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O partido importa na escolha do eleitor?

No documento Representantes de quem? (páginas 53-58)

Em todas as democracias um conjunto de eleitores tem preferência por algum dos partidos. Esse vínculo pode se traduzir em graus diferentes de envolvimento com o partido. Alguns indivíduos são militantes e participam diretamente das atividades partidárias, enquanto outros têm uma simpatia pela legenda que no máximo se traduz em votar nela.

Os institutos de pesquisa brasileiros tradicionalmente perguntam aos eleitores se eles têm preferência por algum partido. Desde o começo dos anos 1990 até 2014, o quadro apresentado por essas pesquisas é mais ou menos o mesmo: cerca de 40% de eleitores citam algum partido de sua predileção. 5 Destes, em torno da metade prefere o PT, enquanto a outra metade é dispersa pelas demais legendas. Raras são as que conseguem ultrapassar 1% das menções.

Para conhecer a preferência dos eleitores pelos partidos, o Eseb-2014 fez a seguinte pergunta: “Existe algum partido político de que o(a) senhor(a) goste mais que os outros?” Para quem respondia positivamente, pedia-se que citasse o nome do partido. Um número expressivo de eleitores (68%) disse que não tinha predileção por qualquer dos partidos. Entre as legendas citadas, apenas três ultrapassaram 1% das menções: PT (18%), PSDB (7%) e PMDB (3%); as outras legendas somadas obtiveram apenas 4% das citações.

Já sabemos que, em 2014, aproximadamente 1⁄3 dos eleitores declarou gostar de determinado partido. O próximo passo é avaliar se esses eleitores votaram em candidatos (ou na legenda) do mesmo partido. Os Gráficos 6 e 7 mostram como os eleitores que disseram preferir os dois principais partidos (PT e PSDB) fizeram suas escolhas. Entre os que preferiam o PT (Gráfico 6 ), apenas 13% votaram na legenda ou em candidatos petistas; entre os simpatizantes do PSDB (Gráfico 7 ), somente 12% votaram na legenda ou em nomes do partido. Vale a pena destacar que o número de simpatizantes dos dois partidos que declararam ter votado em candidatos de outras legendas é muito maior: 35% dos simpatizantes do PSDB e 33% dos que gostam do PT votaram em nomes ou na legenda de outros partidos.

GRÁFICO 6. Como os eleitores que declararam gostar do PT

As linhas verticais na parte superior de cada barra mostram a margem de erro de cada estimativa.

Fonte: Eseb-2014.

Se, com base nos dados de 2014, dividirmos o número de eleitores que votam partidariamente para deputado federal pelo total de eleitores – ou seja, se calcularmos os eleitores que têm preferência por um partido e de fato votaram nele para eleger seu deputado federal –, chegaremos a 4%. Um número risível.

Os números da pesquisa Eseb-2014 mostram que, nas eleições para deputado federal em 2014, um número ínfimo de eleitores que preferem um partido votou nos candidatos desse partido (ou na legenda). Portanto, se os partidos contam na escolha apenas para um número reduzido de eleitores, que outros aspectos devem ser considerados na decisão do voto para deputado federal?

GRÁFICO 7. Como os eleitores que declararam gostar do PSDB

As linhas verticais na parte superior de cada barra mostram a margem de erro de cada estimativa.

Fonte: Eseb-2014.

Infelizmente, não temos pesquisas sobre os fatores privilegiados pelos votantes no momento de escolher seus candidatos para o Legislativo. Mas a enorme autonomia que os postulantes aos cargos de deputado federal, deputado estadual e vereador têm para fazer suas campanhas confere às eleições brasileiras a possibilidade de convivência de diversos tipos de apelo eleitoral. Basta assistir ao horário eleitoral gratuito para ver como é variado o público a quem os candidatos endereçam seu discurso. Tradicionalmente os ouvimos mobilizar a ideia de representação territorial. O propósito é se eleger por determinado município ou área do estado, tornar-se defensor dos interesses dessa área na Câmara dos Deputados “e fazer coisas pelo seu município/região”. A esses se somam os candidatos de opinião, os representantes de segmentos específicos (religião, esporte, sindicatos e categorias profissionais) e celebridades. 6

É um desafio fazer o inventário dos principais motivos que levariam os eleitores a escolher determinados candidatos nas eleições para a Câmara dos

Deputados. Minha sugestão é de que, além do voto partidário, haveria outras seis motivações: A primeira é decorrente de determinados atributos pessoais do candidato (carisma, competência, liderança), revelados na carreira política ou em um campo específico de atuação. Aqui incluo as celebridades do mundo artístico e esportivo, os comunicadores de rádio e TV. O eleitor vota em um nome justamente por ele portar alguma dessas características especiais. A segunda motivação está associada ao território : “Eu voto no candidato X porque ele vai representar minha cidade, minha região no Legislativo.” O sentimento nativista é forte nas cidades do interior, onde a ideia de eleger alguém que se conheça e de preferência que more na região é muito valorizada pelos cidadãos. A terceira seria fruto de um voto de identidade : o eleitor escolhe um candidato que pertence ao mesmo segmento que o seu. Vota no pastor porque ele é da mesma igreja, no líder do seu sindicato por pertencer à mesma categoria profissional, na liderança comunitária do bairro em que mora. A quarta é a proximidade ideológica do candidato, particularmente por ele partilhar o mesmo campo político (esquerda ou direita) do eleitor. O voto ideológico é uma espécie de voto de identidade, mas restrito aos grandes temas da economia e da política. A quinta é a defesa de interesses de grupos específicos . O eleitor escolhe um candidato porque ele é defensor dos direitos dos animais ou faz um trabalho junto a crianças portadoras da síndrome de Down, por exemplo. Por fim, haveria a motivação clientelística . O eleitor vota no candidato que prestou (ou prestará) algum benefício a ele, à sua família ou ao grupo ao qual ele pertence. As sete motivações – as seis enumeradas, mais o voto partidário – são modelos que expressam alguns aspectos importantes para eleitores e representantes nas eleições brasileiras. Na prática, elas não são excludentes; vota-se em um candidato da cidade que também é competente; no líder sindical que pertence ao mesmo campo político; no pastor que é da mesma igreja e do mesmo partido. O

fundamental é compreender que diversos modelos de representação convivem na política em nosso país.

Um dos aspectos que chamaram atenção de muitos telespectadores durante a sessão que autorizou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma na Câmara dos Deputados foi o fato de inúmeros parlamentares mencionarem municípios, regiões e segmentos específicos. Para os eleitores que escolhem seus representantes pelo vínculo territorial ou por eles pertencerem à sua igreja, não é tão estranho ouvir frases como: “Pela minha cidade, Criciúma, pela maioria do povo do meu estado e por uma esperança para o Brasil, voto sim” ou “Sr. presidente, por minha família, pela família quadrangular e evangélica em todo o Brasil, pelo Pará, eu voto sim”. u Os deputados não só se veem como representantes de territórios e categorias em Brasília, como sabem que esses aspectos são importantes para os seus eleitores.

No documento Representantes de quem? (páginas 53-58)

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