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CAPÍTULO 1 – RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NAS

1.3 O papel dos Stakeholders nas organizações

A Responsabilidade Socioambiental (RSA) congrega uma série de valores que envolvem tanto a cadeia produtiva da organização como o seu entorno, delegando funções e objetivos claros e praticáveis aos que estão envolvidos nos processos.

Desde o final da década de 80, a ética e a RS passam a ser relevantes para a administração e gestão das organizações, associando a sua eficácia a uma relação saudável com o meio que está inserida, com o equilíbrio entre os interesses dos acionistas e com a convivência junto à comunidade (AMORIM, 2009). Esta relação se estende a todos os outros participantes do processo, são chamados de stakeholders.

O termo stakeholders não tem tradução literal para o português. Segundo Martins (2018) a expressão é usada por autores estrangeiros a fim de identificar as pessoas ou grupos que atuam direta e indiretamente nas organizações. Foi criado pelo filósofo Robert Edward Freeman em 1963 em um memorando interno do Stanford Research Institute26 e se referia a

“grupos que sem seu apoio a organização deixaria de existir” (PORTAL DA ADMINISTRAÇÃO, 2018).

Freeman (1984, p.25) apud Martins (2018, p.01) define “[...] stakeholders como qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da empresa”. Na figura 02 que segue exibe-se uma representação dos stakeholders de uma organização.

Figura 02 - Stakeholders de uma organização.

Fonte: PORTAL DA ADMINISTRAÇÃO, 2018.

Para Amorim (2009, p. 134) “[...] a empresa como organização social aglutina os interesses de vários grupos de stakeholders – clientes, funcionários, fornecedores, sociedade (comunidade) e os próprios acionistas – e mantém com eles relações de interdependência”.

Corroborando com Amorim, Benedicto define que (2010, p. 69) “[...] stakeholders são todos os públicos que exercem influência ou são influenciados diretamente pela empresa, ou seja, os funcionários, consumidores, fornecedores, acionistas, governo e sociedade”.

Caracterizados como público de interesse de uma organização seja por interesse econômico, social ou ambiental, os stakeholders aparecem como integrantes de uma determinada organização empresarial, não devendo se furtar a explicitar seus interesses e apontar estratégias condizentes para o desenvolvimento da referida, trata-se assim, de um princípio que envolve a noção de pertencimento, haja vista que ao pertencer cuida-se e compromete-se com a qualidade daquilo que é ofertado, uma vez que será, também, para o próprio uso fruto do stakeholder (RACE, 201827).

Nesta relação de via dupla, numa visão mais radical de sociedade sustentável, Ashley (2005) associa a empresa socialmente responsável a aquela que está atenta para lidar com as

27A RACE Comunicação é uma agência de comunicação corporativa multidisciplinar, focada na construção e

reforço de reputação, por meio de estratégias de relacionamento e engajamento. Fundada em 1999, atende organizações de todos os portes e segmentos, com versatilidade e flexibilidade, adaptando-se às necessidades de seus parceiros, sempre com foco em resultados concretos (RACE, 2018).

expectativas de seus stakeholders atuais e futuros, dando uma importância extrema à relação da empresa com seu público, como também, cobrando a este público seu bom desempenho social. Para tanto,

um ambiente organizacional existem relações de interdependências entre os diversos componentes ambientais e a organização focal, onde estas relações são marcadas por influências recíprocas que resultam em um poder maior ou menor poder da organização frente a estes componentes [...] assim, o estudo dos stakeholders deve considerar a organização como pertencente a um sistema aberto com múltiplas relações de influências porque as organizações não são auto independentes ou autossuficientes ficando condicionadas às demandas do ambiente para fornecer recursos necessários e absorver outros recursos (MARTINS, 2018, p.01).

Para Ashley (2005) faz-se necessário à construção de relações das organizações a partir do diálogo com os stakeholders, transcendendo assim, as fronteiras da organização e compartilhando a responsabilidade, incentivando e adotando parcerias que agreguem valores e gerem decisões empresariais, considerando aspectos econômicos, ambientais e sociais.

Parte-se do princípio de que a RS (RSA no sentido mais amplo) só acontece se for uma prática corporativa ocorrendo dentro e fora da organização, no contexto de sistema, onde todos os envolvidos no processo abracem este comportamento instituindo como premissa na organização.

A transposição da discussão da responsabilidade social para além da corporação compreende adotar uma perspectiva orientada para a sustentabilidade do próprio conceito, uma vez que expõe a necessidade de uma efetiva rede de negócios que incorpore o conceito da reponsabilidade social em todas as transações dos

stakeholders associados a essa rede de negócios. Nesse sentido, surge o conceito de

desempenho social dos stakeholders, necessário para a emergente visão sistêmica de rede de stakeholders (ASHLEY, 2005, p. 51).

Nessa ótica, fica evidente a descentralização da RSA e esta prática conceitual fazendo parte das escolhas a serem constituídas entre as organizações e seus fornecedores, prestadores de serviço e outros, como também, da organização junto aos seus colaboradores internos.

Para Ashley (2005), muitas empresas, acadêmicos e a mídia ressaltam a RS como instrumento para formar e melhorar a reputação das empresas, dando oportunidade de testar novas tecnologias e produtos adquirindo vantagens competitivas no mercado globalizado, assim, os interesses passam a ser internalizados positivamente desde que em concordância com a RS e que promovam o bem estar e benefícios ambientais.

Este mercado que vem se transformando em relação à problemática ambiental, como também a sociedade que passa a ser, na expectativa da sensibilização para as questões ambientais, um fiscalizador de serviços que não são ambientalmente corretos.

É de fundamental importância a relação de transparência entre os stakeholders das organizações, desde os acionistas, passando pelos clientes, fornecedores e distribuidores, empregados e suas famílias, comunidade local, mundial e meio ambiente (ASHLEY, 2005), pois, é esta transparência que agrega uma responsabilidade mais ampla, a RSA e todas as implicações conceituais que envolvem esta prática. Os stakeholders têm o dever e o papel de instruírem uns aos outros numa correspondência técnica e numa via de trocas em práticas ambientais e sociais corretas.

Nesta perspectiva, a conservação ambiental e a responsabilidade social das empresas passam hoje pelo escrutínio ético e moral de seus stakeholders internos e externos, o que colocaria as empresas mais comprometidas com a RS em posição de vantagem com relação à reputação e legitimação social de suas atividades, além da desafiadora tarefa de harmonizar interesses privados dos acionistas a interesses coletivos de outros stakeholders, provendo resultados financeiros e socioambientais (JOSEPH, 2018).

Essa nova relação de interesse e de comprometimento, tem sido estimuladas pela administração e pelos seus stakeholders, de modo que as organizações passam a mitigar ou extinguir seus impactos ambientais e sociais, desenvolver maneiras apropriadas a internalizar e reduzir seus custos associados e na construção de relatório para uma sustentabilidade ambiental maior (KRAEMER, 2018).

Os esforços dos executivos das organizações, atualmente, estão associados a alcançar bons resultados numa cadeia corporativa e produtiva de seus produtos, como retrata Tachizawa, que

a realização desses processos está diretamente ligada à boa “gestão com pessoas” da organização que, utilizando-se dos recursos que lhes são disponibilizados, os executam em seus níveis, estratégico e operacional. Por esse motivo, é fundamental que a organização estabeleça um relacionamento com os seus colaboradores, alicerçado em bases sólidas, que só podem ser conseguidas com valores positivos, com políticas e diretrizes compatíveis com a realidade de mercado, com práticas de relações trabalhistas justas e bem aceitas e com um ambiente de trabalho seguro e com qualidade de vida (TACHIZAWA, 2018, p.11).

Desta forma, fica explícita a importância das boas relações entre os colaboradores das organizações, cabendo aos stakeholders o papel de instrutor, mas também de fiscalizador/incentivador, na busca de avanços junto a estes participantes a fim de que melhorias na qualidade dos processos operacionais ocorram em conjunto numa rede de

cooperação e de informação atual e dentro do novo modelo de gestão que busca o desenvolvimento sustentável no paradigma ecocêntrico. A atuação dos stakeholders passou a modelar a ética nos negócios e a Responsabilidade Social.

1.4 O exercício da Responsabilidade Socioambiental e sua inferência no gerenciamento