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2.2 Políticas de Estado em Educação

2.2.1 O Papel do Estado Burguês na Educação

Para explicar este descompasso entre a construção da democracia em órgãos públicos e as propostas políticas potencializadas nestes espaços, busca-se em Politzer (1963) elementos essenciais que expliquem a organização governamental. Este autor delimita os pressupostos do materialismo histórico dialético - como essencial para explicar as questões concretas da realidade – uma vez que corresponde às questões sobre concepção de Estado em um contexto histórico. Segundo ele, o Estado se resume em:

Uma organização para governar os explorados, que se destacou da sociedade humana, e, aos poucos, diferenciou-se dela. Supõe a existência de um grupo especial de homens, os políticos, unicamente ocupados em governar, que se utilizam, para isso, de um organismo concebido para a ‘subordinação da vontade de outrem, pela violência’; este organismo compreende a polícia, o exército permanente, as prisões, os tribunais; é preciso acrescentar ainda os órgãos de pressão ideológica: o ensino, a imprensa, o rádio, etc. (POLITZER, 1963, p.290)

Ao propor a tarefa de compor um conceito de democracia condizente com seus pressupostos teóricos, Saes (1987) amplia esta concepção de Estado. Para efetuar sua análise o autor destaca que [...] “aquela que nos parece ser mais eficaz no que concerne à explicação da História; é a teoria marxiana de política, cujo eixo principal é a teoria do Estado proposta por Marx e Engels no conjunto de seus trabalhos”. (SAES, 1987, p.9).

Conforme esta concepção, a forma de entender o Estado e a sociedade, segundo Marx e Engels, inviabiliza a autenticidade da escola democrática pela submissão da qualidade da Educação a parâmetros mercadológicos.

A ação e a atividade política por excelência revelam o contraponto entre o mundo do trabalho e o discurso democrático o qual, encontramos a educação presa a um campo ideológico. Partindo desses dados, Alves (2006) afirma que no plano educacional, a educação deixa de ser um direito e transforma-se em serviço, isto é, em mercadoria. Desta forma, temos uma adequação às exigências do trabalho pedagógico, ao do mundo do labor (trabalho) em uma sociedade capitalista. [...] “o estado burguês pode ser democracia para os capitalistas, mas ele é sempre ditadura para a classe operária” (POLITZER, 1963, p.302-303).

Neste contexto, quando se tem um processo de execução de uma política de Estado, há consonância com os interesses da classe dominante, sendo determinante para a execução das políticas de Estado. Conforme Saes (1987, p. 21) é no “âmbito específico do processo de definição/execução da política de Estado o que definimos como regime político”: O autor ainda afirma que:

Nas coletividades em que uma parte dos homens controla os meios de produção (terras, ferramentas, máquinas, matérias-primas) e, ao invés de

usá-los, dirige a sua utilização pela outra parte dos homens (isto é, os que não controlam os meios de produção), deve existir correlatamente o Estado. Esta correlação designa, para os dois autores, o grupo de homens que, nessas coletividades, dedicam todo o seu tempo ou uma parte dele ao desempenho de atividades necessárias à conservação dessa relação entre homens controladores dos meios de produção e homens utilizadores dos meios de produção. (SAES, 1987, p.11).

Ao tratar da concepção e função de Estado-governo na sociedade capitalista, este estudo se concentra em explicitar os direcionamentos da formação dos profissionais da escola municipal a partir da proposta de democratização da educação, no governo Luiza Erundina. Ao redirecionar as políticas educacionais - condizentes com as aspirações políticas em cada governo - a proposta de construção da Escola Democrática não é extinta do discurso político, mas na prática não criam possibilidades de novas organizações e de transformação da formação de professores. Pelo contrário, eliminam qualquer possibilidade de retomada dos conhecimentos destes espaços com suas propostas, mesmo que não seja explicito nos discursos.

No contexto atual, o mercado passou a exigir uma formação polivalente e mais flexível, considerando as solicitações econômicas e a introdução de novas tecnologias dominantes nesta época. Desta forma, pode-se relacionar o papel do professor com as novas determinações do mercado capitalista, e, como consequência, tem-se a separação de sua função social e o papel político do educador. Nesta trama toda, que envolve a formação de professores e a educação, consolida-se uma nova visão sobre a escola a qual:

Passou a ser criticada e responsabilizada pelo insucesso escolar, pelo despreparo dos alunos ao término dos estudos, pela desvinculação dos conteúdos ensinados em relação às novas demandas oriundas do mundo do trabalho assentado no paradigma informacional. Consequentemente o professor passou a sofrer profundas críticas, e a ser de certo modo, responsabilizado por esse fracasso escolar. (MAUÉS, 2003 p. 91).

Este contexto requer um novo perfil dos profissionais da educação, justificados pelos desafios postos pelo desenvolvimento econômico da sociedade capitalista, colocando em discussão o desempenho do professor e a eficácia das

formações oferecidas pelo poder estatal. Na medida em que a culpabilização do professor, pelo não aprendizado toma destaque na sociedade deve-se considerar que as explicações tradicionais tomam novos contornos e novos direcionamentos, delimitando como foco das atenções o professor e sua formação, retirando o poder e o peso das políticas governamentais, bem como do sistema capitalista.

O tratamento histórico demonstra porque as políticas de Estado estão centradas na formação do professor. Logo, justifica a formação configurada como um modelo voltado para os moldes da competência, centrando suas ações para constituir um profissional que desenvolva em seu processo de aprendizagem, competências necessárias para atuarem no contexto escolar contemporâneo.

Este discurso pode ser observado na centralização dos sujeitos que pensam os currículos e os conteúdos intelectuais não estarem inclusos nos territórios escolares, mas no interesse de outras instâncias. A seleção é voltada para referendar e manter os interesses hegemônicos, como já destacados no texto. Nesta dimensão, o materialismo histórico deve ser afastado de qualquer proposta desta natureza o que poderia configurar uma conduta contra-hegemônica.

Encontramos este discurso nos documentos oficiais que determinam as políticas educacionais, contribuindo para a constituição idealista sobre o profissional da educação. A função deste profissional e as metas traçadas pelas políticas educacionais serão tratadas nos próximos itens, os quais se devem destacar as prioridades das políticas de formação no desenvolvimento das competências profissionais. O mecanismo, instituído e visualizado nos itens abaixo, vislumbra caminhos para se repensar a formação de professores e apontar possibilidades para a superação do modelo imposto, que possa criar possibilidades de novas conquistas nos próprios territórios institucionais para professores e estudantes.

2.3 A Política de Formação de Professores: a Formação Especial Integral de