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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.6 A percepção discente sobre a aprendizagem utilizando a estratégia

5.6.1 Descrição da população de estudo e categorias temáticas emergentes da

5.6.1.2 O papel facilitador do professor e a aprendizagem significativa

Nas instituições de ensino, o professor, enquanto facilitador da aprendizagem deve adotar uma postura dialógica e ética e o educando, uma conduta indagadora, crítica e participativa (FREIRE, 2011a). Durante o curso de extensão, a facilitadora procurou mediar o processo de aprendizagem, propiciando um ambiente favorável para trocas de experiências, discussão e compartilhamento de conhecimentos anteriores.

A1: A professora tem sido bastante presente na resolução dos casos,

disponibilizando materiais, tirando dúvidas dentro e fora da sala... nos dando liberdade para desenvolvermos os estudos de casos.

A11: O curso foi bastante rico, onde a professora... é bastante qualificada... A18:...praticando com a orientação de um professor é muito mais fácil

aprender... A professora muito dedicada esclareceu nossas dúvidas e inseguranças.

O reconhecimento do papel do professor no processo educativo foi revelado nas falas digitais acima. Para que a interação entre professor e estudante ocorra, a comunicação entre eles deve ser empática, inclusiva e multidirecional. Isto é, o ensino deve partir dos diferentes atores em um mesmo plano de troca de conhecimento. Com isso, a aprendizagem se torna dialética e dialógica. Os estudantes aprendem uns com os outros e com o professor, sendo este também sujeito do aprender (BORDENAVE; PEREIRA, 2012).

A4: ... a interação professora-alunos ... foi útil para me fazer revisar o conteúdo e

ampliar meu conhecimento sobre o tema.

A descrição de A4 sobre a postura facilitadora da professora frente ao aprendizado do estudante vai de encontro ao comportamento docente dominador, fruto de uma consciência bancária (FREIRE, 2011b). Conforme Paulo Freire, este tipo de consciência é fomentada no paradigma conservador. O professor detém o status daquele que possui o conhecimento, enquanto que o educando é considerado um receptor passivo, reprodutor acrítico de costumes e comportamentos.

De modo geral, a educação exerce papéis complexos que variam desde a socialização, repressão até a transformação. Socialização, aqui aplicada, diz respeito à ação da educação sobre o indivíduo, transformando-o em sujeito social, dando-lhe condições de conviver em sociedade. Já o papel repressor da educação se justifica pela reprodução de sistemas opressivos, que privilegiam classes sociais mais favorecidas em detrimento dos menos favorecidos. O papel transformador da educação está relacionado ao ensino de um pensamento crítico e reflexivo, que deve ser estimulado nos sujeitos para a transformação da realidade (PAIN, 2008).

Ante o exposto, alguns questionamentos se apresentam: Que papel o professor, enquanto educador, tem desempenhado nas instituições de ensino superior? E como a aprendizagem interfere no processo transformador do sujeito?

A prática docente universitária vem sendo alvo de atenção de estudiosos da área de educação. Questiona-se, por exemplo, qual a qualidade das estratégias de ensino aplicadas pelos professores das universidades e como estas podem se tornar relevantes para a formação discente (BEHRENS, 2011).

Infelizmente, observa-se que muitos professores estão mais preocupados em manter uma relação de poder com o aluno, favorecida pela centralidade docente do processo de ensino-aprendizagem, do que em estimular no estudante uma postura ativa, reflexiva e crítica. Prefere-se conduzir o aprendiz a memorizar conteúdos do que ensiná- lo a construir conhecimentos e a refletir sobre eles. Estes professores parecem estar vinculados ainda a um modelo de educação tradicional (BEHRENS, 2011).

Segundo Paulo Freire (2011a, 1994), a educação é uma fonte de esperança em meio às mazelas de uma sociedade marcada pela exclusão e desigualdade sociais. A esperança deve ser cultivada de maneira a oferecer ao indivíduo condições para enfrentar e vencer as “situações limites”, não humanizadas da sociedade. Situações estas de intolerância às diferenças, falta de dignidade e valores sociais corrompidos.

O educador da esperança deve utilizar o sentimento referente à emancipação social para libertar totalmente o indivíduo da exploração da sociedade através de um ato cultural libertador. A libertação dos indivíduos, segundo Freire (2011a, 2011c), se dará se a educação, os relacionamentos sociais, étnico-políticos forem repensados sob uma visão mais humanizada de mundo.

O docente que adota um olhar problematizador diante das questões da sociedade favorece o desenvolvimento de competências e habilidades, no contexto da educação transformadora, emancipatória e libertadora. Segundo Perrenoud (2000), o educador deve desenvolver competência para dirigir a evolução da aprendizagem, construindo e aplicando situações-problemas adaptadas à condição e potencialidades dos estudantes. Com isso, o sujeito é estimulado a não apenas reunir saberes atuais e anteriores, mas mobilizá-los em função da solução do problema.

O educador deve, portanto, considerar o educando como um ser que já traz dentro de si uma bagagem de conhecimentos e saberes que geram (re)significado ao aprendido. A teoria da aprendizagem significativa acredita que o conhecimento é construído a

partir do momento que se relaciona com conhecimentos prévios (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980). Sobre isto, as falas digitais dos aprendizes desvelaram uma aprendizagem significativa, ancorada nos saberes adquiridos durante a graduação:

A1: Apesar de já ter contato anterior com o método de diagnóstico da CIPE... O

curso possibilitou que eu... recordasse junto com os demais o método correto de construção do diagnóstico.

A2: ...o conhecimento prático adquirido durante os estágios da graduação de

enfermagem e a simulação de como o enfermeiro deveria agir em diferentes situações de diferentes complexidades apresentadas pelo curso, ampliaram meus conhecimentos com relação ao tema de puericultura.

A7: Dentro do curso pude exercitar o conhecimento prévio construído na

graduação.

A10: Foi de grande importância ter participado deste curso, pois contribuiu para

mais um aprendizado, tornando mais rico o conhecimento já adquirido no período da graduação.

Entre os participantes do curso de extensão, 14 afirmaram que utilizavam como estratégia de estudo a associação dos conteúdos ministrados às experiências e conhecimentos anteriores. O saber original do indivíduo é um dos fatores que mais influencia no aprendizado. A partir de conhecimentos pregressos, novas ideias e conceitos são formados e outros tantos são modificados. Este conhecimento pregresso, considerado relevante, foi chamado por Ausubel de subsunçor (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980).

Todas as vezes que o educando é exposto a novas informações, ele passa por uma experiência cognitiva de adaptação. Um rearranjo mental de conceitos é estruturado, conforme hierarquia estabelecida do conceito mais específico para o mais generalista. Isto é, o indivíduo processa as novas informações, relacionando conceitos peculiares a elementos mais gerais do conhecimento (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980).

Nas falas digitais acima, observou-se um conhecimento anterior às temáticas estudadas no curso, sendo este (re)construído ou modificado, dentro do conceito epistêmico da aprendizagem significativa.

5.6.1.3 Metodologia da problematização e a formação de atitudes de aprendizagem a