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O Pensamento Sistêmico contribuindo para a perspectiva socioambiental na

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CAPÍTULO 2 A DIMENSÃO TRANSDISCIPLINAR DA ATITUDE NA

2.2 O Pensamento Sistêmico contribuindo para a perspectiva socioambiental na

O pensamento sistêmico também pode nos ajudar a entender a necessidade de abordagens que superem a fragmentação cartesiana da Educação Ambiental na Educação Infantil, pois também traz uma concepção de sociedade, sujeito e conhecimento, principalmente no que diz respeito à Natureza e suas redes de conexões. Para a sociedade atual, a ideia de pensamento Sistêmico diz respeito a uma forma de conceber e atuar no mundo, considerando as interdependências existentes entre diversos elementos e uma certa incapacidade da ciência analítica lidar com as diversas formas de complexidade.

O físico austríaco Fritjof Capra é um importante teórico do pensamento sistêmico da atualidade, que escreveu vários livros nos quais aborda as questões ecológicas e defende o pensamento sistêmico. Capra, em muitos momentos, fala da importância de observar as questões ecológicas a partir da consideração do que dispõe a teoria dos sistemas. Como não se pode entender o todo, sem que ao menos se entenda as conexões entre as partes, Capra (2005) afirma que precisamos entender os problemas do mundo, observando por este mesmo prisma. Os assuntos ligados à energia, aquecimento global, segurança, finanças, economia, não são assuntos isolados, são todos elementos interconectados.

No livro, O Ponto de Mutação, escrito por Capra (2005) encontramos suas preocupações com o desenvolvimento da ciência e as implicações para a sustentabilidade da vida enquanto um todo interligado. Este livro constitui-se em uma significativa contribuição para a divulgação e defesa do pensamento sistêmico. É importante destacar, diante do exposto, que o pensamento sistêmico abarca um conjunto de teorias, dentre as quais

destacamos a teoria Geral dos sistemas de tendência organicista, associada aos sistemas naturais biológicos e sociais, de Bertalanffy, que associa essas partes, e a Cibernética de tendência mecanicista, de Wiener, associada aos sistemas artificiais. Ambas surgiram com a pretensão de se estabelecer como teorias que transcendessem as fronteiras disciplinares.

A palavra cibernética é originária do grego e significa piloto, condutor, e, segundo relata Vasconcellos (2002), o arcabouço conceitual da cibernética foi desenvolvido em várias conferências, realizadas na década de 1940, nos Estados Unidos, nas quais o matemático e filósofo Norbert Wiener (1894-1964) era figura dominante. A partir de 1947, a palavra cibernética passou a ser conhecida por suas inúmeras e variadas realizações tecnológicas. Bertalanffy enfatizou bastante os limites da cibernética para a abordagem dos sistemas vivos, dizendo que a concepção da célula e do organismo como máquina negligenciava os importantes princípios oferecidos pela teoria dos sistemas abertos (VASCONCELLOS, 2002).

O primeiro critério de modificação do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico é a mudança das partes para o todo, não no sentido holístico, mas no sentido de enxergar para além das partes. Ou seja, o todo é menos do que a soma das partes. Trata-se da capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para outro entre níveis sistêmicos. Nessa mudança, a relação entre as partes e o todo é invertida, pois elas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo.

Na ciência sistêmica, o universo material é visto como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados, em que todas as partes são importantes e se resultam das propriedades de outras partes. Nesse sentido, isolar uma das partes de uma rede complexa, fazendo uma fronteira ao seu redor para chamá-la de “objeto”, para a ciência sistêmica é um tratamento arbitrário. Assim, não é possível chamar de “árvore” uma só parte isolada dela, como o caule, considerando, ainda, que até suas raízes estão relacionadas com as de outras árvores numa floresta, de modo que se torna difícil saber de qual árvore são as raízes pertencentes. Então, o que chamamos de árvore, vai depender da nossa percepção.

Segundo Capra (1996), o pensamento sistêmico é, de fato, uma mudança de uma ciência “objetiva” para uma ciência “epistêmica”, em que a natureza é vista como uma teia interconexa de relações. O autor chama a atenção para a importância de buscarmos uma compreensão da realidade a partir de uma concepção de ciências que ultrapasse as pequenas especificidades, sob pena da sua não compreensão, já que cada parte específica está em conexão com um todo mais amplo.

No pensamento sistêmico, os cientistas, portanto, não podem lidar com uma verdade absoluta, e sim com realidades aproximadas, o que pode ser de certa forma frustrante. Mas, para os pensadores sistêmicos, a obtenção do conhecimento aproximado acerca de uma teia infinita de padrões inter-relacionados, eleva a ciência a caminho do avanço. Desta forma, assim como o pensamento cartesiano influenciou fortemente o processo educacional, sobretudo o escolarizado, certamente a eminência do pensamento sistêmico vem trazer contribuições em outra direção. Considerar que os conteúdos trabalhados não são estanques, e que devem ser considerados dentro de um contexto maior, é do nosso entendimento uma importante contribuição do pensamento sistêmico. Uma das preocupações da educação, segundo esta concepção de ciência, seria a preocupação com a multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Considerar estes enfoques significa trabalhar a disciplina sem perder de vista as interações e conexões estabelecidas na realidade.

Na perspectiva do pensamento sistêmico, os processos educacionais na educação Infantil, precisam superar a visão fragmentada do mundo e considerar o contexto mais amplo de abrangência das questões abordadas. Naturalmente, embora tal pensamento tenha surgido em contraposição ao pensamento cartesiano, não são diretamente opostos. Assim, precisamos compreender o todo sem deixar de considerar as partes, e estudar as partes sem perder de vista que as mesmas fazem parte do todo. Compreender a importância do pensamento sistêmico na educação ambiental no âmbito da Educação Infantil é um passo significativo para compreender o pensamento complexo e as contribuições da transdisciplinaridade.

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