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O panorama atual do mercado nacional de cafés especiais

CAPÍTULO 5 O COMÉRCIO DIRETO NO BRASIL: PERSPECTIVAS

2 O CAFÉ NO MERCADO NACIONAL

2.3 O panorama atual do mercado nacional de cafés especiais

A Associação Brasileira de Cafés Especiais (Brazil Specialty Coffee Association - BSCA) consiste em uma organização brasileira que congrega pessoas físicas e jurídicas, nos mercados interno e externo de cafés especiais, visando à difusão e ao estímulo ao aprimoramento técnico em todos os setores ligados ao produto, além de promover a sustentabilidade da atividade, por meio de programas, projetos e parcerias com entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais. Ela é a única instituição nacional a certificar lotes de cafés especiais que podem ser monitorados e rastreados por meio de selos de controle de qualidade, os quais contam com numeração individual e cuja consulta é disponibilizada pela organização aos consumidores (BSCA, 2017a). Seus membros, organizados em categorias, são apresentados no Quadro 5.4.

Quadro 5.4 - Membros da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e sua participação por categoria.

Categoria Número de membros1 Participação (%)

Armazéns 02 1,0 Associações/cooperativas 11 5,7 Cafeterias 15 7,7 Corretores 06 3,1 Exportadores 13 6,7 Implementos e equipamentos 13 6,7 Produtores certificados 108 55,7 Produtores em certificação 04 2,1 Torrefações 22 11,3 Total 194 100 1 Membros nacionais.

Fonte: Elaborado pela autora com base nas informações da BSCA (2017b).

Apesar da importância da associação, é importante destacar que ela representa uma pequena parcela dos produtores nacionais de cafés especiais. Até o momento, não foi encontrada uma estimativa do número de produtores de cafés especiais no Brasil.

168 A BSCA considera a existência de 26 regiões brasileiras produtoras de cafés (BSCA, 2017c). Dentre elas, cinco se destacam pela produção de cafés especiais e pela obtenção de Indicações Geográficas, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). São elas: Região do Cerrado Mineiro, Região da Serra da Mantiqueira de Minas Gerais, Norte Pioneiro do Paraná, Alta Mogiana e Região de Pinhal (INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL - INPI, 2018). Conforme definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as Indicações Geográficas, no Brasil subdivididas em Denominações de Origem e Indicações de Procedência, são:

Uma ferramenta coletiva de promoção comercial de produtos onde qualidade, reputação ou outras características devem-se essencialmente à origem geográfica. As IGs podem proteger produtos/regiões de falsificações e usurpações indevidas, servem como garantia para o consumidor, indicando que se trata de um produto especial e diferenciado (MAPA, 2009, p. 6). Alguns de seus benefícios econômicos consistem na prática de preços superiores, melhor distribuição do valor agregado na cadeia produtiva, melhoria na distribuição de renda, possibilidade de geração de novos empregos e harmonização socioeconômica, além de potencial incremento do turismo na região e diversificação de sua produção (MAPA, 2009).

Segundo estimativas da BSCA, a produção brasileira de cafés especiais aumentou de 5,2 milhões de sacas de 60kg, em 2015, para 8,5 milhões de sacas de 60kg, em 2017, incremento aproximado de 63% no período (ABIC, 2018d). O preço pago ao produtor varia amplamente de acordo com a qualidade, normalmente avaliada, por meio de metodologia da Associação de Cafés Especiais (SCA5), mas sabe-se que este é significativamente maior que aquele pago por cafés commodity. O valor recorde pago por uma saca de 60kg de café especial, em leilão, é de R$55.457,60 (US$ 17.222,86 em cotação de 27/11/2017) (CECHINEL, 2017). Como referência, destaca-se que a cotação do café arábica (B/C, tipo 6, bebida dura, 17/18, livre de impostos), na mesma data, foi de R$453,00 (CENTRO DO COMÉRCIO DE CAFÉ DO ESTADO DE MINAS GERAIS - CCCMG, 2017). Destaca-se, contudo, que se trata de um caso diferenciado, e que os preços em leilões costumam ser significativamente superiores aos alcançados em transações comerciais rotineiras.

A produção de cafés especiais, contudo, demanda maior cuidado e investimento na atividade, especialmente em equipamentos e acessórios para colheita e processamento/pós- colheita (e.g. descascadores, tanques de lavagem, terreiros suspensos), na contratação de mão

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Resultante da união da Specialty Coffee Association of America (SCAA) à sua contraparte europeia, em 2017.

169 de obra especializada, em insumos especiais (como exemplo, para produção de café orgânico) e na obtenção de certificações. Os custos de produção de cafés especiais também variam amplamente, conforme técnicas de colheita e processamento, dentre outros fatores, mas estima-se que, para grande parte dos cafeicultores, o incremento no custo de produção de cafés especiais em relação aos tradicionais/ commodity seja da ordem de 11% a 20%. Ademais, constata-se que o tamanho da propriedade e o número relativo de produtores que investiram em cafés especiais estão direta e positivamente ligados (CENTRO DE CONHECIMENTO EM AGRONEGÓCIOS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - PENSA, 2008).

Nesse sentido, Zilbersztajn et al (2018) buscaram traçar o perfil do produtor nacional de cafés especiais, bem como compreender as características da produção e os aspectos comerciais relacionados à atividade. Para os autores, a maioria desses cafeicultores conta com elevado nível de escolaridade, normalmente havendo completado os níveis médio e/ou superior, e já se dedicou em média duas décadas à atividade, cultivando atualmente entre 1 e 312 hectares (média de 91,15ha) e produzindo cerca de 3.300 sacas de 60kg anualmente. É importante ressaltar, contudo, que não é sempre possível a produção exclusiva de cafés de qualidade especial em uma propriedade, em razão de diversos fatores limitantes.

Desses cafeicultores, aproximadamente 60% cultivam exclusivamente café em suas propriedades, sendo a cultura a principal fonte de renda familiar para 71.6% dos entrevistados, normalmente associados a alguma cooperativa (89%) e engajados em reuniões técnicas acerca da atividade (76%). De modo preocupante, os autores constataram que 20% dos cafeicultores não controlam seus custos de produção, dos quais elevado percentual relaciona-se à mão de obra, a qual representa em média 55% das atividades de cultivo e 45% das operações de pós-colheita, variando conforme o tamanho da propriedade e de sua escala de produção (ZYLBERSZTAJN et al., 2018). Esses autores também destacam a média de 8 trabalhadores rurais empregados nessas propriedades, variando entre 0 e 50 em sua amostra, sejam eles contratados por tempo indeterminado ou temporariamente. Não é incomum, também, a combinação de utilização de mão de obra assalariada e familiar nas propriedades rurais.

Os principais destinos dessa produção de cafés especiais são exportadores, cooperativas, corretoras, indústria e outros (PENSA, 2008; ZYLBERSZTAJN et al., 2018). As principais motivações para estabelecimento de contratos de venda são o travamento dos preços, a redução de riscos, o relacionamento com os canais de distribuição, a garantia do fluxo de produção e de seu financiamento e, de forma menos relevante, a assistência técnica

170 (ZYLBERSZTAJN et al., 2018), talvez pela ampla atuação de instituições públicas, a exemplo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), voltadas ao apoio aos cafeicultores. Ressalta-se que a escolha de uma indústria específica para comercialização está diretamente relacionada ao preço pago, à reputação da empresa, à garantia de pagamento e ao relacionamento de longo prazo (ZYLBERSTAJN et al., 2018), fatores intimamente relacionados às propostas do Comércio Direto, conforme apresentado no Capítulo 4.

Na área da indústria, destaca-se a dificuldade em estimar o número de torrefações e microtorrefações brasileiras de cafés especiais. Conforme apresentado na Tabela 5.4, na seção anterior, a ABIC conta com 283 empresas associadas, as quais podem ser consideradas microtorrefações, mas não é possível determinar, a princípio, se todas elas trabalham, exclusivamente ou não, com cafés especiais. No setor de cafeterias acontece algo similar: segundo a Euromonitor, em pesquisa para a BSCA, existem 13.095 cafeterias no país, as quais incluem estabelecimentos especializados, não especializados e outras cafeterias premium, não sendo possível determinar exatamente a qualidade do café comercializado pelo uso indiscriminado do termo “especial” (PROENÇA, 2017).

No mercado nacional, estimou-se consumo de 592 mil sacas de 60kg em 2017, aumento de 20,8% em comparação ao ano anterior, sendo previstos, ainda, acréscimo de 19% no consumo entre 2017 e 2018, totalizando 703 mil sacas de 60kg e alcançando um valor de varejo de R$2,636 bilhões, aproximadamente 23% superior em comparação ao ano anterior. Para 2021, projeta-se consumo de 1,063 milhão de sacas de 60kg de cafés especiais no país, que representarão 5,1% do total do mercado nacional da bebida (PROENÇA, 2017; ROCHA, 2018). Esses dados podem ser visualizados na Figura 5.1. Contudo, destaca-se que grande parte da produção ainda é exportada: em 2017, exportaram-se 7,6 milhões de sacas de 60kg das 8,5 milhões de sacas de 60kg de cafés especiais produzidos no país, equivalente a 89,4% do total, sendo os principais destinos os Estados Unidos, a Europa e o Japão (OLIVA, 2018).

171 Figura 5.2 - Evolução do consumo de cafés especiais e seu valor no varejo, nos últimos

quatro anos, e projeção para 2021.

* previsões não informadas. Valores estimados com base nas médias anuais de crescimento. Fonte: Elaborado pela autora com base em Proença (2017) e Rocha (2018).

Guimarães et al. (2018) traçaram o perfil do consumidor brasileiro de cafés especiais. Segundo os autores, estes são predominantemente homens, entre 21 e 35 anos, cujo nível de escolaridade consiste em graduação ou pós-graduação completas e cuja renda mensal familiar normalmente supera cinco salários mínimos. Tais consumidores são essencialmente motivados pela busca de prazer no consumo da bebida, relacionada a seus atributos de qualidade, pela curiosidade acerca da origem e métodos de produção e pós-colheita dos grãos e pelo apoio a iniciativas ambiental, social e economicamente sustentáveis ligadas à cafeicultura. Ainda dispostos a aumentar seu consumo de cafés especiais e pagar mais pelo produto caso maiores informações acerca de suas características sejam divulgadas, muitos destes consumidores adquirem equipamentos e métodos diferenciados para a extração da bebida em ambiente doméstico ou a consomem em cafeterias especializadas. Os autores, contudo, subdividem os consumidores brasileiros de cafés especiais em três categorias - consumidores regulares, entusiastas e especialistas - os quais representam diferentes níveis de interesse pelo produto e engajamento em sua prática de consumo, verificados por meio de suas motivações de consumo da bebida e critérios de aquisição do produto (GUIMARÃES et al., 2018). 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 2015 2016 2017 2018 2019* 2020* 2021*

172 3 METODOLOGIA

Conforme apresentado anteriormente, o Comércio Direto se apresenta como arranjo voltado à comercialização de cafés especiais, visando à melhoria da coordenação dos agentes e da gestão da informação transmitida ao longo da cadeia, garantindo o suprimento de cafés excepcionais de forma social, ambiental e economicamente sustentável. O Brasil, por sua característica de única nação com elevada representatividade tanto na produção dos grãos quanto no consumo da bebida e decorrente proximidade entre todos os agentes dessa cadeia produtiva, pode experimentar diferentes desafios ou incentivos à adoção do Comércio Direto e, assim, apresentar peculiaridades em suas formas de adoção. Contudo, tais especificidades relacionadas à prática do Comércio Direto entre actantes no contexto nacional ainda não foram intimamente abordadas na literatura científica, lacuna teórico-empírica a ser endereçada neste Capítulo. Apesar de abordar a comercialização direta entre agentes nacionais (produtores e torrefadoras), o trabalho de Reis (2018) apenas tangencia as especificidades do relacionamento entre os actantes brasileiros e se restringe a limitado número de entrevistados, circunscritos em apenas uma região produtora dos grãos.

Objetivou-se, portanto, compreender a prática do Comércio Direto no contexto brasileiro, por meio da perspectiva dos principais agentes envolvidos na cadeia produtiva dos cafés especiais: cafeicultores, torrefadoras/cafeterias, negócios de conexão, profissionais do mercado e consumidores. A não omissão de quaisquer dessas percepções acerca do Comércio Direto permite, por intermédio de pesquisadores imparciais, “dar voz” a esses agentes e promover o diálogo entre eles, resultando em compreensão mais aprofundada do tema e com grande potencial de contribuição para esse mercado. Trata-se, portanto, de pesquisa qualitativa e exploratório-descritiva, por sua finalidade de proporcionar maior familiaridade com o objeto de pesquisa, apoiando a formulação de hipóteses, bem como de descrever as características de uma população (GIL, 2002), nesse caso, os agentes brasileiros da cadeia produtiva dos cafés especiais ligados ao Comércio Direto.

Estudou-se a perspectiva desses agentes por meio de entrevistas semiestruturadas em profundidade, pessoalmente ou por meio eletrônico, realizadas entre setembro e dezembro de 2018. Esse método de coleta de dados é popular por sua flexibilidade e estímulo à reciprocidade entre entrevistador e entrevistados, permitindo a expressão individual destes e o debate de importantes questões que espontaneamente surjam durante a entrevista (KALLIO et al., 2016). Optou-se pela não identificação dos entrevistados, de forma a deixá-los mais

173 confortáveis para expressar suas opiniões acerca do tema. Para a manutenção do sigilo, portanto, eles serão denominados conforme apresentado no Quadro 5.5.

Quadro 5.5 - Categoria de entrevistados e legendas para identificação.

PÚBLICO LEGENDA

Cafeicultores CAF1, CAF2 ... CAF26

Torrefadoras e Cafeterias TC1, TC2 ... TC9

Negócios de Conexão NC1, NC2 e NC3

Profissionais PRO1, PRO2 ... PRO6

Consumidores CON1, CON2 ... CON6

Fonte: Da autora (2018).

Optou-se, neste Capítulo, por seguir as cinco etapas propostas por Kallio et al. (2016) para a realização de entrevistas semiestruturadas. São elas: 1) identificação dos pré-requisitos para utilização de entrevistas semiestruturadas; 2) recuperar e utilizar conhecimento previamente disponível para a elaboração do roteiro de entrevista; 3) formulação do roteiro preliminar de entrevista; 4) teste piloto do roteiro de entrevistas; e 5) disponibilização do roteiro de entrevistas na íntegra. Neste trabalho, utilizaram-se roteiros de entrevistas específicos a cada categoria de entrevistados, de forma a melhor compreender sua atuação nesse mercado.

As entrevistas semiestruturadas são consideradas método adequado para estudo de assuntos complexos ou delicados, bem como de opiniões e percepções pessoais (BARRIBALL; WHILE, 1994; KALLIO et al., 2016), valores, intenções ou ideais (ASTEDT- KURKI; HEIKKINEN, 1994), os quais constituem aspectos deste trabalho. A recuperação e utilização de conhecimento prévio para embasar a elaboração dos roteiros de entrevista e apoiar o pesquisador durante a coleta de dados foram realizadas no Capítulo 3, por meio de ensaio teórico a respeito da evolução do mercado internacional de café, e no Capítulo 4, por meio de revisão sistemática integrativa (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011) acerca do Comércio Direto, a qual contou também com o apoio de conhecimento empírico para complementar e aprofundar a compreensão do fenômeno em estudo (KALLIO et al., 2016).

Após formulação dos roteiros preliminares de entrevista, realizaram-se dois tipos de teste piloto, de forma a averiguar a adequação e relevância do conteúdo ao tema: o teste interno, centrado em sua avaliação pela equipe de pesquisadores responsável pelo estudo, de forma a remover ambiguidades ou possíveis questões com respostas induzidas, além de identificar quaisquer vieses de percepção dos pesquisadores; e o teste pela avaliação de especialistas, na qual o roteiro é apresentado para avaliação crítica de uma equipe de

174 especialistas externa àquela responsável pela pesquisa, técnica particularmente valiosa para avaliação da abrangência e adequação do roteiro de entrevista aos objetivos e sujeitos do estudo (BARRIBALL; WHILE, 1994; KALLIO et al., 2016). Os roteiros finais de entrevista, após seu refinamento nas etapas anteriores, são apresentados na íntegra nos Apêndices A a E, ao final deste Capítulo. O cumprimento dessas etapas contribui com a confiabilidade do estudo ao promover sua credibilidade (registro preciso do fenômeno sob investigação), possibilidade de confirmação (referente à objetividade do pesquisador) e de replicação por outros estudiosos (KALLIO et al., 2016).

A identificação e seleção dos entrevistados se deu, por meio da técnica de “bola de neve”, também comumente chamada de “amostragem em cadeia”, na qual o “pesquisador acessa informantes por meio de informações de contato fornecidas por outros informantes” (NOY, 2008, p. 330). Trata-se, portanto, de amostragem intencional e não probabilística, voltada à identificação de indivíduos difíceis de serem alcançados (BALTAR; BRUNET, 2012). Inicialmente, buscaram-se agentes já conhecidos pelos pesquisadores e contatos dos associados à BSCA ou integrantes do projeto Direct Trade Brasil, filiado ao Specialty Coffee Bureau, que, então, passaram a indicar outros potenciais entrevistados.

Utilizou-se o método de amostragem teórica, compreendido como um “tipo recursivo de amostragem intencional que se encerra quando a saturação teórica é alcançada” (GHEONDEA-ELADI, 2014, p. 119), ou seja, não são obtidos novos dados e as categorias para as quais uma sessão de amostragem foi organizada foram desenvolvidas de maneira satisfatória, tendo suas inter-relações se mostrado estáveis e válidas. A tentativa de generalização a partir de amostras teóricas, portanto, ocorre pela inferência, a partir de descrições particulares em direção a uma teoria geral, por meio de abstração ou conceituação (GHEONDEA-ELADI, 2014).

Adotou-se abordagem top-down para a codificação das entrevistas, ou seja, baseando- se em teoria predeterminada (nesse caso a abordagem teórica da Construção de Mercados), estabeleceram-se esquemas de codificação para estudá-la por meio dos dados obtidos (GHEONDEA-ELADI, 2014). A análise dos dados, por sua vez, apoiou-se na técnica de análise de conteúdo em sua perspectiva qualitativa e temática (CAPPELLE; MELO; GONÇALVES, 2003), centrada nas categorias de enquadramentos (ÇALISKAN; CALLON, 2010) e práticas (KJELLBERG; HELGESSON, 2007; LEME, 2015) abordadas nos Capítulos anteriores.

De forma complementar, averiguou-se a percepção das especificidades deste modelo de comercialização no mercado nacional por parte de agentes internacionais. Para tanto,

175 realizaram-se entrevistas semiestruturadas em profundidade, no idioma inglês, com profissionais de importadoras, torrefadoras e cafeterias com relações de Comércio Direto com cafeicultores brasileiros. As técnicas de amostragem, seleção de entrevistados, codificação e análise dos dados foram as mesmas utilizadas para avaliação dos agentes nacionais. Dessa forma, avaliaram-se, também, especificidades do Comércio Direto entre agentes internacionais e cafeicultores brasileiros, ainda não abordadas exclusivamente na literatura científica.

176 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entrevistaram-se 50 indivíduos, sendo 26 cafeicultores, 09 torrefadoras/cafeterias, 03 negócios de conexão, 06 consumidores e 06 profissionais do mercado de café, totalizando 22 horas e 26 minutos de entrevista com tais agentes. Nas próximas seções, apresentar-se-ão a percepção dos agentes entrevistados acerca do significado do Comércio Direto e de seus resultados, seguida da apresentação das perspectivas isoladas e práticas adotadas por cafeicultores, torrefações/cafeterias, negócios de conexão e consumidores. Por fim, tal arranjo será apresentado sob a ótica da Teoria de Construção de Mercados, de forma ampliar sua compreensão.

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