• Nenhum resultado encontrado

O NÚMERO TREZE

No documento EliphasLeviAChavedosGrandesMistrios (páginas 61-66)

Esboço da teologia profética dos números

XIII. O NÚMERO TREZE

O treze é o número da morte e o do nascimento; é o da propriedade e da herança, da sociedade e da família, da guerra e dos tratados.

A sociedade tem por bases as trocas do direito, do dever e da fé mútua.

O direito é a propriedade; a troca, a necessidade; a boa fé, o dever.

Aquele que quer receber mais do que dá ou que quer receber sem dar é um ladrão.

A propriedade é o direito de dispor de uma parte da fortuna comum; não é nem o direito de destruição nem o direito de seqüestro.

Destruir ou seqüestrar o bem público não é possuir, é roubar.

Digo bem público, porque o verdadeiro proprietário de todas as coisas é Deus, que quer que tudo seja de todos. O que quer que façais, não levareis convosco ao morrer nenhum dos bens deste mundo. Ora, o que vos deve ser tomado um dia não vos pertence realmente. Foi apenas um empréstimo.

Quanto ao usufruto, é o resultado do trabalho; mas o próprio trabalho não é uma garantia segura de posse, e a guerra pode vir, pela devastação ou pelo incêndio, deslocar a propriedade.

Fazei, pois, um bom uso das coisas que perecem, vós que perecereis antes delas!

Levai em consideração que o egoísmo provoca o egoísmo e que a imoralidade do rico corresponderá a crimes dos pobres.

O que quer o pobre, se é honesto?

Quer trabalho. Usai vossos direitos, mais fazei vosso dever: o dever do rico é expandir a riqueza; o bem que não

circula está morto, não entesoureis a morte.

Um sofista disse: A propriedade é o roubo. E queria sem dúvida falar da propriedade absorvida, subtraída à troca, desviada da utilidade COMUM.

Se esse era seu pensamento, ele poderia ir mais longe e dizer que tal supressão da vida pública é um verdadeiro assassínio.

É o crime do açambarcamento, que o instinto público sempre viu como um crime de lesa-majestade humana.

A família é uma associação natural que resulta do casamento.

O casamento é a união de dois seres que o amor uniu e que se prometem um devotamento mútuo no interesse dos filhos que podem nascer.

Dois esposos que têm um filho e se separam são ímpios. Será que querem executar o julgamento de Salomão e separar também o filho?

Prometer-se um amor eterno é puerilidade: o amor sexual é uma emoção sem dúvida divina, mas acidental, involuntária e transitória; mas a promessa do devotamente recíproco é a essência do casamento e o princípio da família.

A sanção e a garantia dessa promessa devem ser uma confiança absoluta.

Todo ciúme é uma suspeita, e toda suspeita é um ultraje. O verdadeiro adultério é o da confiança: a mulher que se queixa de seu marido perto de outro homem; o homem que confia a outra mulher, que não a sua, as aflições ou as esperanças de seu coração, esses traem verdadeiramente a fé conjugal.

As surpresas dos sentidos só são infidelidades por causa dos arrebatamentos do coração que se abandona mais ou menos ao reconhecimento do prazer. Afora isso, são faltas humanas, de que é preciso envergonhar-se e que se deve esconder: são indecências que é preciso evitar afastando as

ocasiões, mas que nunca se deve procurar surpreender; os bons costumes são a proscrição do escândalo.

Todo escândalo é uma torpeza. Não se é indecente porque tem-se órgãos que o pudor não nomeia; mas se é obsceno quando são mostrados.

Maridos, escondei as chagas de vossa vida a dois; não desnudeis vossas mulheres perante o escárnio público!

Mulheres, não exibais as misérias do leito conjugal: seria vos ínscreverdes na opinião pública como prostituídas.

É preciso uma elevada dignidade de coração para conservar a fé conjugal: é um pacto de heroismo que somente as grandes almas podem compreender em toda a extensão. Os casamentos que são rompidos não são casamentos, são acasalamentos.

No que se pode transformar uma mulher que abandona o marido? Não é mais esposa, não é viúva; o que é então? É uma apóstata da honra, que é forçada a ser licenciosa, porque não é nem virgem nem livre.

Um marido que abandona a mulher a prostitui e merece o nome infame que é dado aos amantes das jovens perdidas. O casamento é sagrado, indissolúvel, quando existe realmente.

Mas só pode existir para seres de elevada inteligência e nobre coração.

Os animais não se casam, e os homens que vivem como animais sofrem as fatalidades de sua natureza.

Fazem sem cessar tentativas para agir racionalmente. Suas promessas são tentativas e simulacros de promessas; seus casamentos, tentativas e simulacros de casamento; seus amores, tentativas e simulacros de amor. Quereriam sempre e não querem nunca; começam sempre e não terminam nunca. Para tais pessoas, as leis só se aplicam pela repressão.

Tais seres podem ter uma ninhada, mas nunca têm uma família: o casamento, a família são direitos do homem

perfeito, do homem emancipado, do homem inteligente e livre.

Por isso, consultar os anais dos tribunais e lede a história dos parricidas.

Erguei o véu negro de todas estas cabeças cortadas e perguntai-lhes o que pensaram do casamento e da família, que leite sugaram, que carinhos as enobreceram... Depois tremei, vós todos que não dais a vossos filhos o pão da inteligência e do amor, vós todos que não sancionais a autoridade paterna pela virtude do bom exemplo...

Esses miseráveis eram órfãos pelo espírito e pelo coração e vingaram-se de seu nascimento!...

Vivemos num século em que mais do que nunca a família é desconhecida no que tem de augusta e sagrada: o interesse material mata a inteligência e o amor; as lições da experiência são desprezadas, regateia-se as coisas de Deus. A carne insulta o espírito, a fraude ri na cara da lealdade. Quanto mais ideal, mais justiça: a vida humana ficou órfã dos dois lados. Coragem e paciência! Este século irá para onde devem ir todos os culpados. Vede como é triste! O tédio é o véu negro de sua cabeça... a carroça anda, e a multidão segue estremecendo...

Logo, mais um século será julgado pela história, e será escrito num túmulo de ruínas: Aqui jaz o século parricida! o século carrasco de Deus e de seu Cristo!

Na guerra tem-se o direito de matar para não morrer: mas na batalha da vida, o mais sublime dos direitos é o de morrer para não matar.

A inteligência e o amor devem resistir à opressão até a morte, nunca até o assassínio.

Homem de coração, a vida daquele que te ofendeu está em tuas mãos, pois ele é senhor da vida dos outros, o qual não faz questão da sua. Massacra-o com tua grandeza: perdoa-o!

— Se for um tigre com rosto humano, é mais belo deixar- se devorar, no entanto, aqui, a moral nada prescreve.

— Mas e se o tigre ameaça meus filhos? — A própria natureza vos responderá.

Harmódio e Aristogiston tinham festas e estátuas na Grécia antiga. A Bíblia consagrou os nomes de Judite e Aud e uma das mais sublimes figuras do livro santo, Sansão cego e acorrentado que sacode as colunas do templo e grita: Que eu morra com os filisteus!

Acreditai, entretanto, que, se Jesus, antes de morrer, tivesse ido a Roma apunhalar Tibério, teria salvado o mundo como fez ao perdoar seus carrascos e até mesmo ao morrer por Tibério?

Brutus, ao matar César, salvou a liberdade romana? Ao matar Calígula, Quéreas apenas deu lugar a Cláudio e a Nero. Protestar contra a violência com violência é justificá-la e forçá-la a se reproduzir.

Mas triunfar sobre o mal pelo bem, sobre o egoísmo pela abnegação, sobre a ferocidade pelo perdão: é o segredo do cristianismo e da vitória eterna.

Eu vi o lugar em que a terra sangrava ainda pelo assassínio de Abel e nesse lugar passava um regato de pranto.

E miríades de homens avançavam conduzidos pelos séculos, deixando cair lágrimas no regato.

E a eternidade, agachada e morna, contemplava as lágrimas que caíam, contava-as uma a uma, e nunca havia o suficiente para lavar uma mancha de sangue.

Mas, entre duas multidões e duas épocas, veio o Cristo, pálida e resplandecente figura.

E, na terra do sangue e das lágrimas, plantou a vinha da fraternidade, e as lágrimas e o sangue aspirados pelas raizes da árvore divina tornaram-se a seiva deliciosa da uva que deve embriagar de amor os filhos do futuro.

No documento EliphasLeviAChavedosGrandesMistrios (páginas 61-66)