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5. ANÁLISES E DISCUSSÕES

5.1 O paradigma da inovação aberta

A Inovação aberta é uma evolução da maneira tradicional de empreender inovação, no qual a atuação em rede é um imperativo para que os processos de criação e desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos ocorram. As tecnologias da informação e comunicação que permitem aceso a dados e informações de maneira instantânea, aliado à facilidade de conexão entre atores geograficamente distantes, mas com interesses comuns, revolucionam a maneira de produzir inovação. O período de obsolescência é muito mais breve, tanto por uma perspectiva de mercado, onde os processos produtivos são mais ágeis e escaláveis, fruto do avanço tecnológico, quanto do comportamento do consumidor, fator social no qual o nível de desejo e de urgência por novos produtos é latente e imediato.

Nesse contexto, a velocidade e a performance elevada são diferenciais necessários para garantir a sobrevivência das empresas na seara da competitividade. Os produtos e processos estão cada vez mais comoditizados, logo a percepção de valor do que é melhor e diferente aumenta o desafio para as corporações.

Nesse lócus temporal em que a sociedade atravessa atualmente, gerir processos de inovação eficazes que respondam à urgência imposta pelo mercado é fundamental. A velocidade com que surgem novas tecnologias e a necessidade de constante reinvenção e ajustes nos processos produtivos fizeram com que as grandes corporações buscassem soluções em meio externo ao seu domínio.

A aversão ao risco continua sendo um imperativo no mundo empresarial e descobriu-se que abrir as estruturas de P&D para as startups é uma forma inteligente e econômica para desenvolver os processos e produtos de inovação.

O conhecimento encontra-se disperso e ao mesmo tempo disponível. As bases às produções científicas e tecnológicas estão cada vez mais acessíveis. Segundo o INPI (2018), existem 4 bases gratuitas para buscar patentes. A primeira é a do próprio Instituto Nacional de Propriedade Industrial que permite acesso a pedidos de patente depositados no Brasil; a segunda é a Latipat, com acesso às bases dos países latino- americanos e à Espanha. A terceira é a Patentscope, com patentes em mais de 40 países e, por último, a maior base do mundo - o Espacenet - que possibilita a busca

26 em mais de 90 países, incluindo aqueles com maior número de depósitos como EUA, Alemanha, China, Japão e Coréia do Sul.

Os arranjos institucionais para desenvolvimento de projetos empresariais de inovação aberta (CHESBROUGH, 2017) para transferência de conhecimento apresentam modalidades distintas: contratos de pesquisa, aquisição e venda de licenças, acordos de transferência de propriedade intelectual e crowdsourcing baseado em competições para soluções técnicas.

Nessa gama de possibilidades, a figura do pequeno negócio inovador, ou

startup, ganha um papel protagonista como agente indutor desse processo. Não que

a inovação aberta precisa envolver, necessariamente, uma startup. Ela pode ocorrer entre grandes empresas e centros de pesquisa, ou instituições de ciência e tecnologia ou com inventores independentes. Mas o cerne da presente narrativa contempla pequenos negócios inovadores, portanto, o foco da reflexão concentrará nesse público.

Um dos motivos pelos quais as startups têm dificuldade em inovar de forma expressiva e contundente no mercado em que atuam é a falta de recursos para o desenvolvimento de projetos empresariais de inovação mais intensivos em tecnologias disruptivas ou inovadoras, que venham de fato agregar grande valor aos seus produtos e/ou processos (SEBRAE, 2015). Soma-se a isso, a dificuldade em acessar mercados corporativos que viabilizam o desenvolvimento tecnológico.

Portanto, a conexão entre empresas de diferentes portes para gerar negócios e desenvolver tecnologias é primordial na agenda de inovação aberta. É citado no anexo desta dissertação o estudo de caso do Programa Nexos, uma iniciativa do Sebrae e da Anprotec. Tanto o exemplo do Nexos, como de outras iniciativas semelhantes sugerem algumas reflexões.

Apesar de ser um fenômeno recente a relação entre grandes e pequenas empresas, percebe-se um amadurecimento desses compromissos, visto que muitas corporações estão procurando startups, na maior parte das vezes, em função de objetivos estratégicos, com vistas à expansão para novos mercados, segundo Quadro 6 (HBS, 2017).

Todavia, muito se vê o contrário também. Empresas de maior porte que desejam cooperar com instituições menores por uma questão de posicionamento de marketing, sem necessariamente saber o que se fazer. O advento das startups ganhou magnitude e atraiu atenção da mídia. Ter a marca atrelada a um pequeno

27 negócio projeta a imagem da empresa como inovadora e gera promoção junto a outras partes interessadas como clientes, fornecedores, veículos de comunicação e órgãos reguladores.

Além disso, percebe-se que grandes empresas ainda não compreendem a melhor forma de se relacionar com startups, bem como alinhar interesses de forma que o resultado seja satisfatório para ambos. Entretanto, devido à urgência e à velocidade por aperfeiçoamento tecnológico demandado pelo mercado, essas relações são induzidas a acontecerem pela alta direção das grandes empresas sem, necessariamente, que haja um alinhamento interno entre as áreas que precisam estar envolvidas: controladoria, compras, marketing, jurídico e compliance, P&D etc.

As corporações brasileiras têm uma visão de curto prazo, na qual procuram resolver problemas tecnológicos de maneira mais rápida e preferem, com frequência, realizar eventos pontuais sem, necessariamente, estarem inseridos em uma agenda mais estratégica. Existe uma proliferação, em nível nacional, de startups weekend – eventos de finais de semana recheados de atividades para startups com resultados concretos pouco tangíveis -, hackatons – desafios de construção de soluções tecnológicas, geralmente relacionadas à programação, de curto prazo etc. Essas atividades conectam grandes empresas com pequenos negócios inovadores, porém de maneira superficial, não gerando negócios ou relações duradouras.

Talvez isso seja explicado pelo fato de que é notória a visão empresarial da urgência sobre o rejuvenescimento da cultura interna e a necessária a mudança de

mind set do corpo técnico, em função dos movimentos de transformação digital. Em

escala exponencial, as empresas estão revendo seus modelos de operação para atuar numa perspectiva digital. Não à toa, metodologias ágeis têm ganhado robustez no mercado.

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5.2 Benefícios, riscos e desafios no relacionamento entre startups e

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