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O planejamento estratégico nas organizações prestadoras de

2.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

2.2.2 O planejamento estratégico nas organizações prestadoras de

A literatura especializada destaca que o avanço do planejamento em saúde data da Segunda Guerra Mundial. Este avanço está diretamente associado ao caos social originado das barbáries deste conflito, que acarretou problemas profundos à saúde do ser humano, exigindo dos governantes a sistematização de atividades de saúde para erradicação das enfermidades infectocontagiosas. Desde então, os países que participaram diretamente ou sentiram reflexos deste conflito viram por bem manter esta política de planejamento voltado às organizações prestadoras de serviços de saúde, primeiramente na Europa e nos Estados Unidos.

Na América Latina, a ideia de planejamento em saúde está intimamente ligada ao planejamento econômico e social dos seus cidadãos. A concepção econômica predominou na década de 1950, evoluindo para uma visão integradora na década de 1960, quando as questões políticas e sociais se tornaram os grandes entraves ao crescimento e desenvolvimento dos países latino-americanos. Naquele período, o Governo Norte-Americano sugeriu aos países que incluíssem questões sociais aos seus métodos de planejamento, para, em troca, serem beneficiados com a obtenção de financiamentos, surgindo o Método do Centro Nacional de Desenvolvimento/Organização Pan Americana de Saúde − CENDES/OPAS4 (ABREU, 2006).

Na concepção de Passos e Ciosak (2004), este método teve forte inspiração weberiana, dentro de sua concepção de sistemas fechados, onde pessoas e papéis sociais são racionalmente concebidos, desempenhados e hierarquicamente administrados. O método em si consiste em cinco etapas: a) diagnóstico; b) programação propriamente dita; c) discussão e decisão; d) execução; e) avaliação e revisão. Sobre esta questão, Rivera (1995, p. 51) menciona o enfoque normativo neste planejamento, asseverando ser “(...) um enfoque técnico-econômico que

4 Este método foi o grande marco teórico e a primeira metodologia sistematizada de planejamento e implantação de políticas de saúde na América Latina, tendo como ideia central a eficiência no uso dos recursos financeiros alicerçados nos conceitos das Ciências Econômicas (ABREU, 2006).

lida com a realidade como sinônimo de problemática objetiva”. Ele complementa o raciocínio, atribuindo ao enfoque normativo o reconhecimento de um único sujeito – o Estado, que, por sua vez, instrumentaliza uma ação sobre um sistema social concebido de maneira objetual, em uma relação não interativa.

Cabe salientar que, para Passos e Ciosak (2004, p. 27),

o método normativo estava ancorado num modelo de sociedade onde estava presente o velho dilema entre o tradicional (sociedade rural) e o moderno (sociedade industrializada). A sociedade era concebida de forma dual, onde os dois setores – tradicional e moderno – eram rigidamente separados, não interligados.

Na segunda metade da década de 1970, surge uma nova linha de planejamento. Desta vez, focada para seus atores sociais, ganhando status como forma alternativa de planificação, em contraposição à concepção de sociedade reconhecida de forma dual. Este novo enfoque centrou-se na perspectiva de perceber e analisar a realidade social ou no campo econômico, político, social ou mesmo ideológico (PASSOS; CIOSAK, 2004). Dentro deste raciocínio, Rivera (2003, p. 18) advoga que essa nova linha “surge como tentativa de reconhecer a complexidade ao introduzir as ideias da superioridade do político sobre o econômico e da diversidade de atores-sujeitos do ato de planejar”.

Desde então, o planejamento estratégico passa a considerar o cenário das organizações prestadoras de serviços de saúde inseridas em várias dimensões, estreitamente vinculadas, formando um todo. Nesse contexto, podem ser identificados aspectos financeiros (custeio e investimento); aspectos políticos; aspectos organizacionais (internos e externos), assistenciais; de formação profissional e sociais. A Figura 4 permite visualizar a inter-relação.

Em cada uma dessas dimensões, é possível destacar variáveis que permitem a identificação de problemas específicos, os quais contribuem para a complexidade desse tipo de organização (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Nesse cenário, no intuito de compreender toda a dinâmica que permeia o sistema de gestão dessas organizações, Campos (1997, p. 42) ressalta uma “nítida separação, um claro distanciamento, entre os profissionais e os pacientes, entre as equipes e a comunidade, entre os trabalhadores e seus meios de trabalho”. Nessa perspectiva, supõe-se que seja relevante desenvolver instrumentos e dispositivos capazes de captar essas dimensões dos processos de trabalho enquanto

objeto de análise, incorporando esta realidade oculta ao processo de planejamento em direção a um sistema de gestão com capacidade de tratar a instituição hospitalar de forma integral.

Figura 4: Dimensões das organizações prestadoras de serviços de saúde

Fonte: adaptado do Ministério da Saúde (2004)

Partindo desse enfoque, Rivera (1995) concebe o planejamento como uma ferramenta organizacional, fazendo parte de um processo mais amplo de desenvolvimento das organizações, que valoriza a condução da ação. Ou seja, vislumbra uma nova visão do planejamento para a área da saúde, que extrapola a “polaridade normativo/estratégico” na intenção de “alargar sua racionalidade” (RIVERA, 1995, p. 14). O referido autor sublinha que a chave desse intrincado sistema está na discussão sobre a racionalidade da ação na moldura habermasiana, uma vez que o trabalho deste filósofo baseia-se numa razão transformadora, destacando a inter-subjetividade mediada pela linguagem e no entendimento de que as relações interpessoais são passíveis de uma regulamentação ético-prática. Complementa Rivera (1995) advogando que a Teoria da Ação Comunicativa proposta por Habermas pode contribuir na busca de um novo paradigma para compreender e analisar a dinâmica hospitalar.

Ao trazer à tona a racionalidade normativa e expressiva, omitida tanto pelo modelo normativo quanto pelo estratégico, o enfoque comunicativo revaloriza as questões da legitimidade e autenticidade dos planos e introduz a necessidade do entendimento. Além disso, a Teoria objeto de análise, incorporando esta realidade oculta ao processo de planejamento em direção a um sistema de gestão com capacidade de

: Dimensões das organizações prestadoras de serviços de saúde

Partindo desse enfoque, Rivera (1995) concebe o planejamento omo uma ferramenta organizacional, fazendo parte de um processo mais amplo de desenvolvimento das organizações, que valoriza a condução da ação. Ou seja, vislumbra uma nova visão do planejamento stratégico” na intenção de “alargar sua racionalidade” (RIVERA, 1995, p. 14). O referido autor sublinha que a chave desse intrincado sistema está na discussão sobre a racionalidade da ação na moldura habermasiana, uma se numa razão transformadora, subjetividade mediada pela linguagem e no entendimento de que as relações interpessoais são passíveis de uma Complementa Rivera (1995) advogando tiva proposta por Habermas pode contribuir na busca de um novo paradigma para compreender e analisar Ao trazer à tona a racionalidade normativa e expressiva, omitida tanto pelo modelo normativo quanto pelo estratégico, o enfoque municativo revaloriza as questões da legitimidade e autenticidade dos planos e introduz a necessidade do entendimento. Além disso, a Teoria

da Ação Comunicativa pressupõe um questionamento profundo do paradigma do sujeito e o substitui pela figura de uma intersubjetividade mediada pela linguagem que conhece e atua nos três mundos: objetivo, social e subjetivo.

A racionalidade é alargada ao englobar os elementos normativos ou instrumentais, a racionalidade política e os elementos subjetivos. Todos esses elementos, subordinados a um agir comunicativo, configuram várias racionalidades do planejamento entrelaçadas criticamente pela comunicação. Este alargamento do conceito de razão é, de acordo com o Rivera (1995), uma das principais contribuições de Habermas e que reforça o argumento da interdisciplinaridade, haja vista que a cada tipo de racionalidade corresponde um saber, que é interdependente e necessita de uma inter-relação crítica. Portanto, Rivera (1995) desmistifica o paradigma objetivista e tecnocrático que, em alguns momentos, teima em aprisionar as concepções de racionalização, defendendo que “não se pode aplicar a esse processo a ótica da otimização ou da maximização econômica, de maneira absoluta, tanto no que diz respeito à organização dos seus meios quanto à escolha das prioridades finais. E que, apesar disso, essa lógica não deve ser absolutamente descartada” (RIVERA, 1995, p. 138).

Nesse enfoque, Nioche (apud CORNÉLIO, 1999) apregoa que uma das maneiras de otimizar a eficiência da gestão de uma organização consiste em compreender a natureza dos processos de decisão praticados em seu interior, para avaliar sua eficácia a fim de perceber o modo de racionalização mais adequado à organização.

Ressaltados os pontos e enfoques inerentes ao planejamento estratégico, pôde-se perceber a atipicidade que circunda as organizações prestadoras de serviços de saúde, em especial os hospitais, como o próprio HU/UFSC. Sendo assim, o tópico está reservado para o leitor compreender os elos existentes entre os diversos tipos de racionalidade que podem emergir em um processo de implantação de um planejamento estratégico neste tipo de organização. Essa relação é indispensável para se seguir o raciocínio que baliza a problemática escolhida para esta dissertação de mestrado.