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Capítulo 2 – Enquadramento teórico e político-legal

2.4 O profissional de educação e práticas educativas de valorização do

2.4.1 O papel do professor/educador perante a diversidade cultural

Este ponto começara com a citação de Marguerite (1994), afirmando que “preparar o futuro professor a adaptar-se a todo o tipo de situações educativas encontradas, presentes e futuras, a saber incessantemente ajustar a sua ação a uma realidade em permanente mudança e desenvolver atitudes que o tornem apto à mudança e à adaptação.” (em Peres, 2000, p.221)

Existem três aspetos fundamentais que o autor Moreira (2001) defende que o papel de professor deve desenvolver na prática pedagógica, perante a diversidade cultural:

“1º - que nos voltemos tanto para dentro, para a prática, como para fora, para as condições sociais e culturais em que a prática se desenvolve e contribui para a formação das identidades docentes e discentes;

2º - que questionemos tanto as desigualdades como as diferenças identitárias presentes na sala de aula, buscando compreender e desequilibrar as relações de poder nelas envolvidas;

3º - que estimulemos a reflexão coletiva, propiciando a formação de grupos de discussão e de aprendizagem nas escolas, por meio dos quais os professores apoiem e sustentem os esforços de crescimento uns dos outros, bem como articulações entre diferentes escolas, entre as escolas e a universidade, entre as escolas e distintos grupos da comunidade. A ideia é que o professor reflexivo preserve a preocupação com os aspetos políticos, sociais e culturais em que se insere sua prática, leve em conta todos os silêncios e todas as discriminações que se manifestam na sala de aula, bem como amplie o espaço de discussão de sua atuação.” (Moreira, 2001, p. 49)

Como já foi referido anteriormente, a pesar da temática do multiculturalismo ter influenciado bastante a legislação escolar e as políticas educativas, continua

a haver uma enorme fenda entre teoria e a prática. Essa abertura deve-se, sobretudo, a uma insuficiente e ineficácia na formação contínua de professores, o qual não é dada a devida importância, o que acaba por dificultar por vezes, o acesso de muitos professores/educadores, a informações, competências no âmbito da educação multicultural. (Peres, 2000) Deste modo, a preocupação pela educação multicultural é deixada de parte.

Não se pode deixar de referir que o papel do professor/educador que trabalhe no sentido de amenizar as diferenças que existem, não é uma tarefa fácil, pois requer uma preparação por parte do professor/educador, visto que para se conseguir lidar com a diversidade é necessário compreender como é que elas se manifestam e em que contexto.

Nesta linha de pensamento, o professor/educador que recebe o seu grupo, e sendo um professor reflexivo (algo que é fulcral no perfil de professor) que percebe e respeita as diferenças de cada criança em particular, acaba por construir um ambiente de paz, de igualdade e transmitir segurança ao seu grupo, o que irá refletir em cada criança.

Isto quer dizer que cabe ao professor/educador organizar e gerir uma série de processos de modo a promover o desenvolvimento de competências interculturais nas crianças, deixar qualquer tipo de preconceitos e discriminação existentes face aos outros grupos, valorizar as características do grupo e das crianças individualmente, (normas de convivência, relações entre o grupo, costumes, valores, língua, religião, entre outros). As atividades de grupo deverão assim, basearem-se no comportamento construtivo, solidário, responsável, respeitoso e claro, reforçar para a valorização da diversidade cultural. (Cardoso, 1996)

Para tal, é essencial segundo o autor Cardoso que “a convicção dos professores de que é necessário mudar as suas práticas em sentidos multiculturais e de que dispõem de condições e disponibilidade para promoverem mudanças” (Cardoso,1996, p. 72).

Deve existir sempre uma intenção pedagógica para que as aprendizagens sejam significativas e motivantes, e que deem sentido à vida de todos, o que irá criar nos alunos uma certa tranquilidade. Nesta linha de pensamento, o professor/educador deverá de se esforçar por conseguir criar um ambiente participativo e interativo desde a escola, a família e a comunidade,

desenvolvendo assim, projetos que envolvam os alunos que contribuam para o desenvolvimento pessoal e social destes. É importante o momento de reflexão por parte do professor/educador sobre a forma de melhorar o que já existe, e questionar-se quanto às possibilidades de erro e procurar razões para os problemas, ter o espírito aberto e aceitar a complexidade. Deste modo, o educador/professor deverá assumir um papel de pesquisador, segundo Freire “O que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador” (Freire, 2000, p.33).

Um educador /professor interessado em responder à diversidade cultural que a sociedade dos nossos tempos lhe impõe deve assumir um papel digamos “multiculturalista”, ou seja, deverá ser um professor/educador que procura questionar os valores, atitudes e os preconceitos. É necessário que leve para o contexto escolar, a preocupação com as diversidades culturais, étnicas, sociais, religiosas, entre outras. Assim sendo, é importante que o educador/ professor inclua a interação da diversidade cultural no contexto escolar, proporcionando atividades ajustáveis aos interesses.

Para além desta inclusão, é importante favoreça o pensamento crítico, assim como o aperfeiçoamento progressivo por parte das crianças, na análise das próprias atitudes e valores na busca de novas perspetivas compartilhadas. Como já foi mencionado anteriormente, é necessário que o professor/educador tenha capacidade de aplicar estratégias que promovam o enriquecimento intercultural, a planificação e o desenvolvimento em cooperação, propiciem a participação ativa e a tomada de decisões dos alunos se possam aplicar a outros contextos.

Segundo Peres o educador professor/ “deve, ainda, aprender a ensinar sobre culturas sob a perspetiva comparativa, por forma a desafiar maneiras diferentes de ver o mundo e a diversidade cultural; desenvolver práticas pedagógicas que possam sensibilizar as crianças para a multiculturalidade e para a reflexão através da observação das diferenças e da interpretação cultural” (Peres, 2000, p. 275).

É necessário que os professores/educadores conheçam novas conceções, perspetivas e realidades para que consigam compreender e as questões da

diversidade cultural. Se não houver uma reflexão crítica, os educadores arriscam-se a assumir ideais “estereotipados e a promoverem práticas disciplinares sem transversalidade” (Silva, 2008, p. 27).

2.4.2 A importância da formação dos professores/educadores na