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3 A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E A SUA DINAMICIDADE PRODUTIVA

3.1 A Indústria Farmacêutica

3.1.4 O panorama ambiental da indústria farmacêutica

O meio-ambiente sendo a maior fonte de riqueza da biodiversidade de recursos naturais, ainda mal explorada e extremamente cobiçada pelas empresas farmacêuticas, faz com que essa indústria demonstrasse interesse através de programas, discursos e ações montados em prol do meio ambiente.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA

(ESTRATÉGIA,1992) existem quatro áreas de política ambiental mais utilizadas pelas empresas: limitações para a descarga de esgoto, regulação para emissões no ar de partículas, prevenção da poluição para resíduos tóxicos e a avaliação de impactos ambientais.

Observa-se que das políticas citadas, elas focam principalmente os "outputs" de processo, ou seja, aqueles efeitos gerados após a produção. Desta forma as empresas assumem a responsabilidade pelos efeitos de suas atividades, internalizando os custos ambientais, que são menores em relação aos retornos financeiros.

No Anais do XXVI Encontro Nacional de Economia (AMAZONAS, 1998), realiza a abordagem econômica neoclássica da questão do desenvolvimento sustentável, construído sobre os fundamentos do Utilitarismo, Individualismo Metodológico e Equilíbrio, determinando o que viria a ser um "uso sustentável" dos recursos e quais as condições necessárias para atingir. A questão ambiental baseado nesta racionalidade, desenvolve duas construções teóricas: a Economia da Poluição e a Economia dos Recursos Naturais.

Assim, do ponto de vista econômico, o pagamento de taxas, impostos, multas ou qualquer outra forma punitiva neo-clássica resolveria o impasse do custo/benefício entre as empresas e o meio ambiente. As empresas entendem que o valor monetário pago por elas ao governo as livrariam de responsabilidades futuras pelo dano ambiental causado.

Até então está se considerando apenas o valor de uso e, segundo o Anais do XXV Econtro Nacional de Economia (NOGUEIRA e MEDEIROS, 1997), e Young e Fausto (1997) e Lima (1999), ainda devem ser considerados os valores de opção (relacionado a usos futuros que podem gerar algum benefício ou satisfação e que atualmente não são usufruidos) e de existência (é o valor de não uso, atribuído à existência do meio ambiente, independentemente do seu uso atual ou futuro), cuja valoração, em termos monetários, é extremamente difícil de ser definido, pois baseia-se em preferências pessoais, as quais são subjetivas.

Quando se troca recursos monetários por determinados bens e não por outros, tem-se como pano de fundo as preferências individuais e a busca da maximização do seu bem-estar. Trazendo esta concepção microeconômica para o cenário ambiental, fica evidente a mesma dificuldade em se atribuir valores monetários que expressem o desejo das pessoas em usar para benefício próprio, certos componentes do ecossistema para que "paguem" pela modificação causado ao meio ambiente por esta interferência humana.

No trabalho de Motta et al. (1996), são abordados o uso de instrumentos econômicos na gestão ambiental da América Latina e Caribe, visando garantir, segundo os autores, uma melhoria ambiental com menor custo social. Os instrumentos tratados são, entre eles: subsídios creditícios, isenção fiscal ou tarifária, taxas sobre resíduos sólidos, taxas florestais, taxas sobre poluição, taxas vinculadas ao uso de recursos renováveis, impostos ambientais vinculados a taxação convencional, certificados comercializáveis, rotulação ambiental, instrumentos de responsabilização, entre outros.

Com relação ao comércio internacional e a qualidade do meio ambiente, Gutierrez (1997) aborda algumas preocupações sobre a inter-relação entre políticas ambientais e a competitividade das exportações, bem como apresenta um modelo que visa responder se um processo de liberalização comercial leva a maior degradação ambiental, trazendo indicadores para os países do Mercosul para efeito de comparação entre eles.

A indústria farmacêutica na busca de correlacionar o desejo de conservação do meio ambiente com a valoração do capital, monta parcerias com organizações não- governamentais, fundações de pesquisa e proteção ambiental, associações, programas de preservação de parques ecológicos, florestas, etc., transferindo recursos financeiros que promovam os objetivos destas entidades, mas que vinculem a imagem da empresa como a grande patrocinadora e mentora destas atividades.

Faz parte da estratégia das empresas também apresentar a sua responsabilidade social, no que tange às suas atividades ecológicas, através de publicações como os Relatórios Anuais ou Balanços Sociais (Annual Report), os quais são distribuídos para os acionistas e para os meios de comunicação, como a imprensa. Estes relatórios servem como um instrumento eficaz de "relações públicas" da empresa, uma vez que disseminam a idéia de que o meio ambiente faz parte das preocupações do alto escalão da empresa, portanto é prioridade para o desempenho da empresa e que está vinculado à sua competitividade e à sua lucratividade.

De acordo com um estudo realizado nos Estados Unidos, pela Roper Starch Worldwide for the Nature Conservancy, no artigo "Survey: Americans Favor Preservation Partnerships (SURVEY, 1999), afirma que 70% dos americanos acreditam que parcerias entre as grandes corporações e grupos de conservação ambiental significam alta efetividade na proteção do meio ambiente. Em uma amostra de 2.000 adultos americanos, 2/3 acreditam que é possível desenvolvimento econômico e proteção ambiental serem obtidos simultaneamente.

Em um outro estudo realizado pela mesma entidade, denominado "The Power

of Two: Conservation and Corporate Environmental Responsibility" (THE POWER, 1999), mostrou que os americanos são a favor das empresas com imagem pró- ambientalista. Quase 80% dos americanos têm impressões positivas para com as empresas que de alguma forma estão associadas com grupos ambientalistas e, 75% se sentem bem em comprar produtos ou serviços destas empresas.

E a conclusão do estudo afirma que a população coloca o meio ambiente como alta prioridade em suas preocupações e acreditam que a proteção ambiental deve ser uma missão unificada entre o mundo corporativo a os grupos conservacionistas, uma vez que o desafio ambiental é de todos.

A questão do meio ambiente com as estratégias gerenciais não indica ainda uma real mudança de paradigma corporativa voltada para a sustentabilidade ambiental, mas por questões de competitividade e devido as transformações políticas econômicas mundiais, exige-se uma nova postura empresarial para lidar com os problemas relativos ao meio ambiente. Busca-se oportunidades de negócios através de gestão pró-ativa e, incorpora-se a variável ambiental na elaboração de estratégias. Sanches (2000), Layrargues (2000), Miranda et al. (1997), Young e Lustosa (2001) e, Blumenfeld e Montrone (1997) discutem a utilização do meio ambiente como um fator de distinção competitiva.