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CAPÍTULO 2 TECIDO, AGULHA E LINHA: UM BORDADO

2.7 O novelo nos foge das mãos: a pesquisa de campo

Para participar da pesquisa de campo tomamos, deliberadamente, as instituições de Educação Infantil da então Secretaria de Educação e Assistência Social33 - SEDAS, porque:

[...] o significado de grande parte do comportamento ocorrendo num dado ambiente social, pode ser compreendido, desde que o observador tenha participado do ambiente dado em papéis semelhantes àqueles assumidos pelos participantes e seja um membro da ou tenha extensiva experiência na subcultura em que o ambiente ocorre e do qual vêm os partícipes. Esta condição ainda deixa muito espaço para concepções errôneas, mas reduz consideravelmente a probabilidade de erros grosseiros de interpretação. (BRONFENBRENNER, 1996, p.135).

Apoiada por tal argumento, pesquisamos as instituições municipais, pois participamos de experiências, em diversos ambientes desta rede de ensino, nos quase 14 anos como técnica em educação.

Para a escolha das instituições, pedimos informações da Coordenadoria de Políticas Públicas de Educação por meio da Célula de Desenvolvimento de Informação e Estatística – CDIE que fazia parte da estrutura administrativa da SEDAS, da qual recebemos dois documentos: Relação de Escolas Patrimoniais que ministram somente Educação Infantil ou

até a 1ª série – Com quantidade de alunos, por SER, datado de outubro 2006. E outra: Cadastro de escolas da Rede Municipal de Fortaleza, com os devidos endereços, bairro,

telefone, código do MEC, se é patrimonial ou anexo, datada de fevereiro de 2006. De posse destas relações, fizemos contatos telefônicos para nos certificar de endereços de algumas e agendar uma visita.

Das 332 instituições constantes no primeiro documento, 224 são patrimoniais34, 101 anexos35 e 7 especiais36. Das 224 patrimoniais, 3 atendem somente Educação Infantil e 13 atendem além da Educação Infantil a 1ª série do Ensino Fundamental.

33

Atualmente Secretaria Municipal de Educação.

34

As escolas patrimoniais são completamente mantidas e gerenciadas pelo Poder Público Municipal.

35

As escolas anexas foram instituídas, após a extinção, em 1998, dos convênios de co-gestão e apoio comunitário, com o objetivo de poderem contar, para efeito do FUNDEF, com os alunos ali matriculados.

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As escolas especiais são aquelas que atendem crianças com necessidades educativas especiais e que mantêm convênio com a PMF.

Uma vez que a maioria das instituições atende 1º ano do Ensino Fundamental além da pré-escola passamos a adotar este critério.

De posse destas primeiras informações, fizemos as visitas. O primeiro CEI visitado foi escolhido intencionalmente. Uma vez que na SER II existem apenas duas unidades nas condições exigidas e uma delas é o Centro de Educação Infantil Emília, optamos por esta em razão de ser uma das unidades mais antigas da Cidade, além de ficar localizada no Parque Pajeú, o que parecia trazer grandes contribuições para nosso trabalho. Sendo assim, começamos as visitas por esta instituição, a que temos acesso fácil junto à diretora e à vice- diretora. Apresentamo-nos como pesquisadora e fizemos uma incursão pelos espaços da instituição com o intuito de nos fazer conhecer pelas crianças e demais profissionais para podermos agir com naturalidade nas visitas que se seguiriam.

Na primeira visita ao CEI Emília, observamos o movimento e a vida neste espaço da cidade tão esquecido dos que passam nos carros fechados. Um gari limpava a calçada e foi saudado pelo nome, pela diretora que nos acompanhava. Outro homem aguava a grama mais adiante. Jovens estudantes passavam uniformizados, com livros nas mãos. Homens, mulheres caminhavam apressados. No meio deste movimento, chamou-nos a atenção uma família moradora das ruas de Fortaleza. Uma mulher jovem, triste, calada, sentada com uma criança no colo e outra descalça, brincando por perto. As crianças filhas do casal eram Marcos de 1 ano e Mateus de 2 anos e 4 meses. Estavam sujos. O rapaz sugeriu que a mulher fosse banhar as crianças na mangueira, aproveitando que um homem aguava as plantas mais adiante. Ela continuou calada e imóvel.

Ele contou que, às vezes, usam o riacho Pajeú para lavar as roupas. Contou como i e à asà uasàeà o oàseà se e àdosàespaçosàpú li osàpa aàdo i ,à o e ,àto a à a ho,à para as crianças brincarem, enfim, para viver. O carro de coleta de lixo era o meio de transporte desta família e nele estavam guardados seus pertences, tais como: um colchão velho de cama, que no momento estava pegando sol no chão do Parque, objetos que serviam de brinquedo para as crianças, peças de roupa, entre outros.

Observamos que o Parque, além de estar bem-conservado, apesar do mau cheiro decorrente do córrego, constitui excelente espaço de lazer na Cidade, agradável, sombreado, limpo e bonito. Além disso, tem à disposição dos visitantes alguns baners

informativos acerca do riacho Pajeú, sobre canalização, inauguração do Parque, extensão do riacho, sua localização e sua relevância histórica para a cidade de Fortaleza. Chamou nossa atenção a quantidade de informações expostas aos pedestres. As árvores do Parque possuem placas informativas das espécies e nomes vulgares.

O fato de ter encontrado esta família também nos fez questionar como podemos admitir, no século XXI, em uma cidade do porte de Fortaleza, haver famílias morando nas ruas. Novamente, lembramos ML (1968q, p.293) que, no século passado, se indignava com o fato de oà B asilà ai daà te à uitosà p sà des alços .à Do aà Be taà dizà pa aà asà ia ças:à ... à moramos numa terra em que o pé ainda padece muito. O Brasil é um país onde ainda há milh esàdeàp sàdes alços,àe ata e teà oàestadoàdeà udezàdoàp àdoàpeludo .àFoiàassi à ueà ià essaà fa ília,à o oà p s-des alços , assim como uma infinidade de outros moradores desta cidade. Em alguns outros bairros, estas são as condições de vida das próprias crianças com as quais trabalhamos na rede pública municipal. Imaginamos quantas delas mesmo que não morem nas ruas vivem em situação de pobreza, morando em casebres, favelas, brincam descalças nas ruas com esgoto a céu aberto, catam objetos e restos de comida, portanto, largadas nas ruas sem dignidade.

Pensamos sobre a possibilidade do CEI Emília utilizar o Parque como espaço educativo, além de usá-lo para recreação, banho de mangueira, competições esportivas, como havia informado a diretora. Ficamos profundamente inquieta e curiosa em verificar a possibilidade de cada instituição de Educação Infantil trabalhar o seu entorno. As crianças discutem o fato de famílias viverem nas ruas? Crianças tão pequenas vivendo sem acesso a moradia, água? E o mau cheiro do córrego? Discutem sobre a poluição? Conhecem as espécies vegetais que ensombram o Parque? Conhecem sua história? O que conhecem dos arredores do CEI?

FOTO 1 – Riacho Pajeú. Parque de lazer onde está localizada a entrada do CEI Emília (SER II).

Nesta visita, retomamos as relações das unidades entregues pela SEDAS. Desta vez, nos foram úteis para verificar, em cada SER, a localização do CEI e, especificamente, do bairro onde está inserido, observando a proximidade de área de risco, rio, parque e favela. Dedicamo-nos a estudar um pouco mais sobre a cidade de Fortaleza.

A Assessoria de Comunicação da SEDAS encaminha diariamente para seus funcionários, via e-mail, matérias relativas à cidade de Fortaleza dos jornais O Povo e Diário

do Nordeste. Tais matérias quando relativas a Educação Ambiental, condições das escolas da

rede pública municipal, lagoas, rios, parques, aterros sanitários, áreas de risco e população vinham sendo por nós arquivadas no período de janeiro a outubro de 2006 e foram imprescindíveis para a elaboração do quarto capítulo.

O acesso a estes dados foi consideravelmente relevante, uma vez que nos permitiu conhecer a localização de cada unidade que ainda seria visitada e assim podermos olhá-la com relação ao seu entorno, que passou a fazer parte das nossas observações nas próximas visitas e estudos.

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