• Nenhum resultado encontrado

O novo institucionalismo e a abordagem sociológica do

De acordo com Scott (2008 apud Oliveira et al., 2012 p. 4), várias áreas do conhecimento, como, por exemplo, “a política, a economia e a administração”, interessaram-se pelos estudos da Teoria Institucional. Em decorrência disso, a abordagem institucional, adjetivadas de velho ou novo institucionalismo, tem sido explorada em três diferentes vertentes – a política, a econômica e a sociológica (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2012). Isso, segundo Oliveira et al. (2012), tem oferecido subsídios para o entendimento de fenômenos sociais em cada âmbito de conhecimento.

Para Peci (2006), o novo institucionalismo pretende ser diferente, trazendo novas contribuições para o campo dos estudos organizacionais. Aponta como a provável principal diferença entre as duas escolas, a influência do construtivismo social, adotado como perspectiva oficial do novo institucionalismo. Baseados em conceitos como a institucionalização, as normas, os mitos e a legitimidade, a teoria institucional desenvolveu-se nessas três vertentes com orientações distintas.

A teoria institucional tem despertado bastante atenção no campo dos estudos organizacionais. Para Machado-da-Silva, Fonseca e Cambellate (2005), se por um lado sua popularidade pode ser encarada como produto do seu elevado potencial explicativo, por outro, ela parece haver contribuído para o surgimento de críticas intensas, nem sempre orientadas por articulações conceituais consistentes o suficiente para garantir o alcance de adequada compreensão e ampliação dos seus pressupostos. No centro dessas críticas, encontra-se o neoinstitucionalismo, com permanência, homogeneidade, conformidade e determinismo, sobretudo quando o foco recai na investigação da mudança organizacional ou do processo de institucionalização, segundo esses autores.

A década de 1970, como já comentado na introdução, marcou a retomada da Teoria Institucional, que ficou conhecida, de acordo com Oliveira et al. (2012), como a Nova Teoria Institucional, principalmente, na sua vertente sociológica. Nessa nova fase, segundo Oliveira et al. (2012), destacaram-se os estudos de DiMaggio e Powell (1991), March e Olsen (1993) e Scott (2008).

Para Carvalho, Vieira e Goulart (2012), a institucionalização é definida como um processo que ocorre numa organização ao longo do tempo, refletindo suas peculiaridades históricas, construídas pelas pessoas, pelos grupos, pelos interesses criados e pela maneira pela qual mantêm relacionamento com o ambiente. Porém, com o surgimento da nova versão do institucionalismo sociológico, a institucionalização passou a ser definida por essa corrente como o

processo pelo qual processos sociais, obrigações ou circunstâncias assumem o status de norma no pensamento e na ação social. As organizações respondem a influências do ambiente, além das variáveis concretas, como tecnologia e tamanho, mas também valores, crenças e mitos compartilhados. Nessa perspectiva institucional, o ambiente representa, também, fonte e destino de recursos simbólicos (CARVALHO; VIEIRA; GOULART, 2012).

Entretanto, para Hall e Taylor (2003), uma grande parte da confusão que cerca o neoinstitucionalismo desaparece quando se admite que ele não constitui uma corrente de pensamento unificada. Segundo esses autores, representa pelo menos três métodos de análise diferentes sendo eles: o institucionalismo histórico, o institucionalismo da escolha racional e o institucionalismo sociológico. Quanto ao institucionalismo sociológico, esse movimento surgiu ao fim dos anos 70, em que sociólogos puseram-se a contestar a distinção tradicional entre a esfera do mundo social, vista como o reflexo de uma racionalidade abstrata de fins e meios do tipo burocrático, e as esferas influenciadas por um conjunto variado de práticas associadas à cultura. Para essa corrente, as formas e procedimentos deveriam ser considerados como práticas culturais, comparáveis aos mitos e às cerimônias elaborados por numerosas sociedades. Nessa perspectiva, essas práticas seriam incorporadas às organizações, não para aumentar sua eficácia, mas em consequência do mesmo tipo de processo de transmissão que dá origem às práticas culturais em geral. Assim, mesmo a prática aparentemente mais burocrática deveria ser explicada nesses termos culturalistas. Em decorrência de sua ótica própria, os sociólogos institucionalistas escolhem uma problemática que envolve a explicação de por que as organizações adotam um específico conjunto de formas, procedimentos ou símbolos institucionais, com particular atenção à difusão dessas práticas (HALL; TAYLOR, 2003).

Dessa forma, para os autores Hall e Taylor (2003), o institucionalismo sociológico possui características que lhe conferem originalidade. Essa corrente define as instituições de maneira mais global incluindo não só as regras, procedimentos ou normas formais, mas também os sistemas de símbolos, os esquemas cognitivos e os modelos morais que fornecem “padrões de significação” que guiam a ação humana. Assim, rompem a dicotomia conceitual que opõe instituições e cultura, levando-as à interpenetração. Também inova, quando tende a redefinir a cultura como sinônimo de instituições, afastando-se de concepções que associam a cultura às normas, às atitudes afetivas e aos valores, para aproximar-se de uma concepção que considera a cultura como uma rede de hábitos, de símbolos e de cenários que fornecem modelos de comportamento (HALL; TAYLOR, 2003).

Concentrando-se no modo como as instituições influenciam o comportamento ao fornecer esquemas, categorias e modelos cognitivos, que são indispensáveis à ação, possibilitam interpretar o mundo e o comportamento dos outros atores. Influenciam o comportamento ao especificarem o que se deve fazer e também ao imaginar o que se pode fazer num contexto existente. Influenciam os cálculos e, também, as preferências mais fundamentais dos indivíduos. Os institucionalistas sociológicos sustentam que, diante de uma situação, o indivíduo deve encontrar um meio de identificá-la e de reagir a ela e que os cenários ou modelos inerentes às instituições oferecem meios de resolver algumas dessas tarefas. Também sustentam que as organizações adotam, com frequência, uma nova prática institucional não por razões de eficiência, mas pelo reforço que oferece à sua legitimidade social de seus adeptos. Ou seja, as organizações adotam formas e práticas institucionais particulares porque elas têm um valor reconhecido num ambiente cultural mais amplo (HALL; TAYLOR, 2003).

Partilhando da ideia de Oliveira et al. (2012, p. 10) que, “segundo a Teoria Institucional, para que determinada estrutura se institucionalize, faz-se necessário analisá-la, avaliá-la e evidenciar seus impactos.” E, de acordo com Hall e Taylor (2003), mais especificamente o institucionalismo sociológico, que considera a cultura como uma rede de hábitos, de símbolos e de cenários que fornecem modelos de comportamento.

4 METODOLOGIA

Na presente dissertação, realizou-se um estudo de caso no Conselho Municipal de Saúde de São João del-Rei, com o objetivo de analisar como os princípios constitucionais do SUS foram institucionalizados nas assembleias e deliberações desse Conselho, no ano de 2015, pela ação dos seus conselheiros. Este trabalho é um estudo teórico-empírico de caráter crítico e reflexivo.

Para Yin (2005), o uso do estudo de caso é adequado, quando se pretende investigar o como e o porquê de um conjunto de eventos contemporâneos. O autor explica que o estudo de caso é uma investigação empírica que permite o estudo de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real. Yin (2005) destaca, ainda, que o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que requer múltiplos métodos e fontes para explorar, descrever e explicar um fenômeno em seu contexto.

Lima et al. (2012) tomaram por base a análise das definições da expressão „estudo de caso‟ formuladas por Einsenhardt (1989), Gil (2009), Miles e Huberman (1994), Martins (2008b), Meredith (1998) e Yin (2005) e extraíram um conjunto de suas características sendo elas:

a) é uma estratégia de pesquisa apropriada para as ciências sociais e, particularmente, para as ciências sociais aplicadas; b) é uma estratégia utilizada para as pesquisas de acontecimentos contemporâneos em condições contextuais; c) deve ser precedido pela elaboração de um protocolo que defina os procedimentos e as regras gerais, possibilitando ao pesquisador conduzir o seu trabalho com êxito;

d) está embasado em uma lógica de planejamento, evitando a sua condução por comprometimentos ideológicos;

e) há uma convergência de informações e troca de experiências sobre o fenômeno;

f) as inferências são sempre feitas tendo-se por base um teste empírico;

g) o estudo sobre o fenômeno deve ser profundo e deve exaurir as possibilidades do que foi delimitado;

h) abrange a lógica de planejamento, as técnicas de coleta de dados e as abordagens específicas para a análise dos achados (LIMA et al., 2012, p. 133).

Esses autores consideram o estudo de caso como estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo, da lógica de planejamento, das técnicas de coleta de dados e das abordagens específicas à sua análise, sendo assim uma estratégia de pesquisa abrangente (YIN, 2005).

Utilizando dessa metodologia, no intuito de se alcançar o objetivo proposto, foram realizadas uma revisão bibliográfica na construção do referencial teórico e uma pesquisa empírica, por meio de observação não participante nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde de São João del-Rei. Agregada a estas pesquisas, também, foram realizadas entrevistas do tipo semiestruturadas com Conselheiros de Saúde em exercício no ano vigente. Ambas tendo o intuito de demonstrar como os princípios dos SUS foram institucionalizados nas assembleias e deliberações.