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2 O PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO: ENTRE A PRESERVAÇÃO E A RENOVAÇÃO

O PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO: ENTRE A PRESERVAÇÃO E A RENOVAÇÃO

2 O PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO: ENTRE A PRESERVAÇÃO E A RENOVAÇÃO

Conforme observamos no capítulo anterior, questões de preservação, renovação e, conseqüentemente, as ações relacionadas a essas questões, tais como o reconhecimento dos bens patrimoniais, conservação, restauração ou valorização desses bens, os princípios de intervenção, construção ou reconstrução do território são sempre atualizados e, portanto, discutidos e materializados na constituição da cidade.

Os limites entre a preservação e a renovação em consideração as ações realizadas no território e nas edificações notáveis são teorizados e definidos observando a cidade tanto na sua condição de depositária de um passado a ser conservado quanto na valorização não só do monumento, mas do contexto ambiental e social em que está inserido. Por ouro lado, as ideias, influenciadas pelos princípios higienistas e funcionalistas, pregaram a necessidade de modificação das estruturas urbanas para melhor desempenho dos espaços e da cidade. A figura do fragmento utilizado por Secchi (2006, p. 118) para descrever a cidade do século XX observa que a construção e a modificação das estruturas urbanas e do território são realizadas de intervenções fragmentárias, subtrações e acréscimos.

Questionamos, então como se constituiu no Recife, no contexto institucional as ações de preservação e renovação do território? Pretendemos analisar esses aspectos a partir das legislações urbanas e respectivos parâmetros urbanísticos propostos, nas quais investigamos a evolução desses parâmetros enquanto uma das condições para renovação do território. Por outro lado, verificamos os principais conceitos e princípios estabelecidos nas normativas voltadas para preservação dos bens patrimoniais. Nesse sentido, destacamos que o enfoque, institucional estudado é aquele revelado pela ação do poder municipal.

A política de preservação do patrimônio edificado, segundo a ação municipal, concretizou-se com a criação da Lei nº. 13.9576, em 1979, a decretação das zonas especiais de preservação nos anos de 1980 e 1981 e a inclusão deste zoneamento na Lei de Uso e Ocupação do Solo em

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De acordo com a ementa a lei “Institui normas gerais de proteção a sítios, conjuntos antigos, ruínas e edifícios isolados, cujas expressões arquitetônicas ou históricas tenham real significado para o patrimônio cultural da Cidade do Recife; disciplina a preservação desses bens; autoriza o Prefeito a declarar zonas especiais de interesse dessa preservação e, dá outras providências.”

1983 (Lei nº 14.511/83)7 e na revisão desta lei em 1996 (Lei nº 16.176/96)8. Finalmente, a Lei 16.176/96, no seu artigo 99, define e autoriza o poder executivo de pré-selecionar e instituir uma nova categoria de preservação de edifícios isolados classificados como Imóveis Especiais de Preservação (IEP).

Conforme discutido na introdução desta dissertação, os IEPs, a exemplo do que ocorre em outras cidades brasileiras, são configurados como elementos estruturados sob o enfoque da preservação e da renovação. Ao observar os resultados da aplicação deste instrumento normativo verifica-se que os preceitos da renovação das estruturas edilícias são aplicados de uma forma que compromete a integridade do bem. A ideia da preservação, neste contexto, aparece como uma dimensão secundária. Questionamos, portanto, como ocorreu a evolução da questão preservacionista na legislação urbana do Recife e quais os antecedentes dessa normativa?

A análise das legislações urbanas e de preservação no Recife parte do pressuposto de que, no momento em que se despertava o desejo de instituir um novo instrumento de preservação no Recife, representados pelo IEP, os parâmetros urbanísticos consubstanciados na legislação urbana que se encontrava em processo de revisão e a ação dos agentes econômicos responsáveis pela produção do espaço, apontavam para um acelerado processo de renovação do estoque imobiliário. Esse processo torna-se mais grave na medida em que grande parte do acervo arquitetônico que despertava o interesse de proteção localizava-se nas áreas mais atraentes para os investimentos imobiliários. Decorrente disto, os terrenos de grandes dimensões e seus antigos casarões tornam-se alvo preferencial para implantação de empreendimentos imobiliários.

A relação entre a preservação e a renovação no contexto das normas urbanísticas, revelam por um lado, uma intenção protecionista de um patrimônio em risco de desaparecimento, por outro, uma pressão de determinados agentes atuantes na produção do espaço no sentido de manter certas garantias estabelecidas pelas legislações urbanas e traduzidas nos índices urbanísticos.

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Define diretrizes para o uso e ocupação do solo e dá outras providencias.

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Do ponto de vista institucional e da delimitação de uma base legal, identificamos dois períodos que marcam a ação do município na definição de uma política voltada para o patrimônio construído. A instituição do Decreto-Lei nº25, em 1937, delimita o primeiro período, caracterizado pela atuação do órgão federal de proteção do patrimônio na definição do acervo a ser preservado e no estabelecimento de diretrizes de intervenção no entorno dos monumentos tombados. Tal atuação marca, também, uma aproximação com as instâncias municipais de planejamento físico territorial para cumprimento dos princípios estabelecidos pelo órgão federal. O segundo período reporta-se a citada Lei nº 13.957/79, quando o município de forma efetiva institui uma legislação de preservação e cria um organismo municipal de gestão do patrimônio construído. Essas questões serão discutidas no presente capítulo focando principalmente uma análise de normativas municipais ao longo das três últimas décadas do século XX configuradas nas legislações urbanas vigentes no período que vai de 1979 a 1996. (Figura 9) PRESERVAÇÃO | RENOVAÇÃO TEORIAS Restauração | Intervenção CARTAS PATRIMONIAIS Recomendações | Diretrizes | Princípios

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Noção de monumento | Entorno do monumento | Conjunto arquitetônico Relação novo antigo | Harmonia