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O papel da escola e a contribuição do professor no apoio aos alunos

quadros (260) correspondem a mesma ideia em português?

5.4. O papel da escola e a contribuição do professor

Segundo Ducrot (261) é necessário fazer aparecer as proposições escondidas, que constituem o ponto de vista do sentido para que se possa compreender-lhe a significação e determinar os raciocínios a que pertencem. Apresentou como exemplo a frase: Só deus é bondoso; (que é analisado em… e), “Deus é bondoso a’’ “nenhum ser diferente de Deus é bondoso.” Para muitas frases feitas nos quadros correspondentes ao falar santomense, com base no que diz Ducrot não se pode ver o sentido delas para que possam ser analisadas nos seus raciocínios, na medida em que, antes de serem analisadas em relação as suas significações já foram desclassificadas como frases ou foram alteradas as colocações dos seus elementos sintácticos para que possam ficar mais próximas da língua de chegada ou do português norma. O que significa dizer, que não é dada a prioridade ao falante (262), mas sim, a norma linguística. Esta mesma relação foi feita por Couto (263) da seguinte maneira: “A esse tipo de comunicação parcialmente bem sucedida devido apenas ao contexto da situação os crioulistas chamam comunicação pelo modo pragmático, por oposição à comunicação pelo modo sintáctico, em que o entendimento se dá mediante um instrumento socializado de interacção, logo gramaticalizado.”

Nessa conjuntura, numa composição em que o aprendente escreve frases como as que se apresentam no capítulo III na coluna pertencente ao falar santomense, nunca se ficará a saber que os alunos tiveram o raciocínio correcto para a formulação correcta em língua portuguesa. Mas, seguindo pela lógica de Couto encontra-se a justificação para as frases apresentadas no falar santomense quando parcialmente são bem sucedidas como poderá comprovar a coluna pertencente ao português. Será o mesmo que dizer que, os santomenses que pronunciam essas duas proposições:

260 Ver quadros do capítulo III. 3.1. 3.2. 3.2.2. 3.3. 3.4.

261 Oswald Ducrot. Princípios de Semântica linguística. Dizer Não dizer; Não Dizer, Dizer. Editora Cultrix

São Paulo. P. 73.

262 Oswald Ducrot. Ibidem.

“Ele jogô parede com pedra. Ele atirou a pedra para a parede.” Apesar de as duas frases exprimirem a mesma ideia, o vocábulo “jogô e atirou” na “tradução mental” dos falantes santomenses podem-se representar. Os vocábulos podem realizar essas funções se consideramos a bivalência das palavras. Tal como acontece com algumas palavras ou expressões do português. Desta forma a frase poderá ser bem sucedida para o falar santomense.

Apresento abaixo um triângulo que representa as expressões:

I

II III

I = LL ou LS → Língua portuguesa. Exemplo: Ele atirou a pedra para a parede. II = LS ou crioulo: Ê zugá palêdê ku budo.

III = descrioulização ou falar santomense: Ele jogou parede com pedra ou ele jogou pedra pá parede (264).

Não se pretende convencer a ninguém para que considere a frase no falar santomense de correcta. Pretende - se sim, que seja dado o valor real às pessoas que têm esse convívio linguístico e que utilizam essas expressões, porque nada tem a ver com o sinónimo de burrice, como tem sido o hábito de pensar de algumas pessoas. Não seria incorrecto de todo dizer que nestas frases o vocábulo de bivalência “jogar e atirar” servem para o crioulo mas não servem para o português. Tal como o português em muitas palavras e expressões afastou – se do latim.

Existe sempre interrogações como: Por que a escola não ensina também a linguagem familiar? Esta interrogação vem de certa forma responder às diversas dificuldades com que

264 I – LS é língua de superstrato, ou LL – língua léxificadora; II – LS, Língua de substrato; III – A fase em que o crioulo já se encontra “desfigurado” ou transformado.

os professores defrontam em S.T.P., ao ensinar a língua portuguesa. Reflectindo bem sobre a questão, do funcionamento da língua portuguesa, numa breve análise é primordial que se siga uma determinada norma gramatical, seja ela gramática tradicional, gramática generativa transformacional ou não. Sabemos que a sintáctica cuida de funções e formas, a literária observa a estética, a semântica com base sincrónica investiga o jogo dos significados. De facto temos elementos de estimado valor linguístico em que podemos apoiar na execução das nossas tarefas no ensino aprendizagem. Por que não fazer com que estes elementos correspondam às nossas necessidades. Por exemplo, a analise da semântica de vocábulos problemáticos! Não se trata de confrontar o português, mais sim, de abraçar suportes que possam dar maior contributo ao ensino do português. Podemos desta forma contribuir para que os professores de português deixem de ver somente nos erros de ortografia feitos pelos aprendentes e possam valer também da ajuda que poderão obter da história da semântica, contida na especificidade de cada léxico problemático.

Considerando todos esses elementos que constituem o padrão do estudo das línguas, questiona-se de imediato onde encontraremos espaço para abordar o problema do falar santomense (265), que no meu entender constitui condição necessária para um melhor ensino aprendizagem do português. O Ministério da Educação confronta com uma série de problemas a nível socio-económico. Os professores acumulam muitas horas lectivas, chegando mesmo a ter horas de prestação de serviços, de manhã, a tarde e à noite. Que motivações encontrarão para se dedicarem ao problema do falar santomense? Mesmo com todos esses factores de entrave, o maior está em não priorizar a questão do problema da miscigenação da língua em S.T.