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2. Perspetivas sobre a Rádio

2.1. O nascimento da rádio

2.1.4. O papel da rádio

A rádio tem um papel importante como meio de comunicação. Este meio exprime-se através do som e, facilmente, entra na casa das pessoas ou em qualquer outro lugar onde estejam, através de pequenos e portáteis aparelhos. É ele que, há muitos e muitos anos, não só leva as notícias ao ouvido das pessoas, como as situa na realidade social, e as entretém, ao mesmo tempo que distrai.

Através do conceito de rede da rádio, a informação consegue chegar a todos os pontos e a todas as pessoas. “A rádio é um meio de comunicação assente no conceito de rede, constituído por canais emissores e retransmissores, permitindo que as suas mensagens cheguem a pontos geográficos muito distantes. Até agora a emissão tem sido maioritariamente feita em ondas hertzianas, de sinal aberto através de antenas colocadas nos emissores e nos recetores” (Santos, 2010, p.124). A rádio carateriza-se por chegar facilmente a todos os pontos do país e, agora, com a chegada da internet, do mundo. A sua possibilidade de multitarefa, que apenas precisa do ouvido para chegar às pessoas, faz com que todos a ouçam durante o seu dia: enquanto trabalham, cozinham ou conduzem. Como companhia, distração ou meio de informação, são várias as razões que levam a que a ouçam.

Há muito tempo que se dita a sua morte, com a chegada da televisão, da internet e de todas as mudanças que o mundo tem sofrido, mas ela tem prevalecido. A rádio é barata porque não tem qualquer custo para quem a ouve, apenas o investimento de comprar um aparelho de casa, de carro, portátil ou, apenas, um telemóvel, onde já vem o rádio incorporado. “Hoje em dia, o rádio está presente não só em aparelhos convencionais, mas em telemóveis, MP3, MP4, tablets, etc., o que o torna, às vezes, mais presente e mais discreto ao mesmo tempo” (Neuberger, 2012, p.79).

Apesar de todas as mudanças, concorrente e obstáculos e, como afirma Meditsch, a rádio tem sobrevivido:

“Em parte, este preconceito parece ter prevalecido nas conceções sobre o potencial da rádio como meio de comunicação: concebido como veículo de comunicação ideal para alcançar os analfabetos, e tendo a sua morte repetidamente anunciada, ele, no entanto, sobrevive, e representa hoje um meio de informação preferencial para os setores mais letrados da população” (Meditsch, 1999, pp. 58-59).

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A rádio é de todos e para todos porque necessitando apenas da audição ela consegue chegar a letrados e analfabetos da mesma maneira, às pessoas de todas as idades, existindo também rádios nacionais e locais para chegar a todos os lugares, e também para todos os gostos quanto à música. A universalidade é, assim, apontada por Freixo (2012) como uma das caraterísticas da rádio. “A rádio é o meio por excelência capaz de chegar a um maior número de pessoas, porque não necessita que os ouvintes tenham condições económicas que permitam a aquisição de um aparelho de televisão, que saibam ler para comprarem o jornal, ou que saibam trabalhar com um computador e navegar na internet para obter informação na rede” (Freixo, 2012, p.2).

Além de não necessitar que as pessoas saibam ler e escrever, ela tem também um discurso baseado numa linguagem simples, popular, muito próxima da oralidade, muitas vezes com sotaques e expressões características da região onde se encontra, com uma dicção clara e lenta, matizada, com uma expulsão regulada e vagarosa do ar pulmonar, tom na gama média e com a pronúncia até ao fim da última sílaba de cada palavra. Nas aulas de rádio, para que mais facilmente entendêssemos como se escreve para ela, costumava utilizar-se a expressão “uma ideia, uma frase”. Por isso mesmo, o profissional da voz tem de ter a respiração e emissão vocal adequadas, um timbre claro e sonoro, bem como uma boa e fácil articulação e a impecabilidade da pronúncia e da edição (Ribeiro, 1964).

Não existem regras estéticas ou profissionais definidas para a rádio, no entanto, hoje possui-se microfones, amplificadores, máquinas de gravação, profissionais treinados, estúdios de gravação. Hoje em dia, os timbres das vozes e de instrumentos podem ser reproduzidos de forma quase perfeita, exigindo até, a internet, uma qualidade ainda maior pela sua “limpeza” na audição da voz. Ao ouvinte é, por vezes, difícil distinguir entre uma gravação e uma audição direta (Ribeiro, 1964:8). O próprio locutor interpreta quando lê um noticiário, pois tenta criar empatia com quem ouve, tenta dar a ilusão de conversa. Se eles se ficassem pela leitura, o ouvinte notaria que a pontuação gramatical não corresponde, quase sempre, ao modo natural de dizer a frase. “Do valor artístico e estético destas pausas e seu aproveitamento depende o êxito pela ordenação da frase, respiração oportuna, transições de tom e inflexões apropriadas” (Ribeiro, 1964. p.142).

É interessante para o ouvinte que o locutor crie empatia com o mesmo, e que lhe conta as notícias, em vez de as ler:

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“A própria leitura do noticiário é mais apropriada quando parece que o locutor, em vez de ler, nos comunica laconicamente factos que ele sabe e foi ali recordar sem o auxílio da redação. Dir-se-á que a rádio impõe uma luta contra o «preparado anteriormente», contra o texto, contra o redator. Ou que cada locutor, perante o microfone, tem o dever de fazer esquecer a presença do texto como o criador de arte, que faz desaparecer a presença da técnica; ou como o artista quando atinge o seu maior milagre: o de fazer esquecer o artífice…” (Ribeiro, 1964, pp.156-157).

Os noticiários são também eles curtos e concisos, senão cansam e fazem as pessoas perderem a sua concentração. Além disso, repetem-se várias vezes os nomes dos intervenientes ou das instituições, para que a pessoa consiga acompanhar sempre a notícia.

“A insistência em certas palavras ou ideias, não é, na Rádio, um erro, mas sim um processo de facilitar a compreensão. Para os intérpretes (e muitas vezes para os locutores, repórteres, etc.) as vacilações, as exclamações, as pausas, as repetições, constituem um processo cómodo e infalível de afirmar melhor um pensamento, dando-lhe clareza e personalidade” (Ribeiro, 1964, p.194).

A experiência mostra que a audição se torna mais cansativa que a leitura, sendo que um noticiário não deve ultrapassar os 15 ou 20 minutos, optando muitas rádios apenas pelos 10 minutos, sendo as notícias mais recentes as que passam sempre para o ar.

Além disso, a rádio é também feita de música e de efeitos sonoros. “A acompanhar a palavra estão a música, os efeitos sonoros e o silêncio, que criam na rádio um contexto único e muito próprio, pois tudo é transmitido aos ouvintes através do som ou da ausência dele” (Freixo, 2012, p.3). Essa inclusão de sons naturais ou fabricados permite aos auditores imaginar ambientes, ver cenários, localizar cenas, tal como o cinema que nos faz transportar para outros lugares. “Através da explicação de ruídos com valor emotivo chega a criar-se uma «mímica imaginativa engendrada pelo som», que leva o ouvinte a receber impressões fisiológicas pelo aumento da sua sensibilidade auditiva, ou, pelo menos, pela sua adesão involuntária e consequente reação imprevista” (Ribeiro, 1964, p.96). A rádio levou, em tempos, pela sua característica de entretenimento, a que as famílias se juntassem na sala de estar para a escutarem com atenção, como se de um serão familiar se tratasse. Em tempos, usavam-se bastante os rádio teatros, um género radiofónico que, por estes mesmos sons, iludia as pessoas, e fazia-as sonhar e imaginar. Sendo a rádio feita de sons, todos eles são importantes, todos eles têm o seu contributo. “Podemos dizer que a Rádio utiliza o meio sonoro, mas evoca o meio da visão” (Ribeiro, 1964, p.149).

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Outras características da rádio são a sua instantaneidade, sendo até quem consegue dar a notícia em primeiro lugar pela frequência de noticiários ao longo do dia, espontaneidade e simultaneidade, bem como acumulação, como já falada atrás, em que os ouvintes realizam tarefas enquanto ouvem rádio. A possibilidade de realizar outras atividades em simultâneo com a escuta da rádio é a sua caraterística mais distintiva dos outros meios de comunicação, é ela que lhe permite muitas audiências ao longo do dia, sendo uma acompanhante do trabalho dos ouvintes. Partindo da instantaneidade da rádio, há até quem use a expressão «notícia acontecida, notícia transmitida», pois a rádio tem uma imbatível possibilidade de rapidez no fornecimento de notícias ao público.

Percebemos, pelas suas caraterísticas, que a rádio tem um papel importante na vida das pessoas: acompanha muitas até ao trabalho, ou mesmo nele, informa-as, faz companhia no trânsito, distrai nos tempos mortos, faz companhia a quem está sozinho. Neuberger desenha a rádio como um meio que acompanha as pessoas para onde quer que elas vão, o que quer que elas estejam a fazer:

“Na atualidade, o rádio continua a ser um dos veículos mais presentes na vida das pessoas, em qualquer parte do país. Se pensarmos em grandes centros urbanos, o rádio é um companheiro all time, pois acorda, acompanha durante o trajeto para a escola ou trabalho, mantém informado durante o dia, ou mesmo oferece música de fundo para ajudar a fazer o clima de escritórios, consultórios, salões de beleza, lojas de tatuagens e toda a infinidade de atividades desenvolvidas pelo homem urbano. Nas horas de lazer, vai ao estádio de futebol, cria o clima entre os namorados, anima as pessoas em um churrasco. Na área rural, o rádio acorda e acompanha os trabalhadores pelos campos, dá dicas de plantio, informa o clima e ainda oferece momentos de lazer” (Neuberger, 2012, p.77).

A rádio é um meio que faz já tão parte da rotina que acabamos por nem notar a sua presença na nossa vida. No entanto, a verdade é que todos os dias ao entrarmos no carro carregamos no botão do mesmo e vamos a escutá-la, ou nos transportes públicos, é o som dela que nos acompanha durante toda a viagem.

Os meios de comunicação também assumem funções quando o tema é a política. “A centralidade dos média na vida quotidiana pauta-se porventura pelo monopólio que detém na mediação da informação entre os partidos políticos e os cidadãos, o que demite certas entidades políticas de estabelecer programas de comunicação pública longe do aparato mediático. Moreno (2006) considera até que os média trabalham melhor a comunicação política do que os próprios

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partidos” (Ribeiro, 2013: p.69). Ribeiro (1964) atribui à produção radiofónica dois importantes papéis: o de divulgar e ensinar.

Ribeiro (2013) cita a jornalista Nuria Llop quando esta diz que “os cidadãos necessitam que haja uma pessoa que seja capaz de processar a informação por eles e destacar os pontos que interessam” (Ribeiro, 2013, p.451), referindo-se a este como o papel dos meios de comunicação.

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