• Nenhum resultado encontrado

4 O PERFIL E AS PRÁTICAS GESTIONÁRIAS DOS DIRETORES GERAIS DOS

4.2 O que indicam os documentos

4.2.1 O Plano de Desenvolvimento Institucional

O PDI é um documento que as instituições que oferecem ensino superior devem ter. O MEC destaca que

O Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI – consiste num documento em que se definem a missão da instituição de ensino superior e as estratégias para atingir suas metas e objetivos. Abrangendo um período de cinco anos, deverá contemplar o cronograma e a metodologia de implementação dos objetivos, metas e ações do Plano da IES, observando a coerência e a articulação entre as diversas ações, a manutenção de padrões de qualidade e, quando pertinente, o orçamento. Deverá apresentar, ainda, um quadro-resumo contendo a relação dos principais indicadores de desempenho, que possibilite comparar, para cada um, a situação atual e futura (após a vigência do PDI) (BRASIL, 2017).

Esse plano foi uma exigência às instituições que veio em 09 de maio de 2006 com a aprovação do Decreto nº 5.773, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino, condição em que se inserem os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Vale ressaltar que no § 1º do art. 1º é estabelecido que “a regulação será realizada por meio de atos administrativos autorizativos do funcionamento de instituições de educação superior e de cursos de graduação e sequenciais”(BRASIL, 2006b), sendo esta uma função do Ministério da Educação (MEC) por intermédio de suas secretarias.

Entre os requisitos, constante no decreto supracitado, para o credenciamento de instituições junto aos órgãos de controle governamental está a elaboração do PDI. No artigo 16, são especificados os itens mínimos que devem constar no plano:

I - missão, objetivos e metas da instituição, em sua área de atuação, bem como seu histórico de implantação e desenvolvimento, se for o caso; II - projeto pedagógico da instituição; [...]; IV - organização didático-pedagógica da instituição, [...]; VI - organização administrativa da instituição, identificando as formas de participação dos professores e alunos nos órgãos colegiados responsáveis pela condução dos assuntos acadêmicos e os procedimentos de auto-avaliação institucional e de atendimento aos alunos; VII - infra-estrutura física e instalações acadêmicas, [...]; VIII - oferta de educação a distância, sua abrangência e pólos de apoio presencial; IX - oferta de cursos e programas de mestrado e doutorado; e X - demonstrativo de capacidade e sustentabilidade financeiras (BRASIL, 2006b).

Logo no item I, que trata da missão, objetivos e metas da instituição, ficam explícito os requisitos gerenciais adotados em empresas privadas, colocando que no plano deve constar a missão dos institutos e as metas a serem alcançadas.

O projeto pedagógico, a organização didática, a organização administrativa e de pessoal e a infra-estrutura aparecem em itens distintos, divergindo das características de um projeto político pedagógico de uma instituição que deve trabalhar de forma integrada, buscando as interrelações de todos os itens citados, mostrando que a proposta é articulada e única.

De modo geral, nesse artigo do Decreto, procurou-se detalhar o máximo possível o passo a passo que as instituições deveriam seguir, evitando sair do que foi proposto pelo MEC, sendo essa regulação uma forma de criar o modelo institucional desejado, que tem uma forma de se organizar e de atuar condizente com o que foi programado para as instituições federais de educação profissional. Assim, há um direcionamento do tipo de educação que deveria acontecer no interior das instituições federais, em que todas têm que obedecer aos requisitos mínimos, ressalvadas suas peculiaridades, para conseguir o credenciamento.

O PDI foi considerado um documento basilar para a definição das características institucionais, dos seus objetivos e ações a serem desenvolvidas, tendo como norte as diretrizes que foram estabelecidas na lei de criação dos institutos, apesar de ser um documento obrigatório para o credenciamento da instituição em sua oferta de cursos superiores, os institutos o adotaram como instrumento orientador da gestão, mesmo que a Lei nº. 11.892/08 destaque que o maior percentual de oferta tenha que ser do ensino técnico de nível médio.

Assim, nos institutos, com o PDI, fica evidenciado o planejamento formal, especificamente o planejamento estratégico. Esse tipo de planejamento, segundo Rigby e Bilodeau (2007), é uma das principais ferramentas utilizadas pelas empresas no mundo para direcionar as ações das empresas e fazer frente às mudanças constantes de um ambiente de trabalho.

O planejamento estratégico, para Estrada e Almeida (2007, p. 149), “é um processo dinâmico e flexível que incorpora no seu processo a influência das mudanças do ambiente”.

Para Santos, Sepulveda e Serravale (2012, p. 3-4), o planejamento estratégico é:

um instrumento de preparação para as novas exigências de gestão que estão sendo implementadas em instituições de ensino, alinhadas a critérios de excelência, tendo em vista que as atividades-fim e as administrativas têm aumentado a sua complexidade devido à grande gama de conhecimento e tecnologias existentes.

Como os institutos são instituições criadas tomando como referência a busca da excelência, segundo os representantes do MEC, e são instituições em processo constante de mudanças, adotou-se o planejamento estratégico a ser seguido por elas, devido esse tipo de planejamento ser uma ferramenta gerencial que auxilia o desenvolvimento das instituições que querem se adequar ao modelo administrativo adotado pelos gestores que estão à frente das instituições públicas do país, servindo como parâmetro o setor privado.

No IFPI, não é diferente. O seu PDI traz marcante a utilização do planejamento estratégico, usando as terminologias adotadas no setor privado. Como pode ser visto a seguir:

O presente Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) constitui um instrumento de gestão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), contendo como fundamentação o cumprimento da missão institucional e a consecução dos objetivos organizacionais, por meio de quatro vertentes: a manutenção do funcionamento do IFPI; a melhoria dos processos de trabalho e da efetividade dos resultados; a expansão quantitativa e qualitativa da oferta de serviços já existentes e/ou a inclusão de novos serviços; o desenvolvimento das atividades e dos processos. A estrutura do documento segue as orientações de conteúdo previstas no Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006, e a integração de dados das instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPCT) e do Relatório de Gestão. O PDI abrangerá o período de gestão 2015-2019 e estabelecerá o planejamento estratégico para o IFPI e suas unidades gestoras relacionadas: Reitoria, Campus Angical, Campus Campo Maior, Campus Cocal, Campus Corrente, Campus Floriano, Campus Oeiras, Campus Parnaíba, Campus Paulistana, Campus Pedro II, Campus Picos, Campus Piripiri, Campus São João do Piauí, Campus São Raimundo Nonato, Campus Teresina Central, Campus Teresina Zona Sul, Campus Uruçuí,Campus Valença do Piauí, Centro de Referência Formação e Ensino a Distância, e unidades em processo de expansão, como Campus Avançado e Centros de Referências (IFPI, 2014a, p. 12-grifos da pesquisadora).

Esse texto se encontra no início do PDI que está em vigor no IFPI. E é reforçado o que já tinha sido posto anteriormente, mostrando de um modo geral o que foi adotado pelos institutos e exigido pelo MEC, como forma de controle e monitoria das ações desenvolvidas pelos institutos em atendimento ao Termo de Acordo de Metas (TAM), que todos assinaram, reafirmando o centralismo da União no direcionamento das ações, não só em termo nacional, mas global em relação à educação alinhando à questão das transformações produtivas, como destaca Araújo, Hypólito e Otte (2011).

Na página 24 do PDI, é destacado que:

A descrição detalhada das metas definidas para as sete dimensões a serem desenvolvidas no período 2015-2019 serão descritas a seguir, tendo por base o Termo de Metas e Compromissos (TAM), assumido pelo IFPI junto ao Ministério da Educação (MEC). (IFPI, 2014a, p.24).

E isto é mais um reforço para o que já foi colocado com relação ao controle do MEC junto aos institutos, tendo os mesmos que colocarem metas que serão alcançadas num prazo determinado.

A Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional é o órgão responsável por fazer as cobranças do alcance das metas junto aos diretores, pois seus objetivos, conforme se encontra no PDI, é:

Promover, no mínimo, dois encontros anuais com os Diretores Gerais dos campi, visando à elaboração e ao acompanhamento do plano de gestão dos campi, com base nas metas definidas no planejamento estratégico do IFPI; Organizar anualmente oficinas com os Pró-Reitores e Diretores Sistêmicos, visando promover a articulação entre essas pastas para a construção e avaliação do planejamento estratégico institucional; Construir relatório anual, com base no monitoramento da implementação das metas previstas no

Termo de Acordos e Metas (TAM); Informar anualmente os indicadores da instituição no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (SIMEC), conforme cronograma (IFPI, 2014a, p. 26-27).

Com esses objetivos, fica claro que as ações dos IFPI são controladas e monitoradas visando atender ao que o MEC quer alcançar ao final de um período.

Todo o PDI reforça a questão do uso do Planejamento estratégico como uma ferramenta gerencial que guia o trabalho do IFPI, para o alcance das metas estipuladas pelo MEC. E nesse trecho do PDI é colocado que cada campus tem um Plano de Gestão, mas durante as entrevistas constatou-se que não existe tal plano e o que seguem como norteador da gestão é o PDI.

Quanto a questão da gestão democrática, ela só aparece uma vez em todo o PDI, numa meta a ser alcançada no período de 2015 a 2016. Esta meta está na Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional e propôs o seguinte: “Promover atualização do acervo documental que regulamenta as ações do IFPI em relação à nova estrutura administrativa e organizacional e implementar, de forma sistemática, a gestão participativa em todos os campi”(IFPI, 2014a, p. 26). Como essa meta estava pra ser implantada no período de 2015 a 2016, não foi alcançada, ela não está proposta para outro período. E ela não foi alcançada porque está bem evidente que a reitoria não tem interesse de implantar uma gestão democrática, porque nos documentos institucionais, nas ações do dia a dia, como foi visto no período das eleições, apesar da eleição ser uma proposta considerada democrática, os critérios criados para o processo eleitoral davam vantagens apenas para o próprio reitor que era candidato.

Assim, os Institutos inserem-se na lógica de um modelo de gestão, com orientação metodológica para a adoção do planejamento estratégico. Essa metodologia de planejamento é originária e impulsionada no campo das empresas privadas, tendo por finalidade tornar a instituição sustentável frente às mudanças que ocorrem no ambiente externo, aumentando as possibilidades de lucro e crescimento, consequentemente, mais atrativa também nas instituições públicas. Com as crises pelas quais o país passa, as instituições foram buscar formas de equilibrar suas receitas para atender às crescentes demandas pelos serviços sociais. E a forma encontrada foi o planejamento estratégico tão destacado no PDI do IFPI.

Dessa forma, no PDI, a ênfase e identificação da gestão está em um modelo de gestão, tendo os diretores dos campi seguir o modelo que o MEC e a reitoria querem, conforme foi apresentado nos parágrafos anteriores.

Documentos relacionados