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4.5 Contribuições da IG para o Desenvolvimento Territorial

4.5.2 O papel do Estado

Segundo Cazella (2011), o Estado contribui para o desenvolvimento territorial na medida em que busca minimizar as falhas de mercado por meio de regulação e, fornece apoio por meio de extensão. Medina et al. (2015), destacaram a atuação do Estado ao promover políticas públicas e garantir infraestrutura. Para tanto, verificou-se qual é a atuação do Estado nos territórios pesquisados.

Na Mantiqueira de Minas, a cooperativa informou que órgãos do Estado, tais como MAPA, INPI, EMBRAPA e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) foram importantes na obtenção do registro de IG (IP), ao dar suporte à APROCAM no que tange à documentação necessária para obtenção do registro. Este suporte estendeu-se também para a tramitação do pedido do registro de DO que deverá ser depositado no INPI em breve.

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Universidade de São Paulo (USP), instituições de ensino superior pública, auxiliam na promoção de cursos de capacitação e a UFLA está auxiliando no processo para a obtenção da DO. No que tange à prestação de serviço de assistência técnica ao produtor de café, a cooperativa informou que esta é realizada pela EMATER e complementada pela COCARIVE. A Figura 17 demonstra a relação das instituições públicas com a obtenção do registro de IG.

Figura 17 - Instituições públicas que contribuíram para a obtenção

da IG da Serra da Mantiqueira de Minas Gerais.

Fonte: elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

Por meio dos formulários aplicados aos agricultores familiares do território da Mantiqueira de Minas, verificou-se que dos sete entrevistados, quatro informaram receber assistência técnica da EMATER complementada pela COCARIVE e os demais recebem assistência técnica da Associação dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde (ASCARIVE), associação pela qual os entrevistados acessam a certificação Fair Trade. Outra instituição ligada ao Estado e citada pelos entrevistados é o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), que promove cursos de capacitação gerencial e de mão-de-obra. No tocante à capacitação gerencial, o SENAR foi citado por dois entrevistados, e quanto à capacitação de mão de obra, três entrevistados o citaram.

No Norte Pioneiro do Paraná, a obtenção do registro de IG teve importante apoio do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), EMATER, SENAR e Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná (SEAB), conforme observado na Figura 18. O IAPAR também auxiliou na avaliação do café segundo a metodologia SCAA.

Figura 18 - Instituições públicas que contribuíram para a obtenção

da IG do Norte Pioneiro do Paraná.

Fonte: elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa.

Em se tratando de capacitação do agricultor familiar, o SENAR é citado pelos entrevistados quando da capacitação de mão de obra e gerencial. Já com relação à assistência técnica, a EMATER é pouco citada neste território. O Programa 100% Qualidade desenvolvido pelo SEBRAE e a parceria com o IFT do Sul de Minas, instituição pública de ensino superior federal, é que tem garantido a assistência técnica necessária para os produtores.

O Programa 100% Qualidade é desenvolvido por agrônomos contratados pelo SEBRAE que visitam as propriedades quinzenalmente, oferecendo assessoria técnica especializada ao acompanhar a produção, visando garantir a sua qualidade. Eles identificam os potenciais riscos e introduzem inovações tecnológicas por meio de novas técnicas de manejo e boas práticas na lavoura. Estas ações permitem melhoria da renda aos agricultores na medida em que há melhoria da produção e aumentando a possibilidade de acessar novos mercados.

O território conta com a parceria do IFT do Sul de Minas, Instituto Federal de Educação que disponibiliza estudantes para realizar assistência técnica no que tange ao manejo, cultivo, controle de pragas e doenças. Outros aspectos da extensão rural, tais como segurança do trabalho, legislação ambiental, saúde e bem-estar do agricultor familiar, também são abordados por esta parceria (INOVAÇÃO..., 2015).

Verificando o papel do Estado em ambos os territórios, constatou-se como o mesmo exerce importante papel de coordenação na obtenção do registro de IG,

principalmente nas questões documentais, tão necessárias para o alcance do registro. Nesse caso, as instituições públicas como INPI, MAPA, EMATER, EPAMIG, IAPAR, SEAB, SENAR e instituições públicas de ensino superior foram essenciais para que os atores sociais alcançassem a concessão do uso do registro de IP. Este apoio continua sendo realizado, pois ambos os territórios tem interesse em alcançar o registro de DO.

A assistência técnica, as capacitações de mão de obra, de gerenciamento da propriedade e da produção são também importantes para alcançar e manter a qualidade do café. Uma vez alcançada à qualidade, o agricultor familiar é capaz de acessar o mercado. Quando esta assistência técnica não é oferecida diretamente pela EMATER, ela é fornecida por meio de parcerias com institutos públicos de educação superior. Logo, o Estado tem oferecido apoio por meio de extensão conforme citados por Cazella (2011) e Medina et al. (2015).

Percebeu-se que as esferas federais e estaduais são as que mais apoiam estes territórios, sejam por meio dos ministérios, secretarias ou por meio de autarquias públicas, tais como as instituições de ensino superior. As esferas municipais não foram citadas pelos entrevistados de ambos os territórios. Um dos entrevistados da Serra da Mantiqueira de Minas Gerais destacou que falta apoio das prefeituras, sobretudo no tocante à infraestrutura das estradas, melhorias necessárias para o bom escoamento da produção, questão abordada por Medina et al (2015).

Além disto, como discutido no item 4.2, o Estado exerce o papel de regulador, na medida em que concede o uso do registro de IG aos territórios que se destacam pela notoriedade e reputação de um produto ou serviço, valorizando-os e protegendo-os de ações oportunistas.

Ao observar a participação do Estado nos territórios pesquisados, verifica-se que há uma participação maior no território da Serra da Mantiqueira de Minas Gerais se considerarmos o número de instituições que tem contribuído para acessar o uso do registro e também na assistência técnica e de capacitação de mão-de-obra.

Conclui-se que na medida em que o Estado tem exercido o papel de regulador e de apoio, ele tem contribuído para o desenvolvimento de cada território pesquisado, conforme citado por Cazella (2011) e Medina et al (2015).