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CAPÍTULO 2: OS ARRANJOS CRIATIVOS

2.2 A FORMAÇÃO DOS ARRANJOS

2.2.1. O Placemaking

Placemaking - ou simplesmente o processo de requalificação do espaço urbano – é a criação planejada do lugar. Suas origens remontam ao movimento de revalorização da vida urbana a partir dos anos 1960, liderado por Jane Jacobs, William Whyte e outros ativistas. Placemaking propõe reintegrar o morador com os espaços públicos, incentivando a socialização e a melhoria da qualidade de vida na cidade. Com iniciativas nas mais diversas escalas territoriais em diferentes cidades, o processo de placemaking tem demonstrado maior sucesso quando consegue incluir os atores envolvidos com o lugar planejado.

Ao invés de um centro de artes isolado ou um cluster de grandes instituições de arte e cultura, o placemaking contemporâneo busca um portfólio mais descentralizado para que seus espaços contribuam com a criatividade almejada. Em cada espaço, arte e cultura existe lado-a-lado com o setor privado de exportação e comércio e as residências de renda mista, frequentemente ocupando edifícios e lotes que estiveram vazios e sub-utilizados. Nas grandes cidades, muitos desses polos refletem as etnias ou o caráter histórico do lugar e convidam os moradores e turistas a visitar, frequentar e curtir esses lugares. (MARKUSEN & GADWA, 2010, tradução nossa).

Em avaliação de catorze projetos de Creative Placemaking (MARKUSEN & GADWA, 2010)57 feita nos Estados Unidos em 2007, concluiu-se que os problemas recorrentes nos

processos de placemaking se relacionam com a dificuldade em estabelecer parcerias e persuadir os stakeholders a se engajarem, o que se reflete no processo para angariar os fundos necessários para implementação do projeto. A pesquisa aponta também para obstáculos regulatórios; de manutenção, administração e controle do processo como um todo. Evitar a gentrificação e a expulsão dos habitantes aparece também nessa pesquisa como um dos problemas de mais difícil solução. Contradição que se evidencia, pois, o sucesso do placemaking contemporâneo da cidade criativa necessita da diversidade em seu portfólio, em oposição ao enobrecimento e a gentrificação.

A reinvenção do lugar com projetos urbanos, estratégias de marketing da cidade, planos de economia urbana e ações pontuais têm sido a solução encontrada para combater o processo de fragmentação e esvaziamento das áreas produtivas. A esse processo, segue- se a produção da obsolescência dos espaços urbanos (HARVEY, 2002) e então a sua reinvenção se torna imperativa. A importância das ruas de comércio nas estratégias da cidade e de seus bairros criativos reside na busca de reconhecimento do potencial da atividade comercial em promover a interação de diferentes grupos da sociedade, com o

57 Avaliação de projetos, em diversas cidades norte-americanas, que se utilizaram das artes como estratégia de revitalização. O estudo propõe que as plataformas intergovernamentais contribuam na conexão entre os diferentes setores produtivos.

dinamismo, a flexibilidade e a criatividade inerentes a essa atividade. Tanto os governos, como os diferentes empresários do setor imobiliário e os comerciantes, progressivamente traduzem a necessidade da reinvenção, ou da pre o izadaà dest uiç oà iati a à apitalistaà (SCHUMPETER, 1943) nos projetos para a cidade e para seus polos comerciais de rua.

Diagrama 9: Diagrama do Placemaking. Fonte: Project for Public Spaces, S/D.

O processo de placemaking incorpora os espaços públicos e seus usos lindeiros, buscando a integração e a potencialização das diferenças existentes numa área, através de um processo criativo. Este processo baseia-se na participação da comunidade, i spi a do- se e capitalizando sobre as qualidades do lugar a fim de criar espaços públicos de qualidade que contribuam para a saúde, alegria e bem-estar das pessoas .à Project for Public Spaces, tradução nossa). O conceito de placemaking da economia criativa (MARKUSEN, 2010) reconhece o potencial artístico e cultural de um lugar e procura integrá-lo ao processo de planejamento e revitalização. Os quatro pontos-chave para o sucesso das iniciativas do creative placemaking que estão enumerados no Diagrama 9, acima: acesso e conexões físicas e visuais; conforto e imagem, que garantem a percepção de segurança, limpeza e a identidade; os usos e atividades, que devem ser diversos e facilitar a interação social e a sociabilidade, enfatizando as relações pessoais entre pares, vizinhos e amigos.

2.2.2. Os Clusters da Economia Criativa

Com base nos programas e instituições que se ocupam da nova economia, esta pesquisa estuda a territorialização dos princípios da economia criativa ao nível local. Para tanto, se faz necessário compreender os conceitos de clusters, especialmente o conceito de cluster criativo, e o conceito de bairro criativo. Iniciamos na origem dos termos, os clusters produtivos, descritos por Michael Porter em seu livro A Vantagem Competitiva das Nações (1990):

Os clusters produtivos representam uma concentração geográfica de companhias semelhantes, organizações e instituições de um campo especifico, presentes numa região, estado ou país. Os clusters surgem para aumentar a produtividade das empresas, a qual é influenciada pelos recursos locais e pela presença de firmas semelhantes, instituições e pela infraestrutura da área. (PORTER, 1990).

Resumindo, os clusters produtivos, ou simplesmente clusters, são definidos como grupos de empresas similares ou complementares que coabitam uma mesma região, tornando-as mais competitivas e eficientes. Os clusters, porém, não são todos iguais. Podem diferir quanto aos produtos que lhes caracterizam, as indústrias ali representadas e quanto a sua espacialização, mais ou menos dispersa, mais ou menos urbana ou central. Um exemplo, citado com frequência, é o Syllicon Valley, na Califórnia, Estados Unidos, onde as empresas localizam-se numa mesma região, mas não necessariamente na mesma vizinhança, com transporte ocorrendo prioritariamente sobre rodas. Comparando esse exemplo, situado em área suburbana com outros em áreas mais centrais (onde o pedestre, o transporte público e os modos alternativos são frequentes), observamos que a relação de proximidade entre as empresas – e consequentemente a qualidade do espaço criado – pode variar bastante dependendo do caso.

Estudo recente, desenvolvido nas três maiores cidades do Canadá, aponta para a existência de dois tipos de clusters (SPENCER, 2015), os que têm como base a indústria cultural e os que têm como base o desenvolvimento científico. No primeiro caso, estes tendem a localizar-se em bairros urbanos centrais, onde a interação, a diversidade e a oferta de espaços de moradia próximo ao trabalho são possíveis. No segundo caso, os bairros que têm no desenvolvimento científico e tecnológico a sua base econômica, a proximidade à mão-de-obra especializada, encontrada em universidades e centros de pesquisa, é da maior importância. Neste caso, os trabalhadores residem na região, mas não necessariamente nos mesmos bairros. Por hora, a maior parte dosà Bai osàdaàCi ia tem se localizado em áreas suburbanas, priorizando o deslocamento por automóvel e conformando-se em espaços muito menos densos do que os Bai osàCriativos ,à ueàtem as atividades artísticas e culturais como base econômica para seu desenvolvimento, como se pode ver no Diagrama 10, abaixo.

Diagrama 10: Comparação “Bairros Criativos” e “Bairros da Ciência”. Fonte: Martim Prosperity Institute, 2015.

O estudo indica também que muitas das indústrias ligadas à ciência estão hoje optando por localizações mais centrais, em busca da mão-de-obra jovem e qualificada, indivíduos que demonstram preferência por viver em áreas urbanas. Spencer (2015) acredita que tanto os subúrbios terão que se transformar em ambientes mais urbanizados, com presença de elementos que se encontram nos antigos centros urbanos, como os centros urbanos terão que encontrar maneiras de acomodar essa indústria criativa, com base na ciência e tecnologia, em seus perímetros. A dificuldade que se coloca, na nossa opinião, será a de evitar a ocupação dos bairros criativos com tipologias emprestadas dos subúrbios, em grandes edifícios com baixas densidades, nos centros das cidades, destruindo suas qualidades e a sua atratividade.

A definição de clusters de Porter (1990) é retomada por Florida (2008), com o conceito de cluster criativo. Como a principal estratégia da indústria criativa é estabelecer uma rede de parcerias, a estrutura de distribuição espacial do cluster – criando micro- ambiente de cooperação mútua – é bastante compatível. Os clusters criativos diferem dos tradicionais clusters produtivos, pois estes incluem muitos outros usos como as instituições culturais; as galerias de arte; os espaços de co-working; as salas de apresentação de cinema e teatro; as organizações sem fins lucrativos, entre outros. Os clusters criativos são também lugares onde os produtores criativos vivem e onde seus produtos são vendidos ou consumidos. Os clusters criativos – (proto)tipicamente – têm vida dia e noite; se compõem de população de várias culturas e de diferentes níveis sociais. A configuração de seus espaços e das relações que ali se desenvolvem, são definidas pelas qualidades locais, sem deixar de lado a sua conexão com o resto do mundo (EVANS, 2013).

A organização espacial em clusters é particularmente favorável à indústria criativa, pois sua produção é inerentemente cooperativa (STERN & SEIFERT, 2007) e os artistas dependem de uma variedade de serviços, audiências e colaboradores para desenvolver seu trabalho. Os clusters criativos, definidos como o e t ações geog áfi as de e p esas do setor criativo, como tecnologia, design, arquitetura, moda, artes visuais, entre outras (EVANS, 2013), têm como cerne a criação de receita através da construção de significados, de valores e de emoções. Através de histórias, imagens, design de objetos, preparação de eventos e performances e de outras atividades culturais. Hoje adiciona-se a essas atividades, a tecnologia e a administração, a indústria do cinema, a televisão, a música, os jogos eletrônicos, a moda, etc. (EVANS, 2013).

O Diagrama 11, a seguir apresenta o processo de construção do lugar-mercadoria da economia criativa. No caso, a construção de um lugar com certas qualidades depende da convergência dos objetivos intangíveis com a construção tangível do espaço físico.

Diagrama 11: Diagrama de Desenvolvimento do Cluster Criativo. Fonte: Desenvolvido pela autora.

2.2.3. Os Arranjos Criativos

No Brasil, os clusters criativos têm sido, com frequência, denominados Arranjos Produtivos Locais (APLs) e são descritos como sistemas de produção onde a competitividade impulsiona a geração de conhecimentos e inovação, o fo o e u o ju to espe ifi o de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser, desde produtoras de bens e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e asso iação . (LASTRES, 2003). Estes podem incluir também outras instituições ou formas de organização que formam e capacitam seus trabalhadores e articulam as redes de cooperação.

Os arranjos produtivos locais (APLs) foram objeto de inúmeros estudos no início da década de 2000, quando se reconhece sua importância enquanto indutores do desenvolvimento econômico de uma região ou área urbana. (BRUNA, 2008).

Ressalta-se o papel do instrumental de planejamento urbano e regional como possível promotor de condições favoráveis para o desenvolvimento e sinergia dos APLs, podendo contribuir para o processo de desenvolvimento local e regional, gerando externalidades positivas para o território e para a sociedade, em direção e promoção de um desenvolvimento local sustentável. (BRUNA et All, 2008). À rede operacional dos APLs tem se dado o nome de Arranjos Criativos. Estes são defi idosà o oà uma rede formada por pessoas, organizações e recursos envolvidos na geração de valor humano, social e econômico através de ciclos de criação-difusão-fruição de Arte e Cultura .à D IPOLITO,à .àE à“ oàPaulo,àoài ipie teàLa o at ioàdaàCidadeà apeouà recentemente as atividades do setor de economia criativa, iniciando pelo bairro da Vila Madalena, como se vê a no Mapa 1, a seguir.

Mapa 1: Arranjos Criativos Locais, São Paulo. Fonte: criativoslocais.com.br (website).

Nos Estados Unidos, os clusters criativos tendem a se concentrar geograficamente ia doà oà ueà seà de o i aà creative communities à ouà bairros criativos, localizados em centros urbanos pós-industriais. Os bairros criativos tidos como modelo incluem organizações sem fins lucrativos, comércio e bens culturais informais, que são conectados por artistas como produtores e pelos consumidores como participantes. Tais bairros seriam formados o ga i a e te àouà atu al e te à eàpo àissoàs oà ha adosàdeà Natural Cultural Districts ,à STERN & SEIFERT, 2007). As relações sociais que se estabelecem nos bairros criativos tendem a ser mais fortes, facilitando a organização comunitária em defesa de melhorias para o bairro. Como exemplo, um estudo sobre os clusters criativos na Filadélfia, concluiu que existe forte relação entre a presença dos Natural Cultural Districts (STERN & SEIFERT, 2007) e a ocorrência de revitalização dos bairros em que estes se inserem. Apesar de ser um estudo localizado, a correlação apresentada mostra que a capacidade para, coletivamente, resolver diferenças entre as classes sociais e grupos étnicos que habitam o

bairro, aumenta significativamente com a integração social e cultural de seus habitantes. (STERN & SEIFERT, 2007).

Sabemos, porém, que ao mesmo tempo em que o valor intangível dos produtos culturais ou da economia criativa são importantes, também o são os valores tangíveis, as formas e os espaços de produção e de distribuição desses produtos. Para compreender como se dá esse processo, se faz necessário entender melhor as redes e as relações que compõem a cidade criativa. Os produtores da nova economia – principalmente aqueles localizados em ambiente urbano – se organizam de maneira bastante complexa e flexível, em contraposição aos papeis quase estáticos dos atores que participam dos clusters criativos de áreas não urbanizadas. Como os princípios defendidos pela cidade criativa preconizam a sustentabilidade e a inclusão, como seus mais importantes diferenciais com relação aos odelosàe o i osà p edat ios àeàa tide o ticos da massificação, a cidade criativa (seus bairros, polos ou clusters) desenvolve novos modelos de arranjos produtivos que viabilizam, tanto os interesses de cada setor, como o interesse coletivo. Em abordagem sociológica, Roberta Comunian (2012), reforça a importância das redes de conhecimento e de apoio para o desenvolvimento dessa indústria. A autora enfatiza a necessidade de não se concentrar apenas nos ativos (nos atores), mas também nas relações, que estabelecem as redes a fim de compreender quem são os protagonistas de um sistema local e de que modo eles interagem.

Na cidade criativa, os produtores criativos são atraídos pelas qualidades do lugar, acima de vários outros valores, como os apelos da política ou do setor imobiliário (MARKUSEN, 2003). Os produtores criativos são atraídos pela presença de pares (MARKUSEN, 2004) e pela presença de agências não-governamentais, pelas pessoas que valorizam as artes e pelo custo acessível dos imóveis, e tendem a valorizar os bairros que têm alta qualidade de vida. A qualidade de vida, nesse caso, é entendida através da valorização da cultura local, aliada à abertura e flexibilidade para acolher inovações e transformações.

Apesar da possibilidade de trabalho a distância, o espaço físico compartilhado pelas empresas nos clusters criativos é importante, pois estimula a interação (e a criatividade) e promove a regeneração de áreas e edifícios subutilizados, que se adaptam para as novas funções.

O cluster criativo possibilita as pessoas e suas habilidades a interagirem. A essência desses é a inovação, porem as iniciativas não nascem do nada e tomam como base a cultura local. Em muitos exemplos de cidades, os espaços usados pelos produtores criativos são antigos prédios industriais em lugares degradados, o que ajuda a revigorar a região. Porém o que dá certo para cada cidade é diferente. (EVANS, 2013, tradução nossa).

Nota-se que o autor ressalta a existência de diferenças entre os clusters criativos em cada contexto. A afirmação da identidade do lugar impulsiona a busca pelos elementos que dão autenticidade ao ambiente. Os elementos de autenticidade têm, como nos lembra Zukin (2011), base nos atributos físicos do lugar, mas principalmente nas qualidades humanas e nas relações sociais que o representam. No Brasil, o reconhecimento e a valorização da identidade do lugar se tornam ainda mais complexas, devido às enormes diferenças sociais, à velocidade das mudanças e à pratica predatória do setor imobiliário A falta de prática nos processos participativos da população e a atuação de suas organizações representativas, além da gestão problemática dos órgãos governamentais nos processos de requalificação urbana, são ainda questões a resolver.

No que tange especificamente à cultura, vimos que há uma carência de conhecimento da história e da identidade paulistanas, contribuindo assim para gerar identificação com a própria cidade. [...] Se a questão identitária é difusa por toda a cidade, a presença de equipamentos culturais, locais de produção e usufruto da cultura, segue, porém, a perversa distribuição já notada nas unidades produtivas e na concentração de renda. (REIS, 2011, p. 279-280).

2.3 OS ATORES

Os princípios defendidos pela cidade criativa preconizam a sustentabilidade e a inclusão como seus mais importantes diferenciais com relação aos modelos econômicos p edat ios àeàa tidemocráticos da massificação. Cada setor atuante no desenvolvimento da cidade criativa ou dos bairros, polos ou clusters nos quais a economia criativa se desdobra, traz consigo os interesses de seu grupo. De maneira geral, o setor privado é mais arrojado, mais flexível e tem participação indireta nas decisões de política urbana. Nos casos estudados por essa pesquisa, eles se caracterizam pelos pequenos empreendedores ou pequenos comerciantes; pelo setor imobiliário e as grandes corporações (de vários setores, mas que cada dia mais têm indiretamente influído na configuração espacial da cidade) e pelos funcionários dos negócios criativos. O setor público é representado pelas várias instâncias do governo municipal, estadual e federal. O terceiro grupo de agentes (ou stakeholders) são os moradores do bairro, distrito ou cluster criativo.

2.3.1 O Setor Privado

i. Os trabalhadores temporários e esporádicos

Nos bairros criativos, além da mão-de-obra intensiva contratada oficialmente, há muitos trabalhadores que desde sempre se agregaram à economia do lugar (como se vê na Figura 9, de 1975),àtaisà o oà úsi os;àa tistasàeàpoetas;àosà fla eli has ;àosàa ula tesà ueà vendem desde sanduiches, bebida, artesanato); os seguranças e os catadores de papel e reciclados. áà p ese çaà dessesà t a alhado esà e i ue e ,à deà e taà a eira, o ambiente diverso que se quer criar. Eles buscam a maleabilidade no uso do espaço público e o público dife e iado àeà o à aio àpode àa uisiti o,à ueàlheàd àpossi ilidadeàdeàga hosàe t as.àAo mesmo tempo, alguns deles podem, eventualmente, ser incorporados à cena diversificada que se busca construir, caso sejam considerados atraentes para o esquema de marketing da área.

Figura 9: Catador de papel no SoHo, Nova York,1975. Fonte: SASLOW, 1975.

ii. Os pequenos empreendedores e comerciantes

São os nativos do bairro, proprietários do comércio tradicional que por vezes são absorvidos pelos Arranjos Criativos, conferindo autenticidade através de sua história. Esse grupo frequentemente mora também no bairro e tem compromisso forte com o lugar e tendência a repelir mudanças. São também os empreendedores do comércio criativo, que chegam em geral nos estágios iniciais do processo, seguindo os pioneiros (ou seeders), os

produtores criativos. Alguns têm, outros não, espirito empreendedor e são absorvidos pelo esquema da economia criativa.

Os pequenos empreendedores procuram no bairro oportunidades para continuar desenvolvendo seus negócios e, portanto, têm compromisso com a manutenção da originalidade e a exclusividade do lugar, como fonte segura de renda.

Figura 10: Cozinheiro em Pizzaria Gourmet, Filadélfia, 2014. Fonte: Acervo da autora.

Os funcionários dos negócios criativos, podem ser considerados como parte de um grupo bastante heterogêneo, que é formado ao mesmo tempo por profissionais altamente qualificados até os trabalhadores manuais (como os cozinheiros, na Figura 10). De maneira geral, esse grupo conta com a possibilidade de estabilidade profissional na medida em que o público consumidor cresce. Este grupo é relativamente descompromissado com a manutenção das características originais do lugar. Ainda assim a qualidade e a imagem do lugar se fazem importantes, garantindo a sustentabilidade e o crescimento dos negócios na área.

Os bairros criativos, com sua proposta de customização, de valorização da cultura local e do artesanato, a utilização de produtos orgânicos, ingredientes frescos e naturais, demandam mão-de-obra intensiva. (SASSEN, 1991). Deve-se também ressaltar a importância da experiência proporcionada pelo bairro criativo, exigindo trabalhadores diferenciados, que interagem com o consumidor e que se identifiquem com a cultura do lugar.

iii. Os empreendedores imobiliários e as grandes corporações

Os empreendedores imobiliários e os vários outros grupos com interesses econômicos derivados da terra formam o grupo que detém maior poder sobre o futuro do bairro, com grande agilidade e influência nas decisões de todos os outros agentes. Em alguns casos, estes dominam os negócios-âncora dos polos desde sua origem. Tipicamente têm uma leitura mercantilista do espaço e, portanto, surgem quando o polo já iniciou seu processo de desenvolvimento.

Figura 11: Parklet patrocinado pela cerveja Heineken, Vila Madalena, 2015. Fonte: Acervo da autora.

As grandes corporações que têm interesses indiretos na conformação espacial do bairro e principalmente no comércio dos polos criativos, veem o lugar da compra como parte intrínseca na promoção e venda de seus produtos. As corporações têm demonstrado participação ativa nas várias formas de ocupação do espaço público, organizando eventos, patrocinando o mobiliário urbano e promovendo suas marcas. Na Figura 11, acima, vemos