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3 EDUCAÇÃO INDÍGENISTA EM RORAIMA 65 

3.2 O Núcleo de Educação Indígena em Roraima (NEI/RR) 74 

A Portaria Interministerial MJ E MEC nº 559, de 16 de abril de 1991, em seu artigo 5º preceitua a criação dos Núcleos de Educação indígena nas Secretarias Estaduais dos Estados:

Art.5º - Estimular a criação de Núcleos de Educação Indígena nas Secretarias Estaduais de Educação, com a finalidade de apoiar e assessorar as escolas indígenas.

Parágrafo Único - Esses núcleos deverão contar com a participação de representantes das comunidades indígenas locais atuantes na educação, de organizações e não governamentais afetas a educação indígena e de universidades (

Em Roraima, além da portaria que instituiu o Núcleo no Estado ocorreram vários debates promovidos pela Secretaria de Estado de Educação e Cultura e Desporto que possibilitaram a criação de um espaço administrativo com representantes indígenas. A instituição do NEI, em 1986, foi uma resposta as reivindicações feitas pelo movimento indígena no Estado. A SEC/RR abiu em suas dependências um espaço administrativo com representação indígena, com o objetivo de organizar, acompanhar e coordenar os trabalhos e atividades relativas à educação nas escolas indígenas.

Tabela 3 - Núcleo de Educação Indígena

Ano Nome Institucional Coordenador

1986 -1989 Núcleo Educação Indígena (NEI) De 1986 até 1989, o núcleo foi gerenciado

por professoras não indígenas da SECD/RR 1990 Núcleo de Educação Indígena (NEI) Josemar Coelho8

(não-indígena) 1991-1992 Divisão Educação Indígena (DEI) Euclides Pereira

(Makuxi) 1993-2001 Divisão de Educação Indígena (DEI) Sebastião Bento

(Wapichana) 2002-2003 Coordenação Educação Indígena (CEI) Natalina Silva Messias

(Makuxi) 2004-2007 Departamento Gestão em Educação

Indígena (DGEI e DEI)

Natalina Silva Messias (makuxi)

2008-2009 Divisão de Educação Indígena (DEI) Natalina Silva Messias (makuxi) Fonte: Oliveira (2009).

LIMA (1993) descreve que para a implantação do referido Núcleo, foram promovidas reuniões, envolvendo o corpo técnico das seguintes instituições: FUNAI, SEC/RR e Diocese de Roraima, sendo feitas discussões e reflexões a respeito dos questionamentos levantados pelos líderes indígenas que participaram do debate sobre a educação, no dia “D”, sobre a problemática da educação para o índio.

Para LIMA (1993), a participação da Igreja na implantação do referido núcleo deveu-se a receptividade de alguns técnicos da SEC/RR ao trabalho desenvolvido por aquela Instituição em relação à “educação indígena”. Parte dessa explicação vem do fato de que, no entendimento desses técnicos, a igreja tinha um conhecimento mais balizado a respeito da cultura indígena em Roraima.

LIMA (1993) destaca um relatório feito pelos técnicos do NEI/RR, resultado de consulta às comunidades indígenas em Roraima, que aponta a seguinte conclusão:

[...] que a escola que levamos até as comunidades indígenas não corresponde aos anseios e necessidades. Está totalmente desvinculada do seu contexto sócio-cultural. A língua materna não é respeitada, tão pouco incentivada sua dinamização. O material didático utilizado na escola apresenta-se alheio à sua realidade concreta. Por sua vez, a merenda

escolar não coaduna com seus hábitos alimentares. O professor que na maioria das vezes para lá é enviado, por desconhecimento da realidade na qual vai atuar, não consegue se integrar na comunidade, o que resulta na não identificação do educador com o grupo, a

fim de manter viva a consciência da sua diferença. (NEI/RR, 1986, apud. LIMA,

1993).

Esse autor afirma que a diretriz básica para atuação do Núcleo de Educação Indígena era formulada a partir das proposições emitidas pelas comunidades indígenas, que colocavam as seguintes propostas:

a) Reforma do currículo escolar, adaptado a cada grupo indígena; b) criação de um centro de Formação de professores indígenas (Macuxi, Wapichana [e as outras etnias?]); c) aproveitamento dos professores já existentes [indígenas ou não indígenas?]; d) elaboração de materiais didáticos (Macuxi e Wapichana); e) implantação do ensino bilíngüe nas escolas das áreas indígenas (NÚCLEO DE EDUCAÇÃO INDÍGENA/RR 1986 apud, LIMA, 1993, p.33).

Para LIMA (1993), o objetivo geral do NEI/RR era proporcionar aos grupos indígenas de Roraima [Macuxi e Wapichana] uma educação formal baseada na realidade de cada grupo, respeitando suas características e buscando atender suas necessidades e aspirações. O autor faz referência apenas as etnias Macuxi e Wapichana, desconsiderando as outras setes etnias presentes no Estado.

Ao proceder a analise das avaliações feitas pelos técnicos do NEI, Lima (1993) considera que os documentos produzidos pelo Núcleo são avaliações reducionistas que não refletem uma compreensão sobre a realidade da educação indigenista no estado, mas apontam para as deficiências das praticas educacionais desenvolvidas até então. Esse autor faz a seguinte analise:

Essas avaliações se apresentam como uma “ferramenta” de compreensão bastante reducionista, em relação a questão da “educação para os índios”, na medida em que nenhuma delas insere, do ponto de vista histórico critico, os elementos ideológicos que permearam a difusão desse modelo de educação para essas etnias. Essas abordagens se [vinculam], apenas, ao reconhecimento de que esse tipo de pratica educativa esboçada pelo sistema dominante se coaduna com as culturas existentes, daí seu fracasso e a necessidade de mudança. (LIMA, 1983, p.33).

Diante do acima exposto, percebe-se que à medida que se fortaleceu o movimento indígena no estado, foram sendo definidas as demandas por uma educação escolar indígena diferenciada. A crescente mobilização desse movimento criou as condições para que a estrutura governamental, mesmo que parcialmente, procurasse atender a essas reivindicações.

Atualmente, o Núcleo de Educação Indígena (NEI), hoje Divisão de Educação Indígena (DEI), é coordenado por um professor indígena, no entanto, tem enfrentado dificuldades por não dispor de material pedagógico adequado que atenda as necessidades e as reivindicações exigidas pela organização dos professores indígenas, em favor das escolas indígenas.