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4 DIMENSIONANDO A VANTAGEM COMPETITIVA

4.2 A DIMENSÃO ESTRUTURAL

4.2.3 O Perfil das Usinas Trapiche e Laranjeiras

Em visitas técnicas a duas unidades industriais sucro-alcooleiras do Estado de Pernambuco – Usina Trapiche e Usina Laranjeiras – identificou-se que o padrão de automação adotado em ambas era do tipo modular. Elas apresentaram diferenças de estágio, quanto ao grau de automação e ao nível de integração, bem como de porte estrutural. A primeira, de maior porte, registrava nível de integração mais amplo do que a segunda. Todavia, tanto os responsáveis pela administração de Trapiche, quanto os de Laranjeiras ressaltaram que as dificuldades de prosseguir no processo de automação plena decorreram do alto custo de incorporação de tecnologia. Mesmo assim, as duas empresas buscaram a “automação” possível, do que resultaram os ganhos refletidos nos indicadores de produtividade e no melhor aproveitamento do tempo de operação (conforme será detalhado no Capítulo 5).

4.2.3.1 A Usina Trapiche

A Usina Trapiche, localizada na Zona da Mata Sul de Pernambuco, integra o Grupo das grandes usinas do Estado e é uma unidade industrial, que opera com razoável grau de estabilidade. O crescimento total da moagem, nas últimas seis safras, não ultrapassou 10%. Essa estabilidade permitiu que a empresa investisse mais em tecnologia de processo e de produto, a partir da adoção de uma estratégia baseada na diferenciação, no que se refere a mercados novos, sem se descuidar, porém, da gestão de custos.

Um fato importante a destacar é que a Trapiche se vem diferenciando, porque produz majoritariamente açúcar refinado. Limita-se a produzir açúcar demerara, para atender à quota americana6. Essa estratégia possibilitou a conquista de novos mercados, com maior capacidade de remuneração do produto e sem concorrência mais direta, por parte de outras empresas estaduais. A Usina dispõe de uma destilaria anexa.

No que se refere à tecnologia, destaque-se a implantação de sistemas automatizados, que integraram alguns módulos do processo de produção. Os efeitos ocorreram de imediato, com redução de perdas, ao longo do processo, devido ao melhor aproveitamento de matérias-primas e insumos básicos, usados na transformação industrial. A automação da caldeira permitiu um controle maior do gasto de energia, bem como melhor uso do vapor, no processo industrial.

As manutenções preventivas limitam as interrupções da produção, quase exclusivamente, às ocasiões em que há falta de matéria-prima. No mais das vezes, essas paradas coincidem com a ocorrência de chuvas.

Melhorias no ensacamento foram implementadas, facultando a conquista de novos clientes, fora do mercado cativo. Esses novos clientes são formados por grandes empresas, a exemplo da Coca-cola, cujos níveis de exigência, tanto da qualidade do produto, como da credibilidade nos prazos de entrega, além da necessidade de apresentar flexibilidade nos volumes do produto entregue, fizeram a Trapiche incorporar novas práticas de gestão, para atender a esse rigoroso mercado.

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Já se registrou, no Capítulo 2, que a quota americana remunera a tonelada de açúcar a um preço três vezes maior do que o do mercado internacional livre.

Observando-se tais aspectos e considerando-se a boa performance demonstrada pelos indicadores de desempenho (Capítulo 5), bem como as opiniões emitidas nas diversas entrevistas realizadas, chega-se à constatação de que a Trapiche é uma usina que se ajustou aos novos tempos e adotou uma estratégia, que a diferenciasse de boa parte das congêneres. Está na vanguarda tecnológica do Estado, embora ainda distante do padrão de muitas empresas de São Paulo.

4.2.3.2 A Usina Laranjeiras

A Usina Laranjeiras, localizada na Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco, integra o grupo das usinas médias e vem-se recuperando dos efeitos da seca do final da década de 1990 e realizando investimentos na ampliação da área plantada e da capacidade de esmagamento: aumentou a moagem, no período compreendido pelas últimas seis safras, em mais de 200%. Não priorizou, por falta de condições financeiras, os investimentos em tecnologia de processo, restringindo-se a automatizar o módulo de cristalização e refinação do açúcar.

Os mercados da Laranjeiras continuaram a ser, prioritariamente, os cativos, formados pelo mercado externo e por atacadistas nacionais. Os responsáveis prevêem um plano de expansão da geração de energia, tanto para tornar a empresa auto-suficiente, quanto para vender o excedente de energia. Pretendem também adquirir uma destilaria, porquanto é a única usina, no Estado, que não dispõe de uma destilaria anexa.

Em sua maioria, as paradas, no processo de produção, também são conseqüência de interrupções no fornecimento de cana. O sistema de transporte, ao contrário do de Trapiche, é considerado pelos proprietários como um grande entrave, responsável por grande parte das interrupções.

A Mata Norte é uma região de baixas precipitações pluviométricas7, entre 1.000 e 1.700 mm/anuais, enquanto, na Mata Sul, os totais anuais de chuva atingem até 2.000 mm. Por sua localização, a Laranjeiras está sujeita a secas periódicas. Algumas usinas da mesma

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região buscaram na irrigação uma forma de limitar os efeitos das épocas de pouca chuva. A Laranjeiras, porém, não implantou sistema de irrigação. O crescimento recente deveu-se ao fato de não ter havido seca, ao longo das últimas seis safras. Por esses condicionantes, a usina está mais sujeita a variações no seu fluxo produtivo, do que a Trapiche. Em conseqüência, o fluxo de caixa é comprometido e a capacidade de investimento prejudicada.

A busca por novos mercados, a exemplo do que fez a Trapiche, por meio de uma estratégia de diferenciação, também ficou prejudicada, dada a necessidade de financiar a produção, na safra, com parte da receita da própria safra. Só os mercados cativos, geralmente administrados por grandes tradings, e voltados para exportação, financiam antecipadamente parte da produção. Em razão desses vínculos, a Usina concentra sua produção, para atender a tais mercados, que oferecem menor remuneração pelo produto.

São esses os principais aspectos, que, segundo os responsáveis pela Laranjeiras, limitaram as inversões em tecnologias de automação, como também na adoção de estratégias diferenciadas de produção. A conclusão dessa análise é que a Laranjeiras se encontra em um estágio intermediário, no que se refere à questão de estratégia de mercado e à questão tecnológica, ocupando um patamar inferior ao da Trapiche.

4.3 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO

No presente Capítulo, analisou-se a tecnologia e o porte estrutural de uma empresa, como dimensões essenciais para o seu sucesso competitivo. Mostrou-se que, com as oportunidades criadas pelo advento do Proalcool, somadas às vantagens decorrentes de fatores inerentes ao processo de competição, foi implantado, no Centro-Sul, todo um complexo aparato de pesquisa, que permitiu a ocorrência das transformações tecnológicas fundamentais para o sucesso competitivo das empresas e da própria região. Adicionalmente, demonstrou-se, como a existência de um parque industrial sucro- alcooleiro com empresas de grande porte é importante para suportar a incorporação de tecnologias, criando uma indústria mais eficiente e com perfil de produção mais diversificado.

Mostrou-se, por outro lado, que os perfis do setor sucro-alcooleiro, em São Paulo e Pernambuco, são muito diferentes, como resultado das diferenças existentes entre as dimensões tecnológica e estrutural. Esses fatores mostraram-se de fundamental importância, para demarcar as desvantagens competitivas do segmento sucro-alcooleiro pernambucano, face ao do Centro-Sul e, em especial, de São Paulo.

Por fim, confrontaram-se os perfis de duas unidades industriais de Pernambuco, de modo a ilustrar, como as dimensões tecnológica e estrutural podem afetar a competitividade entre empresas.