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Para este trabalho, é importante recuperar como a sociedade são-carlense se formou e se transformou. A cidade de São Carlos, SP, sítio desta pesquisa, está localizada no interior do Estado de São Paulo na região centro-leste, a uma distância de 230 km da capital. Fundada em 1856, a vila de São Carlos do Pinhal foi elevada a cidade, desmembrando-se de Araraquara, em 1880. De acordo com dados do censo de 1950 a população total era de 47.731 habitantes, compreendendo os distritos de Água Vermelha, Ibaté e Santa Eudóxia. O município recebeu numerosas correntes migratórias, destinadas à agricultura e posteriormente à indústria, principalmente de italianos, espanhóis, portugueses, alemães, sírio-libaneses e japoneses. Com aproximadamente 30% da população residindo na zona rural, o município sofreu com a crise cafeeira que abalou o país no início da década de 1930 e passou a cultivar a policultura (algodão, laranja, cereais, tomate, etc) e a pecuária, principalmente de leite (IBGE, 1958).

Em pleno desenvolvimento, ao longo das décadas de 1930 e 1940, São Carlos firmou-se no setor industrial, como por exemplo, na produção de lápis e geladeiras, com as maiores fábricas da América do Sul, a Johann Faber e a Indústria Pereira Lopes; além de fábricas de fiação e tecelagem, adubo, cola, correntes e pregos, entre outras. Citando os dados do IBGE, na década de 1950 o município possuía cerca de 320 indústrias, totalizando seis mil operários. A cidade possuía água encanada, rede de esgoto, luz elétrica, serviço de entrega postal a domicílio, 3 linhas de bonde, 4 linhas de ônibus urbanos e mais de mil telefones instalados (IBGE, 1958).

Figura 2. Estação Ferroviária de São Carlos, SP. Ponto do bonde, 1939. Fonte: Fundação Pró-Memória.

Figura 3. Avenida São Carlos, Igreja Matriz, 1940. Fonte: Fundação Pró-Memória

Com mais de 40% de suas ruas pavimentadas, São Carlos, SP em meados do século XX, se caracterizava como uma cidade de traços modernos, ruas e avenidas largas e compridas, numerosas praças, piscinas e parques infantis. O Almanach de São Carlos, organizado e publicado em 1894 pelo jornal A Emprensa d’O Popular, assim descreveu a cidade: “suas largas ruas, traçadas na direção de sul a norte e leste a oeste, cruzam-se em ângulos retos formando quarteirões iguaes” (p.48).

Em uma publicação extensa e bastante detalhada, no jornal A Cidade, em 1º de agosto de 1940, São Carlos, SP é visitada e descrita pelo colaborador do jornal Correio Paulistano Lelis Vieira, também Diretor do Departamento do Arquivo do Estado de São Paulo:

[...] Antes de mais nada, que cidade admirável! O Arquivo Municipal ora inaugurado é um trabalho altamente significativo. Com isso o Sr. Prefeito Carlos de Camargo Salles mostrou a sua notável compreensão de conservar o passado como vitórias e triunfos ancestrais. Visitamos a Piscina do Espraiado, magnífico recanto florestado, água rojante que abastece a população e serve devidamente para os grandes exercícios do esporte aquático. Dali passamos a ver a outra piscina no centro da cidade. Organização perfeita, ordem, disciplina, higiene, local maravilhoso, parque infantil, arborização lindíssima, tudo num esplendido conjunto de arte, finura e bom tom! Fizemos um longo footing por todos os ângulos da cidade. Em cada canto uma impressão, em cada trecho um embevecimento. Vimos o Aprendizado Agrícola “Adhemar de Barros”, modelo de planos organizados, fumo em produção, trigo, frutas, tudo pronto para formar técnicos agrícolas, competentes e especializados. No mundo esportivo, São Carlos está sendo o centro vivíssimo de todas as atenções! Pista de corrida de automóveis, pista de corrida livres e no meio um lindo campo de futebol. [...] Examinamos o campo de aviação. Otimamente situado! Voltamos a percorrer a cidade, a enorme cidade. Desta vez, de automóvel, cruzando os magníficos bondes elétricos, com 3 linhas de serviço de transporte. Edifícios suntuosos, como o Colégio das Irmãs, a cadeia em construção, os templos vastos, a Prefeitura, a Escola Normal, verdadeiro monumento arquitetônico [...]. Vimos o Seminário, o palácio episcopal, a escola Profissional, as residências solares, ruas com quilômetros e quilômetros de extensão, quasi todas calçadas [...] (VIEIRA, Lelis, Visita à São Carlos. A Cidade. São Carlos, SP, p.1, 1 de agosto de 1940).

Intitulada de “Cidade Sorriso” e de “Atenas Paulista” o clima ameno da cidade é elogiado diversas vezes nos jornais, bem como a sua localização geográfica e sua extensa estrada de ferro, descrita num artigo publicado em 1947, como tendo 267 quilômetros. Com intensa vida cultural, a cidade possuía a única editora do interior paulista, a Editôra Didática, bem como a sede da Associação Jornalística do Interior e um Centro de Cultura Artística.

Figura 4. Estação Ferroviária de São Carlos, SP, 1941. Fonte: Fundação Pró-Memória.

Um marco importante do período é a criação da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), cujo funcionamento teve início em 1953. O censo de 1950 se refere ao município como sendo “centro educacional e cultural de grande importância na região, com acentuada função cultural e estudantil”, tendo uma rede educacional privilegiada para época, com os seguintes estabelecimentos de ensino: Primário – 106 escolas isoladas e 7 Grupos Escolares e 2 Grupos Escolares Noturnos; Secundário – 4 ginásios, 3 colégios, 2 de ensino industrial, 3 de ensino comercial, 1 de belas-artes, 1 conservatório musical, 1 seminário, 2 cursos Normal, 1 instituto de educação, 1 SESI e 1 SESC; Superior – Escola de Engenharia da USP e a Escola Superior de Educação Física. Em relação à alfabetização, o censo apontou que São Carlos registrava 64% da população de 5 anos e mais alfabetizada. Sendo 14098 homens e 12635 mulheres que sabiam ler e escrever (IBGE, 1958).

Figura 5. Praça Coronel Salles, 1940. Fonte: Fundação Pró-Memória

Circulavam no período, com publicações diárias, três jornais impressos – Correio de São Carlos, A Cidade e A Tarde, além de seis boletins e uma revista. A imprensa são-carlense contava também com uma radioemissora, a Rádio São Carlos. Sendo utilizada como uma das fontes nesta pesquisa dois jornais impressos de maior circulação no período, o Correio de São Carlos e A Cidade, já abordados no tópico anterior.