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O PARI – Plano de Ação para o risco do incumprimento

No documento O crédito bancário (páginas 41-44)

4. A gestão do risco e do incumprimento e prevenção do incumprimento

4.3. Gestão do Risco de Incumprimento

4.3.1. O PARI – Plano de Ação para o risco do incumprimento

As instituições de crédito estão obrigadas a elaborar e a implementar um Plano de Ação para o Risco de Incumprimento (PARI). Trata-se de um plano que tem como objetivo impor procedimentos que conduzam ao acompanhamento da execução dos contratos de crédito e criar uma obrigação de monitorização do risco de o cliente bancário vir a não cumprir.

Este plano é também coerente com as recomendações contidas na Resolução da Assembleia da República n.º129/2012. Os parâmetros chave para a referida Resolução são i) a identificação de situações de risco de incumprimento, ii) a implementação de procedimentos que assegurem um acompanhamento permanente e sistemático da execução dos contratos de crédito, e iii) definição de procedimentos para o contacto com clientes em risco de incumprimento. Associado a este último ponto, é também referida a obrigatoriedade de realizar uma reunião de análise do crédito à habitação, no entanto, não decorre expressamente do PARI essa imposição.

Neste sentido, o n.º 1 do art. 11.º do Regime Geral, determina a obrigação de as instituições de crédito elaborarem e implementarem um PARI. Cada instituição deverá ter o seu próprio PARI, que deve descrever os procedimentos a ter em linha de conta durante a execução dos contratos de crédito58, de modo a identificar situações em que exista risco de incumprimento.

O n.º 1 do art. 11.º do Regime Geral refere a obrigatoriedade de cada instituição de crédito ter de elaborar um PARI, e estabelece no n.º 2 do referido art. 11.º o que o PARI de cada instituição de crédito deve conter.

De acordo com já citado n.º 2 do art. 11.º do Regime Geral, o PARI deve: i) detalhar os procedimentos a adotar para o acompanhamento da execução

dos contratos (al. a));

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ii) enumerar os factos considerados como indícios de degradação da capacidade financeira do cliente bancário para o cumprimento das obrigações (al.b)) (cfr. infra, 4.3.2.);

iii) enunciar os procedimentos para a recolha, tratamento e análise da informação relativa a clientes bancários que estejam em risco de efetivo incumprimento (al. c));

iv) referir os procedimentos implementados para contactar os clientes em risco de incumprimento, os prazos para o primeiro contacto após a deteção do risco de incumprimento, que não podem exceder os 10 dias a contar da deteção do referido risco (al. d));

v) incluir as soluções que poderão ser propostas aos clientes bancários (al. e));

vi) determinar as estruturas responsáveis pelo desenvolvimento dos procedimentos e ações do PARI, com indicação das suas competências e descrição da articulação com outras estruturas ou entidades que se incluam no PARI (al. f)); e

vii) caso existam prestadores de serviços responsáveis por procedimentos e ações previstas no PARI, devem ser detalhados os serviços contratados e a forma de articulação com as outras estruturas da instituição de crédito59 (al. h)).

Ainda no contexto do n.º 2 art. 11.º, não é descurado o papel relevante que os trabalhadores das instituições de crédito têm em relação aos clientes bancários. Neste sentido, é imposto que no PARI estejam previstos planos de formação para os trabalhadores (al. g)) embora apenas se refira aos trabalhadores a quem sejam atribuídas tarefas no âmbito do PARI, entende-se que a exigência abranja os trabalhadores que entram em contacto com os clientes bancários, visto que serão aqueles que terão um papel mais direto na eventual negociação, e não apenas aqueles que intervenham no procedimento interno.

59 Estes prestadores de serviços, com o propósito de recolher, tratar e analisar a informação assim como avaliar o risco do incumprimento e a capacidade financeira do cliente bancário, devem dispor de meios técnicos e humanos para o efeito (n.º 3 do art. 6.ºdo Aviso n.º 17/2012).

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É também obrigatório que as instituições de crédito definam procedimentos a observar pelos seus trabalhadores60 quando estes tomem conhecimento de factos que indiciem a degradação da capacidade financeira do cliente bancário e quais os procedimentos que os trabalhadores do atendimento ao público devem adotar ( al. b) e c) do n.º1 do art.9.º do Regime Geral).

Os traços gerais supra elencados devem ser lidos em conjunto com o Aviso n.º 17/ 2012, de 4 de dezembro, também no sentido de que o n.º4 do art.11.º faz uma remissão expressa para o Aviso n.º 17/2012, referindo que a definição dos factos e procedimentos relevantes, nos termos do n.º2 do art.11.º, ficam a cargo do referido Aviso.

Num quadro geral, o conteúdo do PARI e procedimentos a ter em conta quanto a este, tem em conta três pontos: o contacto com os clientes bancários em risco de não cumprir (art. 4.º do Aviso n.º17/2012), o acompanhamento da execução dos contratos de crédito (art. 6.º do Aviso n.º17/2012) e a avaliação da capacidade financeira (art. 5.º do n.º 17/2012 - cfr. 4.3.1.).

Quanto ao contacto com os clientes, nos casos em que não é exigida a comunicação em suporte duradouro (supra 4.2.) admite-se o contacto de forma presencial ou através de qualquer outro meio de comunicação à distância61. Os contactos não podem ser desleais, excessivos ou desproporcionados, sendo dado um exemplo taxativo sobre quais os comportamentos considerados neste âmbito (n.º 3 do art. 5.º do Aviso n.º 17/2012).

Quanto ao acompanhamento da execução dos contratos de crédito, o art. 6.º do Aviso n.º 17/2012 não acrescenta um conteúdo de deveres e procedimentos substancial, comparativamente ao disposto no Regime Geral. De referir apenas dois pontos que o referido artigo vem a acrescentar: a garantia de que as informações recolhidas a propósito do cliente bancário têm um tratamento integrado por parte da instituição de crédito (al. e) n.º1), facto que fará todo o sentido promovendo a eficiência e o tratamento do processo

60 O PARI deve especificar também os planos de formação a quem incumbe desempenhar tarefas no âmbito deste Plano (al. g) n.º2) do art.11.º do Regime Geral).

61 Como meio de comunicação à distância, partindo da definição legal da al. b) do art. 2.º do Decreto-Lei n.º143/2001, de 26 de abril, que regula os contratos celebrados fora do estabelecimento, poder-se-á entender qualquer meio que, sem a presença física e simultânea do fornecedor e do consumidor, possa ser utilizado tendo em vista a celebração do contrato entre as partes.

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em causa, e a elaboração de um documento informativo que descreva os critérios em que se baseou a avaliação da respetiva capacidade financeira e o resultado da avaliação, após o cliente ter alertado para o risco de não cumprir ou existam indícios de degradação da sua capacidade financeira.

4.3.2. O dever de acompanhamento da execução do contrato de crédito – a

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