• Nenhum resultado encontrado

3. MERCADO EXTERNO DA FRUTICULTURA: REQUISITOS E ENTRAVES

3.2. O papel da inovação na expansão de mercados

Após a sedimentação da globalização e dos processos de abertura comercial e financeira das nações, o acirramento da concorrência elevou a preocupação das firmas quanto à sua competitividade do nível nacional para os níveis supranacional e mundial. As empresas, então, se conscientizaram que os índices desejados de crescimento somente seriam alcançados mediante a expansão de seus mercados.

Segundo Arbache (2005), o maior desafio dos países vem sendo garantir a continuidade deste crescimento de modo sustentável. Grande parte das estratégias que visam o aumento da produtividade, competitividade e eficiência das firmas tem se baseado no fomento à inovação e introdução de novas tecnologias e na orientação comercial para o exterior.

A investigação do autor mostrou que firmas atuantes nos processos de inovação tecnológica, atividades de P&D ou que exportam demonstram um melhor desempenho econômico do que suas concorrentes que não inovam e não exportam. Mesmo sendo o país farto em recursos naturais e em mão-de-obra desqualificada, e fundamentalmente agro-exportador, os incrementos em tecnologia e o contato com o mercado externo parecem afetar sensivelmente a competitividade das firmas nacionais.

O padrão de comércio exterior brasileiro foi evidenciado por De Negri (2005). Do total exportado pelo Brasil no período de 2000-2003, 39% foram de commodities primárias e 13% de produtos intensivos em trabalho e recursos naturais. Além de produtos de baixa (8%), média (18%) e alta (15%) intensidade tecnológica e produtos não classificados (7%). Dados que caracterizam uma pauta de exportação contrária ao padrão mundial, composta fortemente por produtos pouco intensivos em tecnologia. A União Européia é o principal destino deste tipo de produto. Em 2003, dos US$ 18,7 bilhões exportados para os países do bloco, US$ 11,6 bilhões (62%) foram de commodities, enquanto, para Estados Unidos e Canadá, o país exportou US$ 2,9 bilhões (16%) de commodities de um total de US$ 17,7 bilhões.

Um fato relevante apontado pelo estudo é que apenas 4% do que o país exportou em commodities entre 2000 e 2003 partiram de firmas que inovam e diferenciam produtos. Do restante, 46% foram exportados por firmas especializadas em produtos padronizados e 50% por firmas que não diferenciam produtos e têm produtividade menor. A

autora justifica que isso se deve, basicamente, ao menor número de firmas inovadoras pertencentes ao grupo exportador desse tipo de produto.

Dessa forma, percebe-se que a influência da inovação nas exportações brasileiras varia conforme o tipo de produto analisado. A concorrência externa de produtos de alta intensidade tecnológica é marcada, de forma fundamental, pela atuação de firmas inovadoras e pela diferenciação de produtos. Ao passo que, no mercado de produtos pouco intensivos em tecnologia, como é o caso geral dos setores agroindustriais, o desempenho exportador da firma não se enraíza no fato dela ser inovadora ou não.

No geral, inovar em processo, no Brasil, parece gerar mais efeitos sobre o desempenho exportador das firmas do que inovar em produto. Isso devido à composição da pauta de exportação do país. A autora mostrou que, para exportar produtos de baixa intensidade tecnológica, produtos intensivos em trabalho, commodities primárias e recursos naturais, as inovações de produto não são relevantes. Entretanto, as inovações de processo contribuem significativamente para o desempenho exportador das firmas destes setores.

As firmas que inovam em processo para o mercado exportam 183% a mais, em média, do que as firmas não inovadoras. Já as firmas que inovam em produto para o mercado, em média, exportam 46% a mais do que as firmas que não inovam. Mais uma vez, o caso brasileiro discorda do padrão internacional, onde os efeitos positivos sobre a competitividade externa da firma provêm com mais impacto das inovações de produto para o mercado, do que dos processos de difusão tecnológica ou de adequação da firma aos padrões do mercado interno (DE NEGRI, 2005).

Ainda assim, Arbache e De Negri deixaram evidente a relação positiva que há entre o processo inovativo da firma e a sua promoção, ou a sua manutenção, no mercado global. Os setores agrícolas de grande parte dos países em desenvolvimento, nas últimas décadas, somente puderam ampliar a participação de mercado de seus produtos no exterior, e alcançar altos índices de crescimento econômico, após uma profunda reestruturação tecnológica.

A partir desta modernização, e da integração das atividades de produção aos novos padrões mundiais, se tornou possível, por exemplo, suprir as deficiências produtivas e melhorar as taxas de produtividade, para enfrentar tanto os desafios da concorrência externa, onde estão as maiores oportunidades de mercado, quanto os da concorrência interna, já que a abertura da economia trouxe firmas estrangeiras para atuarem nos mercados domésticos.

Embora o processo inovativo não seja suficiente para garantir à firma uma abertura de mercado no exterior, alcançar este tipo de posicionamento envolve uma série de

requisitos de competitividade, entre os quais, certamente, a inovação se inclui de forma destacada. Não sendo apenas um mecanismo de conquista de novos mercados, mas também um dos condicionantes para torná-los duradouros.

Buscando esta evidência, Grosman & Helpman (1990) desenvolveram um modelo de comércio entre dois países que relaciona mercado externo, crescimento e inovação. Segundo este modelo, o processo de crescimento estaria fortemente associado às economias de escala e ao desenvolvimento tecnológico. Cada país, empenhado em produzir um determinado produto final, bens intermediários diferenciados e P&D, usufruiria uma taxa de crescimento endógeno, de longo prazo, exatamente em virtude do acúmulo do conhecimento e da difusão da tecnologia.

Em relação ao setor agrícola, Berdegué & Escobar (2002) concluíram que, além de fomentar o processo de exportação, a inovação gera efeitos diretos e indiretos na redução da pobreza de uma nação ou região. Os efeitos diretos são aqueles associados à absorção de benefícios por produtores que efetivamente participam do processo inovativo. O investimento realizado retorna na forma de lucros mais elevados, ou seja, crescimento da renda. Os efeitos indiretos associam-se ao repasse desses benefícios a terceiros e figuram-se na redução do preço do produto ao consumidor final devido ao aumento da produtividade e ganhos de escala, na geração de novos postos de trabalho e no crescimento econômico de outros setores, agrícolas e não agrícolas, envolvidos na cadeia produtiva em questão.

A importância relativa de cada um deles dependerá de fatores como a velocidade das firmas em adotar novas tecnologias, seu posicionamento na cadeia produtiva, o grau de abertura de mercado para os produtos e a presença ou não de instituições de apoio aos produtores.

Segundo Pomareda & Hartwich (2006), o esforço inovativo dos setores agroindustriais, nos países da América Latina, demonstra que as iniciativas de cooperação dos setores públicos e privados com a base produtiva têm sido fundamentais para a geração e difusão do conhecimento e de novas tecnologias, encurtando o caminho para a expansão de mercados. Embora o setor de produção de alimentos, nestes países, ainda apresente baixíssimas taxas de inovação, os autores destacam a importância dessas iniciativas e o surgimento de parcerias entre as firmas agroindustriais, cooperativas, organizações não governamentais, centros tecnológicos e de pesquisa, universidades, instituições públicas e agências de financiamento.

Cassiolato et alii (2005) acompanham o mesmo raciocínio e, defronte a realidade financeiramente limitadora no Brasil, defendem que a visão localizada permite

otimizar e direcionar os recursos disponíveis com maior precisão, definindo prioridades e concentrando esforços em estratégias geradoras de efeitos mais dinâmicos para o conjunto da economia em determinada região. Os autores destacam a importância do papel das esferas locais nas atividades de fomento e na operacionalização de ações descentralizadas voltadas para o desenvolvimento do processo inovativo. Principalmente quanto à criação de estímulos à inserção do capital privado e à formulação de iniciativas de consolidação e fortalecimento das relações entre o meio científico-tecnológico e os setores industriais.

Da investigação quanto à natureza e à intensidade dessas relações decorrem subsídios importantes para a implementação de políticas de elevação dos níveis de eficiência e da competitividade das firmas em ASPILs, pautadas no fortalecimento da capacidade inovativa dos agentes cooperativos e conseqüente ampliação do mercado consumidor.