• Nenhum resultado encontrado

O parto domiciliar assistido por parteiras tradicionais

No documento Atenção ao pré-natal de baixo risco (páginas 152-156)

PARTE 1. O PRÉ-NATAL

5.19 O parto domiciliar assistido por parteiras tradicionais

No Brasil, o parto domiciliar assistido por parteiras tradicionais está presente principalmente nas Regiões Norte e Nordeste, sobretudo nas áreas rurais, ribeirinhas, de floresta, em meio às populações quilombolas e indígenas. Entretanto, por não estar incluído no SUS e ainda não ser reconhecido como uma ação de saúde que se desenvolve na comunidade, o parto domiciliar assistido ocorre, em geral, de forma precária e em situação de exclusão e isolamento, sem o respaldo e o apoio da Rede de Atenção Integral à Saúde da Mulher e da Criança.

A diversidade socioeconômica, cultural e geográfica do País exige a adoção de diferentes modelos de atenção integral à saúde da mulher e da criança e a implementação de políticas públicas que atendam às especificidades de cada realidade, procurando-se considerar o princípio da equidade e resgatar a dívida histórica existente em relação às mulheres e às crianças assistidas por parteiras tradicionais.

É fundamental a inclusão do parto e do nascimento domiciliares assistidos por parteiras tradicionais no SUS, entre as estratégias para a atenção integral à saúde da mulher e da criança e para a redução da morbimortalidade materna e neonatal.

152

Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica

No Brasil, a questão da melhoria da assistência ao parto domiciliar por parteiras tradicionais vem sendo amplamente discutida desde a década de 1970. Em várias regiões do País foram desenvolvidas atividades com parteiras tradicionais, com vistas à melhoria da qualidade dessa assistência, seja por parte do setor público ou de organizações da sociedade civil.

O Ministério da Saúde, a partir de 2000, vem adotando várias iniciativas para melhorar a atenção à gestação, ao parto, ao nascimento e ao puerpério. Entre elas encontrava-se o Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais, que recolocou a melhoria do parto e do nascimento domiciliares assistidos por parteiras tradicionais na pauta de discussão com gestores estaduais e municipais, como uma responsabilidade do SUS e uma atribuição da Atenção Básica.

O programa objetiva resgatar e valorizar os saberes tradicionais, articulando-os aos científicos, considerando a riqueza cultural e da biodiversidade como elementos importantes para a produção de novos conhecimentos e tecnologias.

A parteira tradicional adquire suas aptidões realizando partos por conta própria ou após aprender o ofício com outras parteiras, em geral suas mães, avós, sogras e comadres. Geralmente, inicia-se na arte de partejar ainda jovem. A formação ocorre na prática, movida pelo desejo de servir, pelo sentimento de solidariedade e pela necessidade imposta num contexto de isolamento, de exclusão e falta de acesso aos serviços públicos. O saber tradicional que as parteiras detêm, relacionado com o processo de cuidar e curar, foi transmitido de geração para geração. Por muitos milênios, o trabalho das parteiras foi a única forma de assistência obstétrica. Seu conhecimento, portanto, é ancestral, empírico e intuitivo.

Os municípios onde o parto e o nascimento domiciliares assistidos por parteiras tradicionais são uma realidade precisam assumir o compromisso de definir formas de apoio e articulação, bem como definir investimentos financeiros que promovam as condições essenciais para a superação do atual panorama de isolamento, exclusão, desigualdades e injustiças que envolvem mulheres e bebês assistidos por parteiras.

Entre as estratégias para a inclusão do parto e do nascimento domiciliares assistidos por parteiras tradicionais no SUS, é fundamental a articulação do trabalho da parteira tradicional com as equipes de atenção básica e, nas comunidades indígenas, com a equipe multidisciplinar de saúde indígena.

5.19.1 A parteira tradicional

O Ministério da Saúde define como parteira tradicional aquela que presta assistência ao parto domiciliar baseada em saberes e práticas tradicionais e é reconhecida pela comunidade com parteira. Em muitos lugares, a parteira é conhecida como “parteira leiga”, “aparadeira”, “mãe de umbigo”, “curiosa”, entre outras denominações. Porém, o Ministério da Saúde adota a denomi- nação de “parteira tradicional” por considerar que este termo valoriza os saberes e as práticas tradicionais e caracteriza a sua formação e o conhecimento que ela detém. As parteiras indígenas e quilombolas estão incluídas entre as parteiras tradicionais, respeitando-se as suas especificida- des étnicas e culturais.

153

ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO

A ocupação de parteira consta da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), edição 2002, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sob o código 5151-15, na família ocupacional agentes comunitários de saúde e afins.

É importante enfatizar que o parto e o nascimento domiciliares assistidos por parteiras tradicionais inserem-se no contexto das ações básicas de saúde.

Entre as atividades das equipes de atenção básica para o apoio e a articulação do parto domiciliar assistido por parteiras tradicionais encontram-se os seguintes procedimentos:

• Identificar as parteiras tradicionais e realizar o seu cadastramento, alimentando e mantendo atualizado o sistema de informação da atenção básica do município;

• Realizar diagnóstico (a partir das informações coletadas na ficha de cadastro) da assistência ao parto domiciliar em seu território, incluindo um levantamento das dificuldades enfrentadas pelas parteiras no desenvolvimento de seu trabalho, para aprimorar a gestão municipal no desenvolvimento de ações que possam fortalecer e integrar os serviços de saúde, consolidando a Rede de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança;

• Estimular a vinculação solidária entre os agentes comunitários de saúde, as equipes de atenção básica e as parteiras tradicionais, de modo a garantir o acompanhamento do trabalho das parteiras tradicionais e manter informações atualizadas sobre eventos vitais (nascimentos e óbitos);

• Desenvolver estratégias para a avaliação e o acompanhamento sistemáticos da atenção ao parto e ao nascimento domiciliares;

• Garantir o acompanhamento ao pré-natal e ao puerpério e a atenção integral às mulheres e aos recém-nascidos assistidos por parteiras tradicionais (exames de rotina, preenchimento do Cartão da Gestante e da Caderneta da Criança, vacinação, teste do pezinho, planejamento familiar/reprodutivo, entre outras ações);

• Orientar as parteiras sobre a esterilização e os cuidados com o instrumental utilizado na atenção ao parto e, sempre que possível, realizar a esterilização do referido instrumental na unidade de saúde;

• Fornecer, sempre que necessário, a reposição dos materiais descartáveis do kit da parteira tradicional para a atenção segura ao parto, tais como: luvas, gorros, gazes esterilizadas, entre outros materiais.

INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E

OBSTÉTRICAS MAIS FREQUENTES

No documento Atenção ao pré-natal de baixo risco (páginas 152-156)