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2. Música Militar e Bandas Militares na Europa e nas Américas

2.2 Nas Américas

2.2.1 O paradigma norte-americano

A primeira vez que surge referência a uma banda militar americana foi em 1756 num desfile do Regiment and Artillery Company of Philadelphia, cujo comandante era Benjamin Franklin. Nesse desfile, os tambores tinham sido colocados atrás das companhias, mantendo-se assim, consideravelmente distanciados da banda constituída por pífaros e outros instrumentos. (Camus 1975).

O ministro da guerra britânico, decidiu, em 1757 enviar regimentos para servir nas colónias americanas, os quais levaram as suas bandas de música para tocarem em ocasiões especiais e cerimónias. Estas bandas, distintas dos grupos de “field music”, eram compostas por 6 a 8 músicos, executantes de oboé, clarinete, trompa e fagote. O aparecimento destas bandas britânicas na colónia americana, estimulou o ambiente musical contribuindo para o desenvolvimento de bandas de música locais (Camus 1975).

Em 1777, os trompetes foram acrescentados ao Exército para auxiliar nas manobras montadas dos regimentos de cavalaria. Enquanto isso, o toque do tambor regulava o dia do soldado dos regimentos de infantaria. Camus divide a música desta altura em dois grupos, ou seja em companhias de músicos “field music” e em “bands of music”. Os comandantes dos regimentos e brigadas passaram a aplicar as interpretações próprias dos vários sinais dos tambores e para melhorar a música a seu cargo, passaram a recorrer à ajuda dos tambores-mores dos seus regimentos. Como o nível dos músicos era mau, passaram a ser estipuladas horas de estudo para todos os tambores e pífaros dos regimentos. Ao longo da Revolução Americana, as horas de estudo diário para os tambores e pífaros eram ouvidas nas Ordens e os músicos que praticavam fora das horas estipuladas eram castigados (Camus 1975). Normalmente, o tambor-mor era o responsável pelo ensino dos músicos da companhia, tal como na Europa. Aos pífaros e tambores eram fornecidas armas e estes tinham como obrigação prestarem serviço como soldados.

O trompete permaneceu associado às tropas montadas enquanto que o tambor e o pífaro tinham como função transmitir os sinais à infantaria. Apesar disto, muitas vezes quando não havia tambores, o comandante ordenava que os trompetes aprendessem a tocar pífaro para

poderem cadenciar a marcha das tropas. Camus relata que por esta altura, várias vezes se encontrava tropas a marcharem ao som de apenas um pífaro.

Em 1778 decorreu uma reorganização do Exército americano. Os tambores e pífaros-mores receberam um aumento no pagamento para nove dólares por mês para além do complemento normal como músicos da Companhia, mas os tambores e pífaros permaneceram com o mesmo ordenado de cabo. Existia a possibilidade de pífaros-mores manterem a sua função, mesmo depois de promovidos a oficiais, conciliando os deveres de pífaro-mor com o posto e ordenado de oficial, caso este já antes fosse responsável pela banda de música do regimento (Camus 1975). Em Julho de 1776, a 1ª Companhia de Artilharia da Pensilvânia já incluía um pífaro, dois tambores e seis músicos.

Até 1781, os músicos eram alistados apenas como músicos e por isso estavam dispensados dos deveres de soldado. Neste ano o Congresso aprovou o plano em que os tambores e pífaros passavam a ser escolhidos entre os soldados alistados, passando a ser considerados soldados músicos.

Em 1798 o presidente John Adams assinou um decreto do Congresso que estabelecia a United States Marine Band. Assim nasceu a primeira organização musical profissional nos EUA que tinha como missão principal prover música para o Presidente dos Estados Unidos e para o Comandante dos Marine Corps.

Nos anos 30 do séc. XIX, são introduzidos nas bandas os melhorados instrumentos de metal com válvulas. Por esta altura o som e tamanho das bandas aumentam consideravelmente, para além dos ordenados dos músicos e do mestre de música.

Polk refere que em 1832, os regimentos de Infantaria americanos possuíam bandas com um número de elementos que variava entre os 15 e os 24. No entanto, nesse mesmo ano, estas bandas foram reduzidas para 10 soldados e um mestre de música; redução esta que levou à eliminação dos instrumentos de sopro de madeira, em favor dos novos e versáteis instrumentos de válvulas (Polk 2001). No início de 1834, muitas das bandas transformaram-se em grupos de diferentes combinações de instrumentos de metal (brass bands).

Houve também uma proliferação de bandas durante a Guerra Civil americana (1861-65). Por esta altura, cada regimento tinha uma banda. Estas bandas tocavam em cerimónias militares e civis e entretinham os soldados, tocando por vezes até em posições dianteiras durante algumas batalhas.

O número de brass bands, sofreu uma grande queda depois da Guerra Civil, no entanto, graças ao bom trabalho desempenhado por vários chefes de bandas, as bandas alcançaram um bom

nível de performance e com isso, grande prestígio. Assim, em 1889, calcula-se que, nos Estados Unidos, estivessem no activo mais de 10 mil bandas, isto porque em muitas comunidades, a banda “militar” da zona constituía o único meio de acesso à música. As bandas profissionais e amadoras apareciam em cerimónias militares e civis, paradas, concertos, parques, feiras nacionais e internacionais, etc. O seu repertório abrangia desde as marchas populares, canções, valsas e arranjos dos “clássicos” da moda, para além de selecções de ópera e variações solistas (Camus 1975). Enquanto que as bandas de maiores dimensões eram dirigidas por um maestro, as mais pequenas, segundo Polk, eram lideradas frequentemente pelo trompetista, tal como nas brass bands.

A figura mais importante dos anos de ouro da música americana para banda foi o luso- descendente John Philip Sousa (1854 - 1931), o qual formou a sua banda em 1892 e compôs 136 marchas que ainda hoje são tocadas em todo o mundo. Entre as mais conhecidas estão: Semper Fidelis (1888) The Washington Post (1889), The Liberty Bell (1893), King Cotton (1895), The Stars and Stripes Forever (1896) e Hands Across the Sea (1899).

No início do séc. XX, como as mulheres não eram admitidas nas bandas profissionais, excepto em violino, soprano e harpa, foram formadas bandas exclusivas para mulheres.

Em 1920, o general John J. Pershing, ao descobrir que as bandas de música em França e Inglaterra tinham um nível muito superior às americanas e visto que ele considerava a música essencial para a moral das tropas, implantou um programa de estudo para melhorar a banda do Exército americano.

Em Junho de 1941, para satisfazer os requisitos musicais necessários para um Grande Exército, o Department of the Army estabeleceu uma escola para mestres de música no Army War College. Por altura da II Guerra Mundial, as cerca de 500 bandas que serviram o Exército foram categorizadas em três tipos: special bands31, separate bands e organization bands.

Por volta de 1969, oito bandas americanas estavam no Vietname, estas voavam para áreas de combate com os seus instrumentos e faziam concertos e/ou cerimónias militares, conforme era necessário.

A introdução de escolas de música no meio militar americano conduziu a bons resultados no passado e por isso ainda hoje existe um grande investimento no ensino da música dentro das Forças Armadas Americanas. A actual U.S. Army School of Music define a sua missão da seguinte forma: “treinar os soldados e líderes da Banda do Exército para serem tecnicamente e tacticamente proficientes e para personificar o ethos guerreiro, os valores do Exército e os valores da Army Band de maneira a cumprir a importante missão das bandas do Exército. Adicionalmente, a escola de música do Exército desenvolve a doutrina e outros resultados para assegurar que as bandas continuem aplicáveis e preparadas para servir o Exército americano”32 (tradução minha).

31 Estas tocavam em cerimónias especiais, concertos, desfiles e para publicitar o recrutamento.

32 “The U.S. Army School of Music will train Army Band Soldiers and Leaders to be technically and tactically proficient and to personify the Warrior Ethos, Army Values, and Army Band Values in order to fulfill the important mission of Army bands. Additionally, the Army School of Music will develop doctrine and other products to ensure bands remain relevant and ready to serve America’s Army.” In Schoolofmusic.army.mil.