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CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 O PAPEL DO DESIGNER

Um grande desafio dessa pesquisa foi estar aberto às mudanças que surgiam durante o planejamento e aplicação do estudo pois ocorreram reflexões e melhorias devido ao fato do objeto de estudo também estar neste processo de evolução, assim as etapas da pesquisa aconteceram de forma iterativa. Como Giaccardi e Fischer (2005) afirmam, que no caso dos sistemas abertos, o conteúdo e a funcionalidade são modificados pelo usuário conforme o sistema é utilizado, e assim, torna possível resolver problemas e gerar mudanças significativas, sustentando a criatividade e a evolução desses sistemas. Este estudo também se permitiu essa abertura, dando oportunidade de se adaptar a novas realidades e novos desafios.

6.1 O PAPEL DO DESIGNER

O design na sua essência está aberto a receber novos desafios a serem solucionados, mas nem todos os problemas de design podem ser identificados e definidos. Para busca de uma solução é preciso considerar novas visões ou atores envolvidos no processo. O designer, através de suas competências, técnicas e habilidades deve ser capaz de propor diálogos entre os atores da rede para estimular e dar oportunidade para que membros da comunidade, no caso, do movimento,

possam utilizar seu conhecimento e criatividade para cocriarem soluções para problemas existentes facilitando todo o processo. Sendo assim, o designer aparece com diferentes papéis quando relacionado a processos colaborativos (ver Quadro 7). Ele pode empoderar os atores a desenvolver seus projetos e ações; ele pode ser o visionário que identifica os contextos visualizando cenários mais sustentáveis; pode ser multiplicador de comportamentos, replicando soluções em outros contextos; pode ser o conector, mapeando os recursos disponíveis, desenvolvendo uma rede de relações; ou pode ser o facilitador do processo, habilitando diferentes atores e catalisando as competências para trabalhar colaborativamente.

Quadro 7 - Papéis do designer

Fonte: A partir de CIPOLLA; MOURA, 2012 Designer como Fases

Empoderador Diagnóstico do problema na organização/cidade Visionário Identificação de ações já existentes no território Conector Mapeamento de recursos para trabalho colaborativo Multiplicador Implantação e gestão das mudanças/soluções

Facilitador Habilitação de diferentes atores para trabalho colaborativo e catalisação de competências

Na Zona de Inovação Sustentável esses papéis se misturaram entre os visionários, pioneiros e voluntários que participaram da construção dos cursos, seminários, oficinas e dentro dos próprios grupos de trabalho. Durante a trajetória do movimento percebeu-se a importância desses diferentes papéis e com o curso de Formação de Facilitadores alguns integrantes receberam um treinamento e se tornaram os responsáveis por facilitar as reuniões dentro dos grupos, nas Stakeholders Meeting e Members Meeting, tornando este papel mais definido.

Segundo Meroni (2007, p.10) quando observamos comunidades criativas, podemos perceber uma atitude positiva e um espírito intrinsecamente empreendedor. Para incentivar o potencial dos membros de um movimento como das Zonas de Inovação Sustentável e propor diálogo com a comunidade local, o designer pode desenvolver suas competências para facilitar a interação e o desenvolvimento de projetos através do codesign, fornecendo as ferramentas e habilidades capacitando os membros a aplicar sua experiência e conhecimento em projetos e ações que visam contribuir com os desafios que as cidades enfrentam para melhorar a qualidade de vida da atual e das próximas gerações. Uma possibilidade é integrar a sociedade com processos participativos na tomada de decisões.

Manzini (2014) chama de comunidades criativas quando as pessoas se juntam em grupos para imaginar, desenvolver e gerenciar algo novo e fora do padrão, buscando assim, novas formas para pensar em como resolver problemas. Elas cooperam, buscam soluções de maneira criativa e contam com recursos próprios, sem esperar algo político, econômico ou de instituições.

A ZISPOA se enquadra nesse tipo de comunidade, pois é um movimento auto-organizado composto por membros que atuam em escala local que se preocupam em rearticular os recursos que têm acesso para gerar uma potencial mudança. É um sistema aberto que depende das pessoas que estão envolvidas no processo, priorizando o trabalho colaborativo para evoluir e se adaptar às circunstâncias que surgem. Ademais, possui uma estrutura descentralizada, o que aumenta as chances de participação no movimento, já que é constituído de redes abertas, sem ter limites estipulados, sendo modificado conforme as pessoas vão se envolvendo e contribuindo, tal como formulado por Castells (2012).

Conforme Capra (2006) destacou, um sistema é uma rede interconectada em que os componentes mudam constantemente, sendo transformados e repostos por outros. É importante destacar que por ser um movimento voluntário, essa mudança é potencializada. É preciso saber administrar a dinâmica de entrada e saída dos membros de maneira que o sistema não se desestabilize, que seja fluído e as atividades aconteçam continuadamente.

A contribuição de movimentos como o da ZISPOA que buscam melhorar a cidade, é percebida pois além de realizar projetos que instigam o poder público e instituições a pensarem em novas soluções para os desafios que estamos enfrentando, contém o poder de conectar pessoas com ideias, projetos, parceiros, empresas, instituições, negócios, de uma maneira que não é possível mensurar. As ideias, o conhecimento e as experiências que são gerados ali se espalham para toda rede. Morin (1977) já dizia que um sistema é um todo que toma forma ao mesmo tempo que transforma seus elementos. Essas relações sustentam uma comunidade vibrante onde as informações fluem livremente por toda a rede e a diversidade de intepretações e aprendizagem enriquecem toda a coletividade.

É uma vantagem estratégica se a comunidade souber que todos os membros são interdependentes, logo enriquece as relações da mesma como um todo assim como cada um como ser individual (CAPRA, 2006).

As ZIS são uma rede de relações que se conectam, e o papel do designer está alinhado com a estratégia do movimento pois estimula a colaboração através de suas habilidades e ferramentas.

Para Castells (2012), as redes não possuem um centro identificável, mas de qualquer maneira, garantem as funções de coordenação através de múltiplos núcleos, mantendo a estrutura

horizontal e garantindo as chances de participação no movimento, através de redes abertas que se reconfiguram conforme o contexto que estão inseridas. Os sistemas devem ser abertos e precisam evoluir a partir das relações entre seus atores e seu contexto, e o designer é o responsável por realizar essas conexões.

A ZISPOA funciona também como um espaço para semear e fertilizar ideias. O movimento cria atividades que estimulam pessoas a buscarem quais são os recursos mínimos viáveis e disponíveis para colocar em ação os projetos colaborativos. Dessa forma o conhecimento adquirido durante esses processos pode ser espalhado para outros contextos através das redes, pode ser reinterpretado e transformado, assim como um processo rizomático de Deleuze e Guattari (1995), sendo proliferado e adaptado.

A identidade visual da ZISPOA foi inspirada nas abelhas, que trabalham intensa e colaborativamente. Bem como está vinculada com o processo de polinização, ou seja, polinizar ideias, conceitos, atividades e ações, levando para todos os lados e gerando inovação. Assim, as ideias se transformam em ações a partir das pessoas e passam a ser distribuídas por todas as suas redes. A inovação social vem da união dessas “abelhas” que estão polinizando ideias em

“árvores” que seriam as instituições que podem apoiá-las para gerar impacto.

Para as Zonas de Inovação Sustentável terem seu processo bem estabelecido é preciso criar uma cultura interna, uma identidade que esteja clara entre todos os atores e dividir funções de maneira que não sobrecarregue aqueles que estão mais envolvidos, deve-se saber delegar e distribuir as atividades. É importante que núcleos de trabalho sejam estruturados para a manutenção do movimento. Posto isso, um Núcleo de Gestão, um Núcleo de Comunicação e os Grupos de Projeto, se tornam essenciais em projetos como das ZIS. Ao mesmo tempo, estes núcleos devem se manter abertos para que possam ser cambiantes conforme a capacidade de envolvimento dos seus integrantes.

Os Núcleos devem considerar a rotatividade dos seus membros, considerando que existem pessoas que estão mais voltadas à liderança, outros mais inclinados para execução das atividades e os que participam minimamente. Para que as funções não fiquem acumuladas, é recomendado sempre buscar a descentralização para que os processos não fiquem concentrados em alguns atores.

Os atores inclinados para liderança precisam cuidar para não centralizarem ou verticalizarem os processos em torno de si; os atores mais executores devem ser estimulados a puxarem os processos; e o ator que se mantém à margem pode participar dos processos, colaborando até o momento de se envolver efetivamente e se engaje nos projetos (MICHELIN, 2017).

Durante todo o tempo de observação participante, ao escutar as pessoas que conheciam a ZISPOA, acompanhar os estudantes que fizeram diagnósticos e propuseram projetos para o movimento e ao realizar as entrevistas com membros atuantes e os afastados, foi possível concluir que a visão, a ideia de uma Zona de Inovação Sustentável é encantadora. A pergunta que fica é quem não quer ver a sua cidade melhor? Quem não quer fazer parte da mudança para um futuro mais inovador e sustentável? Como dito pelos teóricos que defendem o resgate da cidade para as pessoas, quando valorizamos o espírito de vizinhança podemos reforçar a função social dos bairros e das cidades como um local de encontro, resultando em uma cidade mais viva, convidativa e atrativa passando um sentimento de segurança (JACOBS, 2011; GEHL, 2014). E ter uma visão compartilhada é normalmente o elemento central no plano estratégico de uma comunidade.

No workshop realizado em 2016 para identificação das barreiras da ZISPOA, realizado pelos alunos do Mestrado em Design da UFRGS, foi observado que o movimento ser voluntário foi considerado tanto positivo quanto negativo. Positivo pela motivação e conhecimentos multidisciplinares dos grupos de trabalho, além de características pessoais como união, abertura, empatia e criatividade.

Como pontos negativos, o engajamento se opõe a falta de tempo e comprometimento, além da falta de integração entre os projetos. O relatório do workshop também destacou a grande quantidade de projetos realizados durante o primeiro ano de movimento. A integração com a comunidade foi um tópico mencionado diversas vezes durante o workshop, e como cenário futuro pretendido foi buscar uma colaboração maior entre as empresas, moradores e instituições locais. Como conclusão do relatório, os alunos destacaram que os valores sociais se misturam com busca de tecnologia sustentável formando um corpo pluralista para os grupos do ZISPOA, corpo este que deve ser manifestado em toda sua diversidade na visão almejada para 2020 (ANDRIGHETTO et al, 2016).