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3 CAPÍTULO 1 – CONSTRUINDO AS CINCO ESFERAS DA LINHA

4.1 O OLHAR DO HISTORIADOR NA PESQUISA E NO ENSINO

As cinco esferas tratadas no capítulo anterior: O massacre do Carandiru, A organização do crime, O fluxo das drogas, Por dentro do sistema atual e Ressocialização, são as partes componentes do bloco de aulas “Abrindo as Trancas – uma exposição sobre o universo prisional”, pensado para alunos e alunas de Ensino Médio com o objetivo de trazer à tona dilemas e saídas que formam o cárcere brasileiro. Como mencionado anteriormente, o bloco de aulas foi realizado em quatro turmas diferentes de 3º ano do Ensino Médio envolvendo cento e quatro participantes, durante os dias 17, 18, 19 e 24 de junho de 2019 na Escola Estadual do Parque São Jorge na cidade de Uberlândia - MG. O projeto foi protocolado no Sistema de Informação de Extensão e Cultura (SIEX) da Universidade Federal de Uberlândia, vinculando um certificado de participação72 ao CPF de cada participante. Assim, tendo a convicção na

relevância da propagação desse debate, discutem-se aqui questões referentes ao exercício da pesquisa, ao ofício do historiador e a prática docente estando alinhadas para a elaboração de opinião crítica junto aos estudantes, a ampliação das discussões sobre o tema abordado e, consequentemente, a construção de conhecimento sobre o mesmo.

Sob o prisma histórico e historiográfico, mostra-se substancial concatenar essas esferas em uma linha temporal, constituindo uma ordem de raciocínio que interliga os momentos tidos como mais importantes nesse campo de discussão. Com isso, é objetivado que se construa com os alunos e alunas o conceito de processo histórico, trazendo as noções de continuidade e ruptura aplicadas a um contexto temporal e temático delimitado: o universo prisional.

Dessa forma, as últimas três décadas formaram o recorte histórico tratado, partindo dos anos 1990 e chegando ao momento atual; retomando de forma resumida a discussão tecida na primeira parte desse trabalho, o recorte temático escolhido em cada uma das esferas é revelador de nuances mais amplas. O episódio do Carandiru em 1992 é evidência da violação sistemática dos Direitos Humanos nos cárceres e serviu de gatilho para a origem de uma facção criminosa em 1993. Esse elemento se relaciona intrinsicamente com a questão das drogas e suas políticas73

enquanto pilar financeiro e de interesses entre os dois polos aqui estudados – o Estado e o

mundo do crime - , e dessa maneira o combate às drogas expandido na última década é também

um dos marcos temporais que constituem a linha temporal tecida. As consequências desse

72 Os certificados do proponente e de uma participante encontram-se nos Anexos.

73 Em específico a lei 11.343 de 2006, conhecida como Lei de Drogas. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm> Acesso em 18/09/2019.

processo fracassado de encarceramento levam ao sistema caótico atual, inviabilizando as práticas de ressocialização. Dentro da exposição em sala de aula esse aspecto correlacional entre as esferas foi extensamente ressaltado, justamente corroborando com as noções ora de continuidade, ora de ruptura dentro de um processo histórico.

Também inserido no ofício do historiador está a compreensão das múltiplas formas de pensar da sociedade estudada, sobretudo em uma temática espinhosa e controversa como a da segurança pública. Para isso, é significante que as narrativas e discursos que permeiam a sociedade em questão nas esferas política, cultural e social sejam evidenciadas e que se faça uma análise crítica de suas direções e intenções. Sendo assim, vozes de posicionamentos diversos são trazidas e cotejadas, tanto na bibliografia utilizada como base quanto no material exposto (entrevistas, vídeos e charges), que durante a prática convocaram as turmas incitando diferentes opiniões sobre o assunto.

É necessário apontar que o ponto de partida para a construção do conhecimento lecionado se dá na atuação dentro do presídio, narrada no memorial que antecede esse estudo. Assim, o contato próximo e efetivo com os fundões da detenção e a observação de perto da realidade prisional forneceram uma base empírica e sólida para toda a teoria acadêmica, ilustrando e materializando os números e conceitos. Entretanto, ainda que fundamental para as reflexões aqui tecidas, priorizou-se para a atividade prática um discurso e uma perspectiva bastante distanciados da vivência prisional específica na cidade de Uberlândia, priorizando discussões mais amplas. Apesar da experiência ter sido minimizada no discurso, o exercício da pesquisa em trabalho de campo sob a ótica do historiador se aliou ao trabalho docente em sala de aula em uma ação de caráter extensionista, abarcando na proposta os três pilares do ensino superior: a pesquisa, o ensino e a extensão.

Tendo postas essas primeiras orientações na preparação do conteúdo, é chegada a hora de visitar cada uma das cinco esferas que compuseram a exposição “Abrindo as Trancas” ponderando sobre o material utilizado, os motivos de sua escolha e a relevância de tratá-los com os alunos e alunas. Assim, nesse capítulo encontra-se também a execução propriamente dita desse planejamento e especialmente a recepção discente durante as aulas. Apesar de igual, o conteúdo ministrado provocou questões diversas, gerando argumentações diferentes em cada dia de realização. Com o objetivo de registrar a experiência foram feitas gravações da atividade prática e um diário de anotações e impressões; os trechos aqui citados remetem a esse material. Entretanto, pela dificuldade em organizar a participação das turmas dividida por cada dia de realização, tratam-se aqui os aspectos gerais acerca da compreensão dos alunos e alunas sobre o tema e as falas mais pontuais serão elencadas relacionando-se com cada tópico do conteúdo,

e não especificamente ao dia em que ocorreram. Desse modo, registra-se um relato de experiência dividido pelas cinco esferas, bem como uma reflexão em torno das nuances mais relevantes que apareceram durante o trabalho.

4.2 A EXPERIÊNCIA NA MIRA: PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E

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