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PROMOÇÃO DE SAÚDE ORAL DA CRIANÇA

1. O papel da escola na saúde oral da criança

Em Portugal a Saúde Escolar ao longo da sua história, iniciada em 1901 e mantida durante todo o século XX, tem estado sujeita a diversas reformas, numa tentativa de a adequar às necessidades da escola e às preocupações de saúde emergentes. Ao longo do tempo ocorreram mudanças significativas nos sistemas de saúde e de educação, novas estratégias, novas formas de gestão, novas orgânicas em ambos os Ministérios da Educação e da Saúde. Assim impõem-se novas formas de operacionalizar a Saúde Escolar e de avaliar o seu impacto, tendo sempre em conta que a escola deve continuar a ser a grande promotora da saúde.

No Sistema de Saúde Português foi aprovado o Plano Nacional de Saúde (2004-2010) (PNS), em que são definidas prioridades de saúde baseadas na evidência científica, com o objectivo de obter ganhos em saúde a médio e longo prazo. A estratégia de implementação do PNS passa por uma abordagem dos determinantes da saúde, através de programas nacionais, desenvolvidos nos ambientes onde as pessoas vivem, trabalham e estudam, em colaboração com os múltiplos sectores que contribuem para a saúde.

Portugal integra a Rede Europeia de Escolas Promotoras da Saúde desde 1994, tendo iniciado a sua actividade com uma experiência piloto que, em 1997, os Ministérios da Saúde e da Educação decidiram alargar, criando condições, nomeadamente legislação, e estruturas de apoio, para que os profissionais de saúde e de educação pudessem assumir a promoção da saúde na escola como um investimento capaz de se traduzir em ganhos em saúde.

O Programa de Saúde Oral em Saúde Escolar, que se desenvolve em Portugal desde 1986 foi revisto em 1999 e divulgado através da Circular Normativa nº6/DSE da Direcção-Geral da Saúde tendo passado a designar-se Programa de Promoção da Saúde em Crianças e Adolescentes. Em 2005, o programa foi novamente revisto através da circular nº1/DSE de Janeiro de 2005. O quadro conceptual do programa corresponde a uma estratégia global de intervenção assente na promoção da saúde e na prevenção primária e secundária da cárie

dentária. A promoção da saúde e a prevenção da doença são asseguradas pelas equipas de saúde escolar.

Nos planos curriculares das escolas e jardins-de-infância, deve ser promovida e apoiada a integração das actividades do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO), numa abordagem holística da saúde, em que os princípios de uma escola promotora da saúde são o referencial da intervenção e a Rede de Escolas Promotoras da Saúde é o seu paradigma. Com o programa pretende-se abranger grávidas e crianças até aos 16 anos assentes nas seguintes estratégias: promoção da saúde oral no contexto familiar e

escolar, prevenção das doenças orais, diagnóstico precoce e tratamento dentário.

As orientações curriculares para a Educação Pré-Escolar preconizam uma intervenção educativa, em que a educação para a saúde e a higiene fazem parte do dia-a-dia do Jardim-de-infância. A criança terá oportunidade de cuidar da sua higiene e saúde, de compreender as razões porque não deve abusar de determinados alimentos e ter conhecimento do funcionamento dos diferentes órgãos. O consumo de guloseimas é desaconselhado no Jardim-de-infância. Todas as crianças que frequentam os Jardins-de-infância devem fazer a escovagem dos dentes no estabelecimento de ensino, sendo esta uma actividade de extrema importância para as crianças que vivem em zonas mais desfavorecidas e que apresentem cáries. A escovagem dos dentes tem por objectivo a responsabilização progressiva da criança pelo auto-cuidado de higiene oral, devendo esta actividade estar integrada no projecto educativo e ser pedagogicamente dinamizada pelos educadores de infância.

Durante a escolaridade obrigatória, as referências à descoberta do corpo, à saúde, à educação alimentar, à higiene oral estão integradas no currículo e nos programas escolares do 1º ao 9º ano do ensino básico. No 1º ciclo o PNPSO recomenda que as crianças realizem uma das escovagens dos dentes no estabelecimento de ensino, devendo ser orientadas pelos professores que terão formação para esta actividade e uma vez por trimestre deve ser supervisionada pela equipa de saúde escolar. O objectivo desta actividade será

estimular a auto-responsabilização da criança pela sua higiene oral. Todas as crianças e jovens que frequentam as escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico devem fazer o bochecho quinzenal de flúor. No decurso da adolescência, em que se reorganiza a forma de estar no mundo, se reformula o auto-conceito, através de reforços positivos da auto-imagem, a higiene oral pode desempenhar um contributo importante para esse processo.

As escolas devem assegurar uma política nutricional que promova uma alimentação saudável, evitando assim o consumo de alimentos açucarados. A higiene oral deve ser abordada no contexto da aquisição de comportamentos de higiene pessoal, as aprendizagens deverão relacionar os saberes com as vivências, dentro e fora da escola. As equipas de saúde escolar deverão apoiar e ajudar a melhorar as competências dos educadores, professores e pais sobre a saúde oral. A escola tem um papel fundamental na formação dos hábitos alimentares das crianças e jovens, pelo que é transmitido dentro da sala de aula através dos conteúdos curriculares, mas também através da influência dos pares e dos professores.

A família é a primeira escola da criança e deve ter como objectivo a busca e a prática do bem-estar físico, psicológico, social, afectivo e moral, constituindo também um elemento preponderante na atenuação das fragilidades inerentes à doença. Uma escola que se proponha promover a saúde, deve mobilizar a participação directa da comunidade, desde as decisões sobre o projecto, ao envolvimento da própria escola, dos serviços de saúde, da comunidade de pais, dos voluntários, das empresas, dos parceiros diversos, até à sua execução e avaliação.

A Escola, ao constituir-se como um espaço seguro e saudável, está a facilitar a adopção de comportamentos mais saudáveis, encontrando-se por isso numa posição ideal para promover e manter a saúde da comunidade educativa e da comunidade envolvente.

“ A escola ocupa um lugar central na ideia de saúde. Aí aprendemos a configurar as “peças” do conhecimento e do comportamento que irão permitir

estabelecer relações de qualidade. Adquirimos, ou não “equipamento” para compreender e contribuir para estilos de vida mais saudáveis, tanto no plano pessoal como ambiental, serviços de saúde mais sensíveis às necessidades dos cidadãos e melhor utilizados por estes” (Sakellarides, 1999).