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3 O CONTEXTO HISTÓRICO NO QUAL VIVEU MONTEIRO

3.2 O período de 1930 a 1945

3.2.1 - A REVOLUÇÃO DE 1930

Para Fausto (1985b), a Revolução de 1930 pôs fim à hegemonia do poder oligárquico cafeeiro e criou, gradualmente, uma nova configuração política no país, na qual se destacou a burguesia industrial, cujos representantes eram, em sua maioria, latifundiários. Durante o governo Vargas, também cresceu a atuação das Forças Armadas, em especial a do Exército, que forneceu ministros para auxiliar no comando da nação.

Durante seu mandato, Vargas enfrentou intensa instabilidade política devido à grande variedade de forças que gravitavam em torno do poder. No âmbito interno, os interesses dos tenentes em centralizar o poder e promover reformas no país chocavam-se com os interesses conservadores das oligarquias agrárias. A classe operária, representada por uma agremiação partidária, o BOC (Bloco Operário e Camponês), também queria ver suas reivindicações atendidas, preocupando a burguesia industrial.

No âmbito externo, o governo enfrentou movimentos de oposição, como a Revolta Constitucionalista de 1932, cujos líderes eram membros da oligarquia paulista, que perdeu seu poder hegemônico para a Aliança Liberal. O governo também se defrontou com movimentos radicais de ideologias diferenciadas, como a ANL (Aliança Nacional Libertadora) liderada por Luís Carlos Prestes – tenente rebelde de orientação comunista que chefiou a Intentona Comunista, em 1935 – e o integralismo, de caráter fascista, liderado por Plínio Salgado.

Pinheiro (1985) informa que essa instabilidade política existia porque nenhuma das classes sociais conseguia impor hegemonicamente seu poder sobre as outras, como fez a oligarquia cafeeira na Primeira República. Em virtude disso, Vargas governou o país atendendo a uma série de reivindicações para contemplar os interesses contraditórios dos grupos que estavam no poder. Político habilidoso, ele favoreceu as classes trabalhadora e burguesa, sem chocar-se com o Exército e com a elite cafeeira – a qual não perdeu totalmente seus privilégios anteriores. Essa estratégia foi a base do seu populismo, que vigorou durante toda a era Vargas.

Segundo Weffort (1989), essa política populista passou a considerar as classes trabalhadoras como parceiras fundamentais para o funcionamento do regime. Por isso, Vargas atendeu às reivindicações da classe operária que já vinha se articulando para conquistar seus direitos, instituindo medidas de proteção ao trabalhador. Simultaneamente, ele enfraqueceu o movimento operário coibindo as greves no país – recorrentes desde a década de 1910 –, perseguiu membros do Partido Comunista e atrelou os sindicatos ao Estado. Com essas medidas, Vargas forneceu à burguesia industrial uma classe proletária domesticada, cuja mão-de-obra era viável economicamente. De Decca (1992) informa que, diante da necessidade de institucionalizar a questão social, o tema da democracia aparece nas propostas políticas da década de 1930.

Em seu governo, Vargas diminuiu a autonomia dos estados visando enfraquecer o poder oligárquico cafeeiro, mas manteve a política de defesa do café, porém, comandada pelo governo federal, por meio do CNC (Conselho Nacional do Café). Ele também interveio na economia promovendo um salto na industrialização brasileira por meio da diversificação do parque industrial e do desenvolvimento de uma indústria de base. De acordo com De Decca (1992), a burguesia industrial não foi a única classe social a assumir em seu discurso o tema da industrialização no país.

Para esse autor, desde 1928, a industrialização era condição fundamental para que o Brasil não se sujeitasse a dois grandes perigos do século XX, que poderiam destruir a identidade nacional: a luta de classes e o colonialismo. Logo, a necessidade de industrializar o país, entendida como fator de conservação nacional e de progresso, estava presente no discurso de diferentes grupos políticos e não apenas no discurso da burguesia industrial.

Vargas governou o país até meados de 1934, quando foi promulgada uma nova constituição estabelecendo o fim de seu mandato para 1938, data em que haveria eleições diretas para escolher um novo presidente. Porém, apoiado pela alta cúpula do Exército que almejava uma ditadura para combater o comunismo, promover a ordem, o desenvolvimento econômico e o bem-estar da população, Vargas, utilizando como bode

expiatório uma provável insurreição comunista15 no país, promoveu o golpe de 1937.

3.2.2 - O ESTADO NOVO (1937-1945)

Na década de 1930, diante da conjuntura internacional da fase entreguerras, o autoritarismo ganhou força no Brasil, com forte inclinação ideológica fascista, preconizando um Estado forte, a repressão e a violência, o nacionalismo, o racismo e a propaganda ideológica. Em 1937, seguindo essa tendência, iniciou-se no Brasil um período de ditadura: o Estado Novo, que recebeu essa denominação porque a intenção das elites era a de construir um novo país.

Segundo Diniz (1986, p. 84), o Estado Novo foi uma alternativa “para resguardar as posições econômicas dos grupos tradicionais, favorecendo, ao mesmo tempo, a marcha dos setores emergentes, particularmente a burguesia industrial”. Como ditador, Vargas outorgou em 1937, uma nova constituição de inspiração fascista para o país - conhecida como A Polaca. Com essa constituição, o governo federal intensificou seu poder, aboliu partidos políticos, impôs severa censura aos meios de comunicação, perseguiu seus opositores, incluindo os suspeitos de serem comunistas.

No campo econômico, Vargas reforçou ainda mais o papel do Estado como investidor, a fim de criar uma estrutura para a expansão capitalista, com uma política nacionalista de industrialização e de autonomia energética, visando a produção de ferro, aço e petróleo. Essa visão também era compartilhada pela burguesia industrial que, sem recursos para investimentos dessa proporção, aceitava a interferência estatal.

Como fruto dessa política industrial, Vargas implantou a Usina Siderúrgica de Volta Redonda em 1941, no Rio de Janeiro, obtendo dos Estados Unidos os recursos financeiros necessários para essa implantação. Dessa negociação, resultou o alinhamento comercial definitivo do Brasil com os Estados Unidos em 1942, embora o governo brasileiro tivesse nítida

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O plano Cohen, um documento forjado pelos integralistas que alardeava o início de uma insurreição comunista no país, foi o pretexto para promover o golpe ditatorial por Vargas.

inclinação ideológica fascista. A partir de então, nosso país passa a apoiar os países aliados na Segunda Guerra em troca dos recursos e da tecnologia necessários para construir uma siderurgia no país. Já a questão do petróleo foi resolvida somente em 1953, quando ficou definido o monopólio estatal absoluto de produção e refino do petróleo, pela Petrobras, não permitindo que empresas privadas explorassem esse recurso, como era o desejo de Monteiro Lobato.

No tocante à legislação trabalhista, Vargas continuou a enfraquecer o movimento operário, concedendo benefícios inspirados na “Carta del Lavoro” de caráter fascista e utilizando, por meio do rádio, uma propaganda ideológica forte, a fim de criar uma imagem de “pai dos pobres”.

Moraes (1988) argumenta que no Estado Novo se reforçou a consciência de brasilidade por meio de uma política cultural oficial fortemente nacionalista. Para conduzir essa política, Vargas admitiu em seu governo alguns intelectuais para criar programas de ensino, legislações e propagandas ideológicas de acordo com a retórica do autoritarismo. Ainda Moraes (1988) esclarece que a nacionalidade brasileira é construída, nessa fase, sobre a noção de território e não de população ou unidade cultural.

O Estado Novo vigorou por apenas oito anos quando se desestruturou em virtude da atitude contraditória de um governo de inclinação fascista apoiar os aliados para combater o nazismo e o fascismo na Segunda Guerra Mundial. Diante disso, em 1943, a elite mineira passou a reivindicar a democratização do país, tendo o apoio de figuras do governo e do Exército que também queriam essa abertura. Dessa forma, em 1945, ano da derrota do nazismo na Europa, o país entra em uma nova fase: a da redemocratização, que deu continuidade à mesma configuração do poder que vigorou no regime ditatorial.

3.3 – A VISÃO DA INFÂNCIA E A EDUCAÇÃO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS