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O Orçamento Geral do Estado é o documento que consigna as despesas e receitas do Estado para o ano em referência, é por excelência o documento pelo qual os demais agentes públicos basear-se-ão para realização de tarefas, na prossecução do interesse público. O que atrás referimos resulta de que o direito à educação é um direito de segunda dimensão cuja materialização realiza-se por meio de políticas públicas ou programas governamentais61 (COMPARATO, 2007, p. 111). Para o efeito, impõe-se que tal recurso venha ser implementado mediante uma política pública com vista a dar cobro:

Políticas Públicas são ações ou diretrizes, encabeçadas pelo Estado, com vista a garantir os direitos econômicos sociais e culturais, na resolução de problemas, ligados a educação, saúde, ou seja, é um conjunto de medidas e procedimentos que traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades relacionadas ao interesse público; com as receitas provenientes dos impostos e de outros recursos que o Estado dispõe, consegue este alocar recursos econômicos para esta ou aquela outra política pública conforme a sua imdediatiicidade. Porém, o Estado não trabalha, só, na implementação de tais politicas, este conta com grupos sociais, da sociedade civil organizada, associações para cumprir cabalmente com as suas funções, porém, a obrigação é do Estado. (LUCCHESE, et al. 2002, p.14).

De 2007 a 2012, observamos os avanços e recuos do nosso Orçamento Geral do Estado, como bem pontua o eminente economista angolano Carlos de Carvalho no quadro a seguir:

61 O direito à educação na Carta Magna angolana vem elencado na 2ª geração de direitos, os chamados direitos

econômicos sociais e culturais, e a particularidade destes direitos de 2ª geração diferentemente da primeira que são exequíveis por si, na medida em que a sua aplicação fica dependendo de uma lei ordinária, para torná-las plenamente aplicáveis aos seus programas, criação de políticas públicas. (MIRANDA, 2002, p, 304).

Quadro VI - Orçamento Geral do Estado

Fonte: Carlos Rosado de Carvalho Economista e docente universitário.

O gráfico apresentado pelo professor Carlos de Carvalho ilustra bem a maior preocupação do estado angolano, apesar de termos conhecido o fim do conflito em 2002, ainda assim há uma maior preocupação em se alocar mais recursos para a segurança, nos indagamos, o que pretendemos erradicar, o analfabetismo, a fome a miséria, ter uma rede sanitária com condições de dar cobro as diferentes situações que a ela acorrerem? Como garantir uma educação de qualidade para todos com estes constantes cortes (sobe e desce), no quinhão reservado a este setor social?

A educação, segundo José Afonso da Silva,“é um direito reconhecido a pessoa humana e por essa razão, deve se restringir a todos, sem exceção, [...] sendo que é dever do Estado em prover com que a realização deste direito se efetive orientar a sua política com a vista a garantia deste direito” (SILVA, 2012, p. 840). O quadro, acima menciona uma crescente desigualdade nos recursos para segurança, em detrimento a educação e da saúde.

A inclusão social e á inclusão educacional sobre as quais nos temos debruçado implica uma reformulação dos curriculas. Diga-se, por oportuno, essa mudança dever-se-á se verificar também na formação dos professores62 na estrutura da sociedade e da escola, que comporta em si despesas. Por outro lado, se existe pretensão de um ensino verdadeiramente inclusivo é imperioso que se revejam os recursos destinados ao setor, pois cada deficiência comporta em

62 Como por exemplo o ensino da linguagem gestual, a escrita e leitura em Braille, como pontualizou nossa

si sua especificidade: o que o aluno com deficiência visual necessita para estudar não é mesmo de que necessita o deficiente auditivo, intelectual, motora, conduta ou múltipla respectivamente, o processo inclusivo não pode descurar as especificidades de cada uma delas.

Desde a deficiência, motora (física), auditiva, intelectual, visual, transtornos de desenvolvimento e de conduta múltipla, temos em escolas públicas um total de 25.226,00, sendo que 13.286, 00 são femininos e 11.940,00 masculinos. Ora, conhecemos o problema, o público alvo foi identificado, o que falta depende tão somente de política pública direcionada, que começaria por melhorar o quinhão destinado ao setor da educação com vista a pôr cobro, ao número gritante de pessoas que ficam fora do sistema de ensino por falta de escolas ou mesmo de professores fato que ocorre em alguns lugares recônditos de Angola.

Assim, essa política orçamentária, insuficiente para o setor, contribui, no nosso entender, para a discriminação e a exclusão, que impedem muitas pessoas com deficiência de estudar, relegando para estas apenas o curso técnico profissional, contra sua vontade63.

Se a educação é um direito social e a materialização destes (como já referimos) tem a particularidade de depender da disponibilidade de recursos; se os recursos de que dispomos são estes e nos colocamos nos “avanços” e “retrocessos” de sua utilização, resta-nos questionar: que avanços auguramos para o setor educativo com estes recursos e que dignidade queremos garantir às pessoas com deficiência, se a ela só reservamos um ensino, excludente? Compreendemos que segurança é importante, mas compreendemos ainda a educação e, saúde serem os mais importantes, e se nosso objetivo é o tão sonhado desenvolvimento só vamos alcançá-lo se mudarmos nossa maneira de olhar para o setor, e todos fazem parte ou tem uma cota parte de responsabilidade para que efetivamente possamos atingir níveis de desenvolvimento, que esperamos, e para tal precisamos pagar um preço alto, porque foi assim que muitos se fizeram excelentes, educação de qualidade implica gastos avultados. Tal desiderato, reafirmamos, só mediante uma política pública, capaz de modo “gradativo” dar cobro as assimetrias decorrentes da insuficiência de recursos ou do mau uso destes (GOMES, 2011, p. 29).

63 Ou seja, é como se tivessem a atestar um certificado de incapacidade a este, dizendo você só pode fazer isto

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