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3.2 Os caminhos percorridos por Jaguarão

3.2.3 O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – PDDU (1978) e Plano Diretor

No ano de 1978, foi desenvolvido pela Superintendência do Desenvolvimento Urbano e Administração Municipal – Secretaria de Obras do Rio Grande do Sul (SURBAM-SDO/RS) o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Jaguarão. O documento em questão preenche uma lacuna que se apresentava no sentido de legislação de regulamentação urbanística. Nele é relata a falta de um código de obras e o abandono do uso do Código de Posturas de 1948 e a desatualização da lei que delimita o perímetro urbano, datada de 1968.

Apesar de o plano responder então a uma inércia de desenvolvimento urbano, cadenciado por códigos de posturas antigos, a cidade não apresenta de acordo com o relatório geral, grandes problemáticas.

A análise da situação atual de Jaguarão revela uma cidade já estruturada, que não apresenta sérios conflitos urbanos. É este, portanto, o momento mais propício para implantar um Plano Diretor, de modo a prevenir futuros problemas. Ainda é possível intervir na localização das atividades, para

evitar a vizinhança de usos conflitantes; obter áreas livres para fins recreativos; definir uma hierarquia viária a fim de organizar o sistema de circulação; preservar o patrimônio ambiental para que o núcleo urbano não perca sua identidade. (SURBAM, 1978, p. 75)

Quanto ao zoneamento, é descrito no plano, agrupamentos de serviços e usos encontrados em determinadas regiões da cidade. Nesse momento já é possível perceber a preocupação com a expansão da cidade e o conflito dos usos com o centro histórica da cidade.

Conforme se pode observar, este centro comercial28 está mal localizado em relação à área de expansão da cidade e suas ruas são estreitas, não havendo, portanto, boas perspectivas para o futuro desenvolvimento. Por outro lado, está começando a se formar, expontaneamente, uma nova zona comercial nas proximidades da Rua Venâncio Aires, que é um local bem mais central em relação ao conjunto da área urbana. (SURBAM, 1978, p. 48)

Na região do núcleo original, também são encontradas o uso residencial em edificações do século passado, região descrita como completa em relação a todos os serviços de infraestrutura existentes da cidade. Partindo de uma análise das atividades encontradas na cidade, reforçando os usos encontrados e indicando outros ainda primários.

Quanto ao zoneamento, define sete zonas, sendo:

 Zona Residencial 1 (ZR1);  Zona Residencial 2 (ZR2);  Zona Residencial 3 (ZR3);  Zona Residencial-Comercial (ZRC);  Zona Comercial 1 (ZC1);  Zona Comercial 2 (ZC2) e

 Zona Comercial-Industrial (ZCI).

De maneira geral, o documento dedica-se a organizar as demandas viárias e de infraestrutura urbana como saneamento básico, mobiliário urbano, espaços de lazer, etc. Apesar de propor uma preservação do patrimônio, pouco se define em questões práticas neste momento, priorizando inclusive a concentração urbana na

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Conforme o mesmo documento, área compreendida pelas ruas Uruguai, Barbosa Neto, General Osório e 20 de Setembro, estas que fazem parte do núcleo original da cidade, incluindo a rua à beira do Rio Jaguarão.

área central da cidade através a concentração urbana, respondendo a uma ideologia racional-funcionalista (OLIVEIRA e SEIBT, 2005, p. 14). Aspecto este identificado principalmente com a indicação da Zona Comercial 1, localizada próxima ao núcleo original da cidade, região que hoje é compreendida pelo Dossiê de Tombamento como Setor 1 – Núcleo Original, contendo exemplares importantes para a configuração da história e estética da cidade, com interesse de preservação.

Em 2006 é publicado o Plano Diretor Participativo de Jaguarão, que já apresenta algumas posturas práticas frente à preservação do patrimônio arquitetônico do município, influenciado pelo Programa de Revitalização Integrada e Jaguarão, PRIJ, e pelo Projeto Jaguar.

São apresentados sete objetivos gerais nesta nova publicação, sendo:

I. Ordenação adequada do crescimento urbano em seus aspectos físicos, econômicos, sociais, culturais e administrativos, visando à distribuição racional das atividades econômicas e das densidades populacionais na área urbana;

II. Pleno aproveitamento dos recursos administrativos, financeiros, naturais, culturais e comunitários;

III. Atendimento das necessidades e carências básicas da população quanto às funções de habitação, trabalho, lazer, cultura, saúde, saneamento, mobilidade e convívio com a natureza;

IV. Conservação do Patrimônio Arquitetônico, Histórico e Cultural; V. Conservação do Patrimônio Ambiental;

VI. Integração da ação governamental municipal com órgãos e entidades federais, estaduais e microrregionais;

VII. Propiciar a participação comunitária na gestão da cidade, considerando-a como produto cultural do povo.

Para fins deste trabalho podemos atentar para três deles, como apontamentos de uma leitura diferenciada do espaço, como por exemplo, a preocupação com ordenação adequada do crescimento urbano visando à distribuição racional das atividades econômicas e das densidades populacionais na área urbana, ponto que vai de encontro com a ideologia racional-funcionalista da primeira edição do Plano Diretor (OLIVEIRA e SEIBT, 2005).

Outros dois pontos que podem ser indicados é a divisão entre a conservação do Patrimônio Arquitetônico, Histórico e Cultural e a Conservação do Patrimônio Ambiental indicando que serão criadas ações isoladas para cada grupo de interesse e principalmente, “Propiciar a participação comunitária na gestão da cidade, considerando-a como produto cultural do povo” desta maneira incluindo a população em ações de salvaguarda garantindo assim a apropriação do patrimônio como identidade da comunidade. Aspecto reafirmado pelo Art. 6º do mesmo documento onde são descritas as diretrizes básicas, sendo a oitava: “Estimular a proteção de edificações de valor histórico/turístico, preservando sua configuração urbanística e memória arquitetônica” (JAGUARÃO, 2006, p. 2).

O direito de preempção, descrito no Art. 29 do plano, garante ainda ao Poder Público Municipal a preferência para aquisição de imóveis urbanos em diversas situações, inclusive quando para proteção de áreas de interesse histórico, paisagístico ou arqueológico.

Em outubro de 2007, é aprovado o Código de Obras do Município de Jaguarão, como parte integrante do Plano Diretor Participativo de Jaguarão, eliminando assim mais uma falha no sentido de planejamento urbano. Desta maneira qualquer obra ou construção, dentro do perímetro urbano deve passar por processo de aprovação e concessão de Licença para Construção, fornecida pela Secretaria Municipal de Planejamento e Obras.

O documento traça normas e exige documentações de caracterização dos projetos, normas sobre prazos e posturas administrativas de maneira a facilitar o processo da construção civil, que envolve o período de projeto, aprovação de projeto, execução e regulamentação de obra e entrega do produto final. Em relação às edificações existentes e nas que compõe o entorno, o código estipula que “os projetos de construção, e construção, acréscimo ou reforma, serão examinados, também, sob o ponto de vista estético, considerados isoladamente e em conjunto com as construções existentes no logradouro” (JAGUARÃO, 2007, p. 4).

Ainda proíbe o uso de construções me madeira na ZPHAT e define que a composição das fachadas, nesta zona, deverá passar por analise de autoridades responsáveis.

Outra ação no sentido da salvaguarda do patrimônio é a aprovação da Lei nº 4682/2007 - Lei de Preservação do Patrimônio Histórico Arquitetônico e Turístico de Jaguarão (Lei PPHAT), como parte integrante do Plano Diretor, visando promover a preservação, conservação e revitalização do patrimônio, compatibilizando-o com o uso e a ocupação do solo e utilizando-se de incentivos fiscais, implantar estratégias centradas na comunidade como ações de educação patrimonial e promover a sensibilização da comunidade na conservação cultural do município.

As zonas de preservação, definidas pelo PRIJ são definidas pela Lei PPHAT como Zona de Preservação do Patrimônio Histórico Arquitetônico Turístico (ZPPHAT) e Zona de Preservação do Patrimônio Histórico Natural Turístico (ZPPHNT), sendo a primeira já incorporando uma maior área, correspondendo assim a diferentes períodos históricos, e desta maneira incorporando nas ações de preservação maior representatividade cultural e estilística da cidade.

São propostos também instrumentos urbanísticos como: zoneamento, regime de uso do solo, índices urbanísticos e critérios de intervenção e construção das zonas de preservação. Assim como no PRIJ, a Lei PPHAT prevê o crescimento da cidade de maneira a preservar o patrimônio existente, através destes instrumentos urbanísticos e ações de conscientização previstas na lei, alterações de uso, e novas construções podem ocorrer sem afetar a visual que se quer preservar. O patrimônio não acaba engessado, fazendo parte do cotidiano dos jaguarenses.

Neste sentido, segundo o plano diretor e suas leis complementares, a região definida como de interesse histórico e cultural, recebe a nomenclatura de ZRC(PHAT), zona residencial e comercial, preservação histórica arquitetônica e turística. Como forma de preservar a ambiência existente, facilitando a leitura do espaço algumas normativas práticas e índices urbanísticos são aplicados, permitindo então a inserção de novas edificações e usos. Quanto aos usos, ficam consolidados os que não afetam e proibidos os tidos como prejudiciais ao espaço. Desta maneira, são permitidos:

 Bancos e financeiras;

 Bares e restaurantes;

 Equipamentos culturais;

 Órgãos públicos;

 Residências unifamiliares e coletivas e consultórios e laboratórios. E proibidos:

 Comércio atacadista;

 Serviço II,

 Indústria I e II e

 Depósitos com mais de 100m².

Sobre a volumetria, permitida para construções novas, são definidos os “Índice de Aproveitamento” e “Taxa de Ocupação”, que segundo os valores lançados a área a ser construída não poderá ultrapassar duas vezes a metragem do terreno e cobrir mais que 80% da superfície do mesmo. Influenciando ainda neste aspecto a altura total da edificação que deverá estar de acordo com a predominância existente no quarteirão29.

Para projetos de intervenção nas zonas de preservação, de maneira a não interferir com a ambiência desta região, a lei baseia-se mais uma vez ao PRIJ, indicando principalmente a manutenção das características tipológicas das edificações. São questões trabalhadas no PRIJ e igualmente pela Lei PPHAT: a pintura das fachadas, devendo então harmonizar com o conjunto respeitando as cores e padrões originais; os revestimentos, que devem ser mantidos os padrões originais e quando em edificações novas devem ser utilizados padrões que não sejam conflitantes com os existentes no entorno; e a proporção dos vãos e aberturas devem respeitar as proporções utilizadas pelos estilos arquitetônicos presentes também no entorno, não afetando assim a granulometria e leitura da face de quadra.

Incentivos fiscais para preservação manutenção e conservação de imóveis inventariados, adoção de órgãos responsáveis pela fiscalização e provação de projetos e critérios de planejamento para intervenções urbanas também respondem as ideia lançadas pelo PRIJ.

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A tabela complete com a definição de usos e índices urbanísticos está disponível em <http://www.jaguarao.rs.gov.br/wp-content/uploads/2013/04/13-Tabela-de-%C3%8Dndices-

3.2.4 Dossiê de Tombamento do Conjunto Histórico e Paisagístico de Jaguarão,