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O papel do professor na promoção da inclusão

4. PROCEDIMENTOS DE RECOLHA DE DADOS

2.2 O papel do professor na promoção da inclusão

A partir das falas a seguir e das concepções dos profissionais, apresentadas neste capítulo, podem-se tecer considerações importantes em relação ao papel do professor na promoção da inclusão:

O professor é quem conduz esse processo de inclusão e tal processo exige um planejamento bem embasado, permeado por diferentes recursos, estratégias e mudanças na prática pedagógica. Vale ressaltar a necessidade de suporte coerente para que gradativamente a inclusão deixe de criar tanta polêmica, resistência, crítica e medo por parte de muitos professores. (PEE1, em 02/04/15)

Tem um papel importantíssimo [...] pois ele deve conhecer seu aluno, saber o que ele gosta e o que o desagrada, iniciar uma aproximação,

criar vínculos afetivos e estabelecer uma rotina de trabalho para ser desenvolvida ao longo do período proposto. (PEE2, em 06/04/15) O papel do professor deve ser o de criar contextos educacionais inclusivos, capazes de propiciar a aprendizagem a todos os alunos, respeitando ritmos, tempos e superando barreiras. Ele deve desenvolver uma prática pedagógica centrada nos eixos da ética, justiça e direitos humanos. (P3, em 29/04/15)

O professor tem que buscar alternativas que atendam estes alunos. (P4, em 29/04/15)

O professor deve contribuir não só para o desenvolvimento da inclusão, mas para a aceitação geral das diferenças individuais, na valorização e na convivência de um mundo novo para muitos dos alunos. (P6, em 28/04/15)

Os professores, em seus relatos acima, demonstram terem consciência do seu papel de destaque no processo de inclusão. Como afirmam Alarcão e Tavares (2003, p. 24), ao apresentarem em sua teoria o Cenário Clínico de supervisão, “o professor é o principal agente de tomada de decisão [...]”, mas complementam que o supervisor assume atitude de colaborador com os professores em várias áreas do processo de ensino e de aprendizagem. Mas, quando os professores utilizam em suas falas as locuções verbais “é quem conduz”, “deve conhecer”, “deve ser”, “deve desenvolver”, ao se referirem ao que lhes cabe no processo, aparentam tomar para si toda a responsabilidade por este, pois não mencionam a colaboração dos outros agentes educacionais nesse processo. Há que se considerar que o professor tem um papel de destaque no processo de inclusão, pois pode favorecer a inclusão por meio de ações educativas diferenciadas, mas não deve assumir-se como único responsável pelo sucesso ou fracasso desse processo.

A Coordenadora CP4, durante a entrevista, expressou-se da seguinte forma em relação ao papel do professor no processo de inclusão: “É o principal, depende dele esta inclusão, mesmo em condições precárias” (CP4, em 15/04/15).

Optou-se por destacar acima a fala da coordenadora da escola pública, pois ela parece ter-se diferenciado significativamente das falas das outras coordenadoras. Ela reforça a ideia, anteriormente apresentada pelos professores, de que o trabalho destes é solitário e que eles são os únicos responsáveis pelo que ocorre ou deve ocorrer em sala de aula. Esta visão

apresentada pela coordenadora CP4 contradiz o que reporta Alarcão (2001), para a autora a aprendizagem se dá por meio do esforço de todos os envolvidos na ação educativa.

A partir das falas das outras coordenadoras, apresentadas a seguir, podem-se perceber também algumas expressões que reforçam o posicionamento das professoras em relação ao fato de tomarem para si a responsabilidade do trabalho. Desta forma, não consideram a concepção da escola reflexiva, muito bem traduzida por Alarcão (2001), ao utilizar-se da fala de Freire (1991, p. 35, apud ALARCÃO, 2001, p. 16): “não se muda a cara da escola por um ato de vontade do secretário”.

O professor deve antes de tudo um observador, depois ser sensível às possíveis necessidades e agir para que inclua todos os alunos na proposta educativa que exerce. (C1, em 06/04/15)

O professor é o responsável direto pela proposta inclusiva. Assim, é necessário que ele, inicialmente, perceba a diversidade em sala de aula, para posteriormente, através da interação entre os alunos, promover aprendizagem cooperativa. Além da formação teórica, o professor precisa demonstrar sensibilidade em reconhecer as dificuldades e auxiliá-las. (C2, em 21/04/15)

O professor deve oferecer momentos educacionais suplementares ao aluno, em horários, mas que não o retire da sala de aula. Reduzir o número de questões em testes e exercícios, dar mais tempo para o aluno responder às questões e fazer as atividades. Coordenar o trabalho com os alunos, mas o adaptar da melhor forma possível para que o aluno consiga acompanhar o resto da classe e avance no seu desenvolvimento. (C3, em 21/04/15)

Motivar, incentivar e evidenciar cada conquista daqueles alunos com necessidades educativas especiais e de todos envolvidos no trabalho com eles. Agir de forma transparente, no sentido de acalmar pais e demais alunos ditos de não inclusão, para que o trabalho possa obter resultados positivos e significativos. Lidar com a inclusão é também uma forma de aprender a lidar com ansiedades. (C5, em 28/04/15)

O professor como protagonista do processo de ensino e de aprendizagem e, consequentemente, aquele que, por meio de suas ações educativas, promove a inclusão não pode fazer isso isoladamente. Sobre ele recai, como pode ser observado nas falas acima, toda a responsabilidade de ação no que diz respeito ao desenvolvimento do aluno nos contextos cognitivo, social e emocional, às ansiedades da família e à elaboração e execução da prática em sala de aula. É preciso que esta responsabilidade seja compartilhada e o professor orientado e estimulado pelo Coordenador a rever

sua função, repensar e planejar coletivamente ações para cumprir sua missão. Desta forma, muitas são as aprendizagens necessárias a todos os envolvidos no processo educacional, para que ele seja eficaz, em atendimento às necessidades educativas de hoje.