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O nível discursivo – semântica discursiva

No documento 2016VandaAparecidaFaveroPino (páginas 60-63)

4 A TEORIA SEMIÓTICA GREIMASIANA

4.2 O PERCURSO GERATIVO DO SENTIDO

4.2.6 O nível discursivo – semântica discursiva

A semântica discursiva trata dos investimentos temáticos e figurativos que constituem o discurso. Ela é o campo das determinações inconscientes. Isso porque um discurso é formulado a partir de outros discursos já existentes e cujas condições de produção foram apagadas. Esses elementos semânticos são assimilados pelo homem ao longo de sua vida, e são responsáveis pela maneira como ele entende o mundo que o cerca (FIORIN, 1998). É por essa razão que muitos temas são recorrentes na maioria dos discursos. “A semântica discursiva é o campo da determinação ideológica propriamente dita. Embora esta seja inconsciente, também pode ser consciente” (FIORIN, 1998, p.19). É através da recorrência temática e das figuras colocados no discurso de maneira inconsciente (ou consciente) que podemos entender como ele se forma. De acordo com Barros (1997, p. 68):

Os valores assumidos pelo sujeito da narrativa são, no nível do discurso, disseminados sob a forma de percursos temáticos e recebem investimentos figurativos. A disseminação dos temas e a figurativização deles são tarefas do sujeito da enunciação. Assim procedendo, o sujeito da enunciação assegura, graças aos percursos temáticos e figurativos, a coerência semântica do discurso e cria, com a concretização figurativa do conteúdo, efeitos de sentido sobretudo de realidade.

Assim, conforme mencionado por Barros (1997), são dois os procedimentos semânticos do discurso: a tematização e a figurativização. Esses procedimentos apresentam-se como dois níveis de concretização do sentido (FIORIN, 1997). “Todos os textos tematizam o nível narrativo e depois esse nível temático poderá ou não ser figuratizado” (FIORIN, 1997, p. 64). A figura remete a elementos do mundo natural como uma borboleta, a areia da praia, o calor. O tema é um investimento semântico de natureza conceptual que não remete ao mundo natural. “Temas são categorias que organizam, categorizam, ordenam os elementos do mundo natural [...]” (FIORIN, 1997, p. 65). Podemos citar como temas termos como respeito, experiência,

pavor. Assim os textos figurativos constroem um simulacro de realidade, já os textos temáticos

têm uma função interpretativa. Nesse sentido, dependendo das escolhas discursivas, os textos

46 Barros (1997, p. 60) explica que os efeitos de realidade ou referente são mais frequentemente construídos por

mecanismos da semântica discursiva, através do recurso da “ancoragem”, que consiste em “atar o discurso a pessoas, espaços, e datas que o receptor reconhece como ‘reais’ ou ‘existentes’, pelo procedimento semântico de concretizar cada vez mais os atores, os espaços e o tempo do discurso, preenchendo-os com traços sensoriais que os ‘iconizam’, os fazem ‘cópias da realidade’”.

poderão ser predominantemente temáticos (mais abstratos) ou predominantemente figurativos (mais concretos).

Barros (1997, p.11) relata que “no nível discursivo, as oposições fundamentais, assumidas como valores narrativos, desenvolvem-se sob a forma de temas e, em alguns textos, concretizam-se por meio de figuras”. Em alguns, porém, a figurativização é reduzida ou esparsa, todavia, mesmo em número inferior, esta figurativização está presente no texto. Dessa forma, a coerência do discurso está associada à recorrência temática.

Os percursos figurativos recobrem os percursos temáticos e percursos narrativos. É importante ter claro que a enunciação “aparece” com maior intensidade no nível das estruturas discursivas. De acordo com Barros (1997), a enunciação se revela nas projeções da sintaxe do discurso, nos procedimentos de argumentação e na escolha dos temas e figuras, sustentadas por formações ideológicas.

A análise interna do texto apreende esses aspectos e mostra que as escolhas feitas e os efeitos de sentido obtidos não são obra do acaso, mas decorrem da direção imprimida ao texto pela enunciação. Ressalta-se o caráter manipulador do discurso, revela-se sua inserção ideológica e afasta-se qualquer idéia de neutralidade ou imparcialidade do texto. O exame interno do texto não é suficiente, no entanto, para determinar os valores que o discurso veicula. Para tanto, é preciso inserir o texto no contexto de uma ou mais formações ideológicas que lhe atribuem, no fim das contas, o sentido. Pode- se caminhar nesta direção e executar a análise contextual, desde que o contexto seja entendido e examinado como uma organização de textos que dialogam com o texto em questão. Assim concebido, o contexto não se confunde com o ‘mundo das coisas’, mas se explica como um contexto maior, no interior de que cada texto se integra e cobra sentido (BARROS, 1997, p. 83).

Dessa forma, o contexto pode ser compreendido como um “grande texto” que reúne uma série de textos que dialogam com o texto que se procura analisar, atribuindo-lhe sentidos. Assim, a enunciação é reconstruída de dentro para fora, a partir de suas marcas internas e de fora para dentro, com base no contexto. Desse modo, a enunciação passa a cumprir o seu papel como instância mediadora entre o discurso e o contexto sócio-histórico (BARROS, 1997). A linguagem, para Fiorin (1998, p. 52), “determina nossa maneira de perceber e conceber a realidade”. A enunciação veicula essa realidade, através de seus mecanismos internos e externos. Discini (2007, p. 284) esclarece que “temas e figuras, observados como componentes da semântica discursiva, reproduzem nos textos o imaginário social”. Tal constatação corrobora a ideia de que o que é reproduzido através da enunciação tem estreita relação com os discursos que circulam na sociedade e que são manifestados por meio dos temas e figuras carregados no discurso.

Diante do exposto, entendendo que a enunciação é a instância mediadora entre o discurso e o contexto sócio-histórico, e partindo da concepção de Barros (2012) de que uma das tarefas dos estudiosos da linguagem é contribuir para que se saiba um pouco mais sobre a sociedade brasileira, buscamos, a partir da análise dos discursos enunciados pelos sujeitos da comunidade acadêmica do IFRS – Campus Sertão, depreender os temas que podem estar relacionados à evasão dos estudantes indígenas.

Na sequência, serão apresentados o corpus de análise e os procedimentos metodológicos para o desenvolvimento deste trabalho.

5 CORPUS DE ANÁLISE E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A realização de uma pesquisa científica requer por parte do pesquisador um planejamento que transcende a mera organização das ações. É necessário pensar no problema sinalizado inicialmente no projeto de pesquisa e, a partir disso, estabelecer um método que vise a respondê-lo. Minayo e Gomes (2013, p. 46) alertam para o fato de que “a definição da metodologia requer dedicação e cuidado do pesquisador. Mais que uma descrição formal dos métodos e técnicas a serem utilizados, indica as conexões e a leitura operacional que o pesquisador faz do quadro teórico e de seus objetivos de estudo”.

Por essa razão, a presente pesquisa apresenta um método previamente traçado para chegar aos objetivos que lhe foram propostos. Quanto ao tipo de pesquisa, em relação à abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa. Referente aos procedimentos técnicos, trata-se de uma pesquisa inicialmente bibliográfica. Em seguida, passa a ser caracterizada como uma pesquisa de campo, que toma a forma de estudo de caso e que realiza análise discursiva.

Organizamos este capítulo em duas seções. Na primeira é apresentado o corpus de análise. Na segunda, são explicados os procedimentos metodológicos delineados para a presente pesquisa.

No documento 2016VandaAparecidaFaveroPino (páginas 60-63)