• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO 04 – A PRATICA PEDAGÓGICA E O COTIDIANO ESCOLAR DE

4.2 O perfil dos alunos negros no contexto escolar

Ao propor um currículo escolar cidadão, professores, coordenadores e diretores devem preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes na sociedade, principalmente com as que buscam implementar e aceitar a cidadania, não só no caso dos alunos negros, mas também, em relação aos alunos que acabam sendo excluídos por conta das desigualdades sociais.

Trabalhando com propostas e iniciativas que estabeleçam a superação do preconceito e da discriminação, a escola contribuiria com a construção da cidadania e a promoção de princípios tais como: liberdade, respeito mútuo, dignidade e diálogo; ainda, encontrar-se-iam formas de cumprir o principio constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação aos problemas gerados pela injustiça social (COSTA LIMA, 1997).

Não existe uma pessoa sem cultura: mesmo que não se saiba ler, escrever e realizar operações matemáticas, todos possuem cultura, um conjunto de códigos simbólicos

reconhecíveis pelo grupo a partir dos quais se produz conhecimento, seja individual e ou coletivo.

As culturas estão em constante processo de re-elaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando valores, adaptando seu acervo tradicional às novas condições historicamente construídas.

A valorização é reconhecidamente parte indispensável das identidades individuais e sociais, e fortalece a cultura de cada grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade brasileira. Na promoção do seu reconhecimento, a valorização e o conhecimento mútuo, instigam os princípios educativos, e, portanto a cidadania.

Contudo, a instituição educacional oportuniza o conhecimento de origens dos brasileiros e torna-os participantes de grupos culturais específicos. Isso ocorre quando as diversas culturas presentes em nosso país são valorizadas, proporcionando ao aluno a compreensão de seu próprio valor, estimulando sua auto- estima como ser humano pleno de dignidade, complementando a sua formação intelectual e social.

O espaço escolar traz à tona as diversidades culturais de uma forma não tão ambígua, um desafio constante no cotidiano das escolas e às vezes a expressividade cultural dos alunos passa a promover discriminação, ao invés de proporcionar-lhes momentos de descontração.

É imprescindível que, pela educação, seja possível combater com atitudes as discriminações e desigualdades manifestadas em gestos, comportamentos, que afastam e estigmatizam grupos sociais.

A difusão cultural é importante para o entendimento, de como, historicamente, as características culturais, a organização política e a inserção econômica de diferentes grupos humanos presentes na formação do Brasil, foi absorvida pelos jovens e adolescentes que constituem tais grupos.

A proposta de trabalho que busca narrar a trajetória cultural de nosso país de maneira contextualizada implica em uma ação diferenciada para com nossos alunos que tendem a uma valorização maior por meio do ensino de Geografia.

A construção da cidadania como grande meta é extremamente difícil de ser realizada, pois na escola pública temos uma população numerosa, heterogênea do ponto de vista escolar e sociocultural – diferenças de idade, de valores, de hábitos, de origens sociais e culturais, em que os preconceitos e as ideologias somente são superados com muito trabalho por parte do conjunto de professores. Conhecer os alunos, as representações sociais e os saberes que trazem é a primeira tarefa do professor de qualquer disciplina. (PONTUSCHKA, 2005, P.111)

É lícito que os professores passem a utilizar em suas aulas as experiências cotidianas trazidas por seus alunos. Para que isso ocorra de forma intencional e direcionada, é preciso observar o perfil dos nossos alunos, e, principalmente o comportamento e as atitudes dos alunos negros em sala de aula, especialmente na sua expressividade cultural.

A análise das influências históricas na constituição da formação populacional descreve a imigração forçada dos africanos escravizados para o Brasil caracterizando diversas situações em que houve o distanciamento de seus membros do grupo de origem, seja na dispersão étnica ou pelo desenraizamento das origens culturais. Fortaleceu-se, assim, o processo de inserção de mão de obra escrava no desenvolvimento da colônia com a condenação dos negros à marginalização social, política, econômica, intelectual e educacional.

Percebe-se na fala do professor que:

Quanto à inclusão do aluno na sociedade brasileira é difícil dizer isso, seria querer valorizar o branco através da cultura portuguesa (européia) não se tem no Brasil ligações fortes nem com uma cultura nem outra. É difícil trabalhar a questão africana, pois a escravidão foi um episódio triste e revoltante, que coloca os negros contra os brancos, quando esse assunto é tratado em sala de aula os alunos negros não se manifestam e não se sentem a vontade com o assunto7.

Na fala do aluno, “A professora começa a falar a respeito da África, alguns alunos às vezes fazem piada de mau gosto”8.

É relevante observar as marcas que os alunos trazem, principalmente, na maneira de vestir, falar, andar, na diferenciação de gênero, idade e posição social. O adolescente compreende facilmente que tal diferenciação faz parte de sua vida cotidiana, pois sua inserção no grupo depende ou não de sua manifestação cultural na sociedade. Mediante o comportamento do adolescente, é interessante compreender que as festas são organizadas conforme as diversidades culturais às quais estarão inseridos no seu cotidiano e a aproximação dos mesmos para com as manifestações culturais/sociais de seus ascendentes familiares, lembrando-lhe de sua própria origem e ou vivência.

A valorização do aluno negro não deve ser diferente, não vejo nenhum problema por ele ter “cor” diferente. O comportamento dele na sociedade é conforme sua criação, o valor que sua família o criou; isso é papel dos pais, pois são eles que irão embutir valores e ambições nos filhos se os criarem para ser “coitados”. Não somos nós que vamos mudar. Eu acho que o aluno negro que é educado por pais ou familiares conscientes do processo histórico na formação do nosso país, não sofre

7 Fala de Vírginia Ferreira de Castro Brabo, professora do Ensino Fundamental na E. M. Prof. Mário Godoy Castanho.

com as questões de discriminação e racismo, eles sabem se defender quando são submetidos a tais situações9.

Considerando o aluno adolescente como um grande difusor de cultura, principalmente popular, a música é a possibilidade de explorar essa expressão pela origem dos ritmos, pelas características e utilização dos instrumentos. Aliada à música, temos a expressividade da dança e dos ritmos, mas os alunos comentam o quanto ainda alguns ritmos e musicas são alvos de minoração para alguns e expressão significativa para outros.

O uso de música e ritmos para trabalhar conteúdos de Geografia valoriza a expressividade e criatividade do aluno, abrindo a possibilidade de o mesmo elencar suas experiências cotidianas e pessoais na prospecção da cidadania, assumindo de vez seu espaço enquantoagente transformador social.

Partindo de tal perspectiva, é possível explorar diversos contextos que facilitem o entendimento e os significados, ampliando a percepção da pluriculturalidade cultural presente nas origens do povo brasileiro. “É muito difícil às vezes mostrar nossas danças, alguns professores não gostam. E quanto as roupas, não podemos usar o que gostamos na escola”10.

Portanto, conhecer e respeitar as diferentes linguagens que os alunos nos apresentam no cotidiano escolar, nas manifestações culturais, é decisivo para que o desenvolvimento do trabalho possibilite atitudes de dialogo e respeito para com os movimentos culturais distintos, valorizando tanto a criança quanto o adolescente, com os quais convivemos no espaço escolar.