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Parte I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. As Bibliotecas Escolares nos Açores

2.7. O professor bibliotecário

2.7.1. O papel do professor bibliotecário

No documento “Bibliotecários Escolares: Linhas de Orientação Para os Requisitos de Competência” (1995), as diretrizes da IFLA recomendam claramente o desenvolvimento de uma série de competências para a formação de bibliotecários escolares:

A capacidade de apoiar alunos e professores no uso eficaz de vários recursos de informação, tanto os materiais como o equipamento, por exemplo através de formação sistemática em competências de informação.

A capacidade de planear e desenhar em cooperação com professores e estudantes, actividades e trabalhos baseados na informação que apoiem o projecto educativo da escola, incluindo as tecnologias de informação e as fontes disponíveis através de canais electrónicos.

(Hannesdóttir, 1995: 32)

Os trabalhos e empregos no século XXI estão cada vez mais ligados aos computadores e às novas tecnologias da informação. Tal como Scheirer (2000) nos diz, já é altura de nos interrogarmos sobre o tipo de competências que são necessárias para os estudantes estarem preparados para estas novas tendências de emprego. Estes postos de trabalho vão exigir cada vez mais pensamento crítico, pensamento de ordem superior e

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competências de investigação e pesquisa. Neste sentido, o ensino da literacia da informação sobe cada vez mais em grau de exigência e de prioridade.

As BE hoje em dia também estão cada vez mais modernas. A criação de bibliotecas automatizadas e em rede, a utilização de novos formatos, como o CD-ROM e o DVD e a vinda da Internet mudaram dramaticamente o papel do professor bibliotecário, tornando o seu trabalho mais exigente, complexo e desafiador. Estas alterações criaram novas competências, ao nível do acesso e do processamento da informação que são importantes para a aprendizagem dos alunos. Hoje é necessário que estes alunos consigam resolver problemas, tenham pensamento crítico e criativo, saibam falar, ler e escrever fluentemente na sua língua, para além de outras capacidades na leitura e na interpretação dos novos media.

É importante destrinçar a destreza operacional ao nível tecnológico, que muitos alunos possuem atualmente, com a capacidade de processar as informações que as novas tecnologias nos fornecem para aquisição de conhecimento. Esta aparente agilidade que os alunos demonstram com a utilização das novas tecnologias, torna o papel do professor bibliotecário mais exigente e requer capacidades ao nível de informação em novos formatos.

Hoje em dia estamos perante uma série de fatores que aumentam a complexidade no planeamento do ensino (Scheirer, 2000): nota-se um afastamento dos utilizadores no uso de livros didáticos e de referência, um aumento da preocupação com estilos de aprendizagem, uma explosão da disseminação da informação, inúmeros avanços nas tecnologias de informação e a defesa de um ensino baseado na aprendizagem colaborativa. O professor bibliotecário tem de estar ciente destas transformações, tem de ter a noção das rápidas mudanças que estão a acontecer nas fontes de informação e assumir a liderança no ensino destas novas tecnologias.

Estas alterações obrigam forçosamente o professor bibliotecário a assumir atualmente diferentes funções. Segundo Morris, (2004), o professor bibliotecário deve incorporar fundamentalmente quatro papéis: o de professor, o de especialista de informação, o de parceiro educativo e o de gestor do currículo escolar. Embora outros autores, como Scheirer, apontem outras vertentes de atuação destes profissionais, muitas destas funções estão interligadas, e delas ressaltam principalmente as dimensões de educador e de gestor da informação.

É importante que haja uma compreensão efetiva por parte da comunidade escolar de como é que a BE deve cumprir a sua missão na educação atual, que acarreta novos

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compromissos e parcerias, dentro e fora da própria escola. As escolas são locais onde os indivíduos e as relações entre estes não são estanques: todos são influenciados por colegas, alunos, pela comunidade escolar e pela sociedade onde se encontram. As sinergias desenvolvidas em conjunto podem ter consequências benéficas importantes na aprendizagem dos alunos.

Nas diretrizes para as BE dos Estados Unidos, patentes no Information power:

building partnerships for learning (1998), a colaboração é referida como “a symbiotic

process that requires active, genuine effort and commitment by all members of the instructional team.” O trabalho colaborativo requer tempo e dedicação, mas as parcerias darão resultados para a escola, sendo que sem elas a biblioteca seria um espaço isolado e fechado.

De uma forma ideal, o professor bibliotecário deverá ser o catalisador da colaboração, porque possui formação adequada, quer no ensino quer na gestão das coleções e na literacia da informação, permitindo uma interligação permanente entre estas áreas, para que ocorra uma efetiva aprendizagem. A colaboração é, também, uma forma de promover o ensino, tornando visível o trabalho do professor bibliotecário e da biblioteca da escola.

O professor bibliotecário é o responsável máximo pela definição das políticas da biblioteca e pela condução de todas as atividades relacionadas com esta. É ele o professor especializado que melhor conhece a coleção e os benefícios da sua utilização para o desenvolvimento de alunos responsáveis, criativos e independentes na busca de conhecimento.

Mas não são apenas estas as funções de gestão do professor bibliotecário. Para além de ser o responsável pela gestão do pessoal afeto à BE, cabe a ele a elaboração de orçamentos, a gestão dos equipamentos e dos espaços, a elaboração e a execução do plano de desenvolvimento da coleção, assim como a sua avaliação.

Morris (2004) alerta-nos para a atualização constante do professor bibliotecário, para a sua preparação para as mudanças que surgem na sociedade a todo o momento e que transformam as formas de comunicação e de aprendizagem. Estas alterações requerem uma gestão persistente, flexível e que seja capaz de se adaptar à realidade da escola, às suas características e dinâmicas. A ação do professor bibliotecário como agente de mudança deve ser exercida no seio desta realidade, articulando os objetivos da sua biblioteca, desenvolvendo redes de ligação com todos os parceiros da comunidade escolar e avaliando permanentemente o progresso em relação às metas definidas.

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Sheirer (2000) coloca bastante peso no papel e na importância do professor bibliotecário, nomeadamente no papel que deverá assumir no atual paradigma educativo, em especial nas mudanças tecnológicas que se verificam e nas suas implicações no que se refere às literacias digitais. A sua ação é fundamental no desenvolvimento das literacias, nomeadamente das literacias digitais, articulando com o manuseamento das novas tecnologias, visando também a assunção de uma consciência crítica das mesmas. O professor bibliotecário é um agente mobilizador e catalisador para as constantes mudanças que constantemente se verificam no mundo de hoje.

O professor bibliotecário atualmente tem de trabalhar com a tecnologia. Se os recursos da biblioteca foram alterados a partir de livros e recursos audiovisuais para recursos que incluem novas tecnologias, se as bibliotecas automatizaram as suas coleções de livros e adicionaram os computadores que os alunos podem usar para pesquisar o catálogo, bancos de dados de CD-ROM ou a Internet, ou para trabalhar com software de apresentação e processamento de texto, o professor bibliotecário tem de estar à altura para poder ajudar os alunos a trabalharem nestes novos cenários tecnológicos. Tal como vem enunciado no Information Power: Building Partnerships for Learning (1998), hoje o ambiente escolar está muito influenciado pelas tecnologias, o que obriga a que o professor bibliotecário domine os recursos eletrónicos mais sofisticados e esteja sempre atualizado com a natureza, a qualidade e a utilização ética destes.

É fundamental que o professor bibliotecário e a comunidade escolar tenham a clara perceção que o papel deste é educativo e não apenas de bibliotecário. Deve ser tido em conta que é sempre melhor ensinar o utilizador a procurar a informação que pretende do que entregar-lhe passivamente essa informação, sem que o interessado saiba como adquiri-la. Se for perdido de vista este papel de professor, teremos apenas um “entregador” de livros e de serviços que não terá uma função educativa, que é o que essencialmente se espera dele.

É neste sentido que Scheirer (2000) também nos chama a atenção: os professores bibliotecários podem ajudar na educação dos alunos, dos funcionários e inclusivamente dos pais. Estes profissionais devem ser os consultores da educação, já que estão envolvidos com todos os níveis de ensino e com todas as áreas e disciplinas, podendo trazer uma perspetiva única para o desenvolvimento de currículos. Ao atuarem com todos os professores, podem-se tornar também coordenadores de atividades e de eventos ligados ao currículo, porque têm a seu favor o facto de estarem ligados a todos os níveis de ensino e a todas as áreas temáticas.

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O desenvolvimento de competências de literacia da informação será talvez o maior contributo que o professor bibliotecário tem a dar à sociedade. Tal como Gorman (2000), acreditamos que a literacia deve ser vista como um processo contínuo e não como um objetivo final da biblioteca ou da escola. Os utilizadores das BE devem tornar-se cada vez mais literatos ao longo da sua vida e capazes de lidarem com textos mais complexos, de forma a adquirirem conhecimento e compreensão do mundo.

Se a literacia é “ser capaz de reconhecer quando a informação é necessária, e ter as capacidades para a localizar, avaliar e usar eficazmente” (ALA, 1989), então é tarefa fundamental do professor bibliotecário atuar no sentido de apoiar os alunos em “leituras” sustentadas, cada vez mais complexas e em variados recursos para o desenvolvimento de melhores desempenhos. Assim, a literacia torna-se num ciclo infinito de possibilidades em que os professores, os professores bibliotecários e os alunos trabalham em conjunto para aprenderem mais e para terem o poder de escolher e de decidir.

O poder de decisão que deve ser atribuído aos alunos foi amplamente suscitado com muita veemência e entusiasmo pelo autor e organizador do relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, Jacques Delors (1996):

Já não basta que os professores ensinem os alunos a aprender; têm também de os ensinar a buscar e a relacionar entre si diversas informações, revelando espírito crítico (...), levando cada um a comportar-se em sociedade como um indivíduo livre e esclarecido.

(Delors, 1996; 166).

No entanto, para se dissipar a ideia de que as BE dos Açores não têm sido devidamente dinamizadas e não têm contribuído, como se desejaria, para o desenvolvimento do sucesso educativo, é importante conhecê-las melhor. Sabemos que, ao longo dos tempos, elas têm sido esquecidas enquanto "estratégia" de renovação da escola, e como tal, também não têm sido valorizadas. Daí que, por várias razões, os alunos do passado não as frequentassem e os professores não soubessem tirar proveito delas para responderem às necessidades educativas.

É importante também conhecermos até que ponto, através de aprendizagens, percursos e formas diferentes de construir o conhecimento, elas têm enveredado por uma cultura educativa mais participada e intercultural, com vista à criação de um conceito de cidadania que seja não só expansivo, mas também mais inclusivo (Boal, et al., 1996). Vamos tentar averiguar, até que ponto, as BE têm sido renovadas, proporcionando aos

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alunos açorianos as condições para que se tornem verdadeiramente interventivas na escola, espaços de conhecimento e estratégia ao serviço do sucesso educativo.

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