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O papel do professor no ensino da escrita na EJA

2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2.4 O papel do professor no ensino da escrita na EJA

Assim como os demais professores das outras modalidades de ensino, o professor que atua na Educação de Jovens e Adultos deve se preocupar em como lidar com o trabalho com escrita em suas aulas. Podemos nos perguntar se há maneiras, mais ou menos, eficientes de se ensinar a escrever. Afinal, o que é escrever? Para quem e com quais objetivos o aluno escreve?

Segundo Geraldi (1993), existem duas concepções diferentes acerca da prática da escrita, a primeira é que o aluno escreve “para a escola”. Nessa ótica, o aluno produz seus textos, ou redações como é mais conhecido no ambiente escolar, apenas para o professor ler, corrigir e atribuir uma nota sem, no entanto, levar em consideração

o contexto daquela produção e o seu propósito comunicativo. Outra concepção afirma que o aluno escreve “na escola”. Nesta, o aluno pode expor o seu ponto de vista e colocar-se como autor.

Nas salas de aulas têm sido comum a prática de exercícios repetitivos com frases “soltas”, descontextualizadas, e a produção de textos sem nenhum propósito comunicativo. Essas situações tornam improdutivos os momentos de escrita na escola. Refletindo sobre a temática da produção escrita, Antunes (2003, p. 54) explica que

Elaborar um texto escrito é uma tarefa cujo sucesso não se completa, simplesmente, pela codificação das ideias ou das informações, através de sinais gráficos. Ou seja, produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica apenas o ato de escrever. Não começa, portanto quando tomamos nas mãos papel e lápis. Supõe, ao contrário, várias etapas, interdependentes e intercomplementares, que vão desde o planejamento, passando pela escrita propriamente, até o momento posterior da revisão e da reescrita. Cada etapa cumpre, assim, uma função específica, e a condição final do texto vai depender de como se respeitou cada uma destas funções. (ANTUNES, 2003, p. 54)

Em outras palavras, a atividade de escrita não se resume nos atos de pegar um lápis, um pedaço de papel e sair escrevendo. A prática da escrita requer habilidades específicas que precisam ser desenvolvidas. Nesse processo, a escola e, por sua vez, o professor assumem papéis significativos, pois o aluno não pode ser “responsabilizado” pelo fato de não conseguir escrever. É necessário, portanto, que um contexto favorável de sala de aula seja apresentado para o desenvolvimento e aquisição da habilidade de escrita.

Antunes (2005) nos lembra de que existem noções que caracterizam a atividade de escrever. Para a autora, escrever é uma prática que possui múltiplos sentidos, dentre os quais, cita:

a) atividade de interação, ou seja, na prática de escrita deve haver um destinatário, caso contrário, não há como avaliá-la como ato comunicativo; sem a interação, o que restaria era tão somente parâmetros relacionados à ortografia, concordância e outras particularidades;

b) atividade cooperativa onde dois ou mais indivíduos agem conjuntamente para a interpretação de um sentido, de uma intenção. Nesse caso, há a seleção de informações, de vocabulário, formalidade da linguagem, mesmo que o ato comunicativo seja realizado de forma simulada;

c) atividade contextualizada, isto é, uma atividade que está inserida em algum momento, espaço ou evento cultural, acarretando escritas diferentes para momentos diferentes;

d) atividade necessariamente textual, pois ninguém fala ou escreve através de palavras ou frases justapostas, desconectadas, soltas. Só nos comunicamos através de textos orais ou escritos;

e) atividade tematicamente orientada, ou seja, em todo texto, há uma ideia central que orienta o desenvolvimento do texto. Sendo assim, para ampliar a competência comunicativa do sujeito, é preferível optar pela produção de texto e não de frases desconectadas;

f) atividade intencionalmente definida, em toda prática de escrita há um objetivo para se cumprir, e as intenções servem de parâmetro para poder se tomar as decisões no momento da interação;

g) atividade que envolve, além de especificidades linguísticas, outras,

pragmáticas, ou seja, os elementos da situação – elementos pragmáticos –

determinam as escolhas linguísticas, e não o contrário. A língua não existe em função de si mesma e é preciso levá-la em consideração quando se planeja atividades de estudo;

h) atividade que se manifesta em gêneros particulares de textos. Para cada gênero de texto, há um esquema típico, uns flexíveis, outros mais rígidos. Saber utilizá-los constitui uma exigência do mundo letrado e é esta competência que a escola deve desenvolver;

i) atividade que retoma outros textos, todo texto requer procedimentos que recapitulam e reenquadram o dizer que ouvimos, ou que lemos de outros; j) atividade que funciona em relação de interdependência com a leitura, ou

seja, o que lemos foi escrito por alguém; quando escrevemos fazemos para que outro leia.

Acreditamos que essas noções sobre a escrita devem ser exploradas na escola, em todas as modalidades de ensino, especialmente, nas aulas de Língua Portuguesa. Tomando como fundamento essas noções, o professor pode proporcionar ao aluno o contato com atividades que o levem a desenvolver, cada vez mais, a habilidade de escrever.

Diante do exposto, cabe ao professor propor a introdução de novos hábitos, novas práticas educativas, que visem estimular o desempenho dos alunos, seja com relação a práticas de leitura, seja com relação a práticas de escrita. É no sentido de promover a produção de textos e não de “redações” que o professor da EJA deve planejar suas atividades, contribuindo, desse modo, com o aluno jovem e adulto no processo de assunção de uma postura crítica perante os fatos que o circundam na sociedade.

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