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2 Capítulo I: A reforma do Estado brasileiro e o processo de

3.1 O novo tipo de intervenção na proposta de descentralização da

Em 1998, o MEC, através de convênio firmado com o Banco Mundial, criou o Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA). O novo programa chegou com a finalidade de sanar as necessidades mais imediatas do Ensino Fundamental do nosso sistema educacional. O montante de US$ 1,3 bilhão foi disponibilizado para a implantação do programa no decorrer de cinco anos, com início em 1998 e término em 2004. A sua proposta era a de melhorar a qualidade do ensino e tornar mais eficiente à gestão das escolas e das secretarias estaduais e municipais de educação, através da descentralização das suas ações, participação dos docentes na gestão escolar e envolvimento da comunidade. Para tanto, definiu a sua atuação por meio de Ações que, no conjunto, objetivam garantir o acesso e a permanência de crianças nas escolas, diminuir drasticamente deficiências como repetência e distorção idade/ série, promover e/ ou garantir uma melhoria significativa no processo de ensino-aprendizagem.

A partir da concepção de participação adotada pelo FUNDESCOLA, foram criados mecanismos e instrumentos para permitir a ampliação do espaço de decisão no âmbito das escolas. Esses mecanismos se confirmam na criação de conselhos e colegiados escolares, ou conselhos deliberativos da comunidade escolar. Ponto de extrema importância para as ações do FUNDESCOLA é a criação de sistemas de transferência automática de recursos para as escolas, através de suas

Unidades Executoras (UEx). Na concepção do Fundo, estes instrumentos não garantem uma forma democrática de gestão e nem asseguram a participação e o envolvimento dos segmentos da escola no processo de implantação de suas ações, mas garantem o espaço institucional, para que essa proposta descentralizadora possa ser realizada.

Inicialmente, o propósito de fortalecer o Ensino Fundamental e melhorar a qualidade da educação esteve voltado para as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste. De acordo com as observações de Sobrinho, Marra e Bof (1999), a atuação do FUNDESCOLA nessas regiões se justifica, sobretudo, pelos resultados dos estudos realizados pela Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) e pelo Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico (IBGE), cujo objetivo era diagnosticar os índices de repetência, evasão e desistência no Ensino Fundamental no Brasil. Os resultados dos índices dos três aspectos analisados, considerados críticos por estas instituições, apontaram as regiões citadas como áreas que precisavam da intervenção imediata do FUNDESCOLA, na tentativa de superar as estatísticas vigentes. Os três pesquisadores concluíram que

[...] o sistema educacional é visivelmente ineficiente, com índices educacionais que colocam o Brasil em último lugar entre os países da América Latina e do Caribe. Sabe-se hoje que de cada 1.000 alunos que entram no ensino fundamental no Brasil, somente 45 (4,5%) concluem esse ciclo sem repetir nenhuma série. O aluno brasileiro fica em média 8,6 anos na escola, mas não ultrapassa a 5ª série. Esses dados mostram que o grande desafio do país hoje é promover um ensino de qualidade, em que as crianças não sejam reprovadas e permaneçam na escola até concluírem o ensino fundamental. (1999, p. 7).

Os recursos deveriam ser aplicados na gestão escolar, na estrutura física, em equipamentos e na qualificação educacional. Para evitar as distorções ocorridas no Projeto Nordeste13, o MEC adotou o sistema de descentralização e

repasse direto de recursos e ainda possibilitou a articulação das redes de ensino estaduais e municipais. Por isso, o programa do FUNDESCOLA propôs a distribuição dos seus recursos da seguinte maneira: investimento de US$ 125 milhões na sua primeira etapa, de 1998 a 1999. Esta consistiu na readequação e reforma do espaço físico e na compra de equipamentos para as salas de aula como carteiras, armários, mesas e ventiladores. A segunda etapa, de 2000 a 2002, visou à criação de um plano de desenvolvimento estratégico; com a participação de diretores, professores e pais de alunos, foi desenvolvido o Projeto de Melhoria das Escolas (PME), para o qual foram destinados US$ 600 milhões. Na terceira etapa, de 2003 a 2004, estão sendo investidos US$ 575 milhões; as ações desta fase dependem do desempenho das duas anteriores.

Em termos práticos, o FUNDESCOLA organiza-se em nove Ações que devem chegar às escolas sem intermediação das esferas estaduais e municipais, a saber: Projeto de Adequação de Prédios Escolares (PAPE), Equipamento/ Mobiliário para Escolas, Equipamento para Escola Construída, Construção de Escolas, Projeto de Melhoria da Escola (PME), Desenvolvimento Institucional, Apoio ao Programa

do MEC, Escola Ativa (atua nas zonas rurais) e, por último, o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). Cada uma dessas Ações tem objetivos e

13 O Projeto de Educação Básica para o NordesteProjeto Nordeste – foi implantado em 1993.

Considerado o principal programa do país na área de educação, destinou R$ 800 milhões para o Ensino Fundamental na região Nordestee, no final de sua vigência em 1998, não conseguiu aplicar

características distintos e requer que as escolas atendam aos pré-requisitos inerentes à natureza dos mesmos. À guisa de ilustração: se uma determinada escola apresenta — pelos dados do Sistema de Avaliação Educacional Brasileiro (SAEB) — um alto índice de evasão, repetência e de distorção idade/ série, mas se funcionar num prédio alugado, ou não possuir pelo menos 20014 alunos matriculados no Ensino

Fundamental, ela não poderá ser incluída no convênio assinado entre o FUNDESCOLA e a rede de ensino a que pertence, especialmente se tratar da implantação do PDE. As intervenções do FUNDESCOLA devem, portanto, atender aos mesmos pressupostos do processo de escolarização, ou seja, exige-se que as Ações sejam realizadas e gerenciadas diretamente nas escolas.

Para a implantação e implementação de ações que levam dinheiro direto para as escolas, como o PME e o PDE, além de cumprir com os pré-requisitos básicos e indispensáveis citados acima, as escolas ainda devem organizar-se, no intuito de acatar as orientações para a apreensão da metodologia que norteia essas ações. É preciso, também, cumprir rigorosamente com as vigências de prazos, no que concerne ao preenchimento de formulários e outros documentos que requerem essas Modalidades de Financiamentos, cada uma com as suas peculiaridades e diferentes prazos de devolução ao FUNDESCOLA.

Nesse tipo de organização, os diretores precisam dar conta de todo o processo de diagnóstico15 da realidade da escola, no tocante ao quadro de

profissionais e à parte administrativa, ao aspecto físico do prédio, levantamento da

todo o dinheiro. Chegou ao fim, com problemas de qualidade no ensino e nas obras de construção das escolas. Foi substituído pelo FUNDESCOLA/ MEC/ BIRD.

14 Para a implantação do PDE nas escolas, necessariamente se deve atender a esse primeiro requisito,

ter no mínimo 200 alunos matriculados no Ensino Fundamental. Assim, 199 alunos matriculados excluem a escola do convênio.

quantidade de material durável, semidurável e de expediente. Quanto à parte pedagógica, a escola tem de apresentar, num prazo previamente estipulado, um relatório de todos os indicadores contidos no último Censo Escolar, acerca dos resultados do processo de ensino-aprendizagem referentes ao ano anterior.

O coordenador do PDE, eleito pelo corpo docente, é o responsável por encaminhar os diagnósticos da escola, realizados em formulários-padrão16 do

FUNDESCOLA, para as secretarias de educação, onde devem ser analisados sistematicamente pela Gerência de Apoio à Escola (GAE). Este último envia os documentos para passarem por um novo e definitivo crivo: a análise e avaliação dos assessores técnicos e gerentes de Zonas de Atendimentos Prioritários (ZAPs). Finalizado o processo, se houver a mínima incorreção de um ou mais documentos de uma ou mais escolas, o(s) formulário(s) será(ão) devolvido(s). Somente após vencer toda essa tramitação, as escolas poderão dar início ao processo de implantação do PDE, obedecendo às modalidades de ações do FUNDESCOLA.

A primeira modalidade consiste na Implantação; a segunda, na Expansão; e a última, na Consolidação das Ações. Tratando-se do PDE especificamente, esta última tem três fases: Consolidação I, II e III, correspondentes às etapas de atuação do FUNDESCOLA nos municípios onde há convênio entre este e as Secretarias de Educação. Ou seja, primeiro o PDE é implantado nas escolas; no segundo ano, inicia-se o processo de consolidação que corresponde ao percentual de contra-partida do convênio firmado entre o FUNDESCOLA e as secretarias de educação. No ato da Implantação, o financiamento do Fundo corresponde a 100%

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Mapeamento dos dados coletados no último Censo Escolar mais informações (dados e fatos) coletados na própria escola, como situação física do prédio, equipamentos, mobiliários e recursos humanos.

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dos recursos; na Consolidação I, a 70%; na Consolidação II, a 50%; por último, na Consolidação III, a 30%.

Como se percebe, o FUNDESCOLA sai de cena no quinto ano, e o PDE é incorporado pelas secretarias de educação, que devem financiar os 100% de despesas de capital e custeio. É relevante ratificar que as etapas desse Fundo se baseiam em três princípios básicos: eqüidade, efetividade e aprimoramento da gestão escolar. Ele também estabelece três grandes estratégias: 1) fortalecimento da escola, 2) fortalecimento das secretarias de educação, 3) mobilidade de alocação de recursos. (FUNDESCOLA/ MEC/ FNDE, 2001, p. 17).

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