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3. Investigação em jardim-de-infância

3.2 Revisão de literatura

3.2.3. O papel do educador de infância na promoção da autonomia das crianças

O educador deve estabelecer uma relação afetiva com a criança para que esta se sinta integrada no ambiente e para que faça as suas escolhas autonomamente (Oliveira-Formosinho & Andrade, 2011). Assim, o educador deve estimular as crianças a resolverem os seus próprios problemas como forma de lhes dar oportunidades de aprenderem a fazer as suas próprias escolhas (Hohmann & Weikart, 2011). Desta forma, muitas vezes os educadores optam por ficar “por perto e esperam pacientemente enquanto as crianças tomam conta das coisas de forma autónoma – enquanto fecham o fecho éclair, apertam uma fivela, deitam o sumo no copo…” (Hohmann & Weikart, 2011, p. 50). Posto isto, o educador deve permitir que a criança faça as suas ações autonomamente, colocando em prática a resolução de problemas que surgem no dia-a- dia. Assim, é natural que a criança entorne ou suje e cabe ao adulto permitir que a criança solucione o problema, tornando-se estes momentos de oportunidades para aprender (Hohmann & Weikart, 2011).

De acordo com Chokler (2015), o papel do adulto deve passar por garantir condições adequadas ao nível ambiental, social e físico para que as crianças se

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apropriem dos mesmos e utilize os procedimentos dos quais já se apoderou. Também Lill e Prott (2015) defendem que os adultos são os principais responsáveis pelas crianças e pela oportunidade de decisão que lhes proporcionam, no entanto, as oportunidades da criança participar ativamente nas suas escolhas é sempre afetada pelas ações do adulto. É de salientar que o adulto deve ser o exemplo de autonomia para as crianças. Acredita-se que “acriança vive no mundo ecom o mundo. A liberdade, tendência inata, sópode se estruturar em-relação: ela precisa dooutro e da cultura para se estruturar” (Mogilka, 1999, p. 60). É de salientar que o educador deve ter em consideração que “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” (Freire, 2014, p. 66).

O educador deve proporcionar liberdade às crianças para estas explorarem e descobrir o mundo ao seu redor e os limites necessários para que se sintam seguras no ambiente educativo. Assim, deve ser criado um ambiente educativo que seja bastante alargado em relação aos interesses das crianças (Hohmann & Weikart, 2011). A organização do espaço e do tempo constitui uma base para a estimulação da autonomia das crianças (Silva et al., 2016). Desta forma, a construção da autonomia das crianças deve passar por dar oportunidade às crianças de exploração, escolha e tomada de decisão para que a criança progressivamente se consciencialize das suas responsabilidades e competências. Com isto,o espaço e os materiais tornam-se uma das grandes influências na autonomia das crianças numa sala de pré-escolar, visto que se queremos que as crianças sejam autónomas e façam as suas escolhas o educador deve potenciar e organizar o espaço e materiais para que a criança adquira essa competência (Oliveira-Formosinho & Andrade, 2011). De acordo com o que é definido no PEI para a organização do ambiente educativo, o educador teve ter em consideração os seguintes aspetos: “Organiza o espaço e os materiais, concebendo-os como recursos para o desenvolvimento curricular, de modo a proporcionar às crianças experiências educativas integradas”; “Disponibiliza e utiliza materiais estimulantes e diversificados, incluindo os seleccionados a partir do contexto e das experiências de cada criança” (Decreto-lei n.º 241/2001, 30 de agosto, p. 5573).

A aprendizagem pela ação potencia a autonomia das crianças, visto que “a criança aprende sobretudo através da acção/experimentação, sendo fundamental o proporcionar-lhe um ambiente rico e estimulante, sendo também sublinhada a importância de existir uma organização espaço-temporal bem definida, que permita à

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criança situar-se e funcionar autonomamente dentro da sala” (Cardona, 1992, p. 137). Desta forma, o educador deve organizar o ambiente para que este permita que as crianças o utilizem de forma autónoma e independente. Neste sentido, cabe também ao educador a “capacidade de selecionar conscientemente e de pensar profundamente nos significados que fundamentam todas as experiências de aprendizagem que proporciona às crianças” (Ferri, 2015, p. 36).

A construção da autonomia da criança passa também por permitir que elas tenham oportunidade de escolher o que querem fazer, façam as suas escolhas e, ainda, propostas ao educador e ao grupo em que estão inseridos no jardim-de-infância. Desta forma, a autonomia também está presente no desenvolvimento do processo de aprendizagem da criança (Silva et al., 2016). Assim, o educador deve ter em consideração de fomentar nas crianças a capacidade de concretização de tarefas do seu interesse e que lhes permitam aprender (Decreto-lei n.º 241/2001, 30 de agosto).

3.2.4. O papel das famílias no desenvolvimento da autonomia das

crianças

Considera-se que a família tem um papel fundamental para que a criança se torne cada vez mais autónoma no seu dia-a-dia. A construção desta autonomia deve passar por observar, escutar e estimular a criança a ser autónoma nas suas tarefas, no entanto é importante que a criança tenha laços afetivos com a família e que a entenda como um exemplo a seguir (Ferri, 2015). A família deve dar oportunidade de a criança explorar e conhecer o mundo ao seu redor sem que interfiram nas suas escolhas. No entanto, “um pai que considere necessário «controlar» uma criança de cinco anos em todas estas escolhas ignora os esforços da criança para ser autónoma” (Brazelton & Sparrow, 2004, p. 213). No entanto, cada família tem os seus valores, princípios e costumes que podem variar consoante a sociedade em que estão inseridos, o que acaba por interferir na autonomia do seu educando (Brazelton & Sparrow, 2004).

Torna-se também importante a relação estabelecida entre o educador e a família, no sentido em que é importante dar continuidade às ações realizadas por ambas as partes. Assim, “as crianças aprendem a valorizar as suas experiências familiares e as dos outros quando os professores constroem relações fortes com os pais e incorporam os materiais e as atividades da vida familiar no contexto pré-escolar” (Hohmann &

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Weikart, 2011, p.98). Desde cedo, a família deve criar e estabelecer rotinas ao seu educando, para que este se apropria dos tempos de cada tarefa. Também devem ser dadas pequenas responsabilidades às crianças, para ajuda-las a desenvolver a sua autonomia.

Também a família deve proporcionar a autonomia das crianças em ações do quotidiano, como vestir, calçar e comer. Desta forma, a criança terá possibilidade de se tornar autónoma nos vários ambientes, visto que lhe estão a proporcionar a aquisição desta autonomia com a estimulação da sua independência. Tal como Brazelton e Sparrow (2004) referem “cada passo em direção à independência é uma batalha” (p. 97), sendo que a criança vai aprendendo progressivamente a realizar algumas tarefas sozinha, como comer, vestir-se ou fazer a sua higiene como formas de se tornar autónoma no seu dia-a-dia. Progressivamente, a criança deixa de necessitar do adulto para a realização de diferentes ações e este torna-se o exemplo que a criança segue para realizar as suas tarefas (Hohmann & Weikart, 2011).