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Mapa 4 – Atuação do PAA no ano de 2012

5.2 A COOPAFI

5.2.3 O PAA sob a Ótica dos Dirigentes da Coopafi

O ponto de vista do DC1 com referência ao PAA é crítico no tocante ao modo de como o Programa é gestado e operacionalizado. Segundo o diretor, em termos de comercialização o PAA tem apoiado, em algumas modalidades, muito bem as famílias e em outras modalidades não, por que em alguns momentos não tem tido orçamento para operacionalizar a compra da mercadoria dos produtores.

Este fato acarreta alguns problemas neste sentido, sendo necessário dar uma arrumada como política pública pois, na verdade, o PAA não é uma política agrícola de comercialização para a agricultura familiar e sim um programa de governo de apoio a comercialização, internalizado na Conab, que uma hora tem dinheiro, outra hora não tem. (ENTREVISTA DC1, 2012).

Desta maneira o programa depende da vontade política dos ministérios, que é o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome e do MDA, que é o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Assim, quando se tem um programa de governo que a origem e orçamento vêm desses dois ministérios, existe a dificuldade da operacionalização.

Precisa criar uma política de comercialização onde esta política vai ter orçamento, vai ter dinheiro, vai conseguir rodar a produção. Hoje na verdade o PAA tá pendurado nesses dois ministérios e o operacional tá internalizado tá na Conab ou nas secretarias de trabalho. (ENTREVISTA DC1, 2012).

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O diretor aponta que o problema é político, que é preciso ter uma política mais clara pra essa situação, onde, se tivesse uma política em termos de legislação, onde é necessário suprimir o modelo de programa e estrutura-lo como política, com as modalidades de comercialização mais ajustadas à realidade da agricultura familiar brasileira.

Esta luta não é vista pela diretoria da Coopafi como uma luta própria, mas sim uma luta mais política, mais organizativa, como o sindicato, pois a cooperativa tem um papel mais econômico enquanto proponente.

Na percepção do DC1, no período que a Coopafi tem operacionalizado o PAA, em alguns momentos o programa “desafogou” bem as famílias.

Eu vou citar aqui duas situações. Duas safras de trigo atrás nós aqui, mais diretamente na fronteira, comercializamos com a Conab praticamente duzentos e cinquenta mil sacas de trigo. Isso tem desafogado as famílias. A Conab comprou o trigo, industrializou, botou na cesta básica. Então, é essa política que precisa. Bom, o mercado não roda, então entra aí com a política pública e desenvolve isso. Esta é uma situação. Outra situação que tem desafogado bem também foi três safras atrás, com referência ao feijão. O feijão tem ficado abaixo do preço mínimo aqui na região. A Conab entrou com o PAA, comprou o feijão, estocou e deve distribuir neste ano. (ENTREVISTA DC1, 2012).

No ponto de vista do DC1 as ações desenvolvidas no PAA têm contribuído bem com as famílias da região, porém, deveria ter um olhar diferenciado. “Neste sentido, o PAA precisa pensar isso. Armazenar trigo, milho, pra fazer farinha, pra fazer canjica pra atender a população o ano que vem. Hoje esse negócio não tá muito claro nesse sentido de soberania alimentar e de segurança alimentar.”

Ainda, segundo o mesmo diretor, a preocupação do Estado não pode ficar centrada na questão da segurança alimentar, pois segurança se faz com o agronegócio também, porém, soberania alimentar somente se faz com a agricultura familiar, se constrói internamente, no país. Para a segurança alimentar é possível a importação de produtos da Comunidade Européia, dos americanos ou do próprio

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Mercosul. Isso pode trazer segurança alimentar, porém para que se tenha soberania alimentar é preciso internalizar e aí o Estado deve construir instrumentos pra resolver essas situações.

O papel do Estado na elaboração das políticas públicas deveria abordar a agricultura familiar em focos. O primeiro seria o papel do Estado nesta questão da comercialização, apoiando, incentivando. “É melhorar, é comprar, é fazer comercialização mesmo. Pra mim papel do Estado é isso, ele tem que atender esse setor da agricultura, em especial a agricultura familiar.” (DC1, 2012).

O segundo foco apresentado pelo DC1 está vinculado à assistência técnica, onde o acompanhamento técnico é visto como transferência de conhecimento pras famílias, que pode ser também desenvolvido pela iniciativa privada, porém, o Estado tem o papel estratégico de transferência de conhecimento para as famílias, para os agricultores. Essa transferência de conhecimentos além de ter um foco social, tem também um foco econômico que é melhorar a produção, a produtividade, a qualidade dos produtos.

Então, pra mim, o Estado tem estes dois papéis, o papel da comercialização e o papel da assistência técnica, da extensão rural. Isso não quer dizer que hoje o Estado não tá fazendo nada. O Estado tá fazendo em partes estas duas ações. A Emater tá fazendo, em partes, esta questão da assistência técnica, da extensão rural e o Estado tá fazendo em partes, através do PNAE e do PAA, essa área da comercialização. (ENTREVISTA DC1, 2012).

Corroborando, o DC2 afirma: “O Estado deveria criar uma política pra agricultura familiar ser fortalecida.”.

Quanto ao papel do PAA para o fortalecimento da agricultura familiar, o DC2 acredita que o programa tem um papel importante, pois o programa possibilita que o agricultor agregue mais valor na sua produção e a diversifique, pois, além do produto in natura, é possível a venda do produto de transformação.

Neste sentido, o DC1 discorre que, enquanto instrumento, o programa fortaleceu e pode fortalecer mais a agricultura familiar. Basta melhorar o orçamento

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do PAA, pois se o PAA tivesse dez por cento do recurso que temos no custeio e no investimento, ou seja, se os recursos utilizados, com base no Pronaf que hoje disponibiliza em torno de dezoito bilhões, um bilhão e oitocentos milhões seria um orçamento razoável. Consequentemente seria necessário internalizar estes produtos, ou seja, é preciso mais armazéns, é preciso mais máquinas e equipamentos. “Isso tudo é soberania alimentar, é ter comida estocada, internamente no país pra você dar de comer pra população brasileira.”. (DC1, 2012).