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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.5 GESTÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MUNDAÚ

5.5.2 O Plano Diretor da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú

O Plano Diretor de Recursos Hídricos da BHRM, é um dos mais antigos do Brasil. Segundo dados da ANA (2019), dos 127 Planos Diretores de Recursos Hídricos (PDRH) existentes em todo o Brasil, registrados em seu banco de dados, apenas 10 antecederam o da bacia do Mundaú.

Finalizado em 1999 pela empresa pernambucana, COTEC Consultoria Técnica Ltda., o PDRH da BHRM, diagnosticou toda a bacia, fez cenários de demanda de suas águas para os principais tipos de usos e consumos até o ano de 2020 e também sugeriu um plano de ações para gerir os recursos hídricos da bacia de forma integrada.

A princípio esse plano sugere uma divisão da bacia hidrográfica em 4 Unidades de Análise e posteriormente, 4 Unidades de Gestão, sendo 2 em Pernambuco e 2 em Alagoas como mostra a Tabela 6:

Tabela 7: Esquema proposto no PDRH sobre as quatro Unidades de Gestão.

ESTADO UNIDADES DE GESTÃO MUNICÍPIOS

PERNAMBUCO

UG1 = UA1 (Sub-bacia do rio Mundaú em PE)

Brejão, Correntes, Garanhuns e Lagoa do Ouro

UG2 = UA2 (Sub-bacias do rio Inhumas

e do rio Canhoto em PE)

Angelim, Caetés, Calçado,

Canhotinho, Capoeiras, Garanhuns, Jucati, Jupi, Jurema, Lajedo, Palmeirina e São João

ALAGOAS

UG3 = UA3

(Parte alagoana da bacia do rio Mundaú situada a montante da confluência do riacho Cabeça de

Porco)

Chã Preta, Ibateguara, Santana do Mundaú, São José da Laje e União dos Palmares

UG4 = UA4

(Trecho entre a confluência do riacho Cabeça de Porco e a Lagoa do Mundaú – AL)

Atalaia, Branquinha, Capela, Maceió, Messias, Murici, Pilar, Rio Largo, Sta. Luzia do Norte, Satuba e União dos Palmares

Estando essas agrupadas em duas grandes Unidades de Gestão, como observa-se abaixo:

Tabela 8: Esquema proposto no PDRH sobre as duas grandes Unidades de Gestão.

ESTADO UNIDADES DE GESTÃO MUNICÍPIOS

PERNAMBUCO UG1 = MUNDAÚ/PE

Angelim, Brejão, Caetés, Calçado, Canhotinho, Capoeiras, Correntes, Garanhuns, Jucati, Jupi, Jurema, Lagoa do Ouro, Lajedo, Palmeirina e São João

ALAGOAS UG2 = MUNDAÚ/AL

Atalaia, Branquinha, Capela, Chã Preta, Ibateguara, Maceió, Messias, Murici, Pilar, Rio Largo, Sta. Luzia do Norte, Santana do Mundaú, São José da Laje, Satuba e União dos Palmares

Fonte: Pernambuco, 1999.

Em seu relatório a PDRH do Mundaú, expõe vários aspectos físicos e socioambientais da BHRM, porém, atualmente se encontram desatualizados, apesar do plano traçar cenários que previam o aumento populacional e consequentemente o aumento da demanda hídrica até 2020. Portanto, é o documento antecedente a essa tese, que melhor contemplou a diversidade de aspectos da bacia, mas, de modo relativamente superficial, sendo completamente necessário o aprofundamento e atualização desses dados e informações, para caracterizar melhor aspectos atuais da bacia, como por exemplo, população, oferta e demanda hídrica, assim como os atuais usos da terra da bacia.

Uma das coisas que mais chamam a atenção nesse PDRM é que no ano que ele foi concluído nenhum dos municípios situados na BHRM, possuíam sistema de esgotamento sanitário adequado, despejando diretamente os efluentes líquidos, domésticos e industriais no leito do rio principal e seus afluentes. Destaca-se nesse meio o esgoto gerado pelas indústrias sucroalcooleiras de alagoas que segundo o PDRH:

As estimativas de carga potencial da indústria sucroalcooleira de Alagoas, com uma unidade instalada no rio Canhoto, duas no Mundaú e mais duas no rio Satuba é de 301 mil kg DBO/dia, o equivalente aos esgotos potenciais de uma população de um pouco mais de 5,57 milhões de habitantes, ou seja 2.494% superior à população de Alagoas no vale todo. Estas estimativas foram elaboradas pela safra de 1997/98 sendo esperada uma quebra de safra de cerca de 20% em 98/99 devido ao baixo índice de chuvas neste ano (Pernambuco, 1999, p. 89).

Desde então, não há informações de que essa realidade foi alterada até agora, ou que os municípios situados dentro da BHRM, tenham aderido à Política Nacional de Saneamento Básico (Lei Federal n° 11.445 de 05 de janeiro de 2007), a qual já completou 12 anos e repassa

aos municípios a responsabilidade pelo seu saneamento, sendo esse composto pelos quatro serviços básicos: 1. Abastecimento de água; 2. Coleta e tratamento de esgotos; 3. Coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos e 4. Drenagem de águas pluviais urbanas.

As informações que constam no PDRH, é que na época em que ele foi elaborado, alguns municípios julgavam ter saneamento básico, por despejarem seus esgotos in natura no leito do rio, levando para longe de suas cidades a imundície. Essa prática é observada até hoje em vários lugares da bacia.

O Plano também demonstra que desde aquela época, ocorria déficit hídrico na parte pernambucana da bacia e que a tendência era a escassez aumentar, sendo, portando, segundo o PDRH, necessário a construção de reservatórios para ampliar a oferta d’água. Porém, o plano não apresentava nenhuma proposta de recuperação das águas já poluídas e/ou contaminadas da bacia.

Observa-se atualmente que a poluição e contaminação das águas do Mundaú só aumentou ao longo do tempo, assim como a demanda, devido ao crescimento populacional e seus diversos usos.

As soluções para resolver tais problemas, tem sido apontadas de forma simplistas e pontuais, como a construção de novos reservatórios, cada vez maiores, não considerando que devido à escassez e/ou deficiência dos saneamento básico dos municípios que compõe a bacia, tem ao longo do tempo oferecido um risco iminente de contaminação de todos esses reservatórios, já que boa parte dos efluentes das cidades e fertilizantes agrícolas tem sido carreados para esses corpos d’águas.

A construção de reservatórios para atender à crescente demanda da população, principalmente da população pernambucana é essencial, porém, sem o monitoramento adequado dessas águas e medidas preventivas de conservação desses corpos d’águas, tornam- se ao longo do tempo apenas grandes lagos eutrofizado e contaminados. Daí a necessidade urgente de conciliar medidas estruturais, com medidas conservacionistas de preservação das águas e dos solos, assim como torna-se evidente a urgência de implantação do saneamento básico adequado em toda a bacia.

Analisando essas questões, torna-se evidente a necessidade da gestão integrada da BHRM, tendo como principal propulsor dessa gestão a criação de um Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH), ou seja, o Comitê da Bacia do Mundaú.