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O PAPEL DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DO CÂNCER

1. A P REVENÇÃO , O C ÂNCER E A C ULTURA

1.4 O PAPEL DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DO CÂNCER

A enfermagem oncológica refere-se aos cuidados de enfermagem prestados a pacientes com câncer, incluindo ações de promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos.

A prevenção do câncer, objeto deste estudo, tem o enfermeiro como integrante da equipe multidisciplinar para o cuidado do paciente. Vanzin e Nery (1997) e Cutler (1999) destacam o enfermeiro como um profissional-chave da equipe de saúde oncológica, sendo ele capaz de realizar as atividades de promoção à saúde e prevenção do câncer, juntamente com outros profissionais de saúde. Entretanto, estes mesmos autores alertam para a necessidade de melhor preparação do enfermeiro para a prática de prevenção.

Essa é difundida por Popim (2001), quando argumenta sobre a compreensão da ação do cuidador enfermeiro oncológico que necessita de uma competência que vai além da esfera técnico-científica, com implicações no seu existir, dado o esforço para viabilizar um cuidado ético.

É necessário também, que o enfermeiro generalista esteja preparado para co-atuar nas ações de prevenção do câncer e em outros âmbitos das ações voltadas para o câncer, ou seja, desde a promoção da saúde, tratamento, até a reabilitação ou nos cuidados paliativos (ONS, 2004).

Os enfermeiros devem estar capacitados para realizar técnicas de

screening para detecção de alterações por meio de exame da cavidade oral, exame

pélvico, exame retal e exame das mamas (FRANK-STROMBORG, 1997).

A autora citada considera ainda que o enfermeiro precisa compreender diversos aspectos das ações de prevenção, entre os quais os aspectos

técnicos, psicológicos e financeiros. Estas ações devem ser apoiadas também no contexto cultural de cuidados com a saúde (WENGER, 1995). A partir desta compreensão, estes profissionais conseguirão criar uma atmosfera de adesão dos clientes às práticas de prevenção.

Uma das facetas desse preparo é relatado por Alonso (2003), ao discutir que a enfermagem é integrante de um sistema cultural próprio, organizado em atos seqüenciais e ritualizados, com seus próprios saberes, e esta interage com pessoas que buscam a prevenção. Porém, estas pessoas pertencem, muitas vezes, a outros sistemas culturais, com saberes organizados por outra lógica. Assim, o encontro destes atores pode resultar numa pluralidade de concepções, crenças e valores, que provavelmente irão influenciar as interpretações das ações de prevenção.

Para minimizar estas diferenças, Alonso (2003) propõe o reconhecimento das limitações da visão biomédica da enfermagem, nas formas de julgamento e nas ações de prevenção, para, assim, estabelecer uma real negociação de interpretações e condutas sobre o processo saúde/doença das pessoas, ou seja, aproximar-se realmente do mundo do cliente, numa amplitude social, cultural e pessoal.

Em concordância com os autores já citados, Friedriche Sena(2002) analisaram a práxis do cuidado no trabalho das enfermeiras das Unidades Básicas de Saúde de Juiz de Fora - MG, concluindo que o cuidado de enfermagem é uma

práxis em transformação, cujo desempenho depende também da subjetividade da

enfermeira que o realiza, isto é, de suas verdades, suas crenças e seus valores. Oliveira (2003) aponta outro fator importante, que é a necessidade do enfermeiro conhecer a comunidade com a qual ele está atuando na prevenção do

câncer, podendo, dessa forma, estabelecer com mais eficácia uma relação de confiança com a comunidade atendida. Todavia, os enfermeiros parecem não estar preparados para esta prática.

Pelloso (1991) faz uma crítica a esta situação, destacando que a formação dos enfermeiros, dentro dos parâmetros da prevenção, se encontra numa situação ambígua, ou seja, os formadores reconhecem a necessidade de atuarem na prevenção, mas continuam formando profissionais para serem absorvidos no mercado de trabalho curativo. A autora faz uma crítica também aos profissionais que atuam na saúde pública, afirmando que estes continuam atuando sem entrosamento com os profissionais da área curativa (hospitalar) e vice-versa, deixando assim, de atender às necessidades da população.

A Oncology Nursing Society (ONS), dos Estados Unidos da América, aponta a necessidade da atuação da enfermagem na educação profissional e pública, nos serviços de detecção da doença, nas investigações científicas e ainda nas políticas de saúde, além da criação de estratégias para a prevenção do câncer, às quais as políticas de saúde deveriam dar suporte. Entre estas estratégias, propõe a criação de guidelines para o screening do câncer (ONS, 2004).

Em relação à educação profissional, é importante a capacitação dos enfermeiros, tanto generalistas, quando oncológicos, sobre o comportamento do câncer, seu desenvolvimento e seus princípios de educação e economia, além das formas de detecção precoce e programas de educação continuada e educação especializada sobre a doença. A ONS aponta ainda a importância da obtenção do título da especialidade oncológica, valorizando a atuação destes profissionais (ONS, 2004).

A enfermagem deveria realizar práticas educacionais para a população sobre as formas de detecção do câncer, considerando o contexto cultural dos sujeitos, conforme protocolos (guidelines), facilitando assim a decisão da população sobre os comportamentos de prevenção da doença, como também na participação em programas de detecção precoce da doença e avaliação dos fatores de risco e aconselhamento genético (ONS, 2004).

A prática educativa como atuação da enfermagem é uma estratégia efetiva na prevenção do câncer, apontada por vários autores. Pelloso (1991) e Wenger (1995) afirmam que a atuação da enfermagem é imperativa nas ações de informação sobre a saúde para auxiliar os indivíduos nas suas decisões.

Compreendemos que a atuação da enfermagem nas ações de promoção, prevenção primária e secundária do câncer é de extrema importância, principalmente nas neoplasias femininas, onde devemos considerar todo o contexto de gênero e as características da enfermagem, como uma profissão feminina, o que provavelmente facilita as relações de gênero. Entretanto, é necessário que estes estejam capacitados para estas ações.

Para finalizar, consideramos que estas discussões são embasadas em diferentes contextos socioculturais, que integram o modelo biomédico de atenção à saúde.

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