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Parte I Enquadramento Teórico

Parte 2 – Pesquisa Empírica

5. Análise dos Resultados

5.1. Análise dos Resultados da Escala Aplicada aos Sujeitos Profissionais: a Colaboração

5.2.6. O Papel dos Profissionais e dos Serviços no Processo de Reinserção

De acordo com Sousa et al. (2007) e com o IDT (2009b), o técnico de intervenção social com indivíduos ou grupos multiproblemáticos no âmbito da abordagem integrada, deve orientar a sua atividade para a elaboração de um diagnóstico exaustivo que possibilite a definição de um plano de objetivos e metas a atingir e a avaliação permanente do mesmo. O profissional deverá negociar com os indivíduos as suas tomadas de decisão fomentando a passagem da heteronomia para a autonomia, promover estratégias de desenvolvimento de competências pessoais e sociais, retirar o sujeito de uma posição de passividade e contribuir para a sua ativação. Assim, agir como alavanca de mudança motivando os indivíduos para a assunção de compromissos e verificar a sua concretização, funcionar como mediador entre os sistemas sociais e os utilizadores de drogas por forma a facilitar a sua reinserção. Contudo, os testemunhos dos entrevistados apontam para técnicos com um papel muito menos relevante no seu processo de reinserção. Ainda que manifestem uma opinião acrítica, ou seja, que não é negativa, os seus discursos traduzem uma opinião que não é positiva. Em suma sugerem uma opinião de indiferença acerca do papel desempenhado pelos técnicos nos seus processos de reinserção.

"São excelentes, não tenho nada contra os técnicos sempre ajudam no que puderem". (E1, sexo feminino, 42 anos de idade, 6º ano de escolaridade, desempregada dedica-se à prostituição.)

"A Equipa de Rua ajudaram-me muito... se não fosse a vocês não tinha ninguém que me ajudasse". (E2, sexo masculino, 38 anos de idade, 2º ano de escolaridade, desempregado e arrumador de carros.)

"O papel é 100%. São pessoas que sempre me ajudam, mas eu... é assim fazem tudo para ajudar só que eu frequento os mesmos ambientes e acabo sempre por cair na droga". (E3, sexo masculino, 38 anos de idade, 6º ano escolaridade, desempregado- arrumar carros.)

“ (...) eu sem eles [os técnicos] não consigo fazer nada, a parte médica é do melhor. O Doutor (...) é uma pessoa prestável e está sempre a ver se consegue resolver o problema do utente. Nós somos complicados porque às vezes temos um bom médico, mas não fazemos as coisas corretas. Com respeito ao apoio da Segurança Social sempre tive (..) o melhor apoio, do que estava disponível e só o afeto que elas [as técnicas] transmitem e o querer ajudar (...)".(E4, sexo masculino, 42 anos de idade, 4º ano escolaridade, desempregado e trabalho ocasional.)

"Fazem falta, se não são eles aí é que eu estou mesmo lixado. Aí é que a minha vida corre mal, isso faz-me falta." (E6, sexo masculino, 37 anos de idade, 7º ano escolaridade, desempregado- arrumar carros.)

"Acho que estão a fazer uma coisa útil, tentam ajudar a convencer as pessoas a levar outro rumo na vida, isto não é vida." (E7, sexo masculino, 52 anos de idade, 6º ano escolaridade, desempregado, arrumador de carros.)

"Acho que onde fui melhor tratado foi aqui por vocês. Em Braga só o Dr A. é que era um bocado coisa… , em Matosinhos fui muito bem tratado e a Dra. A. também me ajudou muito."

(E11, sexo masculino, 47 anos de idade, 9º ano escolaridade, reformado por invalidez e arrumador de carros.)

"É tudo bom. Ainda não me trataram do RSI, mas a doutora não tem culpa, aquilo vem de Braga, a doutora faz o serviço dela direitinho. Depois as decisões que vêm ultrapassam a ela, ela também não pode fazer mais nada, ela faz o serviço dela, depois vêm as decisões de Braga, se vier... não sei se ela aqui pode puxar alguma coisa... de certeza que pode... um homem precisa mesmo. Apoio psicológico e apoiar-me a arranjar um trabalho. Por exemplo: entrei agora no curso através de vocês e vão-me ajudando nisso. O CAT fazem o serviço deles mais ou menos, se não fazem melhor é porque eu não vou às consultas. Não tenho queixa, sempre que precisei da ajuda deles eles estão lá.” (E12, sexo masculino, 38 anos de idade, 6º ano escolaridade, desempregado e trabalho ocasional.)

Ressalta da análise das entrevistas realizadas generalizações indiscriminadas acerca do papel de ajuda dos técnicos. Os entrevistados não acrescentam nos seus discursos, caraterísticas aos técnicos que possam aproximá-los em termos de relacionamento conforme sugere o modelo de intervenção integrada. Não obstante esta indiferença que assinalamos, verifica-se que os técnicos são fortemente valorizados nas suas características e atributos humanos, bem como nas relações de confiança, amizade e simpatia que estabeleçam com os sujeitos. Dos discursos destaca-se a

importância que estes sujeitos atribuem aos serviços na sua vida referindo mesmo que os serviços são dos únicos recursos que os sujeitos têm. Em termos do que os serviços e profissionais lhes dão de concreto, os sujeitos revelam saber identifica-los.

"Bons conselhos, ajudam-me em tudo o que eles puderem fazer por mim". (E1, sexo feminino, 42 anos de idade, 6º ano de escolaridade, desempregada dedica-se à prostituição.)

" Apoio, muito apoio, apoio moral e psicológico". (E5, sexo masculino, 37 anos de idade, 4º ano escolaridade, desempregado, arrumador de carros.)

" A minha psicóloga, desabafo e falo tudo e a assistente social, eles ajudam-me para requerer o rendimento mínimo e para aqui.” (E6, sexo masculino, 37 anos de idade, 7º ano escolaridade, desempregado- arrumar carros.)

"A amizade e simpatia." (E7, sexo masculino, 52 anos de idade, 6º ano escolaridade, desempregado, arrumador de carros.)

"Equipa de rua, são meus amigos, dão-me de lanchar e a minha chapinha (...)." (E8, sexo masculino, 44 anos de idade, 3º ano escolaridade, desempregado, arrumador de carros.)

"Só a maneira de me ajudarem para mim foi bom. Dão-me força de vontade para andar para a frente." (E11, sexo masculino, 47 anos de idade, 9º ano escolaridade, reformado por invalidez e arrumador de carros.)

Os entrevistados valorizam e referem-se positivamente ao papel dos técnicos nas suas vidas. Porém, enfatizando a dimensão humana também subtraem a dimensão técnica da função profissional. Quer a dimensão humana, quer a dimensão técnica são imperativas para o desempenho profissional de proximidade e responsabilizador no sentido da autonomia, do respeito e empowerment dos sujeitos. É muito interessante notar que nos seus discursos os sujeitos colocam a tónica nas características pessoais dos técnicos utilizando um discurso por vezes condescendente em relação à prática profissional.