”. Diante disso, a causa e o efeito parecem não satisfazer a concepção de natureza em Merleau-Ponty.

Do mesmo modo, a lei da queda dos corpos somente é e continuará verdadeira se a velocidade de rotação da terra não for aumentada gradativamente com o tempo; [...] a lei não poderia exprimir uma propriedade absoluta do mundo, ela representa certo estado de equilíbrio das forças que determinam a história do sistema solar (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 215).

Não aprendemos um mundo como uma natureza anônima e passiva. Mas a partir do pressuposto da estrutura, a própria definição do homem sofre um deslocamento que

ressoa nas formas de relação com um “mundo natural” incubado de significados disponíveis.

O sistema corpo próprio – mundo, em sua originalidade de ser bruto ou selvagem, desloca-se de uma apreensão da consciência, constituindo um fenômeno em terceira pessoa, para atestar uma “lei de imanência”, um campo, um espetáculo garantido pela abertura que é a assegurada pela percepção do corpo próprio, conforme Merleau-Ponty (2006, p. 214): “Expressões diferentes implicam diferentes possibilidades, o que resulta que a lei é imanente. As propriedades são deste ponto. Não há propriedades absolutas”.

O corpo próprio, como lugar privilegiado em que se entrecruzam sentido e consciência, inaugura uma via de explicação do organismo humano que não recai nos termos da encarnação de uma consciência auto-suficiente, a qual “desceria” a um corpo e exigiria que a própria noção de natureza sofresse um deslocamento.

A tomada de consciência nada acrescenta às estruturas físicas, é somente o índice de estruturas físicas particularmente complexas. Essas estruturas, e não a consciência, devemos dizer, é que são indispensáveis para a definição do homem. Enquanto virmos no mundo físico um ser que abarca todas as coisas e quisermos aí inserir o comportamento, seremos, remetidos a um espiritualismo que somente mantém a originalidade das estruturas biológicas e psíquicas opondo substância a substância […] (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 212-213).

O problema é deslocado: não mais estamos tratando de duas entidades distintas, mas de um sistema único que mantém seus pressupostos de diferenciação. Todavia, estes fazem “[...] explodir no campo fenomênico uma intenção num ciclo de gestos significativos, ou soldar nas coisas em que vive as ações que estas solicitam” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 292).

É esse o tema fundamental, o qual faz com que a consolidação do conceito de corpo próprio exija uma ampliação, a partir da perspectiva motora do comportamento e de sua intencionalidade latente, para um novo sentido do transcendental. A relação entre corpo próprio e mundo se faz por meio de um transbordamento de significados, o que implica numa nova maneira de se compreender o “mundo próprio” da estrutura perceptiva.

O problema da encarnação se liga à falta de uma concepção de natureza que acompanhe a radicalidade requerida pela noção de corpo próprio. Barbaras (2000) aponta, com razão, que a compreensão da natureza necessita acompanhar a percepção como experiência concreta e radical, mas há um ponto que escapa ao grande

comentador de Merleau-Ponty. A influência das teses de Goldstein na elaboração do conceito de corpo próprio é reconhecida por Barbaras (2000) que, no entanto, não atenta a outra questão oriunda da obra do neuropatologista, ressoando diretamente em A Estrutura do Comportamento: o mundo próprio, conforme Jacob Von Uexküll, o Umwelt.

O meio (Umwelt) se recorta no mundo segundo o ser do organismo – dado que um organismo pode ser apenas se encontra no mundo um meio adequado. Seria um teclado que se moveria por si mesmo, de modo que oferecesse – e segundo ritmos variados – algumas de suas notas à ação nela mesma monótona de um martelo exterior (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 15).

Diante disso, o paradigma da adaptação é aceito por Merleau-Ponty sob o ponto de vista fundamental do Umwelt, haja vista que o filósofo francês busca tanto a recusa da substancialização do organismo no molde mecanicista, quanto o distanciamento de uma visão estritamente relacionada à interioridade do vivente.

Com isso, a totalidade orgânica requer necessariamente que o organismo possua suas formas próprias de adaptação, reagindo de maneira peculiar na conservação e na instituição de novos sentidos e significados para seu meio próprio.

Essa “estruturação” do estímulo e da resposta nos delimita que, para Merleau- Ponty (2006, p. 232),

[...] cada organismo tem, pois, na presença de um meio dado, suas condições ótimas de atividade, sua própria maneira de realizar o equilíbrio [...], e as determinações [...] desse equilíbrio não são dadas por uma pluralidade de vetores, mas por uma atitude geral com relação ao mundo.

As formas peculiares de elaboração da resposta do organismo abrem um mundo próprio, uma forma particular que constitui o comportamento simbólico no caso específico do homem. O ambiente integra o comportamento do organismo e o organismo individual integra sua existência normal no ambiente, por mais que possamos apontar variações possíveis.

Essa mesma tese é acompanhada por Kurt Goldstein, o que mais uma vez nos apresenta a influência do neuropatologista para a filosofia de Merleau-Ponty.

Os trabalhos fundamentais de Uexküll, aos quais nos remetermos, são fundamentados a tal ponto nos fatos, e possuem uma aplicação de princípio tão geral, que não seria difícil que encontrassem objeções. Quanto (para) aquele acometido por lesões cerebrais, nossas próprias pesquisas chegaram, em todo o caso, aos mesmo resultados(GOLDSTEIN, 1983, p. 75).40

40

“Les travaux fondamentaux d'Uexkull, qui s'y rapportent, sont à tel point fondés sur les faits et d'une application de principe si genéral qu'ils ne sauraient guére rencontrer d'opposition.o o Pour ce qui est des

A própria questão da motricidade nos é demonstrada diretamente nessa estreita relação entre Merleau-Ponty e Goldstein, tendo agora, em von Uexküll, mais um ponto comum que apresenta valor intrínseco na instituição de significado como expressão de um comportamento particular do organismo que não pode ser reduzido a leis.

A força das relações de conjunto dos músculos e dos nervos com o meio evidencia a ruptura com as concepções que concebem o organismo como resultado de processos ocasionais. Estes resultariam, em última instância, na manutenção dos mais preparados numa seleção natural das formas vivas – esse não é definitivamente o percurso elaborado pelo Umwelt.

O foco de Uexküll, desde seus primeiros trabalhos em torno da fisiologia do ser vivo, é a demarcação das propriedades do vivo numa estreita relação com o meio. Ele pretende destacar a organização própria dos seres vivos na constituição de um mundo próprio (Umwelt).

As realizações de Uexküll no campo da fisiologia muscular, dos estudos do sistema nervoso dos animais e, de forma geral, das propriedades de integração do organismo vivo com seu meio são extremante consistentes e ressoam em diversas áreas do conhecimento.

As concepções de Uexküll correspondem exatamente às nossas próprias concepções básicas, no sentido de se afastarem da interpretação tradicional de excitação no sistema nervoso como um fenomeno oscilatório [...] (GOLSTEIN, 1983, p. 80).41

Um dos principais pontos defendidos por Uexküll na investigação sobre vivo e seu meio próprio é o abandono da perspectiva antropocêntrica. Com isso, há uma proposta de desumanização da natureza.

Tal procedimento conota a coerência do trabalho do biólogo alemão por buscar um mergulho na percepção própria de cada animal na construção de um “mundo próprio”. Este amplia as relações entre o estímulo e a resposta, marcando a importância dos processos de equilíbrio dinâmico com o mundo.

O projeto de Uexküll se coloca no campo de descrição das condições de relação entre um organismo vivo e um mundo próprio a partir da percepção sensorial como malades atteints de lésions cérébrales, nos propres recherches ont abouti dans tous les cas aux mêmes résultats.” (GOLDSTEIN, 1983, p. 75).

41

“ Les vues d'Uexkull correspondent assez exactement à nos propres conceptions fondamentales, en tant qu'elles s'écartent de l'interprétation traditionnelle de l'excitation dans le systéme nerveux comme d'une phénoméne oscillatoire [...]” (GOLDSTEIN, 1983, p. 80).

característica própria dos animais

Esse autor remete ao papel decisivo do sujeito para a sua biologia por meio de uma espécie de apelo ontológico implícito em suas considerações sobre a percepção animal.

No caso do mundo próprio do organismo propriamente humano, dotado de um plano de função específico que lida com determinados significados próprios, a relação entre o corpo e o mundo atinge o terreno das significações; a noção de Umwelt encontra, então, uma realidade estrutural divergente da operação causal em seu sentido físico.

O termo Umwelt abre um campo de investigação muito peculiar em biologia e em zoologia (Umweltforschung – pesquisa ambiental), tomando as propriedades orgânicas como dinâmica própria que potencializa o equilíbrio do organismo com seu meio próprio, na constituição de um todo novo.

Para o fisiólogo cada ser vivo é um objeto que se situa no seu mundo próprio do homem. Examina-lhe os órgãos e o seu funcionamento total, como um técnico examinaria uma máquina que seja nova para ele. O biólogo, ao contrário, toma em conta que cada ser vivo é um sujeito, que vive num mundo