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O PLANEJAMENTO URBANO E AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

Mapa 4: Construção em APP de curso d’água

3. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS LEGAIS BALIZADORES DA REGULARIZAÇÃO

3.5 O PLANEJAMENTO URBANO E AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

Nos municípios, especialmente por meio da competência para executar a Política de Desenvolvimento Urbano, busca-se o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade, assim como a garantia do bem-estar da população. (FERNANDES, 2011)

Nesse sentido, verifica-se que os adeptos da Reforma Urbana atuaram de forma efetiva e articulada na Assembleia Constituinte, inserindo fórmulas para tornar mais democrático o processo de definição das políticas públicas, com intuito de abrir a gestão urbana para novos atores sociais. O resultado disso foi a construção de um novo modelo de planejamento e gestão das cidades, deixando para trás as velhas práticas que não impediram o acirramento das desigualdades e o caos urbano (NASCIMENTO, 2005).

A função social, os bens e recursos humanos, a gestão democrática participativa e o equilíbrio social são as novas formas de pensar das cidades. Assim, a Constituição Federal de 1988 inovou ao inserir no ordenamento vigente um importante instrumento para o planejamento urbano: o Plano Diretor, possibilitando neste sentido, atender as demandas da população de uma mesma cidade, encurtando a distância entre a cidade formal e a informal (MIDON, 2012). A propriedade urbana cumpre sua função social no momento em que atende às exigências de ordenação das cidades expressas no Plano Diretor. Portanto, para permitir aos municípios fazer valer o princípio supramencionado, foram incluídos no texto constitucional instrumentos de política urbanística, como por exemplo, o parcelamento ou edificação

compulsória, IPTU1 progressivo e a desapropriação (MIDON, 2012). Em relação ao IPTU progressivo, tal norma só terá aplicação prática de estiver regulamentado também no Plano Diretor do município.

A Constituição traçou as bases do planejamento urbano pela necessidade da implementação de planos diretores pelas cidades, e ainda instituiu instrumentos fundamentais para a implementação e defesa da função social da propriedade.

Enfim, o planejamento urbano deve viabilizar o desenvolvimento de uma cidade, estado ou país, se tornando pleno somente quando ocorre de forma sustentável, ou seja, proporcionando qualidade de vida aos cidadãos e equilíbrio ambiental.

Breve histórico das ocupações no brasil

De um modo em geral, para compreender a atual configuração das ocupações de terra em nosso país, requer-se uma análise do modo como o território brasileiro foi e tem sido continuamente constituído ao longo do seu processo histórico. Por isso, é preciso olhar o passado para compreender o presente.

A questão da ocupação irregular de terras se constituiu desde o início da ocupação do Brasil e continuou ao longo das décadas, passou a ser cada vez mais relevante. Do Brasil colonial-rural ao surgimento das cidades, através de grandes processos de transformação social e econômica, continuamente permeados pelo crescimento populacional, foram inúmeros os capítulos que contribuíram para que o problema se agravasse (CARDOSO, 2012).

Na atualidade a urbanização cresce aceleradamente, a população de algumas das cidades brasileiras caminha para atingir a marca de milhões de habitantes. Este intenso e desordenado processo de urbanização tem demandado novas políticas para uma regulamentação mais adequada do parcelamento e do uso apropriado do solo urbano brasileiro (ROZENFELDT; LOCH, 2012).

A abordagem do tema da gestão territorial proliferou dando origem a inúmeras legislações e ações voltadas para uma melhor integração entre planos espaciais, sociais e jurídicos. A Constituição Federal promulgada em 1988 representou um passo fundamental em direção à instituição de um Estado democrático e aos direitos que lhe são inerentes. O avanço na esfera da legislação continuou com o Estatuto da Cidade, o Código Civil Brasileiro, o Estatuto da Metrópole, a Lei Federal nº 11.977/09, dentre outras.

Os avanços da legislação e a necessidade de implantação de gestões territoriais mais eficientes, capazes de responder as novas diretrizes, refletiu-se na busca e no aprimoramento de ferramentas e sistemas capazes de melhor atender as demandas locais. O mapeamento e o planejamento do uso do solo iniciam a nível municipal.

Rozenfeldt e Loch (2012) têm abordado a questão da regularização fundiária no Brasil e dado destaque à necessidade de aprimoramento dos sistemas de informação cadastral propondo como alternativa a adoção do cadastro multifinalitário enquanto instrumento capaz de alicerçar políticas de gestão territoriais rurais e urbanas.

O desenvolvimento tecnológico viabilizou ferramentas extremamente precisas para o levantamento, análise e sistematização de dados, gerando informações e subsídios técnicos que ampliaram as perspectivas operacionais das políticas de gestão territorial (ROZENFELDT; LOCH, 2012).

Dessa forma, o uso de ferramentas de geotecnologias aliadas à topografia tradicional pode ampliar e aperfeiçoar a coleta, a sistematização e a interpretação de dados para gerar informações cadastrais mais precisas e completas. Isso tem ajudado a viabilizar a regularização fundiária das propriedades, tanto rurais quanto urbanas no Brasil e ainda contribuindo para a elaboração de planos de reestruturação e soluções para eventuais problemas decorrentes das ocupações irregulares.

3.5.1 Uso, Ocupação e Cobertura do Solo

Monitorar o uso e ocupação da terra em uma determinada área é uma estratégia importante na gestão do ambiente, especialmente em áreas urbanizadas, onde os conflitos sociais e ambientais são escancarados, pois, as influências do uso inadequado podem ser analisadas (GUERRA, 2017).

A preservação e conservação da vegetação nativa, em especial as áreas localizadas ao longo dos cursos de água, nascentes e em regiões de topografia acidentada, é um dos pilares mais importantes para técnicos e ambientalistas que pretendem proteger os recursos hídricos. Por outro lado, a destruição e ocupação irregular destas áreas, sãos os principais danos ambientais que resultam em processos administrativos de autos de infração em áreas urbanas (NASCIMENTO, 2005).

Nesse sentido, verifica-se que um dos fatores que pode gerar problema ambiental é a distribuição incorreta do uso da terra em APPs e todas as atividades desenvolvidas no limite

dessas áreas. Estes problemas podem ser irreversíveis, ou seja, podem influenciar na perda da biodiversidade (SANTOS, 2015).

De um modo em geral, o planejamento no uso do solo se faz necessário para o bom aproveitamento dos recursos naturais. Já o seu uso inadequado pode acarretar em perdas significativas ao meio ambiente. (BONA, 2012)

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é uma das criações realizadas pelo Código Florestal para a regularização ambiental de propriedades, porém limitadas aos imóveis rurais, ou seja, o CAR fiscaliza o uso do solo implantado, obtém também informações precisas sobre o espaço geográfico, além de tornar obrigatório o planejamento e tomada de decisões (SANTOS, 2015).

Desta forma, as ferramentas tecnológicas, como as imagens de satélite, que facilitam o trabalho de fiscalização e subsidiam análises técnicas no setor ambiental, além dos softwares e o SIG, são imprescindíveis para controlar e monitorar o uso, ocupação e cobertura da terra, tanto em áreas rurais, quanto urbanas.

3.5.2 Leis de uso e ocupação do solo no município de São José, SC

Quanto à ocupação e zoneamentos urbanos do município de São José, destaca-se a Lei Municipal nº 1.605/85, que dispõe sobre o zoneamento de uso e ocupação do território do município. Na referida lei é possível verificar em seu art. 1º:

A presente lei dispõe sobre a organização do território municipal, define as atividades e usos permissíveis, e regulamenta o uso, o controle e a ocupação do solo. Parágrafo Único: A organização do uso do solo do Município de São José constitui o interesse comum do Aglomerado Urbano de Florianópolis (AUF), devendo ser efetuada em conformidade com os padrões instituídos pelos demais municípios que compõe o AUF, conforme estabelece o convênio 08/76, firmado entre o IPEA2/SUDESUL3e os

municípios da Granfpolis4.

De acordo com a lei nº 1.605/85, os principais artigos que tratam sobre a ocupação do solo estão descritos abaixo:

Art. 2º Para fins de organização do território, ocupação e controle do uso do solo, o Município de São José fica dividido em: I - Zona Urbana II - Zona de Expansão Urbana III - Zona Rural Art. 3º As edificações e/ou parcelamentos de qualquer natureza, por iniciativa pública ou particular, nas Zonas Urbana e de Expansão Urbana

2 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

3 Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul

ficam sujeitas às exigências da presente Lei, sem prejuízo do que estabelece a Lei do Plano Diretor, a Lei do Parcelamento do Solo, o Código de Obras e Posturas e demais Leis pertinentes. Parágrafo Único: As disposições deste artigo aplicam-se às obras de reforma e/ou ampliação das edificações, desde que ocorram em área igual ou correspondente a 60% ou mais da área já construída (LEI MUNICIPAL nº 1.605/85 p. 1).

Dessa forma, a lei que institui o Plano Diretor de São José, apesar de antiga, necessitando de atualizações, prevê em conjunto com as demais leis que ordenam o perímetro do município, a possibilidade de regularizações fundiárias, avaliando-se as questões peculiares de cada situação.

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