• Nenhum resultado encontrado

2 SOCIEDADES MUSICAIS E O CONTEXTO CULTURAL DE CURITIBA

2.2 O PARANISMO

Seguindo os passos da Semana de Arte Moderna16 - que discutia a necessidade de renovação das artes e preconizava a busca por uma arte genuinamente nacional - é que em 1927 se consolida no Paraná um movimento favorável à construção de uma identidade regional que ficou conhecido como Paranismo.

Pereira (1997) afirma que o Movimento Paranista contou com a adesão de intelectuais, artistas e literatos, sendo Romário Martins o grande idealizador desse grupo. Este movimento pretendia produzir uma ideia de sociedade que se arraigasse no imaginário da população.

Romário Martins buscava a reconstrução ou formulação do que era paranaense, segundo ideias positivistas de ordem e progresso, trabalho e justiça:

Paranista é todo aquele que tem pelo Paraná uma afeição sincera, e que notadamente a demonstra em qualquer manifestação de atividade digna, útil à coletividade paranaense. Esta é a acepção em que o neologismo, si é que é neologismo, é tido esse nobre movimento de ideias e iniciativas contidas no programa geral do Centro Paranista. [...] Paranista é aquele que em terras do Paraná lavrou um campo, cadeou uma floresta, lançou uma ponte, construiu uma máquina, dirigiu uma fábrica, compoz uma estrofe, pintou um quadro, esculpiu uma estátua, redigiu uma lei liberal, praticou a bondade, iluminou um cérebro, evitou uma injustiça, educou um sentimento, reformou um perverso, escreveu um livro, plantou uma árvore. (MARTINS apud PEREIRA, p. 87).

Para tal era preciso inventar as tradições com o objetivo de criar uma identidade paranaense que refletisse sua autonomia territorial.

Camargo (2007, p. 8) afirma ainda que o Paranismo configurou-se num processo persistente que procurou elaborar uma visão simbólica diferenciada da

16 A Semana de Arte Moderna estava inserida nas festividades em comemoração ao centenário da independência do Brasil em 1922, apresentando-se como a primeira manifestação coletiva pública na história cultural brasileira. O Movimento manifestava-se a favor de um espírito novo e moderno em oposição à cultura e à arte de teor conservador, predominantes no país desde o século XIX.

nova província em relação às outras regiões do Brasil e que definiu-se também por sua interpretação das formas modernas em arte.

Embora não esteja tão explicitamente presente no cotidiano dos paranaenses como, por exemplo é o “fenômeno” do movimento tradicionalista gaúcho no Rio Grande do Sul, não podemos relativizar o impacto que as representações simbólicas propagandeadas pelo Paranismo têm na identidade e no imaginário social do estado.

Em novembro de 1927, foi lançada a revista Ilustração Paranaense17, um mês após o lançamento do Manifesto Paranista. Ela continha quarenta e oito páginas e custava um mil e quinhentos réis, revista ufanista e porta-voz da ideologia do Paranismo. A Ilustração da capa é de autoria de João Turin.

A capa da primeira edição da revista é emblemática, notam-se, além do pinheiro e do pinhão (símbolos do Estado escolhidos pelo Paranismo), a representação humana junto aos pinheiros, que traduz a autoimagem formulada pelo movimento ao povo paranaense: forte, nobre, hospitaleiro, bondoso, cuja alvorada é promissora. Temos a seguir na Figura 1 a capa da primeira edição da Revista

Ilustração Paranaense.

Figura 1 - Capa da primeira edição da Revista Ilustração Paranaense.

Fonte: Disponível em <http://www.museuparanaense.pr.gov.br>.

17 Revista Ilustração Paranaense. Disponível em :<http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/ conteudo/conteudo.php?conteudo=44>. Acesso em : 20 jun. 2012.

Pereira (1997, p. 78-79) menciona que Romário Martins criou, em 1935, o Conselho Superior em Defesa do Patrimônio Cultural do Paraná para estimular toda a atividade intelectual e artística. Era composto por um representante da Universidade do Paraná, do ensino superior estadual, do ensino secundário particular, um jornalista, um pintor de reputação notória, um músico e três personalidades escolhidas pelo Estado, de alto e notório saber. Os primeiros membros do Conselho Superior em Defesa do Patrimônio Cultural do Paraná18 foram: Romário Martins, Francisco Ferreira Leite, Dr. Caio Machado, Dr. Cyro Laus (...), Dr. Manoel de Oliveira Franco, Benedito Nicolau dos Santos, Dr. Pedro Ribeiro de Macedo, Dr. Osvaldo Piloto, Dr. Júlio Estrella Moreira e Gaspar Duarte Veloso.

As ideias modernistas introduzidas no país por H. J Koellreuter no final da década de 1930, não foram muito aceitas no meio musical paranaense19. Assim como nas outras artes, demoraram a encontrar eco dentro do Paranismo. Prosser (2004, p. 105) ressalta que se percebia, ao contrário, uma reação contra as novas linguagens composicionais apresentadas.

Prosser (2004, p. 104-105) afirma que a atividade musical em Curitiba mantinha-se intensa, principalmente no segundo quartel do século XX. A música nas escolas era muito difundida. Com a consolidação cada vez maior das ideias cívico patrióticas no decorrer de toda a primeira República e depois, no período Vargas, a música, com seus hinos de exaltação à Pátria, ao Estado, a fatos históricos etc. era considerada indispensável:

Músicos como Benedito Nicolau dos Santos, Bento Mossurunga e Antônio Melillo compuseram um grande número de obras de inspiração ou sobre temas locais [...] do Movimento Modernista, adotaram uma certa ênfase à música rural e urbana, então chamada de música folclórica, mas a linguagem continuava a mesma: a do século anterior, isto é, consoante e de fácil compreensão.

18 Disponível em : < http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/ modules/ conteudo/ conteudo.php?conteudo=7>. Acesso em: 22 jun. 2012.

19 Nos anos 40, mesmo em São Paulo vigiam ainda as concepções nacionalistas. Mesmo com a chegada de Hans Joachim Koellreuter, em 1937, e a criação do Grupo Música Viva, em 1939, não haviam, ainda, abalado o pensamento nacional. Koellreuter, inicialmente, não havia entrado em choque abertamente com essas ideias, apesar de logo passar a ministrar cursos de composição baseados na técnica dodecafônica. Foi apenas com o Manifesto de 1946, uma declaração de princípios norteadores do Música Viva, que Koellreuter causou enorme polêmica nos meios musicais da época.

O Movimento Paranista encontra ecos até hoje nas calçadas de Curitiba, na Arquitetura, nas Artes Plásticas, onde os símbolos estilizados e idealizados por Martins e seus seguidores estão arraigados no imaginário popular.

Documentos relacionados