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PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.5 O papel do aluno na educação online

Assim como o professor, também espera-se do aluno uma nova postura frente à aprendizagem a distância. Mais especificamente na educação online, hoje o aluno deve apresentar-se como um sujeito ativo e socialmente interativo, atitude essa que também deve ser incentivada pelo professor, que busca orientar o aluno na aprendizagem.

A possibilidade de interação coletiva multisíncrona está na base das “comunidades virtuais de aprendizagem colaborativa” (AZEVEDO, 2005c, p. 51) e, justamente por esse caráter multisíncrono, o aluno é quem faz seu próprio horário de estudo de acordo com o cronograma de cada curso.

Nesse sentido, exige-se do aluno um grau de auto-gestão da aprendizagem elevado, pois é ele quem controla seu tempo de estudo, não ficando mais “amarrado” a um horário fixo, característico da sala de aula tradicional, exclusivamente presencial. Não se trata de tornar um aluno autodidata, mas de um aluno que saiba direcionar a sua aprendizagem, ao mesmo tempo que contribui para a coletividade em que está inserido.

É a inteligência coletiva do grupo que se deseja pôr em funcionamento, a combinação de competências distribuídas entre seus integrantes, mais do que a genialidade de um só. (AZEVEDO, 2005b, p. 15)

O aluno deve aprender a aprender colaborativamente e não apenas de forma isolada, por conta própria. O aluno passa a aprender “com” o professor, ou seja, torna-se parceiro do professor (que tem um papel de liderança, mas que não é superior ao do aluno) na construção do conhecimento.

A construção coletiva do conhecimento na educação online resulta da interação entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-conteúdo, sendo esta última mediada pelas duas primeiras. Mas para que essa interação ocorra é preciso que o aluno primeiramente aprenda a ser um aluno online. E esse é um grande desafio, pois ser um aluno online, de acordo com Azevedo (2005b, p.16)

é mais do que aprender a surfar na internet ou usar o correio eletrônico. É ser capaz de atender às demandas dos novos ambientes online de aprendizagem, é ser capaz de se perceber como parte de uma comunidade virtual de aprendizagem colaborativa e desempenhar o novo papel a ele reservado nessa comunidade.

Belloni (1999) alerta para o fato de que um dos maiores desafios para o sucesso da educação online é além de preparar os alunos para o uso das ferramentas é também conscientizá-los de que são os sujeitos de sua própria

aprendizagem. Os alunos precisam adquirir a consciência da importância de exercerem a autonomia na educação, buscando uma formação contínua, daí não bastar somente o aprender a fazer, mas o aprender a aprender, refletindo criticamente sobre a prática.

Nessa concepção de educação, o aluno é considerado um aprendiz ativo, participativo, membro de uma equipe de aprendizagem e, em decorrência disso, um maior nível de responsabilidade sobre sua própria aprendizagem lhe é exigido. Gerenciar seu próprio tempo, definir estratégias de aprendizagem, planejar. Essas são habilidades que terá que adquirir, pois o sucesso na educação online exige compromisso por parte do estudante. Ele deverá manter-se nivelado com os outros participantes do curso, pois se ficar para trás será extremamente difícil alcançar os outros alunos.

Aluno e professor têm, portanto, novos e importantes papéis que se complementam e devem ser vividos na construção de uma educação online que, apesar de apresentar uma estrutura pré-definida, valoriza o diálogo professor-aluno e aluno-aluno, onde, cada vez mais, esse último desenvolve sua autonomia, sendo capaz de selecionar e organizar elementos para sua própria aprendizagem.

As relações estabelecidas entre estrutura, diálogo professor-aluno e os diferentes graus de autonomia do aluno no processo educacional são focadas por Moore (1993) na apresentação de sua teoria voltada à educação a distância, mas que também se aplica à educação presencial, a Teoria da Distância Transacional, como será apresentada a seguir.

4 A Teoria da Distância Transacional

Quando se fala em distância, a tendência é que logo se pense na separação física, seja entre dois ou mais objetos, seja entre duas ou mais pessoas. No entanto, de acordo com Azevedo (2005a), deve-se a Michael Moore (1993) e sua Teoria da Distância Transacional a demonstração de que, em Educação, distância não tem sentido estritamente físico/geográfico, mas relacional, afetivo e comunicacional. Esta é a chamada distância (ou proximidade) transacional que revela as interações entre os sujeitos da educação e tem verdadeira importância pedagógica. Essa distância independe da proximidade física, sendo que em um processo de educação convencional, onde existe tal proximidade, a distância transacional pode estar até mais presente do que em uma educação online (a distância) que valorize uma verdadeira interação entre professor e aluno.

Otto Peters (2001) também atribui a Moore (1993) a distinção entre distância física e distância comunicativa (ou psíquica), usando o conceito de distância transacional para designar a última. O que define o maior ou menor grau de distância transacional é o nível de diálogo entre docentes e discentes associado à estrutura que delineia o caminho a ser trilhado no desenvolvimento do estudo. Essa relação diálogo/estrutura e distância transacional é representada no quadro a seguir.

Quadro 4 – Níveis de distância transacional e respectivos exemplos de programas de ensino

Distância transacional

Tipo Exemplo Sigla

Maior

Programa de ensino sem diálogo e sem estrutura

Estudo independente com base em leitura própria

- D - E

Programa de ensino sem diálogo, mas com estrutura

Programas didáticos no rádio e na televisão

- D + E

Programa de ensino com diálogo e com estrutura Curso de estudo a distância típico + D + E Menor Programa de ensino com diálogo, mas sem estrutura

Assistência tutorial segundo Carl Rogers38

+ D - E

Nota: D = Diálogo, E = Estrutura (Peters, 2001)

A distância transacional é determinada pela quantidade de diálogo que ocorre entre os discentes e docentes e a quantidade de estrutura existente em um curso a distância. Uma distância transacional maior existe quando um programa educacional tem mais estrutura e menos diálogo entre discente e docente. A figura a seguir demonstra como a distância transacional aumenta conforme a combinação entre diálogo e estrutura, ele vai de um ponto onde existe menor distância, pois há maior interação e menor estrutura até uma distância grande, onde há menos interação com menos estrutura. Na verdade não há distinção entre programas convencionais e a distância por causa da variedade de transações que ocorrem entre professores e alunos em ambos os casos.

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Figura 3 – Relação entre Diálogo (D) e Estrutura (E)

Assim, de acordo com a teoria da distância transacional, a distância não é determinada geograficamente, mas sim pela relação entre diálogo e estrutura. Mas o que Moore (1993) defende em sua teoria não é a valorização excessiva do diálogo em detrimento da estrutura. O que o autor pretende com sua teoria é o equilíbrio entre essas duas variáveis (diálogo e estrutura) conforme cada situação de ensino e aprendizagem. Como Peters (2001) reforça,

Em certos casos pode inclusive ser desejável e intencional uma distância transacional grande ou até mesmo extremamente grande, porque ela constitui uma premissa importante para o estudo autônomo, ao qual se atribui um valor justamente no ensino a distância. (p. 64)

É aí que entra em cena uma terceira variável que irá constituir a teoria da distância transacional de Moore (1993), a autonomia, ou seja, à medida que os próprios estudantes podem determinar seus estudos. Dessa maneira, segundo o autor, a extensão da distância transacional em um programa educacional é função destes três grupos de variáveis, diálogo, estrutura e autonomia do aluno, apresentados a seguir.

+D –E +D +E –D +E –D –E

+

Distância